Os desassossegos do rei - Quintal dos Poetas

duquesa, lhe daria uma educação esmerada e um bom
casamento. A nenhum deles deixou de legar alguma coisa. De
acordo, claro, com a paixão que a respectiva mãe conseguiu
despertar.
Domitila de Castro devia ser mesmo muito boa de
cama, mas, sem dúvida, foi um dos maiores estorvos na vida
de d. Pedro. Por mais que ele apreciasse as habilidades sexuais
daquela mulher, seu relacionamento com ela agregou um
enorme lado escuro na sua biografia e não deixou de lhe dar a
imagem de ter feito certo papel de trouxa. Gerou desgaste
político, escárnio do corpo diplomático e o deboche do povo.
Por conta da influência da amante, d. Pedro se enredou numa
meritocracia de alcova da pior espécie, tolerando e, não raro,
compartilhando de um esquema de favores imoral e corrupto,
tocado pela favorita.
Dizem que o imperador aquiescia e até estimulava um
esquema de cobrança de propinas de que Domitila se
beneficiava para desembaraçar tramitações de governo junto a
ele próprio. Não tinha erro: cem por cento de eficácia. Era
fácil como matar peixes à tiros num barril. Enquanto d. Pedro
sonegava a mesada a que d. Leopoldina tinha direito, impondo
a ela uma austeridade incompatível com sua dignidade de
imperatriz; a amante enriquecia a olhos vistos. Quando se
mudou para o Rio, Domitila de Castro foi viver
modestamente no bairro do Mata Porcos, onde se contentava
em prestar discretamente seus competentes serviços ao
imperador, cativando-o cada vez mais com seus truques
delirantes. Nessa altura ela já tinha sido esfaqueada pelo
marido, por conta de um notório adultério em tempos
passados. À medida que o delírio foi crescendo o Imperador
foi trazendo a amante para mais perto de si. Transformou-a
em primeira dama da Imperatriz e a colocou ao lado de d.
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