musicoterapia com mães de recém-nascidos internados em uti
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eação é bastante <strong>com</strong>preensível, pois as <strong>mães</strong> fariam o primeiro contato <strong>com</strong> algo<br />
totalmente <strong>de</strong>sconhecido. Ainda não conheciam a equipe médica, o ambiente físico e,<br />
muitas vezes, o rosto do filho. A atitu<strong>de</strong> que eu normalmente tomava era <strong>de</strong> me colocar à<br />
disposição <strong>de</strong>sta mãe para conversar após a visita ao bebê. Algumas <strong>de</strong>las saíam chorando,<br />
assustadas e sentiam-se aliviadas após falar do que sentiram ao ver o filho <strong>de</strong>ntro da<br />
incubadora. Outras iam <strong>em</strong>bora silenciosas.<br />
♦ De um modo geral, as <strong>mães</strong> mantinham-se bastante silenciosas.<br />
O silêncio foi um fenômeno aparente no grupo <strong>de</strong> <strong>mães</strong>. Ele surgiu <strong>com</strong>o algo<br />
repleto <strong>de</strong> sentido, pois o silêncio v<strong>em</strong> <strong>de</strong> algo que silencia. O silêncio <strong>de</strong>stas <strong>mães</strong> fala do<br />
momento <strong>de</strong> recolhimento <strong>de</strong>las <strong>em</strong> sua própria dor. Fala daquilo que é sofrido <strong>de</strong>mais ao<br />
se ouvir falar. Segundo CUNHA (2001, p.1),<br />
o silêncio, <strong>em</strong> psicanálise, é também um indício do não esquecimento,<br />
daquilo que resiste ao <strong>com</strong>pleto apagamento. É porque <strong>de</strong> algum modo<br />
resiste e subsiste na m<strong>em</strong>ória que isso se cala e silencia. Aqui o silêncio<br />
(o que se silencia) vai <strong>de</strong> par <strong>com</strong> a m<strong>em</strong>ória, a persistência na m<strong>em</strong>ória.<br />
Enquanto resiste, existe. Existe pelo silêncio.<br />
♦ As <strong>mães</strong> traziam muito a questão da religiosida<strong>de</strong>, manifestando interesse por canções<br />
que abordass<strong>em</strong> este t<strong>em</strong>a. Durante a audição <strong>de</strong> canções religiosas, elas ficavam<br />
introspectivas. Após a audição diziam estar reconfortadas e mais fortes.<br />
As músicas religiosas funcionam <strong>com</strong>o parte sensível ao silêncio. Antigamente,<br />
elas eram executadas <strong>em</strong> santuários silenciosos on<strong>de</strong> as pessoas podiam se re<strong>com</strong>por e<br />
encontrar a paz. A música religiosa é recebida pelo silêncio das <strong>mães</strong>. Ali, ela permanece<br />
no Espaço Transicional, e assim, as <strong>mães</strong> po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>scansar do contato constante <strong>com</strong> a<br />
dura realida<strong>de</strong> que vivenciam. Isto as leva a ter sentimentos <strong>de</strong> esperança, força, fé e as<br />
ajuda a sentir<strong>em</strong>-se reconfortadas.<br />
A existência <strong>de</strong>ste espaço <strong>de</strong> pausa entre a m<strong>em</strong>ória que l<strong>em</strong>bra a todo instante<br />
da distância do filho, <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r estar <strong>com</strong> ele nos braços, do risco <strong>de</strong> morte, é<br />
fundamental para a busca da força interior <strong>de</strong> cada mãe e alívio das tensões. O choro,<br />
muitas vezes, surge durante estas canções <strong>com</strong>o uma <strong>de</strong>scarga para as <strong>em</strong>oções dolorosas.<br />
Este movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga <strong>em</strong>ocional possibilita, na maioria das vezes, uma sensação <strong>de</strong><br />
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