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Estudo ... - Banco da Amazônia

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MERCADO MERCADO E E DINÂMICA DINÂMICA ESP ESPACIAL ESP ESP ACIAL DA DA CADEIA CADEIA PRODUTIV<br />

PRODUTIVA PRODUTIV A DA<br />

DA<br />

PESCA PESCA E E AQUICUL AQUICULTURA AQUICUL TURA NA NA AMAZÔNIA<br />

AMAZÔNIA<br />

(ESTUDOS SETORIAIS, 7)<br />

Belém - Pará<br />

2010<br />

Maria Lúcia Bahia Lopes<br />

Patrício Alves Costa<br />

Jesus do Socorro Barroso dos Santos<br />

Sávio de Jesus Tourinho <strong>da</strong> Cunha<br />

Marcos Antônio Souza dos Santos<br />

Antônio Cordeiro de Santana


SUMARIO<br />

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 7<br />

2 CONJUNTURA INTERNACIONAL.............................................................................. 8<br />

2.1 PRODUÇÃO E CONSUMO........................................................................................... 8<br />

2.2 COMÉRCIO INTERNACIONAL.................................................................................... 10<br />

3 CONJUNTURA NACIONAL...................................................................................... 13<br />

3.1 DISTRIBUIÇÃO E CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO...................................................... 13<br />

3.2 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES................................................................................ 15<br />

3.3 CONSUMO DE PEIXE................................................................................................ 19<br />

4 CONJUNTURA DO MERCADO REGIONAL............................................................ 22<br />

4.1 A FROTA PESQUEIRA................................................................................................ 24<br />

4.2 A INDÚSTRIA PESQUEIRA......................................................................................... 26<br />

5 CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA PESCA E AQUICULTURA NA REGIÃO<br />

NORTE....................................................................................................................... 28<br />

5.1 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO PARÁ..................... 34<br />

5.2 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO AMAZONAS........... 36<br />

5.3 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO TOCANTINS............ 39<br />

5.4 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO ACRE..................... 40<br />

5.5 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DE RONDÔNIA............ 41<br />

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 42<br />

7 RECOMENDAÇÕES.................................................................................................. 45<br />

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 47<br />

APÊNDICE METODOLÓGICO..................................................................................... 51


AGRADECIMENTOS<br />

A realização deste trabalho só foi possível devido à integração <strong>da</strong> equipe envolvi<strong>da</strong><br />

e as informações levanta<strong>da</strong>s nas seguintes instituições: Food and Agriculture Organization<br />

of The United Nation (FAO), Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),<br />

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério <strong>da</strong> Pesca e Aquicultura<br />

(PEA), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Sistema Aliceweb)<br />

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).<br />

Estendemos também nossos agradecimentos a todos os que se engajaram ao<br />

desenvolvimento deste trabalho, dentre os quais destacamos: José Vicente S. Ribeiro<br />

(EDIFRIGO- Edio Frigorífico de peixe), Manoel Divaldo Lira Rego (projeto de piscicultura em<br />

tanque escavado), Roberto Mafra (criação de alevinos) e Gisal<strong>da</strong> Carvalho Filgueiras, que<br />

na ocasião colaborou com o levantamento <strong>da</strong>s informações primárias.<br />

Aos colegas do <strong>Banco</strong> <strong>da</strong> <strong>Amazônia</strong>, em especial a Fabrício Khoury Rebello e<br />

Carlos Alberto Monteiro Santos bem como àqueles lotados na Agência e Gereg/Santarém,<br />

somos gratos pela acolhi<strong>da</strong>, contatos agen<strong>da</strong>dos para visitas aos empreendimentos e por<br />

repassarem um pouco de suas experiências profissionais, com vistas a enriquecer nossas<br />

observações e contribuir para o progresso continuo do <strong>Banco</strong>.<br />

Por fim, à Universi<strong>da</strong>de Federal Rural <strong>da</strong> <strong>Amazônia</strong> (UFRA) pela cessão do Professor<br />

Antônio Cordeiro de Santana para orientar a equipe técnica do <strong>Banco</strong> <strong>da</strong> <strong>Amazônia</strong> na<br />

elaboração deste estudo.<br />

Procuramos apresentar neste documento as informações obti<strong>da</strong>s em fontes<br />

secundárias, bem como, as levanta<strong>da</strong>s nas entrevistas realiza<strong>da</strong>s nos principais estados <strong>da</strong><br />

Região Norte, de modo a não prejudicar sua veraci<strong>da</strong>de. Assim, eventuais falhas que possam<br />

existir nesta versão do documento são de responsabili<strong>da</strong>de exclusiva de seus autores.


1 INTRODUÇÃO<br />

As ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> pesca e <strong>da</strong> aquicultura assumem papel fun<strong>da</strong>mental no processo<br />

de desenvolvimento econômico, especialmente, para países em desenvolvimento como o<br />

Brasil, pois contribuem na segurança alimentar e no combate à pobreza, representando<br />

fonte vital de alimentos, ocupação de mão de obra e ren<strong>da</strong> para as populações locais.<br />

Na <strong>Amazônia</strong>, a produção de pescado, desde os mais remotos tempos teve um<br />

papel de grande importância socioeconômica, em especial para as comuni<strong>da</strong>des ribeirinhas.<br />

Provavelmente, a pesca é a ativi<strong>da</strong>de produtiva mais antiga <strong>da</strong> Região, visto que remonta<br />

a períodos anteriores à colonização do país.<br />

A Amazônica Legal contribui significativamente para a produção nacional de<br />

pescado, respondendo por 29,84% do total, em 2009. O estado do Pará se destaca nesse<br />

contexto, com 10,98%, sendo o segundo maior produtor de pescado do Brasil (BRASIL,<br />

2010). No tocante ao comércio internacional, é o segundo maior estado exportador de<br />

pescado do país, com 18,8% do total nacional exportado (BRASIL, 2011).<br />

A produção de pescado regional advém <strong>da</strong> pesca artesanal, aquicultura e pesca<br />

industrial. A primeira é a mais expressiva e representa 81% do total. A segun<strong>da</strong> responde<br />

por 11,1% e, nos últimos anos, vem se desenvolvendo com maior intensi<strong>da</strong>de nos estados<br />

do Amazonas e Tocantins. A pesca industrial, por sua vez, é responsável por 7,9% e está<br />

concentra<strong>da</strong> no estado do Pará, sendo que, além <strong>da</strong> produção própria de suas embarcações,<br />

processa, também, o produto advindo <strong>da</strong> pesca artesanal e <strong>da</strong> aquicultura (INSTITUTO<br />

BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS, 2007).<br />

Considerando a relevância socioeconômica dessa cadeia produtiva para a região,<br />

o presente estudo visa analisar o mercado e a dinâmica local <strong>da</strong> economia <strong>da</strong> pesca e <strong>da</strong><br />

aquicultura na Região Norte, bem como, contribuir com as ações de fomento do <strong>Banco</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Amazônia</strong>.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

7


2 CONJUNTURA INTERNACIONAL<br />

2.1 PRODUÇÃO E CONSUMO<br />

Em 2008, segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para Alimentação e<br />

Agricultura (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATION, 2010), a<br />

produção mundial de pescado foi <strong>da</strong> ordem de 159,09 milhões de tonela<strong>da</strong>s, sendo 57,04%<br />

oriundos <strong>da</strong> pesca extrativa e 42,96% <strong>da</strong> aquicultura.<br />

Apesar <strong>da</strong> eleva<strong>da</strong> representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesca extrativa, é a aquicultura que<br />

vem garantindo o crescimento <strong>da</strong> produção de pescado nas últimas déca<strong>da</strong>s. Até o final <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 1980, a pesca chegou a representar mais de 90% <strong>da</strong> produção total. Entretanto,<br />

em 15 anos (findos em 2008), o crescimento <strong>da</strong> produção mundial, por volta de 42%, foi<br />

atribuído, fun<strong>da</strong>mentalmente, à aquicultura, que obteve crescimento de 179,51%, ao passo<br />

que a pesca extrativa evoluiu, apenas, 3,66% (FAO, 2010). Essa mu<strong>da</strong>nça na dinâmica <strong>da</strong><br />

base produtiva contribui para o desenvolvimento sustentável <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e o futuro do<br />

meio ambiente. O Gráfico 1 ilustra o comportamento evolutivo <strong>da</strong> produção pesqueira<br />

desde a déca<strong>da</strong> de 1950.<br />

Gráfico 1 – Evolução <strong>da</strong> produção mundial de pescado, 1950-2008.<br />

Fonte: FAO, 2010.<br />

Nas próximas déca<strong>da</strong>s a tendência é de que a aquicultura continue a manter esse<br />

padrão de crescimento. A mu<strong>da</strong>nça no hábito dos consumidores constitui um dos fatores<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 8


que contribuem nesse sentido, pois há uma níti<strong>da</strong> valorização dos atributos do pescado em<br />

relação a outras fontes de proteína animal, associando o seu consumo à saúde. A aquicultura<br />

também deverá atuar como uma ativi<strong>da</strong>de complementar à pesca, especialmente, num<br />

contexto de redução dos estoques naturais, abrindo possibili<strong>da</strong>des para a inserção de<br />

pescadores artesanais. Adicionalmente, traz como diferencial competitivo a maior integração<br />

à agroindústria, pois permite uma oferta mais regular do produto.<br />

Os oito principais países produtores são a China, Indonésia, Índia, Perú, Japão,<br />

Filipinas, Estados Unidos e Chile, que, em conjunto, respondem por 63,98% <strong>da</strong> produção<br />

total (Gráfico 2). A China lidera este mercado desde 1998, sendo que, em 2008, produziu<br />

57,8 milhões de tonela<strong>da</strong>s. A Indonésia, apesar de ocupar o segundo lugar, possui produção<br />

bem inferior, com montante de 8,8 milhões de tonela<strong>da</strong>s. O Brasil, neste contexto, ocupa o<br />

24º lugar (FAO, 2010).<br />

Gráfico 2 – Principais países produtores mundiais de pescado, 2008.<br />

Fonte: FAO, 2010.<br />

Com relação ao consumo, em 2008, 81% <strong>da</strong> produção mundial voltou-se à ingestão<br />

humana, correspondendo a 115 milhões de tonela<strong>da</strong>s. Conforme se pode observar no Gráfico<br />

3, a maior proporção do pescado vem sendo consumi<strong>da</strong> como alimento fresco e congelado,<br />

49% e 25%, respectivamente.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

9


Gráfico 3 – Formas de consumo <strong>da</strong> produção pesqueira mundial, 2009.<br />

Fonte: FAO, 2010.<br />

Em termos per capita o consumo aparente mundial, em 2007, foi estimado em<br />

16,7 kg/hab./ano, e até 2030, deve aumentar para 20 kg/hab/ano. Contudo, dependendo<br />

<strong>da</strong> área toma<strong>da</strong> como referência este valor sofre expressiva variação. Em países<br />

desenvolvidos, como os <strong>da</strong> União Européia, a média observa<strong>da</strong> é de 22 kg/hab/ano. Em<br />

Portugal e na França, por exemplo, o consumo supera a casa dos 40 kg/hab/ano (FAO,<br />

2010). Por outro lado, nas economias em desenvolvimento tal quantia não chega a atingir<br />

os 15 kg/hab./ano. O Brasil está inserido neste conjunto, visto que este volume é de, apenas,<br />

4,03 kg/hab./ano (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2008).<br />

2.2 COMÉRCIO INTERNACIONAL<br />

Em 2008, as exportações mundiais de pescado movimentaram US$ 102 bilhões,<br />

apresentando crescimento de 9% em relação a 2007. Em termos de quanti<strong>da</strong>de, estas<br />

alcançaram o máximo de 56 milhões de tonela<strong>da</strong>s, em 2005. Desde então, o volume<br />

exportado tem se mostrado inferior, totalizando 55 milhões de tonela<strong>da</strong>s, em 2008 (FAO,<br />

2010). Dentre os fatores que contribuíram para essa redução está a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> produção e<br />

do comércio de farinha de pescado (10% entre 2005-2008), somando-se a isso a crise dos<br />

preços dos alimentos, que afetou a confiança dos consumidores nos principais mercados.<br />

Os 10 principais exportadores, liderados pela China, foram responsáveis por 50,69% do<br />

valor total (Tabela 1).<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 10


Tabela 1 – Principais países exportadores de pescado, 2008.<br />

Fonte: FAO, 2010.<br />

As exportações de pescado <strong>da</strong> China têm crescido significativamente desde o<br />

início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, sendo observa<strong>da</strong> uma taxa média de 14% ao ano, entre os anos<br />

de 1996-2006. Este desempenho possibilitou à China ocupar o primeiro lugar em termos<br />

de quanti<strong>da</strong>de e valor <strong>da</strong>s exportações, o que se deve ao desenvolvimento <strong>da</strong> indústria<br />

pesqueira e à disponibili<strong>da</strong>de de mão de obra barata e baixos custos de produção.<br />

Além de exportar a própria produção de pescado, a China também processa e<br />

exporta pescado importado. Ao longo <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong> o desenvolvimento desta ativi<strong>da</strong>de<br />

favoreceu o aumento substancial de suas importações de pescado, a colocando, em 2006,<br />

no primeiro lugar entre os países importadores de pescado, condição esta reverti<strong>da</strong>, já em<br />

2008, por países como Japão e Estados Unidos, conforme pode ser visualizado na Tabela 2.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

11


Tabela 2 – Principais países importadores de pescado, 2008.<br />

Fonte: FAO, 2010.<br />

Em 2008, o valor total <strong>da</strong>s importações mundiais atingiu o patamar de US$ 107<br />

bilhões. O Japão aparece como o maior importador mundial de produtos pesqueiros em<br />

termos de valor, respondendo por 13,95% <strong>da</strong>s importações mundiais. Os Estados Unidos,<br />

além do sexto lugar nas exportações, ocupa o segundo lugar como importador, tendo<br />

aumentado suas compras de pescado em 60,79% entre 1996-2006. Na União Européia os<br />

países de maior destaque são: Espanha, França, Itália e Alemanha, que, em conjunto, foram<br />

responsáveis por 21,37% do valor <strong>da</strong>s importações mundiais de pescado (Tabela 2).<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 12


3 CONJUNTURA NACIONAL<br />

3.1 DISTRIBUIÇÃO E CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO<br />

Ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s a produção nacional de pescado tem apresentado<br />

dois padrões de comportamento distintos. O período entre 1960 e 1985 foi marcado por<br />

um crescimento expressivo, sendo que, em 1985, a produção superou a marca de 971 mil<br />

tonela<strong>da</strong>s. A partir de então, essa quantia passou a reduzir-se continuamente. Em 1990,<br />

por exemplo, esse montante foi de apenas 640,3 mil tonela<strong>da</strong>s (FAO, 2010). Os sinais de<br />

recuperação do setor são percebidos somente a partir de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990,<br />

quando a produção apresenta taxa média de 4,51% ao ano (1996/2009), conforme ilustrado<br />

no Gráfico 4.<br />

Gráfico 4 – Evolução <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> pesca extrativa e <strong>da</strong> aquicultura no Brasil, 1988-2009.<br />

Fonte: FAO, 2010.<br />

Esse padrão de crescimento tem se mantido principalmente pela contribuição <strong>da</strong><br />

aquicultura, que, no período de 1996/2009, ascendeu a uma taxa média de 13,42% ao<br />

ano, elevando a sua participação na produção nacional de 8,76%, em 1996, para 33,50%,<br />

em 2009. A pesca extrativa, também, cresceu neste mesmo período, mas em proporção<br />

inferior, retomando em média 2,39% ao ano. A expectativa <strong>da</strong> produção brasileira para<br />

2011 é de 1.430.000 tonela<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> qual a pesca extrativa deverá participar com 60,14% e<br />

a aquicultura com 30,86% (FAO, 2010).<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

13


Com relação à distribuição, segundo categoria de produção, a pesca artesanal foi<br />

responsável por 47,2% <strong>da</strong> produção total no ano de 2007. A pesca empresarial (industrial),<br />

neste mesmo ano, respondeu por 25,8%. Os 27% restantes foram derivados <strong>da</strong> aquicultura<br />

que, ano após ano, vem aumentando a sua parcela de mercado, acompanhando a tendência<br />

mundial.<br />

No tocante à produção por regiões, observa-se que a Região Nordeste é a que<br />

participa com a maior parcela de pescado, sendo responsável, em 2009, por 411.463<br />

tonela<strong>da</strong>s, o equivalente a 33,16% do total nacional. Nesta Região, destacam-se os estados<br />

<strong>da</strong> Bahia, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte que, em conjunto, representaram 81,27%<br />

<strong>da</strong> produção total do Nordeste, em 2009.<br />

Na segun<strong>da</strong> posição está a Região Sul, com 25,49% <strong>da</strong> produção. O destaque cabe<br />

ao estado de Santa Catarina que detêm 16,72% <strong>da</strong> produção nacional, a maior do país.<br />

A Região Norte, por sua vez, ocupou o terceiro lugar, respondendo por 21,26% <strong>da</strong><br />

produção brasileira de 2009, sendo os estados do Pará e Amazonas os mais representativos.<br />

O Estado do Pará, isola<strong>da</strong>mente, contribuiu com 51,64% <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> Região Norte e<br />

10,98% do total nacional, firmando-se como o segundo maior produtor de pescado do País.<br />

Em quarto lugar aparece a Região Sudeste, sendo São Paulo e Rio de Janeiro seus principais<br />

produtores. Na Região Centro-Oeste, o estado mais representativo foi o de Mato Grosso.<br />

O Gráfico 5 ilustra a distribuição <strong>da</strong> produção brasileira de pescado por Região<br />

no ano de 2009.<br />

Gráfico 5 – Distribuição <strong>da</strong> produção brasileira de pescado por região geográfica, 2009.<br />

Fonte: BRASIL, 2010.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 14


Na Região Norte, as possibili<strong>da</strong>des de crescimento <strong>da</strong> produção são amplas,<br />

principalmente pelo melhor aproveitamento <strong>da</strong>s espécies <strong>da</strong> Bacia Amazônica, pelo<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> piscicultura, bem como pela diversificação <strong>da</strong> pesca oceânica, sobretudo<br />

de peixes pelágicos. Na próxima seção são apresentados e analisados os <strong>da</strong>dos de comércio<br />

exterior de pescado do Brasil e do estado do Pará.<br />

3.2 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES<br />

A participação brasileira no mercado mundial de pescado ain<strong>da</strong> é tími<strong>da</strong>. Em<br />

2006, as exportações mundiais de pescado representavam um mercado de US$ 86 bilhões/<br />

ano e o Brasil participava com pouco mais de US$ 374 milhões (FAO, 2010).<br />

O Brasil apresenta grandes perspectivas de ampliar a produção e as exportações<br />

de pescado e retomar o desenvolvimento do setor pesqueiro. A implantação e modernização<br />

<strong>da</strong> frota, o treinamento e valorização <strong>da</strong> mão de obra, o incentivo à aquicultura e uma<br />

política de suporte à ativi<strong>da</strong>de em bases sustentáveis pode elevar o país a um novo patamar<br />

nesse mercado.<br />

A análise <strong>da</strong> balança comercial brasileira do pescado (Gráfico 6) mostra que no<br />

período de 1996 a 2005 o valor <strong>da</strong>s exportações mais que triplicou e a quanti<strong>da</strong>de exporta<strong>da</strong><br />

foi amplia<strong>da</strong> em quatro vezes, correspondendo a um crescimento de 19,71% a.a e 22,48% a.a,<br />

respectivamente. O principal vetor desse crescimento está associado à expansão <strong>da</strong> produção<br />

de camarão marinho cultivado que, já em 2001, representou 45,5% <strong>da</strong>s exportações<br />

pesqueiras do país.<br />

Por outro lado, observou-se que entre 2006 e 2010 o valor <strong>da</strong>s exportações recuou<br />

15,26% a.a e a quanti<strong>da</strong>de 20,85% a.a. Dentre os fatores que contribuíram para esse<br />

resultado está a que<strong>da</strong> nas ven<strong>da</strong>s de camarão aos EUA, cujo peso na pauta exportadora<br />

brasileira sempre foi significativo, passando de 59% do montante vendido, em 2003, para<br />

17%, em 2009. Considerando a categoria de produtos, dos US$ 169 milhões exportados,<br />

os crustáceos participaram com 29%, seguidos por peixes congelados (27%) e peixes frescos<br />

com 13% (BRASIL, 2010).<br />

Quanto às importações observou-se um comportamento no caminho inverso. Entre<br />

1996-2005 houve um recuo no valor e na quanti<strong>da</strong>de de 6,81% e 4,56%, respectivamente.<br />

Considerando o período de 2006-2010, nota-se uma recuperação no valor de 20,31% e<br />

10,52% a.a. na quanti<strong>da</strong>de.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

15


Gráfico 6 – Evolução <strong>da</strong> Balança Comercial Brasileira de Pescado no período, 1996-2010.<br />

Fonte: BRASIL, 2011.<br />

A análise do saldo <strong>da</strong> balança comercial brasileira de produtos pesqueiros permite<br />

visualizar três fases distintas, entre 1996 e 2010. Depois de contínuos déficits acumulados na<br />

déca<strong>da</strong> de 1990, observam-se superávits durante o período de 2001-2005. Contudo, a partir<br />

de 2003 passa a ocorrer aumento nas importações, e estabilização segui<strong>da</strong> de que<strong>da</strong>, nas<br />

exportações, o que deflagra uma nova tendência de redução do saldo <strong>da</strong> Balança Comercial<br />

de pescado. Destarte, a partir de 2006 os déficits se tornam crescentes, alcançando, em 2010,<br />

o montante de US$ 757 milhões, o que representa elevação de 46%, em relação a 2009.<br />

Vários fatores contribuíram para esse resultado, tais como: à imposição de barreiras<br />

no mercado internacional, principalmente, relativas ao camarão; a apreciação do câmbio;<br />

a mu<strong>da</strong>nça no padrão doméstico de consumo de proteínas, aumentando o consumo de<br />

pescado de 7,50 kg, em 1996, para 9,03 kg/ano, em 2009; e, mais recentemente, a crise<br />

financeira internacional (BRASIL, 2010).<br />

Outro elemento que merece destaque é o comportamento dos preços médios <strong>da</strong>s<br />

exportações ilustrado no Gráfico 7. No período de 1996 à 2002 estes se mostravam<br />

declinantes atingindo o menor valor em 2002 (US$ 3,62/kg).<br />

A partir de 2003, iniciou-se a recuperação dos preços, atingindo, em 2008, o<br />

patamar de US$ 6,5/kg, variação que representou um aumento <strong>da</strong> ordem de 79,56%, em<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 16


elação a 2002. Em 2009, o preço médio dos produtos sofre uma que<strong>da</strong> de 13%, influenciado,<br />

principalmente, pela crise financeira internacional que afetou a deman<strong>da</strong> dos países em<br />

desenvolvimento.<br />

Modo geral, os preços médios dos produtos <strong>da</strong> pesca não sofreram grandes<br />

variações, com exceção ao de peixes ornamentais, o qual apresentou crescimento de 69%,<br />

entre 2008 e 2009. Isso pode ser explicado por sua eleva<strong>da</strong> inelastici<strong>da</strong>de de preço <strong>da</strong><br />

deman<strong>da</strong>, já que não existem substitutos para o produto, o que justifica a alta do preço em<br />

meio a crise. Entretanto, a partir de 2010 observa-se uma tendência de crescimento de<br />

24,51%, em relação ao ano anterior, quando o preço médio atingiu o patamar de US$<br />

7,01.<br />

Gráfico 7 – Evolução do preço médio <strong>da</strong>s exportações de pescado brasileiro, 1996-2010.<br />

Fonte: BRASIL, 2011.<br />

Com relação à participação dos estados nas exportações de pescado, os <strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> Tabela 3 mostram suas representativi<strong>da</strong>des no comércio internacional, nos anos de<br />

2008 a 2010. O Ceará destacou-se como o principal exportador, sendo responsável por<br />

31,9% (US$ 63,5 milhões) <strong>da</strong>s exportações totais do setor.<br />

Do mesmo modo, o Pará sempre se manteve em lugar de destaque no comércio<br />

internacional de pescado, relativamente a outros estados. Ao longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990,<br />

sua participação conservou-se em torno de 21% <strong>da</strong>s exportações nacionais. Contudo, entre<br />

2003 e 2004, essa participação decresceu substancialmente, situando-se no patamar de<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

17


9,25% e 10,29%, respectivamente. Nos anos de 2005 a 2010, entretanto, ocorreu uma<br />

expressiva recuperação, sendo que, nesse último ano, o Pará respondeu por 20,46% do<br />

volume e 18,8% do valor <strong>da</strong>s exportações de pescado do Brasil (Tabela 3).<br />

Tabela 3 – Principais estados exportadores de pescado*, 2008-2010.<br />

Fonte: BRASIL, 2011.<br />

Observação: (*) exportações FOB<br />

As exportações de pescado brasileiras têm como principal destino os EUA, que,<br />

somente em 2010, representaram o montante de US$ 108,5 milhões em produtos<br />

deman<strong>da</strong>dos. Isso equivaleu a 8 mil tonela<strong>da</strong>s, e a um aumento de 12,96% desta procura,<br />

em relação a 2009. Em termos de valor, os Estados Unidos são seguidos de longe pela<br />

França e a Espanha, com US$ 17,5 e US$ 13,5 milhões, respectivamente (Tabela 4). A forte<br />

dependência <strong>da</strong>s importações estadunidenses explica, em grande parte, a que<strong>da</strong> nas<br />

exportações brasileira de pescado nos últimos anos, haja vista os impactos <strong>da</strong> crise financeira<br />

inicia<strong>da</strong> naquele país.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 18


Tabela 4 – Principais países importadores de pescado do Brasil*, 2008-2010.<br />

Fonte: BRASIL, 2011.<br />

Observação: (*) exportações FOB<br />

Através <strong>da</strong> Tabela 4, também é possível visualizar que países como Coréia do Sul,<br />

China e Hong Kong mantiveram, relativamente estáveis, as importações de pescado do<br />

Brasil, entre 2008 e 2010, evidenciando o hábito de consumo de pescado desses países.<br />

3.3 CONSUMO DE PEIXE<br />

O consumo de pescado no Brasil reflete diferenças regionais quanto ao poder<br />

aquisitivo <strong>da</strong> população, quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de oferta<strong>da</strong>, conservação, preços, alternativas<br />

para produtos substitutos e hábito alimentar. Em um ambiente competitivo, como o mercado<br />

de carnes, torna-se imperativo direcionar a análise ao mercado que se deseja atender,<br />

visando gerar vantagens competitivas ao setor pesqueiro. É preciso conhecer o consumidor,<br />

o que ele pensa, para que assim possa ofertar ca<strong>da</strong> vez mais produtos de melhor quali<strong>da</strong>de,<br />

adequados às necessi<strong>da</strong>des do consumidor moderno.<br />

Segundo <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Pesquisa de Orçamentos Familiares (IBGE, 2008) o consumo<br />

per capita de peixe no Brasil é de, aproxima<strong>da</strong>mente, 4,03 kg/hab/ano. Nas regiões Centro<br />

Oeste, Sul, Sudeste e Nordeste o consumo per capita é, respectivamente, de 1,62; 1,60;<br />

2,06 e 4,97 kg/hab/ano. A Região Norte, entretanto, é o grande destaque, sendo seu consumo<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

19


per capita de 17,54 kg/hab/ano. O estado do Amazonas é o maior consumidor per capita<br />

do Brasil, com 30 kg/hab/ano. Os estados do Pará, Acre e Amapá, embora tendo consumo<br />

menor que o do Amazonas, ain<strong>da</strong> apresentam consumo significativamente maior que o<br />

consumo médio do restante do país.<br />

No Brasil, predomina o consumo de peixe de água salga<strong>da</strong>, visto que representa<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 47% do total consumido, enquanto o consumo de peixe de água doce é<br />

de 39%. Na Região Norte, essa predominância é inversa, onde o consumo de peixe de<br />

água doce representa 62% do total e o de água salga<strong>da</strong> cerca de 30%. A exceção do Pará,<br />

em todos os estados <strong>da</strong> Região predomina o consumo de peixe de água doce, com destaque<br />

para o Amazonas (87%), Acre (83%) e Tocantins (70%). O gráfico 8 apresenta o consumo<br />

per capita de peixe de água doce e salga<strong>da</strong> no Brasil, Região Norte e Estados.<br />

Gráfico 8 – Consumo per capita de pescado no Brasil, Região Norte e Estados, 2008.<br />

Fonte: IBGE, Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2008.<br />

Quanto ao consumo per capita de pescado por faixa de ren<strong>da</strong>, observa-se que<br />

quanto maior a ren<strong>da</strong>, mais elevado o consumo de peixe. Esta tendência se verifica nas<br />

Regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro Oeste. Na Região Norte, que possui consumo per<br />

capita extremamente elevado, a tendência é oposta. A Tabela 5 apresenta a distribuição do<br />

consumo de pescado por regiões brasileiras e faixa de ren<strong>da</strong>.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 20


Tabela 5 – Consumo Per Capita anual de pescado, por faixa de ren<strong>da</strong>, nas regiões do Brasil, 2008.<br />

Fonte: IBGE, Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2008.<br />

No mercado de Belém, segundo Barbosa (2006), os consumidores preferem peixe<br />

fresco e inteiro, sendo a principal forma de consumo, cozido ou frito. O produto é adquirido<br />

principalmente nas feiras livres e os fatores decisivos na hora <strong>da</strong> compra referem-se à<br />

higiene, o preço, a textura e os aspectos visuais do pescado. Quanto ao potencial de consumo<br />

para novos produtos a base de peixe, como fishburger, bolinhos, croquetes, salsicha, linguiça<br />

e palitinhos em tabletes, estes apresentaram razoável expectativa de aceitação pelos<br />

consumidores. Em geral, os pesquisados não conhecem as proprie<strong>da</strong>des nutricionais do<br />

peixe, e os impactos positivos deste consumo para a saúde humana.<br />

Desta forma, fica evidente que as características individuais, sociais e culturais<br />

têm grande influência no momento <strong>da</strong> compra. Conhecer o consumidor e o seu modo de<br />

vi<strong>da</strong> é extremamente importante para fortalecer o setor pesqueiro regional. As ações de<br />

marketing são necessárias para que se possa compreender as necessi<strong>da</strong>des e desejos dos<br />

consumidores, visando atendê-los de forma a conquistá-los definitivamente, visto que o<br />

consumidor toma sua decisão através do julgamento de valores de diferentes atributos,<br />

como valor nutritivo, aparência, sabor, conveniência, pratici<strong>da</strong>de, embalagem e segurança<br />

alimentar.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

21


4 CONJUNTURA DO MERCADO REGIONAL<br />

A <strong>Amazônia</strong> brasileira possui significativas vantagens comparativas na produção<br />

pesqueira, tanto na pesca extrativa, quanto na piscicultura. Estima-se que o potencial <strong>da</strong><br />

pesca extrativa na região é de 1 milhão de tonela<strong>da</strong>s por ano.<br />

Na piscicultura, fatores relacionados aos recursos hídricos naturais e artificiais,<br />

além do clima e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de espécies, deixam a região bastante atraente para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des aquicolas. No entanto, em 2009, os setes estados <strong>da</strong><br />

Região Norte contribuíram com, apenas, 10,6% <strong>da</strong> aquicultura nacional de água doce<br />

(BRASIL, 2010).<br />

Na Região Norte, a produção pesqueira advém, principalmente, <strong>da</strong> pesca extrativa.<br />

Em 2009, o volume produzido nesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de ficou em torno de 228 mil tonela<strong>da</strong>s.<br />

Deste total, a pesca continental apresentou a maior participação, com uma produção<br />

estima<strong>da</strong> em 131 mil tonela<strong>da</strong>s. A pesca marinha contribuiu com cerca de 97 mil tonela<strong>da</strong>s.<br />

No que diz respeito à aquicultura, a produção regional foi de 36 mil tonela<strong>da</strong>s. Destaca-se<br />

que 99,32% desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de provêm de águas continentais (BRASIL, 2010). A Tabela 6<br />

apresenta produção estima<strong>da</strong> total do Brasil, Região Norte e estados entre 2000 e 2009.<br />

Tabela 6 – Produção total de pescado estimado por ano, estados <strong>da</strong> Região Norte (tonela<strong>da</strong>s)<br />

Fonte: BRASIL, 2010.<br />

Ao longo do período em análise a produção pesqueira regional manteve-se<br />

ligeiramente estável. Cabe ressaltar participação do Pará nesse contexto, com cerca de 51,4%,<br />

em 2009, apresentando que<strong>da</strong> de 10%, em relação a 2008. Entretanto, sua produção mantevese<br />

significativamente superior à do Amazonas, segundo maior produtor <strong>da</strong> Região. Os demais<br />

Estados do Norte apresentaram estimativas pouco expressivas no contexto regional.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 22


O setor pesqueiro <strong>da</strong> Região Norte representa, ain<strong>da</strong>, um fun<strong>da</strong>mental papel na<br />

economia regional, embora as estatísticas oficiais não mostrem <strong>da</strong>dos fidedignos <strong>da</strong> sua<br />

importância. Segundo Almei<strong>da</strong> (2006), a ren<strong>da</strong> gera<strong>da</strong> neste setor, considerando apenas a<br />

calha dos rios Amazonas e Solimões, é <strong>da</strong> ordem de R$ 389 milhões, sendo que 36% desse<br />

total são gera<strong>da</strong>s pelos frigoríficos, 33% deve-se a pesca de subsistência, 16% a pesca<br />

comercial e 15% cria<strong>da</strong>s pelas demais ativi<strong>da</strong>des do setor (combustível, peixarias, gelo,<br />

feira livres).<br />

Segundo a pesquisadora, o setor gera cerca de 160 mil empregos apenas no<br />

corredor do complexo fluvial Amazonas-Solimões, o que demonstra seu potencial para<br />

ocupação de mão de obra. Grande parte dos pescadores, normalmente, praticam outras<br />

ativi<strong>da</strong>des como a agricultura, a pecuária e a criação de pequenos animais (aves, suínos<br />

etc.) para garantir o seu sustento. Essa diversificação é feita com o objetivo de reduzir<br />

riscos e de se a<strong>da</strong>ptar à sazonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de recursos às flutuações cíclicas<br />

de estoques (ALLISON; ELLIS, 2001).<br />

No que se refere à organização dos pescadores, a forma predominante de<br />

associativismo na pesca regional são as colônias. Estas estão vincula<strong>da</strong>s a uma Federação,<br />

na região, e uma confederação, em âmbito nacional. Com a Constituição de 1988, elas<br />

foram considera<strong>da</strong>s organizações de ordem sindical e, em 2008, ficaram reconheci<strong>da</strong>s<br />

como órgãos de classe dos trabalhadores do setor artesanal <strong>da</strong> pesca. No estado do Pará<br />

existem 65 colônias de pescadores distribuí<strong>da</strong>s nos vários municípios. No Amazonas são<br />

54 colônias com 40.160 pescadores registrados.<br />

Como instituições representativas dos pescadores, deveriam assumir papel<br />

importante nas negociações e parcerias com os agentes públicos e privados, barganhando<br />

maiores benefícios para a categoria, como exemplo, na política de crédito volta<strong>da</strong> ao setor.<br />

Assim como poderiam orientar e articular cursos de capacitação técnica e gerencial, inclusive<br />

visando a agregação de valor aos produtos oriundo do trabalho dos seus afiliados.<br />

Estas instituições, no entanto, apresentam vários problemas estruturais, entre os<br />

quais se destacam, o grande número de pescadores não ca<strong>da</strong>strados nas Colônias, e as<br />

dificul<strong>da</strong>des de mobilização, dos ca<strong>da</strong>strados, para reuniões e eventos importantes para o<br />

setor. Há, ain<strong>da</strong>, inadimplência de grande número de associados, o que contribui para a<br />

precária infraestrutura física normalmente existente nestas colônias.<br />

Diante do quadro atual o nível de organização e de integração social entre os<br />

pescadores está aquém do necessário para legitimar seus interesses, no tocante a aspectos<br />

como linhas de financiamentos, assistência técnicas, infra-estrutura entre outras. Esta<br />

reali<strong>da</strong>de enfraquece o setor pesqueiro, tendo em vista que as reivindicações <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

conjuntas passam, obrigatoriamente, pela capaci<strong>da</strong>de de organização e articulação <strong>da</strong> classe.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

23


Relativamente ao mercado externo, destaca-se o Pará, que sozinho responde por<br />

mais de 95% <strong>da</strong>s exportações regionais. No ranking nacional é o segundo maior exportador<br />

(em valor), contribuindo com 20,46% do volume exportado e 18,8% do valor <strong>da</strong>s exportações<br />

brasileiras, em 2010. Suas principais espécies exporta<strong>da</strong>s são pargos e camarões, que juntas<br />

somam mais de 60% <strong>da</strong>s exportações do estado. Os principais canais de comercialização<br />

são os mercados dos Estados Unidos, Japão, China e França (BRASIL, 2011).<br />

4.1 A FROTA PESQUEIRA<br />

A principal frota pesqueira em operação na Região Norte localiza-se no estado<br />

do Pará. Estimativas <strong>da</strong> SEAP (BRASIL, 2005) apontam para a existência de 7.434<br />

embarcações, considerando somente as que atuam no litoral paraense. Os municípios de<br />

Vigia, Belém e Bragança registraram o maior número de embarcações com, respectivamente,<br />

14,9%, 13,1% e 10,7% do total.<br />

Esta frota está classifica<strong>da</strong> em barcos a motor (38,3%), barcos industriais (3,1%),<br />

canoas (18,5%), canoas motoriza<strong>da</strong>s (17%) e montarias (23,2%). Aproxima<strong>da</strong>mente 59%<br />

<strong>da</strong>s embarcações do Pará são movi<strong>da</strong>s a remo ou à vela, 93,3% medem até 12m de<br />

comprimento e a quase totali<strong>da</strong>de, cerca 97%, têm casco de madeira. Assim, predominam<br />

no estado embarcações de pequeno e médio porte com estrutura bastante rústica.<br />

Modo geral, a frota do litoral paraense é relativamente nova, visto que 61,4%<br />

possui i<strong>da</strong>de inferior a 10 anos. Estas constatações, no entanto, não se aplicam às<br />

embarcações industriais, uma vez que 49,8% delas possuem mais de 20 anos. O Pará é o<br />

único estado <strong>da</strong> Região Norte que possui frota industrial.<br />

No que tange ao registro na Capitania dos Portos, apenas 11,7% <strong>da</strong>s embarcações<br />

comprovaram inscrição neste órgão, sendo este um procedimento mais frequente nas<br />

embarcações motoriza<strong>da</strong>s, embora aproxima<strong>da</strong>mente 80% desta frota não tenha<br />

apresentado referido documento. Apenas 9,8% <strong>da</strong> frota apresentaram inscrição no Registro<br />

Geral <strong>da</strong> Pesca (RGP) e 8,3% <strong>da</strong>s embarcações declararam possuir permissão de pesca<br />

para captura de determina<strong>da</strong>s espécies.<br />

Quanto aos apetrechos de pescas utilizados pelas embarcações, constatou-se grande<br />

diversi<strong>da</strong>de de aparelhos e métodos, principalmente no que envolve a pesca artesanal, entre<br />

as quais se destacam o arrasto, armadilha, curral, linha, cerco e tarrafa. No entanto, o principal<br />

aparelho de pesca utilizado no Estado é a rede de espera, seguidos do espinhel.<br />

O sistema de conservação de pescado mais utilizado nas embarcações é o gelo,<br />

sendo que na categoria montaria 76,7% não possui sistema de conservação, ou seja, o<br />

pescado é desembarcado fresco.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 24


Os barcos industriais em operação medem, em média, de 20 a 22 m, sendo<br />

fabricados em metal, com capaci<strong>da</strong>de de força, por volta, de 375 HP e tonelagem bruta na<br />

ordem de 100 tonela<strong>da</strong>s. Tais embarcações são equipa<strong>da</strong>s com instrumentos básicos de<br />

navegação, auxiliados por alguns modernos equipamentos, como eco-son<strong>da</strong>s e GPS. Os barcos<br />

camaroeiros, geralmente, possuem sistema de congelamento a bordo. Já os piramutabeiros<br />

são mais rústicos e utilizam gelo em escamas. A frota industrial do Pará está obsoleta e<br />

inadequa<strong>da</strong>, precisando de manutenção e renovação, pois ain<strong>da</strong> é remanescente dos anos<br />

1970, ou seja, do processo de construção e nacionalização <strong>da</strong> frota nacional.<br />

Objetivando minimizar referido problema está sendo operacionalizado, atualmente,<br />

o PROFROTA. Criado pela SEAP, tal programa consiste em fornecer crédito subsidiado<br />

direcionado à construção, aquisição, modernização por conversão, a<strong>da</strong>ptação ou equipagem,<br />

de barcos pesqueiros. O objetivo é aumentar e qualificar a frota pesqueira oceânica do<br />

Brasil. A falta de frota nacional, ain<strong>da</strong>, representa um dos gargalos que entravam o<br />

desenvolvimento do setor pesqueiro no país. Sem frota própria, as empresas são obriga<strong>da</strong>s<br />

a arren<strong>da</strong>r embarcações estrangeiras, aumentando os custos de produção e causando per<strong>da</strong><br />

de divisas.<br />

Além de renovar a frota, o PROFROTA tem, também, um caráter de ordenamento<br />

pesqueiro, conduzindo a ativi<strong>da</strong>de para uma prática ambientalmente sustentável, ao<br />

desestimular a pesca de recursos sobrexplotados e estimular a construção e conversão <strong>da</strong>s<br />

embarcações para a captura de espécies pouco explora<strong>da</strong>s. O programa (financiado pelo<br />

Fundo <strong>da</strong> Marinha Mercante, FNO e Fundo Constitucional do Nordeste) é destinado a<br />

empresas pesqueiras industriais, armadores de pesca, cooperativas e associações de<br />

produtores.<br />

Quanto à rentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s embarcações industriais, segundo Isaac (1998) estimou,<br />

o custo de uma viagem padrão de barco, para captura de camarão, se estabelece em algo<br />

em torno de US$ 61.700, dos quais, US$ 50.000 referentes às despesas de viagem, US$<br />

6.000 à depreciação e US$ 5.700 aos gastos após o desembarque. Considerando a que<strong>da</strong><br />

do preço do camarão de US$ 14 para US$ 12, ocasiona<strong>da</strong> pela redução do seu tamanho<br />

capturado e pelo aumento <strong>da</strong> produção por meio <strong>da</strong> aquicultura, a viagem de pesca estaria<br />

operando com lucro, praticamente, nulo.<br />

A frota artesanal foi estu<strong>da</strong><strong>da</strong> na Região do Baixo Amazonas. Essa pesquisa<br />

mostrou que a captura média dos maiores barcos é de 4 tonela<strong>da</strong>s, a ren<strong>da</strong> de R$ 1.200,00<br />

e o lucro, de R$ 520,00/mês. Apesar <strong>da</strong> pesca artesanal ser bem menor que a captura <strong>da</strong><br />

frota industrial a lucrativi<strong>da</strong>de em termos percentuais é maior, ficando em torno de 27%<br />

para os barcos de maior porte (igual ou superior a 15 t). Apesar de a ren<strong>da</strong> ser menor em<br />

relação ao camarão, essa frota tem em torno de 7.000 barcos na <strong>Amazônia</strong>, enquanto a<br />

frota industrial é composta por aproxima<strong>da</strong>mente 250 barcos (IBAMA, 2006).<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

25


4.2 A INDÚSTRIA PESQUEIRA<br />

Os principais polos <strong>da</strong> indústria pesqueira na <strong>Amazônia</strong> localizam-se em Belém,<br />

Manaus e Santarém. Importantes volumes de pescado desembarcados nestes locais são<br />

consumidos por essa indústria. As referi<strong>da</strong>s empresas operam tanto no mercado nacional,<br />

como no internacional. As principais espécies comercializa<strong>da</strong>s no país são a piramutaba,<br />

doura<strong>da</strong>, bagre e camarão. No mercado internacional predominam as ven<strong>da</strong>s de lagosta e<br />

camarão.<br />

Os frigoríficos comercializam produto com maior grau de processamento como o<br />

filé de peixe congelado, camarão sem cabeça e peixe inteiro sem cabeça e eviscerado. No<br />

mercado internacional destaca-se, ain<strong>da</strong>, a lagosta congela<strong>da</strong>. A maior parte <strong>da</strong><br />

comercialização não é direta e acontece via revendedores e distribuidores que atuam no<br />

setor. A importância dos frigoríficos decorre <strong>da</strong> sua alta capaci<strong>da</strong>de de produção e geração<br />

de ren<strong>da</strong>. Estima-se que o valor do pescado processado pode alcançar preços até dez<br />

vezes maiores que o produto in natura. Os frigoríficos contribuem com 36% <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> total<br />

gera<strong>da</strong> pelo setor pesqueiro na <strong>Amazônia</strong> (ALMEIDA, 2006).<br />

A maioria dos frigoríficos não possui frotas próprias. Muitas empresas optaram<br />

por vender suas embarcações para pescadores e, assim, reduzir o risco do setor,<br />

concentrando-se no processamento ou na prestação deste tipo de serviço. No entanto,<br />

auxiliam os pescadores, fornecendo gelo, arreios, combustíveis e como contraparti<strong>da</strong><br />

recebem provisões de matéria prima. As empresas de processamento de pescado, em geral,<br />

possuem fábricas de gelo, muitas <strong>da</strong>s quais, inclusive, comercializam o produto. Este<br />

representa 30 a 40% do investimento total <strong>da</strong>s empresas de pequeno porte e 3% a 6%<br />

para as empresas de grande porte.<br />

No que tange as dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> indústria pesqueira regional, algumas se destacam<br />

como o próprio envelhecimento <strong>da</strong>s plantas indústrias, o cumprimento <strong>da</strong>s regulamentações<br />

exigi<strong>da</strong>s pelo Ministério <strong>da</strong> Agricultura, a diminuição <strong>da</strong> concessão de incentivos por parte<br />

do governo, o aumento do custo do setor (em grande parte provoca<strong>da</strong> pelo maior esforço<br />

de pesca <strong>da</strong>s principais espécies), a que<strong>da</strong> dos preços dos produtos (a exemplo do camarãorosa)<br />

e o treinamento <strong>da</strong> mão de obra, tendo em vista que o setor é fortemente influenciado<br />

por contrações sazonais.<br />

No entanto, o principal problema desta indústria diz respeito ao abastecimento<br />

<strong>da</strong> matéria-prima, cuja deficiência ocorre basicamente em conseqüência do período de<br />

defeso, <strong>da</strong> sazonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s espécies e a concorrência com outros mercados. Estimativas,<br />

basea<strong>da</strong>s em <strong>da</strong>dos empíricos, sempre mostraram a pesca na <strong>Amazônia</strong> sub explora<strong>da</strong>. No<br />

entanto, apesar do potencial pesqueiro <strong>da</strong> Região as principais espécies comercializa<strong>da</strong>s já<br />

mostram sinais de sobre pesca. Exemplo deste fenômeno verifica-se na pesca de piramutaba<br />

e tambaqui, cuja captura vem se tornando ca<strong>da</strong> vez mais difícil.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 26


Diante desta dificul<strong>da</strong>de algumas soluções surgem, entre as quais, o manejo<br />

adequado <strong>da</strong> pesca <strong>da</strong>s principais espécies comercializa<strong>da</strong>s, resultando em ganho de<br />

produtivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesca. Em média, a produtivi<strong>da</strong>de em áreas sem manejo é de 26 kg/hec,<br />

enquanto nas áreas maneja<strong>da</strong>s chega a 41 kg/hec. Como exemplo pode-se citar o manejo<br />

comunitário do camarão na região de Gurupá, no Estado do Pará, com o qual foi possível<br />

aumentar de 5,0 para 9,5 centímetros o tamanho do camarão.<br />

Destaca-se, ain<strong>da</strong>, como forma de amenizar a pressão sobre os recursos pesqueiros<br />

e manter o abastecimento <strong>da</strong> indústria, o investimento na piscicultura. Outra tendência é a<br />

promoção de espécies ain<strong>da</strong> não explora<strong>da</strong>s, com inovação contínua dos produtos e suas<br />

formas de apresentação, além do uso de tecnologias que diminuam a per<strong>da</strong> durante a<br />

captura e processamento, assim como, <strong>da</strong>quelas que possibilitem o aproveitamento <strong>da</strong><br />

fauna acompanhante.<br />

Relativamente à tecnologia de processamento de pescado, algumas iniciativas<br />

vêm sendo desenvolvi<strong>da</strong>s por institutos regionais, os quais tem apresentado resultados<br />

promissores, com obtenção de técnicas mais modernas e eficientes de salga, secagem e<br />

congelamento. Tratamento tecnológico tem sido aplicado, também, na transformação <strong>da</strong><br />

pele de peixes em couro para fabricação de vestimentas, sapatos, cintos, bolsas e carteiras,<br />

dentre outros. Todos esses esforços representam importantes ações no fortalecimento do<br />

setor. É provável que os principais obstáculos à difusão destas técnicas estejam relacionados<br />

à falta de infraestrutura e equipamentos indispensáveis para uma produção em larga escala,<br />

assim como, incertezas quanto a abertura de novos mercados e garantia de lucrativi<strong>da</strong>de.<br />

Desta forma, a indústria pesqueira vem diminuindo sua lucrativi<strong>da</strong>de, o que a<br />

obriga buscar eficiência e criativi<strong>da</strong>de, associando novas estratégias à diversificação de<br />

produtos e/ou mercados. Assim, o aumento <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de desta indústria passa pelo<br />

desenvolvimento de novos produtos (fishburger, defumados, triturados, empanados,<br />

marinados) e subprodutos do processamento do pescado (a exemplo do aproveitamento<br />

<strong>da</strong> barbatana e bexiga natatórias já exporta<strong>da</strong>s por duas empresas em Belém), a inserção<br />

de novas espécies e expansão dos mercados.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

27


5 CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DA PESCA E AQUICULTURA NA REGIÃO NORTE<br />

Até o momento, as análises conduzi<strong>da</strong>s tiveram por objetivo apresentar a<br />

conjuntura do mercado do setor pesqueiro em âmbito mais geral. A partir deste ponto, o<br />

esforço é voltado para a avaliação <strong>da</strong> estrutura e dinâmica local do setor na Região Norte,<br />

visando traçar um retrato pormenorizado <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des dos estados mais representativos.<br />

Para isso, apresenta-se o resultado do Índice de Concentração Normalizado (ICN) com o<br />

objetivo de identificar as microrregiões de maior expressão na produção de pescado.<br />

O ICN é um indicador de concentração espacial <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des produtivas, cuja<br />

metodologia encontra-se descrita no apêndice metodológico deste trabalho. Os cálculos<br />

deste índice foram elaborados a partir do emprego formal e número de estabelecimentos<br />

indicados pela Relação Anual de Informações Sociais (BRASIL, 2009), do Ministério do<br />

Trabalho e Emprego, assim como, o crédito com recursos do FNO. A seguir, apresenta-se<br />

breve descrição dessas três variáveis:<br />

Emprego: esta variável revela a importância <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des formais dos<br />

municípios no contexto <strong>da</strong> economia do estado. Mantém uma correlação forte<br />

com o capital humano e social, vez que representa o potencial para evoluir<br />

como ativi<strong>da</strong>de empresarial e estimuladora <strong>da</strong>s cadeias produtivas~<br />

Estabelecimento: mede a importância <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de em foco na dinamização<br />

<strong>da</strong> economia local em relação à estrutura empresarial estabeleci<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong><br />

microrregião analisa<strong>da</strong>.<br />

Crédito: o crédito é uma variável que deveria manter forte correlação com as<br />

duas variáveis anteriores, vez que sua aplicação deve ter como condição os<br />

locais onde há real potencial de desenvolvimento, indica<strong>da</strong>s pelas variáveis<br />

emprego e estabelecimento.<br />

A Tabela 7 e os mapas de 1 a 6, a seguir, destacam as microrregiões especializa<strong>da</strong>s,<br />

conforme definido no apêndice metodológico.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 28


Tabela 7 – Microrregiões especializa<strong>da</strong>s pelo Índice de Concentração Normalizado (ICN) segmentos<br />

emprego, estabelecimento e crédito <strong>da</strong> pecuária FNO, 2000/2004.<br />

Fonte: <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> pesquisa.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

29


Mapa 1 – Microrregiões com Índice de Concentração Normalizado (ICN) maior<br />

que a média para o número de estabelecimentos, 2000.<br />

Fonte: BRASIL, 2009.<br />

Mapa 2 – Microrregiões com Índice de Concentração Normalizado (ICN) maior<br />

que a média para emprego formal, 2000.<br />

Fonte: BRASIL, 2009.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 30


Mapa 3 – Microrregiões com Índice de Concentração Normalizado (ICN) maior<br />

que a média para o número de estabelecimentos, 2004.<br />

Fonte: BRASIL, 2009.<br />

Mapa 4 – Microrregiões com Índice de Concentração Normalizado (ICN) maior<br />

que a média para emprego formal, 2004.<br />

Fonte: BRASIL, 2009.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

31


Mapa 5 – Microrregiões com Índice de Concentração Normalizado (ICN) de crédito<br />

na pesca e piscicultura do FNO maior que a média, 2000.<br />

Fonte: BRASIL, 2009.<br />

Mapa 6 – Microrregiões com Índice de Concentração Normalizado (ICN) de crédito<br />

na pesca e piscicultura do FNO maior que a média, 2004.<br />

Fonte: BRASIL, 2009.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 32


Conforme se observa nos Mapas de 1 a 6, não há ICN significativo para as variáveis<br />

emprego e estabelecimento, nos estados do Amapá e Roraima. Acre, Tocantins e Rondônia<br />

são pouco especializados na produção pesqueira. Deste grupo, Tocantins apresenta o maior<br />

registro de microrregiões especializa<strong>da</strong>s, que são: Gurupi, Rio Formoso e Dianopólis. Isto se<br />

justifica, pois nestas áreas estão localizados os principais projetos de piscicultura do estado.<br />

O Amazonas possui um nível maior de especialização com seis microrregiões<br />

com ICN significativos, quais sejam: Coari, Madeira, Manaus, Tefé, Itacoatiara, Rio Preto <strong>da</strong><br />

Eva. O maior destaque no estado é a microrregião de Coari, cuja especialização foi verifica<strong>da</strong><br />

em ambos os períodos analisados, tanto na variável Emprego como Estabelecimento. Esse<br />

resultado está associado à existência de uma expressiva frota pesqueira e de empresas,<br />

motivados pelo potencial dos rios e lagos interiores.<br />

O estado do Pará, no entanto, é aquele que detêm a maior especialização <strong>da</strong><br />

Região Norte, com doze microrregiões, nas quais incluem-se Belém, Castanhal, Salgado,<br />

Bragantina, Tucuruí, São Felix do Xingu, Óbidos, Altamira, Santarém, Itaituba, Almerim,<br />

Arari. Os principais destaques do estado, com ICN significativo em 2000 e 2004, tanto para<br />

emprego como estabelecimento são as microrregiões de Belém, Salgado e Bragantina.<br />

Destaca-se que microrregiões que possuem ICN significativo para estabelecimento,<br />

sem a correspondente geração de expressivo ICN para emprego, como as microrregiões<br />

localiza<strong>da</strong>s no Amazonas (Itacoatiara e Rio Preto <strong>da</strong> Eva), Acre (Taraucá), Pará (Castanhal,<br />

Santarém e Itaituba) e Tocantins (Gurupi, Rio Formoso), caracterizam-se por forte<br />

informali<strong>da</strong>de em suas estruturas produtivas. Neste caso, é plenamente factível e necessário<br />

estimular as empresas a inserirem novos trabalhadores no mercado formal.<br />

Quanto ao ICN Crédito FNO, as microrregiões de Rio Preto <strong>da</strong> Eva, no Amazonas,<br />

e Arari, no Pará, se sobressaem, pois apresentam ICN significativos para ambos os períodos<br />

analisados. No entanto, observa-se que estas microrregiões não possuem expressão nas<br />

outras variáveis. Especificamente em 2004, as microrregiões localiza<strong>da</strong>s no Amapá (Macapá,<br />

Oiapoque), Amazonas (Manaus), Rondônia (Porto Velho) e Roraima (Caracaraí) se<br />

destacaram no ICN Crédito FNO, sem, no entanto, apresentarem, novamente, rebatimentos<br />

importantes no emprego, ou em estabelecimentos gerados no período.<br />

Assim, ressalta-se a divergência entre as microrregiões com ICN significativos<br />

para Crédito FNO com as microrregiões especializa<strong>da</strong>s, conforme as variáveis emprego e<br />

estabelecimento, o que pressupõe a necessi<strong>da</strong>des de ajustes técnicos na aplicação do crédito<br />

FNO ao setor. O direcionamento de recursos para regiões pouco dinâmicas na pesca e<br />

piscicultura, como vem acontecendo atualmente, pouco contribui para a integração e<br />

fortalecimento <strong>da</strong> cadeia produtiva pesqueira regional, tornando seus impactos restritos,<br />

em grande parte, ao mercado local.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

33


5.1 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO PARÁ<br />

Atualmente, o Pará é o segundo maior produtor nacional de pescado. As estatísticas<br />

mais recentes, referentes ao ano de 2009, indicam que o estado responde por 51,64% <strong>da</strong><br />

produção <strong>da</strong> Região Norte e 10,98% <strong>da</strong> produção nacional (BRASIL, 2010). No período<br />

2000/2009, contribuiu fortemente para a ampliação <strong>da</strong> produção nacional, alcançando o<br />

patamar de 136 mil tonela<strong>da</strong>s, em 2009. Entretanto, observou-se ligeiro decréscimo no<br />

período de 1,5% ao ano, que pode ter sido influenciado pela que<strong>da</strong> na produção de 10%,<br />

em 2009, em relação a 2008 (Gráfico 9).<br />

Gráfico 9 – Evolução <strong>da</strong> produção total de pescado no estado do Pará, 2000-2009.<br />

Fonte: BRASIL, 2010.<br />

A produção de pescado do estado do Pará é oriun<strong>da</strong> de três ativi<strong>da</strong>des: pesca<br />

artesanal, industrial e aquicultura. A captura de modo artesanal é realiza<strong>da</strong> em praticamente<br />

todos os municípios do estado e gera uma gama de espécies bastante diversifica<strong>da</strong>. Segundo<br />

<strong>da</strong>dos do IBAMA (2007), esta ativi<strong>da</strong>de responde por 84,2% <strong>da</strong> produção estadual.<br />

O segmento de pesca industrial detém 14% <strong>da</strong> produção estadual e se resume à<br />

captura e processamento de uma pauta reduzi<strong>da</strong>, concentrando-se fun<strong>da</strong>mentalmente em<br />

duas espécies: o camarão-rosa e a piramutaba. O foco central dessa produção é o comércio<br />

exterior. A aquicultura, por sua vez, ain<strong>da</strong> é bastante reduzi<strong>da</strong> no estado, com participação<br />

inferior a 2% do total. Neste segmento, são produzi<strong>da</strong>s em águas continentais espécies<br />

como tambaqui e tambatinga, e em água salga<strong>da</strong>, o camarão (IBAMA, 2007).<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 34


Nos municípios especializados o setor pesqueiro contribui fortemente na<br />

dinamização <strong>da</strong> economia local, constituindo importante elemento gerador de ren<strong>da</strong><br />

municipal. As principais transações comerciais realiza<strong>da</strong>s nas ci<strong>da</strong>des são a aquisição de<br />

insumos (combustível, gelo, etc.) e matéria-prima (pescado). Também, observa-se a utilização<br />

de serviços locais de manutenção (motores, máquinas, etc.) relevantes para as empresas<br />

de pequeno e médio porte (SANTOS, 2005).<br />

Com relação à distribuição <strong>da</strong> produção por municípios paraense, segundo <strong>da</strong>dos<br />

do IBAMA (2006), Belém ocupa o primeiro lugar em termos de produção desembarca<strong>da</strong>,<br />

representando 16,57% do total. Em segundo surge Vigia, com 14,45%. Os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Tabela<br />

8 mostram os principais municípios produtores de pescado no Estado do Pará.<br />

Tabela 8 – Principais municípios produtores de pescado no estado do Pará, 2000/2004.<br />

Fonte: IBAMA, 2006.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

35


Quanto às indústrias de beneficiamento local, o principal destino nacional de<br />

sua produção são os estados <strong>da</strong> Região Nordeste e Sudeste e, no exterior, os Estados<br />

Unidos. No que diz respeito à sua capaci<strong>da</strong>de competitiva, dentre os fatores que concorrem<br />

para a manutenção <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de do setor, destacam-se a quali<strong>da</strong>de do produto,<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matéria-prima e outros insumos, capaci<strong>da</strong>de de atendimento (volume e<br />

prazo) e estratégias de comercialização. Enquadram-se, como médio grau de importância,<br />

os itens quali<strong>da</strong>de e custo <strong>da</strong> mão de obra, nível tecnológico dos equipamentos,<br />

capaci<strong>da</strong>de de introdução de novos produtos e processos, desenho e estilo nos produtos<br />

(SANTOS, 2005)<br />

Quanto aos tipos de políticas públicas sugeri<strong>da</strong>s para a elevação <strong>da</strong><br />

competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s empresas do setor, Santos (2005) salienta as relaciona<strong>da</strong>s ao crédito<br />

e incentivos fiscais. No que diz respeito ao acesso a crédito, as principais limitações<br />

enfrenta<strong>da</strong>s pelas empresas foram:<br />

dificul<strong>da</strong>des ou entraves burocráticos para se utilizar às fontes de<br />

financiamento;<br />

inexistência de linhas de crédito adequa<strong>da</strong>s às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa;<br />

exigência de aval/garantias por parte <strong>da</strong>s instituições de financiamento;<br />

entraves fiscais que impedem o acesso às fontes oficiais de financiamento.<br />

Em segundo lugar nas priori<strong>da</strong>des de políticas públicas, mas ain<strong>da</strong> com eleva<strong>da</strong><br />

importância, foi indica<strong>da</strong> a criação de programas de acesso à informação (tecnológica,<br />

mercadológica, etc.), sobretudo pelas empresas de pequeno e médio porte,<br />

reconheci<strong>da</strong>mente pela necessi<strong>da</strong>de de profissionalização constante dos agentes que atuam<br />

no setor pesqueiro do município.<br />

Por fim, política de melhoria na educação básica também foi indica<strong>da</strong>, porém<br />

com menor grau de relevância, devido ao acúmulo de conhecimento tácito sobre a ativi<strong>da</strong>de<br />

pesqueira, este sim, considerado indispensável.<br />

5.2 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO AMAZONAS<br />

A pesca no estado do Amazonas constitui importante ativi<strong>da</strong>de social, econômica<br />

e cultural. Segundo <strong>da</strong>dos do MPA (BRASIL, 2010) a produção total de pescado estima<strong>da</strong> é<br />

de 81.344,6 tonela<strong>da</strong>s ano, sendo que 71.109,9 são decorrentes <strong>da</strong> pesca extrativa<br />

continental e 10.234,7 provêm <strong>da</strong> aquicultura continental.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 36


Além do potencial pesqueiro, a produção aquícola na região, tem se mostrado<br />

bastante viável, sendo que explora cerca de 500 ha, proporcionando uma produtivi<strong>da</strong>de de<br />

4.000 kg/ha/ano. O estado, também, possui exemplos de pesca maneja<strong>da</strong> que vêm<br />

apresentando excelentes resultados, como a capturas de pirarucu na área de preservação<br />

ambiental de Mamirauá, que conta com a produção de aproxima<strong>da</strong>mente 1.200 tonela<strong>da</strong>s/<br />

ano. Esta prática tem gerado melhora na ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, tendo em vista que, após<br />

o manejo, o preço de ven<strong>da</strong> do produto aumentou.<br />

Estima-se que 180 mil empregos são gerados pela pesca neste estado, em vários<br />

níveis, seja na indústria de navegação e materiais de pesca, indústria de beneficiamento,<br />

nas feiras e mercados, dentre outros. Segundo informações <strong>da</strong> Federação dos Pescadores<br />

dos Estados do Amazonas e Roraima (FEPESCA), existem no Amazonas 40.160 pescadores<br />

registrados nas 54 colônias de pescadores forma<strong>da</strong>s na região, sendo que 22 mil possuem<br />

seus registros totalmente atualizados pela SEAP e o pagamento de seguro desemprego, na<br />

época do defeso, é de cerca de R$ 36 milhões. A assistência técnica oficial é presta<strong>da</strong> a<br />

6.295 pescadores artesanais e 1.200 aquicultores familiares.<br />

Com relação à produção de ração, como mostra a Tabela 9, em 2006, existiam<br />

oito fábricas de ração que produziam e comercializavam ração extrusa<strong>da</strong> para peixe no<br />

Amazonas, com uma produção aproxima<strong>da</strong> de 800 tonela<strong>da</strong>s/mês. Sendo que a maioria<br />

delas estava concentra<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de de Manaus e municípios vizinhos, atendendo grande<br />

parte <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> região para peixes onívoros, mas ain<strong>da</strong> operam com capaci<strong>da</strong>de<br />

ociosa.<br />

Tabela 9 – Capaci<strong>da</strong>de de produção <strong>da</strong>s fábricas de ração do estado do Amazonas, 2006.<br />

Fonte: <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> pesquisa.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

37


Segundo ONO (2005) os principais ingredientes usados nas formulações <strong>da</strong>s rações<br />

para peixes são produzidos nos estados <strong>da</strong> Região, como é o exemplo dos grãos de soja e<br />

milho procedentes dos estados do MT, RO, PA, TO e RR, farelo de soja (MT, PA), farelo de<br />

quirera de arroz, raspa e amido de mandioca (AC, RR, AM, PA), farelo e farinha de trigo<br />

(AM, PA), farinha de carne e ossos, farinha de sangue (MT, AM, PA, AC).<br />

Além dos ingredientes produzidos na Região há, ain<strong>da</strong>, a possibili<strong>da</strong>de de importação<br />

de farinha de peixe do Perú, com isenção do imposto de importação para os estados do<br />

Amazonas e Amapá. É importante frisar que apesar <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de tais ingredientes<br />

na Região, o que possibilita a produção de ração para peixes carnívoros, as indústrias em<br />

operação não produzem este tipo de ração devido a falta de equipamentos adequados.<br />

A região conta, ain<strong>da</strong>, com suficiente oferta de alevinos <strong>da</strong>s principais espécies (a<br />

exceção do Pirarucu) para atender a deman<strong>da</strong> imediata dos piscicultores na maioria dos<br />

estados amazônicos. A produção do estado era de 25 milhões de pós-larvas, que eram<br />

distribuí<strong>da</strong>s para 46 uni<strong>da</strong>des municipais.<br />

No que se refere à frota pesqueira, o Amazonas conta com 743 embarcações<br />

ca<strong>da</strong>stra<strong>da</strong>s e registra<strong>da</strong>s e mais 286 em processo de ca<strong>da</strong>stramento. O estado concede uma<br />

isenção de 17% do ICMS do óleo diesel – cota de 9 milhões de litros/ano para 722 embarcações<br />

pesqueiras. Quanto à produção de gelo a capaci<strong>da</strong>de produtiva é de 4500 tonela<strong>da</strong>s mês.<br />

Relativamente à exportação, o estado do Amazonas destaca-se na comercialização<br />

de peixes ornamentais vivos, onde sua participação é de 85% <strong>da</strong>s exportações brasileira,<br />

com ven<strong>da</strong>s para 35 países. Esta produção provém principalmente do rio Negro, que fornece<br />

cerca de 500 espécies de valor comercial. A captura, somente no período entre agosto de<br />

2005 e abril de 2006, foi de 30 milhões de uni<strong>da</strong>des, movimentando cerca de US$ 5 milhões/<br />

ano, e empregando mais de 10 mil pessoas (IBAMA, 2007).<br />

A pesca esportiva é um novo segmento que vem movimentando o setor. O<br />

crescimento desta ativi<strong>da</strong>de está relacionado à presença de espécies, como o Tucunaré, um<br />

peixe de comportamento bastante agressivo, o que atrai aficcionados de todo o mundo.<br />

Esta ativi<strong>da</strong>de tornou-se política oficial, cujo objetivo é transformá-la em instrumento de<br />

desenvolvimento socioeconômico e de conservação ambiental na Região. O principal local<br />

de exploração abrange a região do médio rio Negro e seus afluentes, destacando-se os rios<br />

Jurubaxi, Araçá, Demeni, Cuiuini, Caurés, Paduairi e Unini.<br />

Esta ativi<strong>da</strong>de apresenta grande potencial de crescimento, por ser muito aprecia<strong>da</strong><br />

por turistas estrangeiros. Assim, pode constituir uma interessante porta de entra<strong>da</strong> de recursos<br />

para região. Para se ter uma idéia, os pacotes vendidos para um período de sete dias giram<br />

em torno de US$ 3 mil, durante a tempora<strong>da</strong>, que vai de outubro a março por coincidir com<br />

o período de águas baixas. Diversos municípios do estado promovem torneio de pesca<br />

esportiva, como, por exemplo, o torneio de pesca do tucunaré, realizado no Lago de Balbina,<br />

município de Presidente Figueiredo. A mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de predominante é a pesca-e-solta.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 38


5.3 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO TOCANTINS<br />

No estado do Tocantins, a fase de maior expansão <strong>da</strong> piscicultura ocorreu a partir<br />

de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990. Em 2002, os <strong>da</strong>dos de Ruraltins apontavam para a existência<br />

de 155 pequenos produtores, perfazendo uma área de 442,5 hectares de lâmina d’água.<br />

Estes números excluem o Projeto Tamborá, localizado no município de Almas, que possui<br />

800 hectares de lâmina d’água, além de uma fábrica de ração (4 t./hora de capaci<strong>da</strong>de de<br />

processamento) e um frigorífico com registro no SIF. Além <strong>da</strong> própria produção, o Projeto<br />

tem adquirido peixe para processamento de cerca de 50 piscicultores <strong>da</strong> região e<br />

proporcionado em torno de 60 empregos diretos.<br />

Os relatos apontam que cerca de 50% <strong>da</strong> infraestrutura instala<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de<br />

1990 estão paralisa<strong>da</strong>s ou desativa<strong>da</strong>s, especificamente, no que concerne aos pequenos<br />

produtores. Os <strong>da</strong>dos mais recentes <strong>da</strong> SEAP confirmam esta situação, pois registram que<br />

a área de produção, de aproxima<strong>da</strong>mente 223 hectares, refere-se a, apenas, 16 piscicultores<br />

registrados na SEAP. Além destes, a SEAP informou que tem conhecimento de mais 17<br />

piscicultores no estado, que estão providenciando regularização junto ao Ibama/Naturatins,<br />

como licença e outorga d‘água, já que, para serem registrados na SEAP, precisam estar<br />

devi<strong>da</strong>mente regularizados junto aos órgãos ambientais.<br />

Nas entrevistas com empresários e técnicos, foi possível identificar alguns dos<br />

fatores condicionantes desta situação. Inicialmente, há necessi<strong>da</strong>de de ampliar o quadro<br />

de técnicos especializados em piscicultura, visando à prestação de assistência técnica de<br />

modo mais contínuo aos pequenos produtores. Isto, sem dúvi<strong>da</strong>, tem levado muitos projetos<br />

ao insucesso, <strong>da</strong>do o pouco conhecimento técnico relativo à alimentação e manejo. A<br />

ausência de ração de quali<strong>da</strong>de, também, é fator limitante, pois, ain<strong>da</strong> hoje, muitos<br />

produtores elaboram a sua ração de forma artesanal, o que afeta o desempenho dos peixes<br />

e a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água dos tanques. Mais recentemente, os produtores alegam a concorrência<br />

com outras carnes, em especial, a de frango, que pelos baixos preços tem gerado um efeito<br />

substituição.<br />

Entre as espécies cultiva<strong>da</strong>s, o tambaqui é predominante. Outras também<br />

representativas são: pacu, caranha e pintado. Existem, ain<strong>da</strong>, alguns produtores investindo<br />

na criação de pirarucu. Em termos de desempenho produtivo, as despesas ocorrem a partir<br />

dos 10 meses de cultivo com peixes pesando cerca de 1,5 kg, que é o padrão preferido pelo<br />

consumidor estadual, ao preço médio de R$ 3,00/kg. A produtivi<strong>da</strong>de média é de 10<br />

tonela<strong>da</strong>s por hectare. Os produtores com nível tecnológico mais baixo obtêm entre 5 e 6<br />

t./ha, aqueles com mais tecnologia entre 10 e 12 t./ha.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

39


5.4 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DO ACRE<br />

No Acre praticamente não existe pesca comercial e industrial. A produção pesqueira<br />

é oriun<strong>da</strong>, basicamente, <strong>da</strong> piscicultura, que se inicia de forma lenta e rudimentar. A ativi<strong>da</strong>de<br />

não é vista como um negócio, mas sim, como alternativa de subsistência e lazer, apesar do<br />

estado possuir uma boa base instala<strong>da</strong>.<br />

As espécies mais cultiva<strong>da</strong>s nas estações de alevinagem são: Tambaqui, Tilápia e<br />

Curimatã. Segundo <strong>da</strong>dos do Zoneamento Econômico e Ecológico do Acre, a maioria <strong>da</strong>s<br />

espécies cria<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong>, é originária <strong>da</strong> própria região e foi captura<strong>da</strong> em rios, igarapés ou<br />

açudes (SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL, 2002).<br />

Em Rio Branco existem, apenas, três laboratórios de alevinos, entretanto,<br />

encontram-se laboratórios inativos e uma uni<strong>da</strong>de produtora de alevinos, embora com<br />

baixo padrão genético, sob a administração <strong>da</strong> SEAP. No passado, o estado chegou a<br />

produzir 10 milhões de alevinos, com oito laboratórios funcionando.<br />

Em função <strong>da</strong> baixa quali<strong>da</strong>de dos alevinos, com estado nutricional ruim, está<br />

sendo mais atrativo adquirir peixe de Rondônia. Para se ter uma idéia, o índice de mortali<strong>da</strong>de<br />

de alevinos está em torno de 30%, no estado. Dessa forma, o produtor tem pouca opção<br />

para aquisição, em virtude <strong>da</strong> desorganização do setor.<br />

Outra dificul<strong>da</strong>de refere-se à estrutura de fornecimento de insumos, que é<br />

praticamente inexistente no estado, sendo que a importação de insumos de outras<br />

locali<strong>da</strong>des, como São Paulo e Manaus, tem onerado em até 30% os custos de produção<br />

(SENAI, 2002).<br />

Além desses fatores, segundo produtores <strong>da</strong> região, os principais gargalos <strong>da</strong><br />

piscicultura no Acre referem-se à comercialização, a falta de indústrias de processamento<br />

e a carência de estudos e pesquisas locais de apoio à produção pesqueira.<br />

Na piscicultura destacam-se a carência de infraestrutura e profissionais<br />

qualificados para prestação de serviços e assistência técnica, a inexistência de estudos e<br />

pesquisas locais para apoio à produção, baixa capaci<strong>da</strong>de de gestão e baixa produtivi<strong>da</strong>de<br />

dos empreendimentos aquícolas, inexistência de um planejamento <strong>da</strong> produção para a<br />

entressafra <strong>da</strong> pesca extrativa, além dos elevados custos dos insumos e preço do pescado,<br />

o que inibe o consumo.<br />

No que tange ao processamento, os maiores problemas referem-se à inexistência<br />

de infraestrutura para o beneficiamento do pescado e a baixa quali<strong>da</strong>de do produto oferecido<br />

ao consumidor. Quanto à distribuição/comercialização, destaca-se a apresentação<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 40


inadequa<strong>da</strong> do produto ao consumidor direto, a falta de técnicas no transporte do pescado,<br />

equipamentos e insumos inapropriados e a precarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s.<br />

Os peixes produzidos são vendidos vivos ou eviscerados, sem maior agregação<br />

de valor, em pequenos varejos, pesque-pagues e feiras e grande parte do peixe consumido<br />

no estado é proveniente de Rondônia e do Amazonas.<br />

5.5 DINÂMICA LOCAL DA PESCA E AQUICULTURA NO ESTADO DE RONDÔNIA<br />

A produção de pescado em Rondônia advém, em maior proporção, <strong>da</strong> piscicultura,<br />

pois a pesca artesanal é de pequena escala e desenvolvi<strong>da</strong>, apenas, por populações<br />

ribeirinhas com a finali<strong>da</strong>de de subsistência. O marco de expansão <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de foi o ano<br />

de 1992, ocasião em que foi realizado o primeiro encontro de piscicultores do estado do<br />

Rondônia. Antes eram poucas as iniciativas empresariais.<br />

Outro avanço foi à adoção <strong>da</strong> ração extrusa<strong>da</strong>, a partir de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de<br />

1990. Esse produto tem como característica flutuar na superfície <strong>da</strong> água e viabilizar maior<br />

aproveitamento do alimento pelos peixes, além de evitar o acúmulo nos fundos dos tanques,<br />

problema que é típico <strong>da</strong> ração peletiza<strong>da</strong>, usa<strong>da</strong> até então.<br />

Existem cerca de 800 piscicultores em Rondônia, o que corresponde a<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 1.000 hectares de lâmina d’água. A espécie predominante cultiva<strong>da</strong> é o<br />

tambaqui, que representa cerca de 95% <strong>da</strong> produção. Em termos de distribuição espacial,<br />

a ativi<strong>da</strong>de está concentra<strong>da</strong> nos municípios de Ariquemes, Pimenta Bueno e Rolim de<br />

Moura. Somente em Ariquemes, existem 180 piscicultores, produzindo cerca de 1.200<br />

tonela<strong>da</strong>s de pescado por ano.<br />

O investimento para implantação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de é alto podendo oscilar entre R$ 20<br />

e R$ 40 mil por hectare, dependendo do nível tecnológico utilizado. Após a implantação do<br />

projeto, o elemento de maior peso no custo de produção é a ração, grande parte sendo<br />

importa<strong>da</strong> de Goiás e São Paulo, representando de 70 a 75% do custo de produção. A<br />

adoção de práticas de manejo adequa<strong>da</strong>s pode proporcionar até duas safras por ano,<br />

dependendo do tamanho do peixe deman<strong>da</strong>do pelo mercado. A ativi<strong>da</strong>de possui, no Estado,<br />

grande potencial de crescimento, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as condições favoráveis de topografia, clima e<br />

água.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

41


6 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A produção de pescado no mundo e no Brasil seguem tendências similares. Estas<br />

podem ser sintetiza<strong>da</strong>s pela eleva<strong>da</strong> representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesca extrativa e pelas altas<br />

taxas de crescimento anual <strong>da</strong> aquicultura. Entre 1995 e 2008, a produção mundial de<br />

pescado aumentou, aproxima<strong>da</strong>mente, 1,97% ao ano, sendo que a pesca extrativa encolheu<br />

em média 0,18% ao ano, enquanto que a aquicultura manteve um ritmo de crescimento<br />

de 6,36% ao ano. Na déca<strong>da</strong> de 1980, segundo a FAO, a aquicultura representava menos<br />

de 10% do total produzido. Em contraposição, em 2008, referi<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de contribuiu<br />

com aproxima<strong>da</strong>mente 43% <strong>da</strong> produção mundial.<br />

No Brasil, entre 1995 e 2008, a produção de pescado elevou-se a uma taxa de<br />

4,25% ao ano. Este padrão de crescimento tem se mantido principalmente pela contribuição<br />

<strong>da</strong> aquicultura, que, no período, cresceu a uma taxa de 14,2% ao ano, elevando a sua<br />

participação na produção nacional de 7,08%, em 1995, para 27,24%, em 2008. A pesca<br />

extrativa também cresceu, mas em proporção bem inferior, cerca de 2,29% ao ano. Desta<br />

forma, a aquicultura deverá atuar como uma ativi<strong>da</strong>de complementar à pesca,<br />

especialmente, num contexto de redução dos estoques naturais. Adicionalmente, a<br />

aquicultura traz como diferencial competitivo à possibili<strong>da</strong>de de maior integração à<br />

agroindústria, pois permite uma oferta mais regular do produto.<br />

No que tange ao comércio internacional do setor pesqueiro, em 2006, as<br />

exportações mundiais movimentaram aproxima<strong>da</strong>mente US$ 86,4 bilhões. Os 20 principais<br />

exportadores, liderados pela China, foram responsáveis por cerca de 71,91% do total. O<br />

Brasil exportou neste ano apenas US$ 374,4 milhões e não faz parte do grupo dos maiores<br />

exportadores mundiais. No entanto, a participação brasileira vem melhorando ao longo<br />

dos últimos anos e, entre 1998 e 2006, o valor <strong>da</strong>s suas exportações triplicou.<br />

Quanto aos produtos brasileiros exportados, estes são poucos diversificados, sendo<br />

que 50% <strong>da</strong>s exportações são concentra<strong>da</strong>s nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des lagosta e camarão, o que<br />

acentua a fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> indústria pesqueira brasileira em seu comércio internacional.<br />

Destaca-se que a partir de 2003, <strong>da</strong><strong>da</strong> a elevação cambial e as barreiras impostas pelos<br />

mercados internacionais, principalmente ao camarão, ocorre uma que<strong>da</strong> acentua<strong>da</strong> no<br />

saldo <strong>da</strong> balança comercial do setor no Brasil.<br />

O consumo per capita mundial é estimado em 16,7 kg/hab/ano. Nos países <strong>da</strong><br />

União Européia a média é de 22 kg/hab/ano, por outro lado, nas economias em<br />

desenvolvimento este valor não chega a atingir os 15 kg/hab/ano. A mu<strong>da</strong>nça no hábito<br />

dos consumidores é um fator que contribui para o maior consumo de peixe nos países com<br />

eleva<strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s per capita, pois há uma níti<strong>da</strong> valorização dos atributos do pescado em<br />

relação a outras fontes de proteína animal, associando o seu consumo à saúde humana.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 42


No Brasil, segundo o IBGE (2008), em 2008, o consumo per capita foi cerca de<br />

4,03 kg/hab/ano. A Região Norte foi o grande destaque, cujo consumo per capita foi de<br />

17,54 kg/hab/ano. O Estado do Amazonas foi o maior consumidor do Brasil, com 30 kg/<br />

hab/ano. Os estados do Pará, Acre e Amapá, também, apresentaram consumo<br />

significativamente maior que o restante do país. Quanto ao consumo por faixa de ren<strong>da</strong>, a<br />

tendência em to<strong>da</strong>s as Regiões do Brasil é de que quanto maior a ren<strong>da</strong> maior o consumo.<br />

A Região Norte, a qual possui consumo per capita extremamente elevado, é exceção a<br />

regra, já que o consumo per capita decresce com aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>.<br />

A Região Norte é a terceira maior produtora de pescado do Brasil. Em 2009, o<br />

volume total produzido foi de 263,8 mil tonela<strong>da</strong>s. Deste montante a pesca extrativa<br />

continental representou 49,54%, a pesca extrativa marinha 36,8% e a aqüicultura 13,66%.<br />

Os estados do Pará e Amazonas, em conjunto, somam 82,47% <strong>da</strong> produção regional. No<br />

Pará, Amazonas e Amapá a produção é altamente concentra<strong>da</strong> na pesca artesanal. Nos<br />

outros estados <strong>da</strong> região, cuja produção é residual, o destaque fica para a aquicultura.<br />

Não obstante a pesca extrativa responder por 86,34% <strong>da</strong> produção regional, sua<br />

estrutura, ain<strong>da</strong>, é pouco eficiente. No que tange as embarcações, predominam no litoral<br />

do Pará as de pequeno e médio porte com estrutura bastante rústica. No geral, o maior<br />

número de embarcações possui i<strong>da</strong>de inferior a 10 anos. No entanto, quanto às embarcações<br />

industriais, aproxima<strong>da</strong>mente, metade tem mais de 20 anos e já se encontra sucatea<strong>da</strong>.<br />

Estas apresentam baixa rentabili<strong>da</strong>de, ocasiona<strong>da</strong> pelos altos custos operacionais e pela<br />

que<strong>da</strong> no preço dos principais produtos gerados nesta ativi<strong>da</strong>de. Já nas embarcações<br />

artesanais a rentabili<strong>da</strong>de é mais equilibra<strong>da</strong>, embora a ren<strong>da</strong> gera<strong>da</strong> seja menor e o<br />

pescador tenha maior dificul<strong>da</strong>de em controlar custos.<br />

Quanto à organização dos pescadores, as colônias constituem a forma de<br />

associativismo predominante na pesca regional. Estas, por sua vez, estão liga<strong>da</strong>s as<br />

federações e confederações, respectivamente, em âmbito estadual e federal. É fato,<br />

entretanto, que existe um grande número de pescadores que sequer estão ca<strong>da</strong>strados.<br />

Entre os ca<strong>da</strong>strados há dificul<strong>da</strong>des de mobilização para reunião e eventos importantes<br />

para o setor. Há, ain<strong>da</strong>, inadimplência de grande número de associados, o que contribui<br />

para a precária infraestrutura física destas colônias. Assim, o nível de organização e de<br />

integração social entre os pescadores está aquém do necessário para legitimar os anseios<br />

<strong>da</strong> classe, no tocante aos aspectos como linha de financiamento, assistência técnica,<br />

infraestrutura entre outras necessi<strong>da</strong>des.<br />

No que tange a indústria pesqueira, seus principais pólos regionais localizam-se<br />

em Belém, Manaus e Santarém. As referi<strong>da</strong>s empresas operam, principalmente, no mercado<br />

nacional e internacional. A maior parte <strong>da</strong> comercialização não é direta e acontece via<br />

revendedores e distribuidores que atuam no setor. Um importante problema <strong>da</strong> indústria<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

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pesqueira <strong>da</strong> <strong>Amazônia</strong> diz respeito ao abastecimento <strong>da</strong> matéria-prima, em consequência<br />

do período de defeso, <strong>da</strong> sazonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s espécies e a concorrência com outros mercados.<br />

Apesar do potencial pesqueiro <strong>da</strong> região, as principais espécies comercializa<strong>da</strong>s já mostram<br />

sinais de sobre pesca. Assim, se por um lado existe enorme potencial pesqueiro na <strong>Amazônia</strong>,<br />

por outro, algumas espécie vem perdendo sua capaci<strong>da</strong>de de suportar maiores pressões<br />

pesqueiras.<br />

Para amenizar a pressão sobre o recurso pesqueiro e regular o abastecimento de<br />

pescado para indústria, há necessi<strong>da</strong>de de investimentos na piscicultura. A Região Norte<br />

possui boas condições naturais para o seu desenvolvimento acelerado, tendo em vista a<br />

grande disponibili<strong>da</strong>de de recursos hídricos, diversi<strong>da</strong>de de espécies com valor de mercado,<br />

topografia e clima apropriado. No entanto, os setes estados <strong>da</strong> região contribuem com<br />

apenas 10,61% <strong>da</strong> produção aquícola nacional de água doce, sendo que os principais<br />

pólos regionais <strong>da</strong> produção estão precariamente integrados às indústrias de beneficiamento<br />

local.<br />

Para encontrar as microrregiões de maior expressão na produção de pescado na<br />

Região Norte calculou-se o Índice de Concentração Normalizado (ICN), utilizando as variáveis<br />

emprego, número de estabelecimentos e crédito FNO. Ressalta-se, contudo, a divergência<br />

entre as microrregiões especializa<strong>da</strong>s, segundo a variável Crédito FNO, com as microrregiões<br />

especializa<strong>da</strong>s, segundo as variáveis emprego e estabelecimento. Esta é uma tendência<br />

que pouco contribui para integração e fortalecimento <strong>da</strong> cadeia produtiva pesqueira regional,<br />

gerando, apenas, impactos restritos e direcionados aos mercados locais.<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 44


7 RECOMENDAÇÕES<br />

Fomentar a aquicultura na <strong>Amazônia</strong>, promovendo sua integração à indústria de<br />

beneficiamento de pescado, pois o número de espécies comercializa<strong>da</strong>s pela indústria é<br />

restrito, não chegando a 20 espécies. Esforços extras sobre esses estoques comprometerão<br />

sua própria sustentabili<strong>da</strong>de, afetando, no longo prazo, a eficiência <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

pesqueiras <strong>da</strong> região. Por outro lado, a indústria possui real necessi<strong>da</strong>de de abastecimento<br />

e, no curto prazo, estimula o incremento do esforço pesqueiro. Assim, a integração entre<br />

a indústria e aquicultura atuará positivamente na sustentabili<strong>da</strong>de dos recursos naturais;<br />

Considerar a dinâmica espacial do setor pesqueiro regional. O cálculo do ICN demonstrou<br />

divergência entre as microrregiões melhor estrutura<strong>da</strong>s do ponto de vista de empregos<br />

formais e número de estabelecimentos, relativamente às microrregiões onde foram<br />

aplica<strong>da</strong>s o maior montante de investimentos ao setor. Referi<strong>da</strong> ação pouco contribui<br />

na integração e fortalecimento <strong>da</strong> cadeia produtiva pesqueira regional;<br />

Apoiar processos que melhorem o aproveitamento <strong>da</strong>s espécies captura<strong>da</strong>s. O aumento<br />

<strong>da</strong> produção pesqueira deve ser acompanhado de eficácia no aproveitamento <strong>da</strong><br />

biomassa, a partir do apoio a modernização de plantas industriais que promovam<br />

processos mais eficientes no aproveitamento do pescado;<br />

Apoiar o uso de tecnologias e métodos que diminuam per<strong>da</strong>s na produção de pescado,<br />

tendo em vista o enorme desperdício praticado pelo setor pesqueiro regional, nas várias<br />

etapas <strong>da</strong> cadeia produtiva (captura, conservação, transporte, processamento e<br />

comercialização), cujas estimativas atuais são de cerca de 30% <strong>da</strong> produção regional;<br />

Fomentar investimentos em agregação de valor e quali<strong>da</strong>de de processos, apoiando<br />

inovações como a inserção no mercado de novas espécies regionais, ain<strong>da</strong> subexplora<strong>da</strong>s;<br />

o desenvolvimento de produtos e formas de apresentação dos produtos <strong>da</strong> pesca e o<br />

aproveitamento de subprodutos do processamento do pescado;<br />

Analisar os projetos de pesca e aquicultura não somente sob a ótica de sua eficiência<br />

econômica, mas, também, sob os aspectos ambientais, principalmente quanto aos<br />

impactos dos projetos sobre os estoques naturais e ao equilíbrio ecológico dos<br />

ecossistemas;<br />

Apoiar o fortalecimento dos serviços de assistência técnica e extensão rural (ATER) na<br />

pesca e piscicultura, tendo em vista que este é um setor pouco beneficiado com a<br />

prestação deste serviço. Referido problema é uma <strong>da</strong>s principais causas de insucesso<br />

dos projetos pesqueiros na Região Norte;<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

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Apoiar o financiamento de embarcações, apetrechos de pesca e o custeio do esforço de<br />

pesca, assistindo e auxiliando os pescadores artesanais e industriais no controle dos<br />

custos que envolvem suas ativi<strong>da</strong>des operacionais, tendo em vista os riscos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />

e o frágil domínio dos pescadores sobre esta importante variável;<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 46


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MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA<br />

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APÊNDICE METODOLÓGICO<br />

A localização espacial <strong>da</strong> produção segundo seu potencial de desenvolvimento é<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> pelos seguintes indicadores, de acordo com Santana (2004 e 2005):<br />

a) Índice de especialização ou quociente locacional (QL): este índice serve para determinar<br />

se um município em particular possui especialização em <strong>da</strong><strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor específico<br />

e é calculado com base na razão entre duas estruturas econômicas.<br />

Em que: Eij é o emprego <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor i no município em estudo j; Ej é o<br />

emprego referente a to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des que constam no município j; EiA é o emprego <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de ou setor i na <strong>Amazônia</strong>; EA é o emprego de to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des ou setores na<br />

<strong>Amazônia</strong>.<br />

b) Índice de concentração de Hirschman-Herfin<strong>da</strong>hl (IHH): utilizado para captar o real<br />

peso <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor na estrutura produtiva local. Este indicador é uma modificação<br />

do índice, definido <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

O IHH permite comparar o peso <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor i do município j no setor i<br />

<strong>da</strong> <strong>Amazônia</strong> em relação ao peso <strong>da</strong> estrutura produtiva do município j na estrutura <strong>da</strong><br />

<strong>Amazônia</strong> como um todo. Um valor positivo indica que a ativi<strong>da</strong>de ou setor i do município<br />

j na <strong>Amazônia</strong> está, ali, mais concentra<strong>da</strong> e, portanto, com maior poder de atração<br />

econômica, <strong>da</strong><strong>da</strong> sua especialização em tal ativi<strong>da</strong>de ou setor.<br />

c) Índice de Participação Relativa (PR): este é o terceiro indicador que foi utilizado para<br />

captar a importância <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor i do município j diante do total de emprego na<br />

referi<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de para a <strong>Amazônia</strong>. A fórmula é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

Este indicador varia entre zero e um. Quanto mais próximo de um maior a<br />

importância <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor i do município j na <strong>Amazônia</strong>.<br />

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(1)<br />

(2)<br />

(3)<br />

51


d) Índice de Concentração Normalizado (ICN): os três indicadores descritos fornecem os<br />

insumos básicos para a construção de um indicador mais geral e consistente de concentração<br />

empresarial ligado a uma ativi<strong>da</strong>de ou setor econômico em um município, denominado de<br />

índice de concentração normalizado (ICN). O ICN é <strong>da</strong>do pela seguinte fórmula:<br />

em que os são os pesos de ca<strong>da</strong> um dos indicadores para ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de ou setor produtivo<br />

em análise. Para o cálculo dos pesos de ca<strong>da</strong> um dos índices especificados na equação 4,<br />

empregou-se o método <strong>da</strong> análise de componentes principais.<br />

e) Modelo de Componentes Principais: o modelo de componentes principais com m<br />

componentes e p variáveis (q < p), pode ser escrito como na equação 1.<br />

Em que:<br />

CPi = são as i-esimas componentes principais (i = 1, 2, ..., q);<br />

ij = são os coeficientes relacionados a ca<strong>da</strong> variável;<br />

Xj = são as j-ésimas variáveis (j = 1, 2, ..., p).<br />

MERCADO E DINÂMICA ESPACIAL DA CADEIA PRODUTIVA DA PESCA E AQUICULTURA NA AMAZÔNIA 52<br />

(4)<br />

(5)

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