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Rave e cultura jovem: uma etnografia da experiência na cena ...

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não o seu conteúdo. O modo como Claude Rivière define ritual, reforça, como ele enfatiza,<br />

pelo não prejulgamento do conteúdo <strong>da</strong>s crenças, a importância de sua forma sobre o<br />

conteúdo.<br />

Os rituais devem ser sempre considerados como conjunto de condutas individuais ou<br />

coletivas, relativamente codifica<strong>da</strong>s, com um suporte corporal (verbal, gestual, ou de<br />

postura), com caráter mais ou menos repetitivo e forte carga simbólica para seus<br />

atores e, habitualmente, para suas testemunhas, basea<strong>da</strong>s em <strong>uma</strong> adesão mental,<br />

eventualmente não conscientiza<strong>da</strong>, a valores relativos a escolhas sociais julga<strong>da</strong>s<br />

importantes e cuja eficácia espera<strong>da</strong> não depende de <strong>uma</strong> lógica puramente empírica<br />

que se esgotaria <strong>na</strong> instrumentali<strong>da</strong>de técnica do elo causa-efeito. (Rivière, 1996: 30)<br />

A conceitualização mais atual de ritual tomaria como base a "forma". Seu conteúdo<br />

remeteria às suas expressões particulares. O ritual teria um elemento comunicativo implícito.<br />

"Ao nos vestirmos de determi<strong>na</strong><strong>da</strong> forma, ao assumirmos determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s maneiras à mesa, ao<br />

escolhermos determi<strong>na</strong>do lugar para freqüentar, estamos comunicando preferências, status,<br />

opções." (Peirano, 2003: 10). O ritual então expandiria, ilumi<strong>na</strong>ria e ressaltaria o que é<br />

estruturante em um determi<strong>na</strong>do grupo.<br />

Peirano enfatiza alguns pontos que no percurso de déca<strong>da</strong>s de discussões, teriam sido<br />

verificados em relação aos rituais. Destaco dois deles: "1) <strong>uma</strong> definição relativa de ritual é<br />

superior a <strong>uma</strong> definição rígi<strong>da</strong>, [...] 3) é irrelevante determi<strong>na</strong>r a primazia entre ritos e mitos"<br />

(Idem: 50). Mais ain<strong>da</strong>, "a idéia de ritual nos serve hoje de guia para <strong>uma</strong> análise<br />

antropológica mais ampla e mais rica [...]. [...] o ritual mostrou ser <strong>uma</strong> porta heurística, pela<br />

qual podemos vislumbrar aspectos de <strong>uma</strong> socie<strong>da</strong>de que dificilmente se manifestam em falas,<br />

depoimentos e discursos. [...] Por meio <strong>da</strong> análise de rituais, podemos observar aspectos<br />

fun<strong>da</strong>mentais de como <strong>uma</strong> socie<strong>da</strong>de vive, se pensa e se transforma - o que não é pouco."<br />

(Idem: 50-1).<br />

Rivière, em sua obra Os ritos profanos, no capítulo "Ritos de exibição de <strong>uma</strong><br />

adolescência margi<strong>na</strong>l", entre descrições de eventos de rock, punk e hip hop, traz o exemplo<br />

do que ele chama de "êxtase <strong>da</strong> acid house music", o que poderíamos vincular diretamente ao<br />

nosso universo de estudo. Sobre a rituali<strong>da</strong>de em relação às <strong>cultura</strong>s jovens:<br />

O rito concebido como seqüência temporal de ações, conjunto de papéis articulados,<br />

estrutura teleológica de valores, meios simbólicos orientados para os objetivos a<br />

serem obtidos e sistema de comunicação, - considerado aqui sem qualquer referência<br />

à mitologia religiosa - é bem revelador <strong>da</strong> sub<strong>cultura</strong> dos adolescentes de nosso<br />

tempo que é traduzi<strong>da</strong> por símbolos e processos multívocos [...]. (Rivière, 1996: 178)<br />

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