Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

Parece que d. Leopoldina tinha grande fervor cristão e
até teria escrito um código de conduta religiosa para si
própria, onde o sofrimento era visto como um caminho de
elevação a Deus. É possível que a humilhação que d. Pedro
infligiu a ela possa tê-la mergulhado num ritual de
autoflagelação espiritual que acabou precipitando sua morte.
Com certeza, d. Leopoldina tinha uma personalidade meio
neurótica, pautada pela submissão resignada ao sofrimento.
Tinha nascido para morrer de amor por Deus e o marido... e
morreu. Mas, justiça seja feita, nutriu como pôde o feto da
nação independente do Brasil. Não há dúvida que d.
Leopoldina amava profundamente o marido. Sua
correspondência mostra isso, desde o princípio do enlace. E d.
Pedro, gostava da mulher? É possível que sim, embora a
morte da imperatriz tenha lhe arrancado muito mais provas de
remorso do que de paixão. 32 Pobre dela, era mãe amorosa mas
esposa distraída, enquanto d. Pedro parecia estar mais
interessado numa mãe distraída mas amante fogosa, como era
Domitila. Descontrolado era o amor que, naquela época, ele
devotava à aventureira paulista. Mas, a médio prazo, foi a
morte da mulher que acabou provocando a queda da amante
pois, quanto d. Pedro quis se casar de novo, nenhuma
princesa europeia de primeira linha, estava disposta a ter o
mesmo destino da filha do Imperador da Áustria. Sua fama de
canalha mulherengo já estava firmada na Europa.
No dia 19 de agosto de 1827, ou seja, nove meses
corridos de viuvez, o visconde de Barbacena partia para a
32 Dizem que, parte dos dias de nojo e reclusão decretados pelo luto
da Imperatriz, d. Pedro passou gostosamente nos braços de
Domitila.
111