Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

Na carta que d. Pedro mandou a d. João VI, contando
as ocorrências de 05 de junho, ele diminuiu ao máximo o
episódio. Lavou as mãos como pôde e explicou singelamente
ao pai: “jurei as bases por mim já juradas, quando jurei a constituição
in totum. Todos os demais juraram e eu fui jantar à chácara às cinco e
meia da tarde”
Com a tropa, porém, o príncipe regente foi mais direto
e mandou um recado de que se fosse constrangido a tomar
mais qualquer decisão sob pressão, deixaria o Brasil no dia
seguinte. Mas, no geral, teve que contemporizar e administrar
a realidade de que a tropa portuguesa tinha se arvorado da
condição de zeladora dos interesses das Cortes de Lisboa e ele
estava sozinho para enfrentar essa situação pois, nessa altura,
ainda não tinham começado os ardis das Cortes para reverter
a grande autonomia que d. João VI tinha concedido ao Brasil.
Então todos estavam completamente felizes com a união dos
reinos de Portugal e Brasil e apenas ansiavam que ela fosse
colocada debaixo de uma constituição liberal que garantisse ao
Brasil um certo espaço para gerir seu próprio destino.
Em vinte e quatro de abril de 1821 – mesmo dia em
que d. João VI embarcava de volta para Portugal - as Cortes
tentaram criar um problema cabeludo para d. Pedro,
reconhecendo a legitimidade de todas as juntas provisórias
criadas no Brasil e que se mostravam comprometidas com a
“sagrada causa da regeneração política da nação portuguesa”. Quer
dizer, seriam legítimas todas as juntas obedientes às Cortes,
independentemente da autoridade do príncipe. Assim,
começava cedo a manobra de esvaziamento da regência
americana. As juntas do Pará, Bahia e Maranhão, que tinham
sido inspiradoras do decreto, foram as primeiras a gostar da
honra e se declararam desligadas da autoridade de d. Pedro.
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