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5º Boletim do CN/ISAF JUN/JUL/AGO 2011 - Exército

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<strong>5º</strong> <strong>Boletim</strong> <strong>do</strong> <strong>CN</strong>/<strong>ISAF</strong> <strong>JUN</strong>/<strong>JUL</strong>/<strong>AGO</strong> <strong>2011</strong>


destaque<br />

Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

A cinco quilómetros a este de Kabul, localiza-<br />

se uma aldeia de nome POL-E-CHARKI,<br />

habitada na maior parte por militares que<br />

prestam serviço no Campo Militar com o<br />

mesmo nome. É neste campo que o 2º<br />

Contingente Nacional no Teatro de Operações<br />

<strong>do</strong> Afeganistão concentra o maior esforço<br />

de mentoria, assessoria e formação <strong>do</strong><br />

exército afegão.<br />

Na aldeia existe uma escola frequentada por<br />

cerca de 5.500 crianças (de ambos os<br />

sexos), divididas em 140 turmas, por três<br />

ciclos de escolaridade. As condições são<br />

muito deficitárias, a maioria das crianças tem<br />

aulas ao ar livre, por vezes debaixo de sol<br />

tórri<strong>do</strong>, protegidas apenas por uma cobertura<br />

de zinco, não tem electricidade, não tem<br />

saneamento básico e a água não é potável,<br />

não existe um espaço de lazer (campos de<br />

desporto).<br />

Muito falta a estas crianças. No entanto a<br />

nossa presença é o suficiente para lhes<br />

arrancar um simples sorriso, e a troco de<br />

uma festa, transmitem através de um olhar<br />

ingénuo, a alegria de terem a oportunidade<br />

de serem apenas crianças.<br />

No dia 27 de Julho de <strong>2011</strong>, os militares<br />

portugueses levaram a efeito mais uma<br />

Operação de Ajuda Humanitária, na escola<br />

de POL-E-CHARKI, com a distribuição de<br />

grande quantidade de material escolar, em<br />

apoio da direcção da escola de professores<br />

e alunos.<br />

Esta operação deve-se muito à dedicação,<br />

empenho e espírito solidário de alguns<br />

militares <strong>do</strong> Contingente Nacional que, junto<br />

de várias Instituições, empresas, amigos e<br />

conheci<strong>do</strong>s, tu<strong>do</strong> fizeram para angariar o<br />

maior número de material possível.<br />

Mas só foi possível graças aos contributos,<br />

à generosidade, disponibilidade e espírito de<br />

solidariedade <strong>do</strong> GRUPO JERÓNIMO<br />

pagina<br />

2<br />

MILITARES PORTUGUESES APADRINHAM<br />

ESCOLA EM POL-E-CHARKI<br />

MARTINS, da ARTSANA PORTUGAL<br />

(CHICCO), de PINHO AZEVEDO, da LUSOCAL,<br />

<strong>do</strong> INSTITUTO DE ODIVELAS E COMUNIDADE,<br />

da TAKE C´AIR e <strong>do</strong> SR. JOAQUIM BORGES<br />

que, desde a primeira hora, apoiaram esta<br />

iniciativa com o objectivo de satisfazer<br />

pequenas necessidades básicas essenciais e<br />

melhorar a qualidade de vida das crianças<br />

afegãs e também poderem associar-se à<br />

Força Nacional Destacada no Afeganistão.<br />

Para os militares portugueses que se<br />

encontram a 7000 Km <strong>do</strong> seu território, é<br />

extremamente gratificante, que Empresas,<br />

Organizações, Instituições e Pessoas,<br />

tenham participa<strong>do</strong> nesta iniciativa, que muito<br />

contribui para o excelente relacionamento<br />

entre militares portugueses e o povo afegão,<br />

fundamental para o cumprimento da missão.


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

editorial<br />

“A União Faz a Força”<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

Ao lançar o quinto <strong>Boletim</strong> <strong>do</strong> Contingente Nacional no<br />

Afeganistão, preten<strong>do</strong>, em primeiro lugar, exprimir o<br />

reconhecimento aos autores <strong>do</strong>s artigos que o compõem,<br />

pela sua dedicação e empenho, e por terem procura<strong>do</strong><br />

transmitir o que sabem, o que sentem e o que foram<br />

algumas das principais actividades realizadas durante os<br />

meses de Junho, Julho e Agosto.<br />

Merece destaque a notícia sobre a acção humanitária<br />

desenvolvida em Julho passa<strong>do</strong> na escola civil de Pol-e-<br />

Charki. Com efeito, o benefício de iniciativas humanitárias<br />

como esta, para uma população local paupérrima e o impacto positivo no moral nas tropas afegãs,<br />

são extremamente importantes para o sucesso da nossa missão. No caso concreto, considero de<br />

salientar o envolvimento das organizações e empresas portuguesas citadas que, de forma<br />

espontânea e com eleva<strong>do</strong> sentimento patriótico, se associaram ao projecto.<br />

Destaco igualmente nesta edição, o artigo de opinião sobre a “licença de férias”, pela sua<br />

oportunidade e esclareci<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, mas essencialmente pela mensagem de lucidez e pela<br />

referência aos argumentos utiliza<strong>do</strong>s para fazer a ponte entre a Missão e o que nos é mais queri<strong>do</strong><br />

– a Família e o nosso País.<br />

O <strong>Boletim</strong> contém ainda um conjunto de artigos que constituem um “Caderno” sobre o Afeganistão,<br />

extremamente útil para nos ajudar a perceber a sua História, política, religião e costumes e que nos<br />

ajudam a compreender os porquês da existência da actual missão internacional neste país, bem<br />

como o mo<strong>do</strong> de vida das populações, fortemente condicionada pelos grupos islâmicos extremistas,<br />

pela religião e por uma cultura ancestral muito enraizada.<br />

Por seu la<strong>do</strong>, preten<strong>do</strong> salientar o considerável esforço realiza<strong>do</strong> pelo <strong>CN</strong> ao longo <strong>do</strong>s últimos<br />

meses, com vista ao desenvolvimento das Unidades <strong>do</strong> <strong>Exército</strong> e da Polícia Afegã e à possibilidade<br />

de as <strong>do</strong>tar de condições de formação e treino mínimas e adequadas. Este esforço tem constituí<strong>do</strong><br />

mais um factor de motivação para os militares que integram o <strong>CN</strong> e que to<strong>do</strong>s os dias mantêm um<br />

relacionamento humano e profissional de grande proximidade com os militares afegãos.<br />

Ao antevermos o final da nossa Missão começam a ser evidentes os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s<br />

quais nos devemos orgulhar e que nos devem continuar a impelir para fazer melhor. Cimentámos a<br />

confiança, a credibilidade e a amizade de to<strong>do</strong>s os militares mentora<strong>do</strong>s, facto que nos traz alento<br />

e exultação para continuar a dignificar e honrar, constantemente, o bom nome de Portugal.<br />

“A União Faz a Força”<br />

Bem Hajam!<br />

Pedro Fonseca Lopes<br />

Coronel de Cavalaria, Comandante <strong>do</strong> <strong>CN</strong><br />

pagina<br />

3


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

pagina<br />

4<br />

indice<br />

Destaque Pág. 02<br />

Editorial Pág. 03<br />

Opinião Pág. 04<br />

Notícias Pág. 06<br />

Torneios e Actividades<br />

Desportivas Pág. 11<br />

Passatempo Pág. 14<br />

Aniversários Pág. 15<br />

APÊNDICE<br />

Conhecer o Afeganistão<br />

A História <strong>do</strong> Afeganistão Pág. 02<br />

Islamismo Pág. 03<br />

Ramadão Pág. 04<br />

Prescrições da vida quotidiana<br />

muçulmana Pág. 06<br />

destaque<br />

MILITARES PORTUGUESES<br />

APADRINHAM ESCOLA EM<br />

POL-E-CHARKI<br />

Página 2<br />

ficha tecnica<br />

Director:<br />

Cor Cav PEDRO FONSECA LOPES<br />

Sub-Director:<br />

TCor Cav NUNO VITÓRIA DUARTE<br />

Chefe de Redacção:<br />

Maj SAR BORGES DA SILVA<br />

‘<br />

Redacção e Grafismo:<br />

SAj Cav VAZ BASÍLIO<br />

CAPA:<br />

1Cb Braz da 7ª UnAp/CProt<br />

opiniao<br />

LICENÇA DE FÉRIAS<br />

DURANTE A MISSÃO NO<br />

AFEGANISTÃO – uma lúcida decisão<br />

Logo no início da preparação, que teve lugar na<br />

Brigada Mecanizada em Santa Margarida, nos<br />

meses de Janeiro a Março, comecei a ouvir referir<br />

publicamente e a muitos camaradas, de forma<br />

quase pregoeira, a sua firme intenção de não<br />

gozarem os 10 dias úteis de licença de férias da<br />

missão. Independentemente de to<strong>do</strong>s os<br />

comentários que ouvi exaustivamente, no senti<strong>do</strong><br />

de não se usar essa prerrogativa, seja pelo<br />

argumento da distância, seja pelo dinheiro, seja pela<br />

experiência que obtiveram noutros TO, em que não<br />

necessitaram de gozar férias. Eu também já tinha<br />

medita<strong>do</strong> sobre o assunto e decidi<strong>do</strong> que não iria<br />

inicialmente gozar as referidas férias.<br />

Ainda em Portugal e durante as palestras<br />

sobre o stress pós traumático, os apelos <strong>do</strong>s<br />

psicólogos <strong>do</strong> CPAE iam no senti<strong>do</strong> de se gozar<br />

um curto mas retempera<strong>do</strong>r perío<strong>do</strong> de férias a meio<br />

da missão, como forma de minorar determina<strong>do</strong>s<br />

padrões e condutas de risco, consubstancia<strong>do</strong>s em<br />

casos conheci<strong>do</strong>s de anteriores situações. Estes<br />

conselhos e alertas foram desvaloriza<strong>do</strong>s por<br />

alguns camaradas, menosprezan<strong>do</strong> os estu<strong>do</strong>s<br />

que comprovam que por uma questão de resistência<br />

pessoal, nem to<strong>do</strong>s somos iguais, nem reagimos<br />

de igual mo<strong>do</strong> perante determina<strong>do</strong>s factores<br />

exógenos, como a morte, o sofrimento alheio, a<br />

miséria, a ausência de afectos, a necessária auto-<br />

estima, que mexem com a nossa psique, podem<br />

alterar o nosso comportamento individual e como<br />

tal, também interferir no relacionamento com os<br />

outros e com o normal cumprimento da nossa<br />

missão.<br />

Já no TO <strong>do</strong> Afeganistão alguns camaradas<br />

continuaram a declarar sobranceiramente, a sua<br />

decisão no senti<strong>do</strong> de não gozarem as suas férias,<br />

mas Eu após as 3 semanas iniciais neste TO, depois<br />

de ver e viver as difíceis e extremas condições <strong>do</strong><br />

nosso dia-a-dia e da nossa missão, que não é<br />

comparável com nenhuma outra conhecida,


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

avaliei e permitam-me fazer esta avaliação, da<br />

necessidade de se gozar um pequeno perío<strong>do</strong> de<br />

férias. A decisão de gozar a licença marca o<br />

momento mais inteligente e lúci<strong>do</strong> da nossa<br />

permanência no TO, porque esta decisão está ao<br />

nosso alcance, resulta da nossa capacidade de<br />

análise e está devida e legalmente prevista<br />

superiormente, possibilitan<strong>do</strong>-nos sopesar os<br />

interesses de Portugal, os nossos interesses<br />

pessoais e profissionais e também o interesse das<br />

nossas queridas Famílias.<br />

Esta decisão não compromete<br />

minimamente os ideais, os valores e os princípios,<br />

nem a motivação que me levou a aceitar e a<br />

enfrentar o cumprimento da missão no Afeganistão,<br />

em pró de Portugal, ela foi objecto de meditação, e<br />

resulta<strong>do</strong> da colisão de interesses em disputa,<br />

em que numa<br />

l úc id a<br />

constatação,<br />

tu<strong>do</strong> é importante,<br />

seja estar com os<br />

camaradas, no desempenho<br />

da missão, num mesmo e distante<br />

cenário, enfrentan<strong>do</strong> diferentes situações,<br />

cumprin<strong>do</strong> zelosamente a nossas tarefas, sentin<strong>do</strong><br />

o desgaste psicológico, que advém da incerteza <strong>do</strong><br />

perigo e <strong>do</strong> clima de prontidão e alarme que a<br />

situação exige, 24H00 sobre 24H00, mas também<br />

da necessidade de não nos alhearmos, nem<br />

esquecermos o meio familiar, onde existem pessoas<br />

que nos são queridas, se preocupam pelo nosso<br />

bem-estar e que sentem a nossa ausência, tanto<br />

ou mais que nós próprios e são as referências mais<br />

importantes e essenciais da nossa Vida,<br />

nomeadamente os nossos Filhos, os nossos Pais<br />

e Mães, as nossas Esposas e os nossos Amigos,<br />

que concorrem grandemente para o nosso equilíbrio<br />

emocional e psicológico.<br />

Apesar de não ter nenhuma formação<br />

académica superior no campo da psicologia, limito-<br />

me a expressar algumas sensações e sentimentos<br />

que fui detectan<strong>do</strong> quase imperceptivelmente no<br />

meu comportamento e no comportamento <strong>do</strong>s<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

outros, pois a erosão causada pela nossa ausência<br />

provoca pequenos atritos, que põe em causa a<br />

estabilidade e união familiar, pelo afastamento e<br />

crescente carência de afectos e atenção familiar. A<br />

percepção e antecipação de qualquer situação mais<br />

grave, cabe-nos a nós evitá-la, garantin<strong>do</strong> a<br />

necessária Esperança e Energia, numas férias que<br />

sirvam para nós e para a Família, como<br />

descompressão e compensação por tu<strong>do</strong> aquilo que<br />

passámos e estímulo para encarar o resto da<br />

missão, sem perdas de dinamismo ou entusiasmo.<br />

Agora que estou a cerca de 3 semanas de<br />

iniciar o meu perío<strong>do</strong> de férias, sinto quão acerta<strong>do</strong><br />

e importante é ter-mos um objectivo intermédio,<br />

quão aliciante é saber que vamos recarregar e sentir<br />

Energias Vitais, que alimentam nossa Alma e o<br />

nosso coração, com<br />

sentimentos e<br />

pagina<br />

emoções,<br />

que nos<br />

distinguem como<br />

Seres Humanos e são<br />

necessárias para a nossa auto-estima e para<br />

to<strong>do</strong>s aqueles que nos amam e nos alentam<br />

diariamente, e sem os quais perdemos, muito<br />

daquilo que somos como Militares, sentimos como<br />

Seres Humanos e construímos socialmente como<br />

Homens.<br />

À distância, revejo como eram claramente<br />

desfasa<strong>do</strong>s, os comentários que ouvi <strong>do</strong>s<br />

camaradas em Santa Margarida e como num<br />

afloramento de excesso de confiança, se<br />

evidenciava o pouco ou nenhum conhecimento<br />

sobre o tipo e as condições extremas, que a to<strong>do</strong>s<br />

os níveis, envolvem especificamente esta missão<br />

num país em guerra, como o Afeganistão e como,<br />

só com o passar <strong>do</strong> tempo e a ausência de afectos,<br />

se dá verdadeiro valor a um Abraço, muito mais,<br />

quan<strong>do</strong> ele é o Abraço da nossa querida Mãe ou <strong>do</strong><br />

nosso sau<strong>do</strong>so Filho/a, da apaixonada namorada<br />

ou da amada esposa.<br />

Autor:<br />

SAJ Cav JOSÉ MIGUÉNS<br />

5


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

pagina<br />

DIA DAS FORÇAS ARMADAS<br />

PORTUGUESAS<br />

No passa<strong>do</strong> 24 de Junho de <strong>2011</strong>, foi celebra<strong>do</strong><br />

mais um Dia das Forças Armadas Portuguesas.<br />

O Contingente Português destaca<strong>do</strong> no<br />

Afeganistão celebrou a efeméride na Parada<br />

Portuguesa onde foi lida a mensagem <strong>do</strong> General<br />

Chefe <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-maior General das Forças<br />

Armadas, diante de formatura geral.<br />

6<br />

noticias<br />

CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO<br />

DOS CURSOS<br />

OMLT D<br />

Em 28<strong>JUL</strong>11, realizou-se em Pol-e-Charki a<br />

cerimónia de encerramento e entrega de<br />

diplomas <strong>do</strong> Curso de Intel Workshop (14<br />

alunos), <strong>do</strong> Curso de Informática (08 alunos) e<br />

<strong>do</strong> Curso de Cartografia (12 alunos).<br />

A cerimónia foi presidida pelo BGen Jan Sarwari<br />

CEM da KCD e contou com a presença <strong>do</strong> Cmdt<br />

<strong>do</strong> <strong>CN</strong>/FND/<strong>ISAF</strong>, Coronel Pedro Fonseca<br />

Lopes e militares instrutores <strong>do</strong>s cursos.


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

No âmbito da Operação de Ajuda Humanitária<br />

realizada no dia 27 de Julho de <strong>2011</strong>, por parte<br />

<strong>do</strong> 2º <strong>CN</strong>/FND/<strong>ISAF</strong>, na escola da aldeia de Pole-Charki,<br />

a Companhia de Protecção (CProt)<br />

recebeu a missão de garantir a protecção e a<br />

segurança <strong>do</strong>s militares <strong>do</strong> <strong>CN</strong>.<br />

Após um detalha<strong>do</strong> reconhecimento da área<br />

onde se realizou a Operação Humanitária e <strong>do</strong><br />

estabelecimento de medidas de coordenação<br />

com a Garrison Suport Unit da 111ª Kabul Capital<br />

Division <strong>do</strong> exército afegão e com base na<br />

análise de um detalha<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da situação de<br />

informações efectua<strong>do</strong> pela Célula de<br />

Informações Militares, o coman<strong>do</strong> da CProt<br />

elaborou o Plano de Operações, com o nome<br />

de código “HAPPY SCHOOL”.<br />

A operação foi organizada em 5 fases:<br />

Fase 1 – Com a CProt garantir a segurança e<br />

protecção <strong>do</strong>s militares portugueses no<br />

deslocamento de Camp Warehouse (CW) até à<br />

escola de Pol-e-Charki.<br />

Fase 2 – Com a Garrison Suport Unit da 111ª<br />

Kabul Capital Division, garantir o controlo de<br />

OPERAÇÃO DE SEGURANÇA<br />

“HAPPY SCHOOL”<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

acesso à escola, com prioridade para o controlo<br />

<strong>do</strong> itinerário entre a HighWay 7 e o<br />

estabelecimento de check points na entrada<br />

para o recinto da escola, para evitar possíveis<br />

acções de insurgentes nesta área sensível.<br />

Fase 3 – Com a CProt, estabelecer a segurança<br />

afastada através <strong>do</strong> controlo de Pontos<br />

Importantes, correspondentes a áreas de terreno<br />

com <strong>do</strong>mínio de observação e fogos sobre a<br />

escola.<br />

Fase 4 – Esta fase teve início após a fase 2 e<br />

fase 3 estarem concluídas. A cargo da CProt,<br />

estabelecer um dispositivo no recinto interior da<br />

escola, com a finalidade de garantir a segurança<br />

<strong>do</strong> perímetro e simultaneamente a segurança<br />

próxima aos militares portugueses presentes na<br />

acção humanitária.<br />

Fase 5 - Retracção <strong>do</strong> dispositivo e garantir a<br />

segurança e protecção no deslocamento <strong>do</strong>s<br />

militares <strong>do</strong> <strong>CN</strong> até CW.<br />

Para cumprir estas tarefas a CProt foi<br />

organizada em 3 Grupos de Combate,<br />

empenhan<strong>do</strong> 35 militares e 8 viaturas.<br />

pagina<br />

7


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

Fig. 1 - Tiro com Pistola Walther P38 e Beretta 9 mm<br />

pagina<br />

Fig. 3 - Tiro com G3 em situação de reacção a<br />

emboscada<br />

8<br />

TIRO DE MANUTENÇÃO<br />

7ª OMLT G<br />

Fig. 2 - Tiro com Espingarda Automática G3<br />

Fig. 4 - Tiro com Lança Granadas 40 mm<br />

O tiro de manutenção é fundamental para manter as competências de tiro necessárias à actividade<br />

operacional, especialmente em situações de reacção a emboscada e ataques complexos.<br />

Após ter efectua<strong>do</strong> a primeira sessão de tiro de manutenção em 09 de Junho a 7ªOMLT.G voltou a<br />

realizar tiro no dia 28 de Julho na carreira de tiro Nº22 <strong>do</strong> Kabul Military Training Center (KMTC).<br />

Nas sessões de tiro foi utiliza<strong>do</strong> o armamento individual e orgânico da OMLT, respeitan<strong>do</strong> as<br />

condições de segurança adequadas, no senti<strong>do</strong> de aferir a pontaria e garantir as aptidões de<br />

operação <strong>do</strong>s diversos tipos de armamento para um emprego operacional eficaz.<br />

No dia 29 de Julho a 7ªOMLT.G realizou a sua<br />

segunda missão de reconhecimento aéreo,<br />

ten<strong>do</strong> a primeira decorri<strong>do</strong> a 03 de Junho.<br />

Estas importantes missões são fundamentais<br />

para um conhecimento detalha<strong>do</strong> da zona de<br />

acção da Força, <strong>do</strong>s itinerários que percorre<br />

diariamente de mo<strong>do</strong> autónomo e para apoio à<br />

missão de mentoria da Garrison Support Unit<br />

(GSU) de Pol-e-Charki (PeC), já que esta é<br />

responsável pela segurança de to<strong>do</strong> o Campo<br />

Militar de PeC, sen<strong>do</strong> pois<br />

essencial conhecer<br />

pormenorizadamente toda a<br />

região envolvente e<br />

RECONHECIMENTO AÉREO<br />

7ª OMLT G<br />

identificar possíveis vulnerabilidades no<br />

dispositivo.<br />

A OMLT.G planeia e coordena estas missões<br />

conjuntamente com o Oficial de Aviação <strong>do</strong> G3<br />

<strong>do</strong> Regional Command Capital (RCC) e<br />

disponibiliza ainda lugares para outras<br />

Componentes <strong>do</strong> Contingente Nacional, pois a<br />

bor<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is helicópteros<br />

UH-60 “Black Hawks”<br />

utiliza<strong>do</strong>s existem 14 lugares<br />

disponíveis.


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

BANDEIRA PORTUGUESA HASTEADA EM “CAMP ALAMO”<br />

No passa<strong>do</strong> dia 30 de Julho de <strong>2011</strong>, realizou-se<br />

a cerimónia <strong>do</strong> hastear da Bandeira Nacional em<br />

“Camp Alamo” – Kabul Military Training Center<br />

(KMTC).<br />

“Camp Alamo” é um Compound de<br />

responsabilidade norte-americana onde estão<br />

representa<strong>do</strong>s todas as nações que contribuem<br />

com equipas de forma<strong>do</strong>res para os cursos de<br />

formação ministra<strong>do</strong>s no KMTC. Ali estão<br />

representa<strong>do</strong>s: Inglaterra, Roménia, Nova<br />

Zelândia, França, Grécia, Canadá, Geórgia,<br />

Turquia, Singapura e Portugal.<br />

A partir desta data, a Bandeira portuguesa estará<br />

içada permanentemente, marcan<strong>do</strong> a nossa<br />

presença na formação <strong>do</strong> Afghan National Army<br />

(ANA), sen<strong>do</strong> motivo de orgulho e que muito<br />

contribui para o moral e bem-estar <strong>do</strong> Contingente<br />

Nacional.<br />

No Afeganistão, com Portugal no coração.”<br />

FORMAÇÃO DE OPERADORES DE RÁDIO PRC - 117F<br />

Dan<strong>do</strong> continuidade ao plano de formação da<br />

7ªOMLT.G, três <strong>do</strong>s seus elementos concluíram com<br />

sucesso a Formação de Opera<strong>do</strong>res de rádio<br />

PRC-117F, que decorreu no HQ da <strong>ISAF</strong> (Kabul),<br />

de 01 a 03 de Agosto de <strong>2011</strong>. As aulas foram<br />

ministradas pelos especialistas em<br />

Comunicações Satélite da NATO Communication<br />

and Information Systems Services Agency<br />

(NCSA) que estão a assessorar a divisão de<br />

comunicações (G6) <strong>do</strong> quartel-general da <strong>ISAF</strong>; e<br />

constituíram-se por uma componente teórica e por<br />

uma componente prática.<br />

O PRC-117F é um<br />

rádio portátil, com<br />

possibilidade de ser<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

monta<strong>do</strong> em viaturas, que opera nas bandas<br />

VHF e UHF entre os 30MHz e os 512MHz,<br />

produzi<strong>do</strong> pela empresa norte-americana<br />

Harris e que, como principal mais-valia, permite<br />

efectuar comunicações via satélite em mo<strong>do</strong><br />

seguro com encriptação NATO (ANDVT,<br />

VINSON ou DAMA). Tais capacidades tornam-<br />

no no rádio ideal para garantir à 7ªOMLT.G a<br />

necessária redundância de comunicações, de<br />

mo<strong>do</strong> extremamente seguro, em situações de<br />

emergência nas quais seja necessário<br />

comunicar com aeronaves ou quan<strong>do</strong> as<br />

ccomunicações o m u n i c a ç õ e s LOS L O S (<br />

line of sight), garantidas<br />

pelo PRC-525, e os telemóveis não funcionem.<br />

pagina<br />

9


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

A segurança de Kabul é<br />

composta por três<br />

anéis:<br />

- o primeiro (anel de<br />

aço), no centro da<br />

cidade onde se localiza<br />

o Palácio Presidencial<br />

e os principais órgãos<br />

<strong>do</strong> Governo da<br />

República Islâmica <strong>do</strong><br />

Afeganistão (GIROA);<br />

- o segun<strong>do</strong> (portas da<br />

cidade), é constituí<strong>do</strong><br />

por nove Postos de<br />

Controlo guarneci<strong>do</strong>s por elementos da Afghan<br />

National Police (ANP) ;<br />

- o terceiro, o anel exterior, é constituí<strong>do</strong> por cinco<br />

Forward Operating<br />

Base (FOB) o qual tem<br />

por finalidade barrar os<br />

principais eixos de<br />

infiltração <strong>do</strong>s<br />

insurgentes à capital.<br />

Já foram entregues à<br />

Kabul Capital Divison<br />

(KCD) as seguintes<br />

FOB:<br />

- CHAHAR ASIAB;<br />

- HUSEIN KUT;<br />

- BUT KHAK;<br />

- DEH SABZ (por ordem de entrega), faltan<strong>do</strong><br />

apenas a de BAGH DAUD.<br />

pagina<br />

10<br />

CERIMÓNIA DE ENTREGA DAS FOB DE<br />

BUT KHAK E DEH SABZ<br />

A OMLT.D esteve<br />

presente na cerimónia<br />

de entrega das FOB de<br />

BUT KHAK, DEH<br />

SABZ, que se localizam<br />

a Este e Nordeste de<br />

Kabul. Estas FOB são<br />

guarnecidas e<br />

operadas pela 111st<br />

Division com batalhões<br />

(Kandaks) da 2ª<br />

Brigada a Norte e 1ª a<br />

Sul e Este.<br />

A construção destas FOB (BUT KHAK e DEH<br />

SABZ) tiveram início em Agosto e Fevereiro de<br />

2010 e ficaram concluidas em Abril e Maio de<br />

<strong>2011</strong>, com uma área de<br />

30.000 e 90.000m 2 ,<br />

com um custo de 4,4 e<br />

4,6 Milhões de Dólares,<br />

respectivamente.<br />

Possuem capacidade<br />

para alojar um Kandak<br />

com um efectivo entre<br />

635 e 700 militares,<br />

dispon<strong>do</strong> de torres de<br />

guarda, gera<strong>do</strong>res de<br />

700 kW e depósitos de<br />

303.000 Lts de<br />

combustível.


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

Torneios<br />

e actividade desportivas<br />

1º TORNEIO DE KING<br />

Realizou-se no perío<strong>do</strong> de 18 a 21 Julho de <strong>2011</strong>,<br />

o 1º Torneio de King <strong>do</strong> 2º Contingente nacional<br />

em Camp Warehouse, organiza<strong>do</strong> pela Equipa<br />

de Forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> TLC/STB/KMTC.<br />

Este evento contou com a participação de 16<br />

joga<strong>do</strong>res, perfazen<strong>do</strong> um total de 16 partidas<br />

de King.<br />

Para além <strong>do</strong> convívio e da divulgação deste tipo<br />

de Torneios, proporcionou ao Contingente<br />

Nacional o desenvolvimento de uma sã<br />

camaradagem e espírito de corpo.<br />

Como resulta<strong>do</strong> da prova, os militares que<br />

preencheram os lugares <strong>do</strong> pódio foram:<br />

1ºClassifica<strong>do</strong>:<br />

Sch Inf José A. P. To<strong>do</strong>-Bom<br />

2ºClassifica<strong>do</strong>:<br />

1Sar Inf António A. M. Castro<br />

3ºClassifica<strong>do</strong>:<br />

TCor Cav Nuno G. Vitória Duarte.<br />

1º TORNEIO TÉNIS DE MESA<br />

De 25 a 28 de Julho de <strong>2011</strong> decorreu o Torneio<br />

de “Ping-Pong” <strong>do</strong> Contingente Nacional,<br />

organiza<strong>do</strong> pela 7ª OMLT.G.<br />

O torneio aberto a outros contingentes foi<br />

realiza<strong>do</strong> sob a forma de um quadro normal de<br />

ténis e contou com a presença de 16 joga<strong>do</strong>res<br />

de duas nacionalidades, Portuguesa e Francesa.<br />

No final e após partidas soberbamente<br />

disputadas com jogadas verdadeiramente<br />

espectaculares, os primeiros classifica<strong>do</strong>s foram<br />

os seguintes:<br />

1º TORNEIO DE SUECA<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

1º Lugar - Sargento Difelice (França)<br />

2º Lugar - 1ºSargento A. André (Portugal)<br />

3º Lugar (exequo) - Sargento Tran (França)<br />

e Major Borges da Silva (Portugal).<br />

De 22 a 25 de Agosto de <strong>2011</strong> decorreu o<br />

Torneio de “Sueca” <strong>do</strong> Contingente Nacional<br />

organiza<strong>do</strong> pela 7ª OMLT.G.<br />

O torneio foi realiza<strong>do</strong> sob a forma de um quadro<br />

a eliminar e contou com a presença de 14<br />

equipas num total de 28 joga<strong>do</strong>res.<br />

No final e após partidas disputadas com enorme<br />

fair-play que relvelaram o excelente ambiente<br />

de sã camaradagem que se vive no Contingente<br />

Nacional, as equipas primeiras classificadas<br />

foram as seguintes:<br />

1º Lugar – SAjd Salomão + Cabo Caroço<br />

2º Lugar – SAjd Gonçalves + SAjd Pinto<br />

3ºLugar (exequo) – TCor Barradas<br />

Fernandes + SCh To<strong>do</strong>-Bom e Sold Daniel<br />

Teles + Sold Tiago Teixeira.<br />

pagina<br />

11


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

pagina<br />

GNR ORGANIZA TORNEIO<br />

DE LANÇAMENTO DE DARDOS<br />

EM WARDAK, AFEGANISTÃO<br />

Terminou, no dia 25 de Julho, o primeiro torneio<br />

realiza<strong>do</strong> no International Trainers Compound<br />

(ITC) em Wardak, Afeganistão.<br />

Organiza<strong>do</strong> pela força da GNR destacada no<br />

teatro <strong>do</strong> Afeganistão, o torneio de dar<strong>do</strong>s,<br />

realizou-se com o intuito de reforçar os laços de<br />

camaradagem e como forma de ocupar o tempo<br />

livre <strong>do</strong>s militares que trabalham no International<br />

Trainers Compound/National Police Training<br />

Center (ITC/NPTC).<br />

Contan<strong>do</strong> com a participação de 36 joga<strong>do</strong>res<br />

da França, Portugal, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da<br />

América, República Checa e Roménia, o torneio<br />

decorreu entre os meses Junho e Julho, nos<br />

quais foram disputa<strong>do</strong>s jogos nas modalidades<br />

de pares e individuais (cricket e 301). A entrega<br />

de diplomas aos melhor classifica<strong>do</strong>s realizou-<br />

se no dia 30 de Julho, em formatura geral, sen<strong>do</strong><br />

estes distribui<strong>do</strong>s pelo Comandante <strong>do</strong> ITC,<br />

Coronel Jean Gouvart, e pelos comandantes <strong>do</strong>s<br />

contigentes presentes no centro de formação.<br />

Autor:<br />

SAJ ALEXANDRE PENITÊNCIA<br />

12<br />

Joga<strong>do</strong>r romeno lançan<strong>do</strong> para vencer o torneio<br />

..<br />

Cmdt <strong>do</strong> Contingente Português da GNR e 2º Cmdt <strong>do</strong> ITC<br />

entrega o diplioma de participação a um joga<strong>do</strong>r da GNR<br />

Os finalistas com a equipa da GNR organiza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

torneio


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

ATLETISMO EM “CAMP PHOENIX”<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

Em 26 de Agosto de <strong>2011</strong>, realizou-se mais uma prova de atletismo em Camp Phoenix, com uma<br />

extensão de 5km. O Contingente Nacional fez-se representar brilhantemente com 12 militares,<br />

obten<strong>do</strong> a seguinte classificação que muito honra o nome de Portugal:<br />

1º Lugar – 2Cab Fontoura<br />

2º Lugar – 2Cab Ribeiro<br />

<strong>5º</strong> Lugar – Sold Gonçalves<br />

6º Lugar – Maj Rodrigues<br />

pagina<br />

13


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

pagina<br />

14<br />

passatempo<br />

su<strong>do</strong>ku ane<strong>do</strong>ta<br />

Num hospital militar os <strong>do</strong>entes foram<br />

informa<strong>do</strong>s da visita <strong>do</strong> seu<br />

comandante, que teria lugar no dia<br />

seguinte. O enfermeiro de serviço<br />

disse-lhes quais as três perguntas que<br />

ele, habitualmente, costumava fazer e<br />

como deviam responder para ele ficar<br />

satisfeito e dar a visita por terminada.<br />

Quan<strong>do</strong> o comandante chegou dirigiuse<br />

ao primeiro e perguntou-lhe:<br />

- Então por que estás aqui?<br />

- Saiba o meu comandante que me<br />

queixo de hemorróidas, por ter anda<strong>do</strong><br />

a montar a cavalo em pêlo e não estar<br />

habitua<strong>do</strong>.<br />

- Qual é o tratamento que te estão a<br />

fazer?<br />

- Dão-me umas pinceladas com uma<br />

zaragatoa.<br />

- Qual é o teu maior desejo na vida?<br />

- Morrer pela pátria.<br />

- Ah valente, assim é que é!<br />

E o comandante deu a entrevista por<br />

terminada e passou ao seguinte. Tal<br />

como o enfermeiro tinha avisa<strong>do</strong>, as<br />

perguntas foram exactamente as<br />

mesmas e as respostas também, até<br />

que chegou a vez <strong>do</strong> último.<br />

- Então por que estás aqui?<br />

- Tenho anginas, meu comandante, por<br />

ter apanha<strong>do</strong> muito frio numa noite em<br />

que fiz reforço.<br />

- Qual é o tratamento que te estão a<br />

fazer?<br />

- Dão-me umas pinceladas com uma<br />

zaragatoa.<br />

- Qual é o teu maior desejo na vida?<br />

- Ter uma zaragatoa só para mim.


expresso <strong>do</strong> oriente<br />

aniversarios<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

juLho<br />

02-Jul OF1 07553704 HORÁCIO JOSE PORTELA FERREIRA<br />

10-Jul OR2 11179805 EMANUEL JOSÉ DA SILVA MARREIRO<br />

10-Jul OR2 17392911 FILIPE MIGUEL SALGADO MARTINS<br />

13-Jul OR6 785588 CARLOS MARCOS CHAN<br />

14-Jul OF4 045225-E VICTOR MANUEL DA SILVA MACHOQUEIRO<br />

15-Jul OR4 134169-D RAUL EMANUEL ALMEIDA LOPES<br />

15-Jul OR3 01788509 PEDRO ANDRÉ DA COSTA QUEIRÓS<br />

19-Jul OF1 9600206 PAULO ALEXANDRE NUNES CARINHAS<br />

20-Jul 0R7 11476391 CARLOS ALBERTO DA SILVA BARRY<br />

22-Jul OR4 775784 JOSÉ ANTUNES PIRES<br />

26-Jul OR2 03178806 FLÁVIO VERA CRUZ PEDRONHO<br />

27-Jul OF3 10433591 JORGE MANUEL MACEDO MARQUES <strong>AGO</strong>STINHO<br />

27-Jul OF1 9600307 DANIEL VALENTIM DE SOUSA RABAÇA<br />

27-Jul OR2 06096106 FÁBIO FILIPE SILVA MARQUES<br />

27-Jul OR6 1960970 RICARDO NUNO DA SILVA MATOS<br />

29-Jul OR7 0900588 MANUEL CARLOS F. DE SANT’ANNA E VASCONCELOS<br />

agosto<br />

01-Ago OR4 910289 ANTÓNIO JOSÉ JUSTINO FERREIRA CAROÇO<br />

01-Ago OR2 00349002 NELSON MIGUEL QUISSANGA PIRES<br />

01-Ago OR5 2000385 TI<strong>AGO</strong> FILIPE DA SILVA BARBOSA FREITAS VIEIRA<br />

03-Ago OR7 065012-K JOAQUIM JOSÉ DANTAS VIZOSO<br />

04-Ago OR2 05149010 FÁBIO ANDRÉ SANTOS LOPES<br />

05-Ago OF4 04821085 CARLOS JOSÉ BARRADAS FERNANDES<br />

05-Ago OF2 18018794 HUGO MIGUEL DA SILVA RODRIGUES<br />

08-Ago OR6 9826701 RODRIGO DOS SANTOS SILVA<br />

09-Ago OR2 03530709 MILTON SAMUEL DE JESUS LUÍS<br />

10-Ago OR2 08822406 ANDRÉ FILIPE REBELO FONSECA<br />

12-Ago OR2 15878005 ROGÉRIO MIGUEL PINTO DOS SANTOS<br />

14-Ago 0R7 07208189 MARCELINO ANTÓNIO VAZ BASÍLIO<br />

16-Ago OF1 20949192 JOSÉ MANUEL GONÇALVES GUIA<br />

18-Ago OR6 1970658 MANUEL JOAQUIM SANTOS PEREIRA<br />

19-Ago OR2 10255311 LUÍS ALEXANDRE VIEIRA D’ AVÓ VARANDA<br />

26-Ago OF2 057354-L CÂNDIDO MANUEL FERREIRA ROSA<br />

28-Ago OF1 06871002 JOÃO PEDRO VIANA FR<strong>AGO</strong>SO XAVIER<br />

29-Ago OF2 17158895 JOSÉ MIGUEL SEQUEIRA MALDONADO<br />

pagina<br />

15


Contingente Nacional <strong>ISAF</strong> expresso <strong>do</strong> oriente<br />

pagina<br />

16


Conhecer o Afeganistao<br />

O presente artigo pretende dar a conhecer, de forma sucinta, a to<strong>do</strong>s quantos<br />

servem no 2º <strong>CN</strong>/FND/<strong>ISAF</strong>, um pouco da história <strong>do</strong> Afeganistão e o interesse<br />

estratégico da região, que moveu as grandes potências, aos longo <strong>do</strong>s tempos.<br />

A República Islâmica <strong>do</strong> Afeganistão situa-se no primeiros séculos da era Cristã até ao século VI,<br />

Continente asiático e faz fronteira a Sul e a Este alargaram o seu <strong>do</strong>mínio ao noroeste da Índia,<br />

com o Paquistão, com o Irão a Oeste, com o difundin<strong>do</strong> o budismo como religião de esta<strong>do</strong>.<br />

Turquemenistão, Uzbequistão e Tajiquistão a Norte .Este império atingiu o apogeu durante o reina<strong>do</strong> de<br />

e com a China a Nordeste.<br />

Kanishka3 , porque controlava as principais rotas<br />

Pela sua localização geográfica tornou-se a ponte<br />

entre o Norte e Sul, o Oriente e o Ocidente da Ásia.<br />

Dada a sua importância estratégica, aliada a um<br />

relevo particularmente difícil, potenciou a<br />

fragmentação étnica que caracteriza o actual<br />

Afeganistão, resulta<strong>do</strong> directo das sucessivas<br />

ocupações da região por diversos povos.<br />

O Império Persa ocupou o território entre o século<br />

VI ao IV a. C..<br />

No ano de 329 a.C., a região é conquistada por<br />

Alexandre, o Grande, da Macedónia que aí<br />

estabeleceu várias cidades designadas por<br />

Alexandria 1 .<br />

Após a morte de Alexandre Magno, e apesar <strong>do</strong><br />

coman<strong>do</strong> ter fica<strong>do</strong> na posse de Seleuccus I, um<br />

<strong>do</strong>s seus generais, este não impediu que houvesse<br />

um fraccionamento, e um <strong>do</strong>s territórios, o reino<br />

independente da Bactriana (250 a 125 a. C.), deixou<br />

marcas culturais significativas, pelo cruzamento<br />

entre civilizações helénicas e a indiana com o<br />

budismo.<br />

Império de Alexandre Grande<br />

Posteriormente a região foi palco de muitas invasões<br />

de tribos nómadas, a tribo pertencente ao Império<br />

<strong>do</strong>s Kushana 2 estabeleceu-se na região nos <strong>do</strong>is<br />

pagina 2<br />

Conhecer o Afeganistao<br />

Autor:<br />

TCor Cav NUNO VITÓRIA DUARTE<br />

“A História <strong>do</strong> Afeganistão”<br />

comerciais, entre o império Romano, a Índia e a<br />

China, com destaque para a “Rota da Seda”.<br />

Mapa da Rota da Seda no início da Era Cristã<br />

Conquista Muçulmana<br />

No século VII os árabes iniciam a conquista da<br />

região, encontraram alguma resistência para<br />

implantar o islamismo que, contu<strong>do</strong>, impor-se-á<br />

definitivamente na primeira metade <strong>do</strong> século VIII. A<br />

região passará a ser designada pelos árabes como<br />

Khorassan (País de Leste).<br />

Império Mongol<br />

No século XIII, os mongóis invadem o território,<br />

lidera<strong>do</strong>s por Gengis<br />

Khan 4 , causan<strong>do</strong> uma<br />

devastação que será<br />

depois continuada por<br />

Tamerlão 5 , à frente <strong>do</strong>s<br />

turco-mongóis. Estes<br />

últimos, contu<strong>do</strong>, serão<br />

absorvi<strong>do</strong>s pela cultura<br />

islâmica, promoven<strong>do</strong> mais tarde um certo renascer<br />

civilizacional.


apendice ao boletim expresso <strong>do</strong> oriente<br />

Mapa <strong>do</strong> Império Mongol que envolvia a<br />

Ásia Central e teve a sua duração até ao século XVI<br />

O Uzbeque Babur (descendente mongol) estabe-<br />

leceu um império com a capital em Kabul por volta<br />

de 1504, expandin<strong>do</strong>-se para o sul da Ásia em 1525<br />

e impon<strong>do</strong> a sua governação em muito <strong>do</strong> que é<br />

hoje o Paquistão e norte da Índia.<br />

O Império Durrani (1747-1826)<br />

Depois da morte de<br />

Aurangzeb, em 1707, o<br />

império Mongol entrou em<br />

declínio.<br />

O monarca persa Nadir Shah 6<br />

aproveitan<strong>do</strong> o vazio deixa<strong>do</strong><br />

pelo império Mongol,<br />

conquista a região. Em 1747<br />

é assassina<strong>do</strong> por um <strong>do</strong>s<br />

seus guardas.<br />

.Para eleger o substituto de Nadirt Shah, reuniu-se<br />

a Loya Jirga 7 onde é eleito Ahmed Shah 8 , que<br />

mu<strong>do</strong>u o seu último nome para Durrani, (que<br />

significa “pérola das pérolas” em persa), para ser<br />

o rei.<br />

Ahmed Shah Durrani era pastun, referi<strong>do</strong> por muitos<br />

como o funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Afeganistão (1747), porque<br />

uniu as várias tribos,<br />

pequenos principa<strong>do</strong>s e as<br />

províncias fragmentadas<br />

que coabitavam nesta<br />

região, transformou o<br />

Afeganistão 9 num esta<strong>do</strong>-<br />

nação, na concepção<br />

moderna. O Império<br />

Durrani 10 durou perto de um século até ao conflito e<br />

guerras com os persas e Sikhs.<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

Império Durrani atingiu o seu pico em 1761, uniu todas as<br />

tribos ocidentais e orientais <strong>do</strong> Afeganistão a partir Abdalis,<br />

Durranis, Popalzais, Ghilzais, Afridis, Yousafzais, Khattaks,<br />

Jaji, Kakar, Mangal, Niazis em uma só nação concentrada e<br />

unificada. É por isso que to<strong>do</strong>s os afegãos dão a Ahmad<br />

Shah o título de Baba ou “O Pai”.<br />

Invasões inglesas no Afeganistão (1830-<br />

1919) – De império a esta<strong>do</strong> tampão<br />

Após a assinatura <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> de Paris, em 1763,<br />

que pôs fim à Guerra <strong>do</strong>s Sete Anos 11 , a Inglaterra<br />

como país vence<strong>do</strong>r transforma-se na potência<br />

principal na Ásia Central.<br />

É apenas no século XIX, que o extenso território<br />

controla<strong>do</strong> pelas tribos Pastun começou a despertar<br />

o apetite e influência <strong>do</strong>s Impérios Europeus,<br />

nomeadamente da Inglaterra, potência marítima e<br />

a Rússia, potência continental.<br />

A preocupação inglesa, face ao avanço <strong>do</strong>s russos<br />

na Ásia Central, levou a duas guerras anglo-afegãs,<br />

a primeira (1839-1842) 12 e a segunda (1878-1880) 13 .<br />

A estratégia inglesa assentava em travar o Império<br />

russo, impedin<strong>do</strong> a ameaça <strong>do</strong>s territórios<br />

pertencentes “à Jóia da Coroa”, nomeadamente a<br />

Índia Britânica 14 .<br />

Quanto à estratégia russa, baseava-se em<br />

consolidar as conquistas na Ásia Central e<br />

prosseguir a expansão para Sul com o objectivo de<br />

ter acesso aos portos de mares quentes.<br />

Este conflito de interesses transformou o<br />

Afeganistão no século XIX, naquilo que foi designa<strong>do</strong><br />

como “O Grande Jogo”.<br />

As diversas manobras políticas procuran<strong>do</strong><br />

influenciar ou impor os sucessivos governantes,<br />

pagina 3<br />

Conhecer o Afeganistao


Conhecer o Afeganistao<br />

conduziram a uma definição artificial das fronteiras<br />

com anuência de ingleses e russos. Desta<br />

delimitação territorial, bem evidente pelo corre<strong>do</strong>r<br />

de Wakhan, evitan<strong>do</strong> um contacto directo entre<br />

russos e britânicos, e pela ocupação <strong>do</strong><br />

Baluchistão, o Afeganistão ficou sem acesso ao<br />

mar. Até ao século XX, o Afeganistão funcionou<br />

como um esta<strong>do</strong> tampão entre as duas grandes<br />

potências.<br />

Durante a 1ª Guerra Mundial, Habibullah Khan, ape-<br />

sar da pressão de alemães e de ingleses, conse-<br />

guiu manter uma política de neutralidade.<br />

Fim <strong>do</strong> Império britânico<br />

Com assassínio <strong>do</strong> Habibullah, em 1919 sucedeu-<br />

lhe o filho Amanullah<br />

Khan 15 , recuperou a<br />

política externa <strong>do</strong><br />

Afeganistão, que estava na<br />

posse <strong>do</strong>s ingleses e<br />

declarou a independência<br />

total <strong>do</strong> país, provocan<strong>do</strong><br />

a terceira guerra anglo-<br />

afegã. Os ingleses, que ao<br />

mesmo tempo<br />

enfrentaram o crescente<br />

movimento de libertação indiano, negociaram o<br />

trata<strong>do</strong> de Paz de Rawalpindi, em 19 de Agosto de<br />

1919, pelo qual reconheciam a soberania <strong>do</strong> país e<br />

a independência da nação.<br />

Amanullah Khan protagonizou a primeira grande<br />

tentativa de modernizar o Afeganistão, introduzin<strong>do</strong><br />

profundas reformas internas. A forte resistência e o<br />

descontentamento por parte <strong>do</strong>s líderes tribais,<br />

originaram a rebelião e a guerra civil. Amanullah<br />

abdicou em 1929.<br />

Tomou o poder o Rei Nadir Khan, aban<strong>do</strong>nonan<strong>do</strong><br />

as reformas de Amanullah Khan, em prol de uma<br />

abordagem mais gradual para a modernização. Foi<br />

assassina<strong>do</strong> em 1933.<br />

Mohammad Zahir Shah, com apenas 19 anos<br />

tornou-se rei <strong>do</strong> Afeganistão de 1933 até 1973.<br />

pagina 4<br />

Conhecer o Afeganistao<br />

Governou durante 4 décadas, perío<strong>do</strong> de maior<br />

estabilidade da história<br />

moderna <strong>do</strong> país.<br />

Entre 1953 e 1963, é<br />

p r i m e i r o - m i n i s t r o<br />

Muhammad Daud, que<br />

representa uma nova<br />

geração com educação<br />

ocidental e favorável à<br />

modernização. Procurou<br />

fomentar uma<br />

aproximação aos EUA, no entanto os norte-<br />

americanos não atribuíam valor estratégico<br />

especial 16 ao Afeganistão. Daud, que necessitava<br />

desesperadamente de meios militares, ficava<br />

dependente da boa vontade soviética 17 .<br />

Em 17 Julho de 1973, o ex-primeiro ministro<br />

Mohamnnad Daud Khan Sardar tomou o poder<br />

através de um golpe de esta<strong>do</strong> sem violência,<br />

aboliu a monarquia,<br />

revogou a constituição e<br />

declarou o Afeganistão<br />

uma República.<br />

Em 27 de Abril de 1978, o<br />

Hezb-e-Democratic-e-<br />

Khalq (Parti<strong>do</strong><br />

Democrático <strong>do</strong> Povo <strong>do</strong><br />

Afeganistão, PDPA)<br />

lidera<strong>do</strong> por Nur Mohammad Tarik, leva a efeito um<br />

golpe de esta<strong>do</strong> sangrento, que ficou conheci<strong>do</strong><br />

como a Revolução Saur, foi assassina<strong>do</strong> Daud e<br />

to<strong>do</strong>s os membros da sua família. A morte de Daud<br />

significou o fim <strong>do</strong> longo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s Durrani à frente<br />

<strong>do</strong>s destinos <strong>do</strong> Afeganistão.<br />

Uma vez no poder o PDPA, implementou uma<br />

agenda marxista-leninista, “substituição das leis<br />

religiosas e tradicionais por leis marxistas-<br />

leninistas”. As reformas levadas a cabo, foram mal<br />

interpretadas pela maioria <strong>do</strong>s afegãos, como<br />

exemplo: a separação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e da religião,<br />

homens obriga<strong>do</strong>s a cortar as barbas, proibição da<br />

burca, as mesquitas foram colocadas fora <strong>do</strong>s


apendice ao boletim expresso <strong>do</strong> oriente<br />

limites das cidades, e um conjunto de medidas a<br />

favor <strong>do</strong>s direitos da mulher 18 .<br />

Para concretizar outras reformas, o PDPA solicitou<br />

apoio à União Soviética, no que concerne à<br />

modernização das infra-estruturas, da agricultura<br />

e da exploração de minerais e de gás natural.<br />

Apesar <strong>do</strong> entusiasmo inicial que provocou em<br />

Moscovo, a Revolução Saur rapidamente se<br />

transformou numa fonte de crescente preocupação<br />

para os líderes soviéticos. Apesar <strong>do</strong> crescente<br />

apoio militar e económico da URSS, as constantes<br />

confrontações pessoais e o acentuar <strong>do</strong> radicalismo<br />

impediam a constituição de uma base de apoio<br />

estável à governação comunista. Era notória a<br />

incapacidade <strong>do</strong> PDPA para controlar a situação<br />

com os seus próprios meios, tornan<strong>do</strong>-se uma<br />

evidência para o Kremiln, depois da revolta de<br />

Herat19.<br />

H H e r a t 19.<br />

Invasão Soviética<br />

O presidente afegão Taraki, é assassina<strong>do</strong> em 14<br />

de Setembro de 1979. Este facto foi o catalisa<strong>do</strong>r<br />

para a invasão militar soviética que viria a ocorrer<br />

em 24 de Dezembro de 1979.<br />

Reacção norte-americana<br />

Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s viram a situação como uma<br />

excelente oportunidade para enfraquecer a União<br />

Soviética. O Assessor de Segurança Nacional,<br />

Zbigniew Brzezinski, enviou uma nota 20 ao<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

presidente norte-americano Jimmy Carter, onde<br />

referia “…Como lhe mencionei há cerca de uma<br />

semana, estamos agora a enfrentar uma crise<br />

regional. Tanto o Irão como o Afeganistão sofrem<br />

com a agitação, e o Paquistão está num clima de<br />

instabilidade interna e de apreensão externa. Se os<br />

soviéticos tiverem sucesso no Afeganistão, … o<br />

velho sonho de Moscovo de ter um acesso directo<br />

ao Oceano Índico terá si<strong>do</strong> concretiza<strong>do</strong>.<br />

Historicamente, os britânicos providenciaram uma<br />

barreira a esse objectivo, com o Afeganistão a<br />

funcionar como Esta<strong>do</strong>-tampão…”<br />

Como parte de uma estratégia da Guerra Fria, em<br />

1979, o governo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s começou a<br />

financiar e treinar secretamente os Mujahideens<br />

contra forças <strong>do</strong> governo, através <strong>do</strong> serviço secreto<br />

paquistanês conheci<strong>do</strong> como Inter Services<br />

Intelligence (ISI).<br />

Retirada sem glória da União Soviética<br />

Após 10 anos de guerra, os soviéticos retiram-se<br />

<strong>do</strong> Afeganistão 21 . No entanto, continuaram a apoiar<br />

o governo afegão chefia<strong>do</strong> por Mohammad<br />

Najibullah, até 1992, data em que se dissolve a União<br />

Soviética. Esta derrota da União Soviética foi vista<br />

como uma vitória ideológica norte-americana.<br />

Após regime comunista 1992-1996 –<br />

guerra civil afegã<br />

Após a queda <strong>do</strong> regime comunista de Najibullah,<br />

as partes assinaram os acor<strong>do</strong>s de paz de<br />

Peshawar, onde concordaram na partilha de poder<br />

e na criação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Islâmico <strong>do</strong> Afeganistão. A<br />

Loya Jirga instala um governo islâmico modera<strong>do</strong>,<br />

lidera<strong>do</strong> por Burhanuddin Rabbani, no entanto, o<br />

poder de facto fica nas mãos <strong>do</strong>s chefes militares<br />

regionais corruptos e de ban<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s. O<br />

governo de coligação constituí<strong>do</strong> pela união <strong>do</strong>s<br />

mujahideen, com excepção de Hekmatyar, não<br />

impediu o perío<strong>do</strong> sangrento de guerra civil que se<br />

seguiu, porque o país estava dividi<strong>do</strong> em vários<br />

parti<strong>do</strong>s e facções, como se indica:<br />

pagina 5<br />

Conhecer o Afeganistao


Conhecer o Afeganistao<br />

pagina 6<br />

Conhecer o Afeganistao<br />

Ahmad Shah Massoud (1953-2001) Comandante militar Tajique <strong>do</strong> Jamiat-e-islami,<br />

conheci<strong>do</strong> como “leão <strong>do</strong> Panshir”. Exila<strong>do</strong> no tempo de Daud, combateu contra os<br />

soviéticos e na guerra civil. Foi Ministro da Defesa e liderou a resistência aos talibãs.<br />

Modera<strong>do</strong>, desde os tempos de estudante que mantinha um ódio de estimação por<br />

Hekmatyar, mas as suas tropas foram responsáveis por massacres contra os<br />

Hazaras durante a guerra civil. A 9 de Setembro de 2001 foi alvo de um atenta<strong>do</strong>,<br />

aparentemente organiza<strong>do</strong> pela Al-Qaeda, que lhe custou a vida.<br />

Ismail Khan (1946 -) Comandante Tajique alia<strong>do</strong> de Massoud e governa<strong>do</strong>r de Herat.<br />

Chegou a ser preso pelos Talibãs mas conseguiu fugir. Esteve refugia<strong>do</strong> no Irão mas<br />

regressou para comandar a resistência em Herat.<br />

Gulbuddin Hekmatyar (1947? -) Comandante Pastun da facção mais importante<br />

<strong>do</strong> Hezb-e-Islami. Conheci<strong>do</strong> pelo radicalismo, foi preso na juventude por assassinar<br />

um rival.<br />

Fugiu para Peshawar no tempo de Daud e recebeu a maior parte da ajuda externa<br />

na luta contra a URSS. Foi alia<strong>do</strong> preferencial de Islamabad, mas perdeu o apoio <strong>do</strong><br />

Paquistão a favor <strong>do</strong>s Talibãs. Primeiro Ministro duas vezes, refugiou-se no Irão, de<br />

onde foi expulso, regressan<strong>do</strong> ao Afeganistão, onde se transformou num alvo <strong>do</strong>s<br />

EUA.<br />

Abdul Ali Mazari (1946-1995) Comandante mujahid Hazara, liderou a coligação<br />

xiita <strong>do</strong> Hezb-e-Wahdat. Controlou o centro <strong>do</strong> Afeganistão e recebeu apoio <strong>do</strong> Irão.<br />

Lutou contra Massoud, mas morreu após ter si<strong>do</strong> captura<strong>do</strong> pelos Talibãs. Foi<br />

substituí<strong>do</strong> por Abdul Karim Khalili, que se juntou à Frente Unida.<br />

Abdul Rashid Dostum (1954 -) General usbeque e líder <strong>do</strong> Jumbesh-e-Milli-Islami,<br />

autoritário e impie<strong>do</strong>so nas zonas que controlou. Mu<strong>do</strong>u consecutivamente de alianças<br />

durante a guerra civil e recebeu apoio de diversos Esta<strong>do</strong>s. Refugiou-se na Turquia<br />

após os Talibãs tomarem Mazar-e-Sharif. Integrou a Frente Unida e o governo interino<br />

de Karzai.<br />

Abdul Rasul Sayyaf (1946-) Comandante mujahid de origem Pastun, líder <strong>do</strong><br />

Ittehad-e-Islami Barai Azadi Afghanistan. O movimento, sem uma base étnica muito<br />

marcada, agrupava os uabistas. Juntou-se à Frente Unida no combate aos Talibãs.


apendice ao boletim expresso <strong>do</strong> oriente<br />

Com grande parte da população a ultrapassar os<br />

limites <strong>do</strong> sofrimento humano, cada vez mais<br />

dependente da ajuda internacional para sobreviver,<br />

a sucessiva incapacidade de afirmação <strong>do</strong> poder<br />

central conduziu ao caos generaliza<strong>do</strong>, uma<br />

sociedade extremamente fragmentada.<br />

O Paquistão procurou uma alternativa, com ajuda<br />

norte-americana e saudita, os serviços de<br />

informações paquistaneses recrutaram entre os<br />

campos de refugia<strong>do</strong>s os “estudantes” (talibãs,<br />

sunitas de etnia pastun) das madrassas. Garantiram<br />

treino militar, armas e dinheiro, constituíram uma<br />

milícia poderosa. Num país economicamente<br />

devasta<strong>do</strong>, socialmente esgota<strong>do</strong> e politicamente<br />

decepciona<strong>do</strong> com a continuação da guerra civil<br />

pelos parti<strong>do</strong>s tradicionais, o surgimento deste grupo<br />

em 1994, que pregava a unidade, a ordem, o fim da<br />

guerra e a criação de um Esta<strong>do</strong> islâmico “puro”,<br />

passou a ser visto para amplos segmentos da<br />

população como a única organização capaz de<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

Pir Sayed Ahmad Gailani (1932-) Pastun, líder <strong>do</strong>s sufistas e <strong>do</strong> Mahaz-e-Milli-<br />

Islami, pequeno grupo mujahidin modera<strong>do</strong> e pró-monárquico próximo <strong>do</strong>s Durrani.<br />

Mawlawi Mohammad Yunus Khalis (1919 -) Comandante mujahid Pastun. Após<br />

se incompatibilizar com Hekmatyar liderou a facção Khalis <strong>do</strong> Hezb-e-Islami , grupo<br />

a que pertenceu o Mullah Omar e parte <strong>do</strong>s dirigentes <strong>do</strong>s Talibãs.<br />

Mawlawi Mohammad Nabi Mohammadi (? - 2002) Comandante mujahid de<br />

etnia Pastun, líder <strong>do</strong> Harakat-e-Inqelab-e-Islami, movimento radical liga<strong>do</strong> ao clero<br />

tradicional a que pertenceram alguns <strong>do</strong>s dirigentes Talibãs.<br />

proteger os afegãos <strong>do</strong>s desman<strong>do</strong>s pratica<strong>do</strong>s<br />

pelas diversas facções guerrilheiras.<br />

Regime Taliban<br />

Os talibans motiva<strong>do</strong>s pela necessidade de lutar<br />

contra esta anarquia generalizada e assegurar a<br />

aplicação da Xaria, lideraram uma série de<br />

campanhas militares na região de Kandahar que<br />

lhes viriam a garantir o <strong>do</strong>mínio sobre quase to<strong>do</strong> o<br />

território afegão, atingin<strong>do</strong> Kabul em 1996.<br />

Estabeleceram o Emira<strong>do</strong> Islâmico <strong>do</strong> Afeganistão<br />

e Mullah Mohammed Omar 22 foi nomea<strong>do</strong><br />

presidente. O novo governo só foi reconheci<strong>do</strong> pelo<br />

Paquistão, Arábia Saudita e Emira<strong>do</strong>s Árabes<br />

Uni<strong>do</strong>s.<br />

Logo que se apoderaram de Kandahar, os Talibans<br />

começaram a mostrar o tipo de regime que<br />

pretendiam impor, elegen<strong>do</strong> como objectivos<br />

pagina 7<br />

Conhecer o Afeganistao


Conhecer o Afeganistao<br />

pagina 8<br />

Conhecer o Afeganistao<br />

principais o fim da anarquia<br />

generalizada e a aplicação<br />

da Xaria num Afeganistão<br />

reunifica<strong>do</strong>. Decidi<strong>do</strong>s a<br />

instaurar um regime islâmico<br />

verdadeiro, basea<strong>do</strong> numa<br />

interpretação extremamente<br />

restritiva da Xaria, começaram por desarmar a<br />

população e controlar os senhores da guerra,<br />

substituin<strong>do</strong> “o terror da desordem por uma<br />

ordem aterroriza<strong>do</strong>ra”.<br />

O Governo <strong>do</strong> Afeganistão recebeu Osama Bin<br />

Laden, partilhan<strong>do</strong> um relacionamento privilegia<strong>do</strong><br />

com o Mullah Omar.<br />

O 11 de Setembro – A Nova Ordem Mundial<br />

Em 11 de Setembro 2001, os EUA são ataca<strong>do</strong>s<br />

no coração <strong>do</strong> seu próprio território, não podiam<br />

mais ignorar Bin Laden e a evolução da situação<br />

no Afeganistão. Perante a já esperada recusa <strong>do</strong>s<br />

Talibans em entregar Bin Laden, os EUA realizaram<br />

uma poderosa ofensiva diplomática para assegurar<br />

os apoios diplomáticos necessários à longa luta<br />

contra o terrorismo anunciada por George W. Bush,<br />

de que a intervenção militar no Afeganistão seria<br />

apenas o primeiro capítulo. Foi possível isolar os<br />

Talibans e, sem grande surpresas, recolher o apoio<br />

ou evitar a oposição <strong>do</strong>s principais Esta<strong>do</strong>s com<br />

interesses na região.<br />

Actuação da <strong>ISAF</strong><br />

Com a queda <strong>do</strong>s talibans no Afeganistão e para<br />

evitar um vazio de poder no país, a Resolução <strong>do</strong><br />

CSNU 1386, aprovou por unanimidade o<br />

estabelecimento de uma autoridade provisória no<br />

Afeganistão, ao mesmo tempo que autorizava a<br />

projecção de uma força multinacional de paz para<br />

garantir a segurança em Kabul. Ao abrigo desta<br />

Resolução bem como das posteriores,<br />

nomeadamente a 1413 e 1444, as Nações Unidas<br />

solicitaram à NATO que assumisse o Coman<strong>do</strong> da<br />

Força Internacional de Segurança, em apoio da<br />

Autoridade Transitória Afegã (ATA). A NATO assumiu<br />

o controlo da <strong>ISAF</strong> em 2003.<br />

Perío<strong>do</strong> pós Taliban<br />

Hamid Karzai 23 foi Presidente Interino da<br />

Administração Transitória <strong>do</strong> Afeganistão e, em 9<br />

de Outubro de 2004, seria eleito presidente, na<br />

primeira eleição presidencial directa da história <strong>do</strong><br />

Afeganistão, ten<strong>do</strong> toma<strong>do</strong> posse em 7 de<br />

Dezembro <strong>do</strong> mesmo ano.<br />

Reflexão<br />

Os povos da região foram dividi<strong>do</strong>s por fronteiras<br />

arbitrariamente traçadas pelo colonialismo europeu<br />

durante o século XIX. Relativamente isola<strong>do</strong>s e<br />

pouco sensíveis a estas linhas artificiais, estes<br />

povos continuam o tradicional relacionamento entre<br />

si, e as divisões étnicas tornaram difícil o<br />

desenvolvimento de um genuíno sentimento<br />

nacional. Num contexto em que os laços tribais se<br />

sobrepõem na maioria das vezes à fidelidade a um<br />

qualquer poder central, poucos foram os líderes<br />

afegãos que não foram depostos pela força,<br />

pagan<strong>do</strong> geralmente com a vida os excessos ou<br />

as fraquezas das políticas que pretenderam<br />

implementar.<br />

Após 10 anos da intervenção norte-americana e 8<br />

anos da presença da NATO no Afeganistão, este<br />

continua a ser um <strong>do</strong>s países mais pobres e<br />

atrasa<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, continua, pela sua<br />

localização estratégica, a desempenhar um papel<br />

fundamental de acesso à Ásia Central. A sua<br />

evolução vai marcar decisivamente o ritmo <strong>do</strong><br />

desenvolvimento regional, mas a herança de mais<br />

de trinta anos de guerra contínua, que o colocaram<br />

na situação actual, provocou feridas demasia<strong>do</strong><br />

profundas que só poderão ser curadas com a<br />

colaboração de todas as partes, envolvidas interna<br />

e externamente. Só assim será possível criar um<br />

clima de estabilidade que contribua para o bem-<br />

estar das populações e para o desenvolvimento.<br />

.<br />

Mas será algum dia possível estabilizar o<br />

Afeganistão?


apendice ao boletim expresso <strong>do</strong> oriente<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

1<br />

Essas cidades terão da<strong>do</strong> origem, provavelmente, a Kandahar e a Cabul. A primeira Alexandria aí fundada, a “Alexandria <strong>do</strong>s Arianos”<br />

terá da<strong>do</strong> origem a Herat.<br />

2<br />

Localiza<strong>do</strong> entre os territórios actuais <strong>do</strong> Tajiquistão, Mar Cáspio, Afeganistão e vale <strong>do</strong> rio Ganges.<br />

3<br />

Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império Kushan, governan<strong>do</strong> um império que se estende desde Bactria a grandes partes <strong>do</strong> norte da Índia no século II da<br />

era comum, e famoso por seus militares, realizações políticas e espirituais. Acapital estava em Purushpura (Peshawar nos dias actuais<br />

no noroeste <strong>do</strong> Paquistão), com capitais regionais no local da moderna cidade de Taxila, no Paquistão, no Afeganistão Begram e<br />

Mathura na Índia.<br />

4<br />

Temudjin, mais conheci<strong>do</strong> como Gengis Khan, o bárbaro mongol, viveu de 1162 a 1227 e constituiu um <strong>do</strong>s maiores Impérios da História,<br />

uni unin<strong>do</strong> China, Turquia, Turquemenistão, Afeganistão, Irão, Iraque e parte de Rússia.<br />

5<br />

Tamerlão, <strong>do</strong> turcomano, Timur-i-Lenk, ou “Timur, o Coxo” (Kesh, atual Shahrisabz, Uzbequistão, 8 de Abril de 1336 – Otrar, perto da actual<br />

ShShymkent, Cazaquistão, 18 de Fevereiro de 1405), foi o último <strong>do</strong>s grandes conquista<strong>do</strong>res nómadas da Ásia Central de origem turcomomongol.<br />

. 6 terá<br />

Nadir Shah, (nasci<strong>do</strong> em 22 de Outubro de 1688, Kobhān, safávida Irão morreu em Junho de 1747, Fathābād), o governante<br />

ir iraniano e conquista<strong>do</strong>r que criou um império que se estendia <strong>do</strong> Irão, desde o rioIn<strong>do</strong> até às montanhas <strong>do</strong> Cáucaso.<br />

7<br />

Loya Jirga é o nome da<strong>do</strong> aos grandes encontros realiza<strong>do</strong>s por diversos povos como o Afeganistão, Uzbequistão, Turquemenistão<br />

e Mongólia. No Afeganistão, a Loya Jirga era frequentada apenas pelos clãs de pastuns, porém com o tempo passaram a integrar<br />

outros grupos étnicos. Em pastun, loya significa “grande” e jirga “conselho”, “assembleia”.<br />

8<br />

Ahmad Shah (1723-1773), ou Ahmad Shah Abdali nasci<strong>do</strong> como Ahmad Khan Abdali, foi o funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Império Durrani e é considera<strong>do</strong> por<br />

muitos como o funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Afeganistão moderno.<br />

9<br />

A capital em Kandahar, o território estendeu-se a partir de Mashhad no Irão, to<strong>do</strong> o Paquistão assim como Kashmira, para o leste de Delhi,<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio Amu Dária ao norte, com o Mar Arábico ao sul.<br />

10<br />

Com excepção de um perío<strong>do</strong> de nove meses em 1929, e até o golpe marxista de 1978, to<strong>do</strong>s os governantes <strong>do</strong> Afeganistão<br />

vi vieram da confederação tribal de pastuns Durrani, e a partir de 1818 foram to<strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> clã Mohammadzai daquela tribo.<br />

11<br />

A Guerra <strong>do</strong>s Sete Anos foi um conflito internacional que ocorreu entre 1756 e 1763, durante o reina<strong>do</strong> de Luís XV, entre a França, a<br />

Áus’Áustria e seus alia<strong>do</strong>s (Saxônia, Rússia, Suécia e Espanha), de um la<strong>do</strong>, e a Inglaterra, Portugal, a Prússia e Hannover, de outro. A<br />

gue guerra <strong>do</strong>s setes anos confirmou a ruína <strong>do</strong> Império colonial francês.<br />

12 Neste conflito os ingleses sofreram muitas perdas não conseguin<strong>do</strong> a ocupação.<br />

13<br />

A segunda guerra anglo-afegã, resultou de uma aproximação política entre o poder instituí<strong>do</strong> no Afeganistão e Rússia Czarista, que tinha<br />

estestendi<strong>do</strong> a sua influência ao Turquemenistão. Os ingleses tomam Kabul e colocam no poder Yaqub Khan, forçan<strong>do</strong>-o a assinar<br />

o o Trata<strong>do</strong> de Gandumak. Este trata<strong>do</strong> era extremamente desfavorável e colocou os povos afegãos contra aos ingleses. Em 1881 os<br />

Ingingleses <strong>do</strong>minam algum território e continuam a manter a sua influência. Com o apoio britânico Abdur Rahman, assume o trono <strong>do</strong><br />

Af Afeganistão, que russos e afegãos aceitaram. Durante o seu reina<strong>do</strong> (1880-1901), os britânicos e os russos criaram oficialmente os<br />

li limites <strong>do</strong> que se tornaria o Afeganistão moderno. Os ingleses mantiveram o controlo efectivo sobre assuntos estrangeiros<br />

<strong>do</strong><strong>do</strong> Afeganistão.<br />

14 Actualmente Paquistão.<br />

15<br />

Amanullah Khan (01Jun1892 a 25Abr1960) foi o monarca <strong>do</strong> Afeganistão de 1919 a 1929.<br />

16<br />

Nesta época, os EUA mantinham uma relação privilegiada com o Irão, governa<strong>do</strong> por Mohammad Reza Pahlavi.<br />

17<br />

Daud referia que se “sentia mais feliz quan<strong>do</strong> acendia cigarros americanos com fósforos soviéticos”.<br />

18<br />

Proibição de casamentos força<strong>do</strong>s, reconhecimento <strong>do</strong> direito de voto e a possibilidade de participação na vida política.<br />

19<br />

Em Março de 1979, indigna<strong>do</strong>s com a reforma educativa e inspira<strong>do</strong>s pelo exemplo da revolução religiosa que se desenvolvia no vizinho<br />

Ir Irão (Ayatollah Khomeini toma o poder no início de Fevereiro de 1979), os rebeldes tomaram temporariamente Herat, asseguran<strong>do</strong> o a<br />

a apoio de parte <strong>do</strong> exército afegão estaciona<strong>do</strong> na região para perseguir e eliminar muitos <strong>do</strong>s dirigentes comunistas e <strong>do</strong>s conselheiros<br />

s soviéticos.<br />

20<br />

Ver entrevista com Zbigniew Brzezinski em Le Nouvel Observateur nº 1732, 15 a 21 Janeiro de 1998, p. 76,disponível em<br />

http://archives.nouvelobs.com/ e em http://www.cnn.com/SPECIALS/cold.war/episodes/20/<strong>do</strong>cuments/brez.carter/.<br />

21<br />

Aocupação soviética resultou na morte de 600 mil a 2 milhões de mortes, na sua grande maioria civis. Cerca de 6 milhões de refugia<strong>do</strong>s<br />

p foram o para Paquistão e Irão, mais de 38 mil para os EUA e muitos para a Europa.<br />

22<br />

O Mullah Mohammed Omar; Nodeh, c. 1959, chama<strong>do</strong> simplesmente de Mullah Omar, foi o líder <strong>do</strong>s Talibans, movimento radical<br />

islâmico <strong>do</strong> Afeganistão, e chefe de Esta<strong>do</strong>, de facto, <strong>do</strong> país de 1996 a 2001 sob o título oficial de Chefe <strong>do</strong> Conselho Supremo.<br />

Também manteve o título de Amir al-Mu’minin (“Comandante <strong>do</strong>s Fiéis”), utiliza<strong>do</strong> no Emira<strong>do</strong> Islâmico <strong>do</strong> Afeganistão. Apesar <strong>do</strong> seu<br />

cargo político e de ser uma das pessoas mais procuradas pelo FBI (embora não presentemente na lista <strong>do</strong>s dez foragi<strong>do</strong>s mais<br />

procura<strong>do</strong>s) pouco se sabe sobre ele e sobre sua vida. Existem raras fotos de Omar, nenhuma delas oficiais, e especula-se que a<br />

foto utilizada desde 2002, por boa parte <strong>do</strong>s órgãos de comunicação social, seja de um oficial Taliban. A autenticidade das imagens<br />

existentes ainda está em debate. Os relatos sobre a sua aparência física são contraditórios; algumas pessoas que o conheceram<br />

pessoalmente descrevem-no como um homem alto, enquanto outros referem-no como pequeno e frágil. Também é descrito como<br />

tími<strong>do</strong>, e de poucas palavras para com estrangeiros. Durante o seu mandato como emir <strong>do</strong> Afeganistão, Omar saiu poucas vezes de<br />

Kandahar, e raramente se encontrou com estrangeiros preferin<strong>do</strong> confiar no Ministro <strong>do</strong> Exterior, Wakil Ahmed Muttawakil.<br />

23<br />

Hamid Karzai, (Kandahar, 24 de Dezembro de 1957). É considera<strong>do</strong> um líder modera<strong>do</strong>.<br />

pagina 9<br />

Conhecer o Afeganistao


Conhecer o Afeganistao<br />

O Islão é uma religião<br />

monoteísta, que surgiu na<br />

Península Arábica no século<br />

VII, baseada nos ensinamentos<br />

religiosos <strong>do</strong> profeta Maomé<br />

(Muhammad) e numa escritura<br />

sagrada, o Alcorão. Na visão<br />

muçulmana, o Islão surgiu<br />

desde a criação <strong>do</strong> homem, ou<br />

seja, desde Adão, sen<strong>do</strong> este<br />

o primeiro profeta dentre<br />

inúmeros outros, incluin<strong>do</strong><br />

Jesus Cristo, sen<strong>do</strong> o último<br />

deles Maomé.<br />

A mensagem <strong>do</strong> Islão<br />

caracteriza-se pela sua<br />

simplicidade: para atingir a<br />

salvação, basta acreditar num<br />

único Deus, rezar cinco vezes<br />

por dia, submeter-se ao jejum<br />

anual no mês <strong>do</strong> Ramadão,<br />

ajudar os necessita<strong>do</strong>s e<br />

efectuar, se possível, uma<br />

peregrinação à cidade<br />

sagrada de Meca e a Medina.<br />

O Islão é visto pelos seus<br />

aderentes como um mo<strong>do</strong> de<br />

vida que inclui instruções que se<br />

relacionam com to<strong>do</strong>s os<br />

aspectos da actividade<br />

humana, sejam eles políticos,<br />

pagina 10<br />

Conhecer o Afeganistao<br />

ISLAMISMO<br />

sociais, financeiros, legais,<br />

militares ou interpessoais.<br />

As principais obrigações<br />

religiosas <strong>do</strong>s muçulmanos,<br />

são denomina<strong>do</strong>s por “Pilares<br />

(arkan) <strong>do</strong> Islão”.<br />

Tradicionalmente considera-se<br />

a existência de cinco destas<br />

pedras angulares que emanam<br />

<strong>do</strong> Alcorão e têm a influência<br />

<strong>do</strong>s ditos (Hadiths) <strong>do</strong> Profeta:<br />

a Profissão de Fé; a Oração;<br />

o Jejum; a Esmola Legal e a<br />

Peregrinação.<br />

Entre os Pilares <strong>do</strong> Islão a<br />

Profissão de Fé (Al-Shehada)<br />

avulta como o pilar mais<br />

importante e mais<br />

genuinamente muçulmano.<br />

Com efeito, ela representa o<br />

auge <strong>do</strong> edifício religioso e<br />

jurídico e exige a confissão<br />

verbal de uma crença dupla e<br />

sincera: a unicidade de Allah e<br />

a veracidade da mensagem<br />

transmitida por Maomé.<br />

A Oração (Al-Salaht) liga o<br />

muçulmano ao Islão e integra o<br />

Homem no mun<strong>do</strong> universal.<br />

Cada muçulmano, deve<br />

oferecer pelo menos cinco<br />

orações diárias, nas horas<br />

estabelecidas: a Oração da<br />

Alvorada, a Oração <strong>do</strong> Meio-<br />

Dia, a Oração <strong>do</strong> Meio da<br />

Tarde, a Oração <strong>do</strong> Pôr-<strong>do</strong>-Sol<br />

e a Oração da Noite.<br />

O Jejum (Al-Sawm)<br />

fortalecen<strong>do</strong> a vontade, liberta<br />

o Homem das suas paixões e<br />

purifica a sua espiritualidade<br />

por intermédio da renúncia e da<br />

privação.<br />

A Esmola Legal (Al-Zakkat)<br />

representa mais <strong>do</strong> que um<br />

acto social, ao traduzir o dever<br />

religioso através <strong>do</strong> qual o<br />

crente entrega voluntariamente<br />

a Deus uma parte <strong>do</strong>s seus<br />

bens terrenos, receben<strong>do</strong>,<br />

como contrapartida, uma<br />

parcela da bondade divina, a<br />

fim de evitar os sofrimentos da<br />

vida futura.<br />

A Peregrinação (Al-Hajj) é o<br />

dever de deslocação até à<br />

Grande Mesquita da cidade<br />

sagrada de Meca.<br />

Autor:<br />

2º Ten Freire


apendice ao boletim expresso <strong>do</strong> oriente<br />

Desde os primeiros tempos da pregação de<br />

Maomé, a nova religião depressa integrou<br />

obrigações que acabaram por dar à comunidade<br />

<strong>do</strong>s crentes uma unidade de agir e de ser. Com<br />

o tempo, algumas obrigações e práticas<br />

assumiram maior relevância <strong>do</strong> que outras,<br />

ten<strong>do</strong>-se constituí<strong>do</strong> os denomina<strong>do</strong>s “cinco<br />

pilares” <strong>do</strong> islão:<br />

(1) A recitação da profissão de fé;<br />

(2) A oração ritual;<br />

(3) O jejum <strong>do</strong> mês <strong>do</strong> Ramadão;<br />

(4) A esmola legal;<br />

(5) A peregrinação a Meca e a Medina.<br />

Este breve apontamento irá deter-se no terceiro<br />

pilar <strong>do</strong> islão, mas antes de o abordar é oportuno<br />

ter presente o calendário muçulmano.<br />

O ano muçulmano é composto por <strong>do</strong>ze meses<br />

lunares, com 29 a 30 dias cada um. O ano lunar<br />

tem, portanto, uma diferença de uma dezena de<br />

dias em relação ao ano solar (354 dias em vez<br />

de 365 dias e 6 horas). A Hégira (quer dizer o<br />

“êxo<strong>do</strong>” de Maomé e <strong>do</strong>s seus companheiros de<br />

Meca para Medina devi<strong>do</strong> a dificuldades de sã<br />

convivência em Meca) marca o ponto de partida<br />

<strong>do</strong> calendário muçulmano. O ano um da Hégira<br />

começou, convencionalmente, a 16 de Julho de<br />

622 <strong>do</strong> calendário solar. Para fazer a passagem<br />

<strong>do</strong> calendário solar, isto é <strong>do</strong> ano gregoriano, a<br />

contagem <strong>do</strong> tempo Ocidental, para o ano da<br />

Hégira, é preciso dividir o ano civil gregoriano<br />

por 0.97 e retirar 622.<br />

Entendida a medição <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> calendário<br />

muçulmano, torna-se agora mais simples a<br />

compreensão <strong>do</strong> mês <strong>do</strong> jejum.<br />

O mês de Ramadão corresponde ao nono mês<br />

<strong>do</strong> ano lunar muçulmano, sen<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong><br />

pelo Alcorão como “aquele durante o qual<br />

começou a revelação <strong>do</strong> Alcorão” (2, 185). Uma<br />

vez que o ano lunar tem menos uma dezena de<br />

dias <strong>do</strong> que o calendário solar, o mês de<br />

Ramadão vai-se alteran<strong>do</strong> de ano para ano em<br />

relação ao calendário Ocidental.<br />

Nos primeiros tempos <strong>do</strong> islão, os muçulmanos<br />

observaram o chama<strong>do</strong> jejum da Äshüra, que<br />

correspondia à festa judaica da Expiação,<br />

lembrança da libertação <strong>do</strong>s hebreus da<br />

escravidão <strong>do</strong> Faraó. Mais tarde veio a obrigação<br />

de jejuar durante o Ramadão para comemorar a<br />

RAMADÃO<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

<strong>do</strong>ação <strong>do</strong> Alcorão à Humanidade (Alcorão 2,<br />

183-185 e 187). Desde então, to<strong>do</strong>s os anos<br />

durante os trinta dias desse mês, <strong>do</strong> nascer ao<br />

pôr-<strong>do</strong>-sol, os muçulmanos são obriga<strong>do</strong>s a não<br />

beber, não comer, não fumar, nem ter relações<br />

sexuais. Ao longo de to<strong>do</strong> esse mês, à noite, os<br />

crentes cuidam de ler ou ouvir to<strong>do</strong> o Alcorão<br />

(dividi<strong>do</strong>, para esse efeito, em trinta partes<br />

denominadas juz). Na vigésima sétima noite,<br />

designada “Noite <strong>do</strong> Destino”, muita gente se<br />

reúne nas mesquitas, pois a tradição conta que<br />

nessa noite to<strong>do</strong> o Alcorão foi revela<strong>do</strong> ao<br />

Profeta.<br />

O mês de Ramadão é simultaneamente pessoal<br />

e público. Deste mo<strong>do</strong>, toda a vida <strong>do</strong>s países<br />

muçulmanos é profundamente marcada pela sua<br />

observância. Durante os dias deste mês, as<br />

famílias visitam-se, reconciliam-se, efectuam<br />

muitas compras para as refeições <strong>do</strong> pós-jejum<br />

(depois <strong>do</strong> pôr <strong>do</strong> sol) que se podem prolongar<br />

noite dentro. To<strong>do</strong> o mês de Ramadão é vivi<strong>do</strong><br />

como uma festa.<br />

A esmola, que varia entre 2% e 10%, segun<strong>do</strong><br />

os casos, tem por referência to<strong>do</strong> o capital e<br />

rendimento de qualquer muçulmano e deve ser<br />

paga às instâncias das comunidades<br />

incumbidas de redistribuí-la aos mais<br />

necessita<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> termina o jejum <strong>do</strong> mês<br />

de Ramadão, cada muçulmano deve pagar a<br />

“esmola de interrupção <strong>do</strong> jejum”.<br />

A “Festa <strong>do</strong> Fim <strong>do</strong> Jejum” (também chamada<br />

“festa pequena”) marca o fim <strong>do</strong> jejum <strong>do</strong> mês<br />

de Ramadão e precede o primeiro dia <strong>do</strong> mês<br />

de Shawwal (décimo mês).<br />

Autor:<br />

Maj SAR Borges da Silva<br />

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1. Aspectos gerais<br />

PRESCRIÇÕES DA VIDA QUOTIDIANA MUÇULMANA<br />

As prescrições da vida<br />

quotidiana de um muçulmano<br />

vão muito para além <strong>do</strong>s “cinco<br />

pilares”: afectam os laços<br />

conjugais, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> pu<strong>do</strong>r,<br />

o exercício da sexualidade, a<br />

organização familiar, o estatuto<br />

da mulher, as leis<br />

testamentárias, a distinção<br />

entre carnes lícitas e carnes<br />

ilícitas, as disposições para o<br />

funeral, diversos costumes<br />

torna<strong>do</strong>s “obrigatórios” no que concerne às<br />

idades da vida (atribuição <strong>do</strong> nome a uma<br />

criança, circuncisão…), a questão <strong>do</strong>s<br />

empréstimos de dinheiro, regras de convivência<br />

social, etc.<br />

Toda essa teia de prescrições é imposta ao<br />

muçulmano desde o nascimento e persegue-o<br />

durante toda a vida. Para os crentes, viver de<br />

acor<strong>do</strong> com todas essas regras ditadas pelo<br />

Alcorão ou pela Tradição permite conduzir a sua<br />

existência segun<strong>do</strong> “o Caminho de Deus”, ou<br />

seja, segun<strong>do</strong> a Xariá. Deste mo<strong>do</strong>, a Xariá mais<br />

<strong>do</strong> que designar castigos corporais<br />

frequentemente aplica<strong>do</strong>s em alguns países<br />

muçulmanos (mão cortada aos ladrões,<br />

lapidação de adúlteras, corte <strong>do</strong> polegar,<br />

flagelação, etc.) é sobretu<strong>do</strong> um caminho<br />

espiritual que inspira a existência <strong>do</strong> crente e da<br />

comunidade.<br />

Para entender as prescrições da vida quotidiana<br />

<strong>do</strong> muçulmano, é preciso considerar que o islão<br />

procura a unidade da fé, da cultura, da política e<br />

da sociedade. Tu<strong>do</strong> o que pode dividir<br />

gravemente (a apostasia, as heresias, o desvio<br />

das tradições…), tu<strong>do</strong> o que cria desigualdade<br />

ou injustiça (roubo, fraude, usura, agressão,<br />

homicídio…), tu<strong>do</strong> o que gera desordem familiar<br />

ou sexual… é visto como perigoso e combati<strong>do</strong><br />

sem aparente limite.<br />

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Autor: Maj SAR Borges da Silva<br />

A existência <strong>do</strong> muçulmano<br />

desenrola-se em conformidade<br />

com cinco categorias jurídico-<br />

morais: (1) o que é claramente lícito<br />

e autoriza<strong>do</strong>; (2) o que é permiti<strong>do</strong><br />

em virtude de uma certa tolerância;<br />

(3) o que é recomenda<strong>do</strong>; (4) o que<br />

é reprova<strong>do</strong> ou censurável; (5) o<br />

que é ilícito ou proibi<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong> (e<br />

aqui reside um busílis relevante e<br />

incontornável), segun<strong>do</strong> os<br />

intérpretes da jurisprudência (tantas<br />

vezes com aplicações diferentes<br />

dentro <strong>do</strong> mesmo país), este ou aquele<br />

comportamento poderá ser classifica<strong>do</strong> desta<br />

ou daquela diferente forma.<br />

2. As proibições alimentares<br />

Cerca de vinte versículos <strong>do</strong> Alcorão são<br />

dedica<strong>do</strong>s às proibições alimentares. O islão<br />

proíbe o consumo de um certo número de<br />

produtos, sobretu<strong>do</strong> a carne de porco, a carne<br />

<strong>do</strong>s animais que não foram sacrifica<strong>do</strong>s, assim<br />

como as bebidas alcoólicas. Para se poder<br />

consumir a carne de determina<strong>do</strong> animal é<br />

preciso que se tenha esvazia<strong>do</strong> o sangue <strong>do</strong><br />

animal durante um sacrifício (por degolação)<br />

precedi<strong>do</strong> da fórmula Bismillah (“Em nome de<br />

Deus”). Alguns Xiitas são mais rigoristas e<br />

proíbem consumir os animais aquáticos sem<br />

escamas.<br />

Vinho e todas as bebidas fermentadas são<br />

proibi<strong>do</strong>s, porque enfraquecem a consciência<br />

<strong>do</strong> crente. Essas bebidas foram, no entanto,<br />

autorizadas no início <strong>do</strong> islão, como comprova<br />

o Alcorão (16, 67): “obtei bebidas fermentadas<br />

e um bom alimento <strong>do</strong>s frutos da palmeira e<br />

das videiras. Nisso há um sinal para as gentes<br />

que reflectem”.<br />

3. A proibição <strong>do</strong> empréstimo com juros<br />

Para o islão o empréstimo com juros fixos é<br />

similar à usura. O crime de usura é pretender


apendice ao boletim expresso <strong>do</strong> oriente<br />

concluir um contrato em que “o equivalente à<br />

merca<strong>do</strong>ria não esteja em igualdade rigorosa<br />

com o preço pago por essa mesma merca<strong>do</strong>ria”.<br />

Para adaptar a proibição <strong>do</strong> empréstimo com<br />

juros às obrigações da economia moderna, têm<br />

si<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ptadas duas vias:<br />

(a) a dupla venda fictícia, isto é, quem pede<br />

empresta<strong>do</strong> compra um objecto ao<br />

empresta<strong>do</strong>r, revenden<strong>do</strong>-lho depois menos<br />

caro;<br />

(b) o “contrato de comandita”, isto é, que<br />

oferece uma participação nos benefícios de<br />

uma empresa. O primeiro banco islâmico<br />

foi o Dubai Islamic Bank, em 1975 mas, nas<br />

duas últimas décadas, Paquistão, Irão e<br />

Sudão impuseram a islamização de to<strong>do</strong> o<br />

sector bancário.<br />

Na mesma lógica em que se rejeita qualquer<br />

enriquecimento que não provenha de um<br />

esforço pessoal, a Xariá proíbe os jogos de<br />

azar, assim como os seguros.<br />

4. Os principais ritos de passagem<br />

Logo que uma criança nasce diz-se ao seu<br />

ouvi<strong>do</strong> a profissão de fé muçulmana. O primeiro<br />

filho tem uma importância particular porque<br />

comprova a fecundidade <strong>do</strong>s pais. À nascença,<br />

após a profissão de fé muçulmana, a criança<br />

recebe um nome. Frequentemente, no sétimo<br />

dia, o pai reconhece oficialmente o seu recém-<br />

nasci<strong>do</strong> ao dar-lhe um segun<strong>do</strong> nome. Nessa<br />

ocasião é sacrifica<strong>do</strong> um carneiro que simboliza<br />

o filho, para relembrar o sacrifício de Abraão.<br />

A circuncisão, embora não seja uma lei, é algo<br />

recomenda<strong>do</strong> e tornou-se um costume<br />

obrigatório. A idade da circuncisão não é fixada<br />

de maneira rigorosa, mas é geralmente<br />

praticada no momento em que a criança está<br />

em idade de ser separada da mãe para ficar sob<br />

a influência <strong>do</strong> pai, isto é, por volta <strong>do</strong>s sete ou<br />

oito anos de idade. Através da circuncisão,<br />

pressupõe-se que o pai transmite ao filho o dever<br />

de “virilidade”. Certas sociedades muçulmanas,<br />

sobretu<strong>do</strong> nos países da África Subsariana e no<br />

Egipto, praticam a excisão das meninas. É um<br />

costume pré-islâmico autoriza<strong>do</strong>, que grande<br />

parte das sociedades muçulmanas não pratica.<br />

<strong>Boletim</strong> 5<br />

O casamento e a procriação que lhe está<br />

associada são obrigações religiosas. O<br />

consentimento <strong>do</strong>s esposos, que se dá perante<br />

duas testemunhas púberes masculinas (nalguns<br />

países, também perante um notário religioso) é<br />

obrigatório. No entanto, ainda em muitas<br />

sociedades muçulmanas, o “sim” da noiva é dito<br />

pelo respectivo tutor (pai, irmão, tio). O<br />

casamento pode ser acompanha<strong>do</strong> de ritos<br />

religiosos, mas requer primeiro a assinatura de<br />

um contrato entre as duas famílias. Para casar,<br />

os esposos devem ser púberes e não devem<br />

verificar-se impedimentos resultantes <strong>do</strong>s laços<br />

de parentesco e da religião <strong>do</strong>s cônjuges: um<br />

muçulmano pode desposar uma mulher<br />

pertencente ao “Povo <strong>do</strong> Livro” (Judeus,<br />

Cristãos…), mas uma muçulmana só pode<br />

desposar um muçulmano, para que os filhos<br />

permaneçam no seio <strong>do</strong> islão (os filhos devem<br />

seguir a religião <strong>do</strong> pai).<br />

Na morte há a preocupação de que a pessoa<br />

comprove uma última vez que Deus é único,<br />

pelo que se ajuda o defunto a levantar o de<strong>do</strong><br />

indica<strong>do</strong>r para o alto, enquanto se murmura ao<br />

seu ouvi<strong>do</strong> a profissão de fé e se volta o seu<br />

corpo na direcção de Meca. Declara<strong>do</strong> o óbito,<br />

o cadáver é lava<strong>do</strong> um número impar de vezes,<br />

geralmente em presença de um imã, sen<strong>do</strong><br />

envolvi<strong>do</strong> posteriormente num número ímpar de<br />

teci<strong>do</strong>s brancos que funcionam como sudário.<br />

Enquanto o nascimento é, antes de mais, um<br />

assunto de mulheres, o funeral é, acima de tu<strong>do</strong>,<br />

um assunto de homens. As mulheres são<br />

aconselhadas a não assistir ao enterro e a visitar<br />

a campa mais tarde.<br />

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