Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

intimado a voltar à Europa para completar a deficiente
formação escolar que tinha adquirido na América. Deveria
ficar passeando pela Europa uns tempos, tomando banhos de
cultura nas principais capitais, longe da política. Afinal ele
tinha saido de Portugal com nove anos de idade e agora, aos
vinte e três anos, não passava de um matuto iletrado que tinha
vivido em excessiva promiscuidade com raças inferiores sob o
calor indolente do trópico.
As cartas que d. Pedro recebeu às margens do Ipiranga
tratavam, genericamente falando, dos desmandos das Cortes e
de ameaças militares, mas nada disso era novidade e já vinha
num crescendo desde setembro de 1821. A hostilidade já
estava posta, tanto que alguns deputados brasileiros se
recusaram a embarcar para Portugal para participar das
discussões constitucionais, sabedores de que pouca influência
poderiam exercer numa assembleia onde, além de serem
minoria, ainda tinham as galerias a apupá-los. A agravar ainda
mais, lembremos o fato de que muitos dos deputados
brasileiros não o eram de fato pois, embora nascidos no
Brasil, eram residentes em Portugal onde exerciam disputados
cargos na administração do reino e da igreja. A lembrar,
também, que o próprio presidente da assembleia de Lisboa era
nada menos do que o arcebispo da Bahia. Uma das suas
principais preocupações era garantir tropas portuguesas que
pudessem afrontar os patriotas baianos. O chamamento da
representação brasileira nos debates, de fato, era puro jogo de
cena liberal pois raríssimos parlamentares lusos estavam
dispostos a manter as concessões que d. João VI tinha feito ao
seu reino tropical. No final, a maioria dos nossos deputados
acabou abandonando Lisboa, protestando quanto ao exíguo
espaço que lhes era facultado.
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