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Red <strong>de</strong> Revistas Científicas <strong>de</strong> América Latina, el Caribe, España y Portugal<br />

Pedro Paulo Scandiuzzi, Marcos Lübeck<br />

Disponível <strong>em</strong>: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=291223514007<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Información Científica<br />

<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com a Educação Mat<strong>em</strong>ática<br />

Boletim <strong>de</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática, vol. 25, núm. 41, dici<strong>em</strong>bre, 2011, pp. 125-151,<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho<br />

Brasil<br />

Boletim <strong>de</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática,<br />

ISSN (Versão impressa): 0103-636X<br />

bol<strong>em</strong>a@rc.unesp.br<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita<br />

Filho<br />

Brasil<br />

Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações <strong>do</strong> artigo Site da revista<br />

www.redalyc.org<br />

Projeto acadêmico não lucrativo, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela iniciativa Acesso Aberto


ISSN 0103-636X<br />

125<br />

<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong><br />

Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com a Educação<br />

Mat<strong>em</strong>ática<br />

Itineraries of the Study and Research Group in<br />

Ethnomath<strong>em</strong>atics and its Relationship with<br />

Math<strong>em</strong>atics Education<br />

Resumo<br />

Pedro Paulo Scandiuzzi *<br />

Marcos Lübeck **<br />

Este artigo expõe a constituição, a dinâmica e alguns <strong>do</strong>s caminhos percorri<strong>do</strong>s pelo<br />

<strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua relação com o Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação <strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática, apresentan<strong>do</strong> um histórico <strong>de</strong> sua formação, seu<br />

saber, seu fazer e suas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> convívio aí <strong>de</strong>finidas, mostran<strong>do</strong> um apanha<strong>do</strong> das<br />

pesquisas que foram <strong>de</strong>senvolvidas e das que estão sen<strong>do</strong> efetivadas pelos seus<br />

m<strong>em</strong>bros. Relaciona, também, o ser grupo com t<strong>em</strong>as da etnomat<strong>em</strong>ática, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong>o<br />

como um espaço <strong>de</strong> formação coletiva e <strong>de</strong> auto-formação cooperativa, que acontece<br />

através da troca <strong>de</strong> experiências, <strong>do</strong> compartilhamento <strong>de</strong> saberes e fazeres, nos <strong>de</strong>bates<br />

e discussões, <strong>do</strong> ser <strong>em</strong> grupo, <strong>do</strong> respeito à reciprocida<strong>de</strong> e da estima à alterida<strong>de</strong>,<br />

aspectos que constitu<strong>em</strong> a educação etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

* Doutor <strong>em</strong> Educação pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia e Ciências da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista<br />

(UNESP), Marília. Professor <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista (UNESP), Rio Claro, SP, Brasil. En<strong>de</strong>reço para correspondência: Rua<br />

Cristóvão Colombo, 2265, Jardim Nazareth, CEP: 15054-000, São José <strong>do</strong> Rio Preto, SP, Brasil. Email:<br />

pepe@ibilce.unesp.br.<br />

** Doutoran<strong>do</strong> <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática da Universida<strong>de</strong> Estadual<br />

Paulista (UNESP), Rio Claro. Bolsista <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong> <strong>do</strong> CNPq. Professor <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>do</strong><br />

Centro <strong>de</strong> Engenharias e Ciências Exatas da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong> Paraná (UNIOESTE),<br />

Foz <strong>do</strong> Iguaçu, PR, Brasil. En<strong>de</strong>reço para correspondência: Av. Tarquínio Joslin <strong>do</strong>s Santos, 1300,<br />

Pólo Universitário, CEP: 85870-650, Foz <strong>do</strong> Iguaçu, PR, Brasil. E-mail: marcos.lubeck@unioeste.br.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


126 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

Palavras-chave: Histórico <strong>de</strong> <strong>Grupo</strong>. Ser/Saber/Fazer/Conviver. Educação<br />

Etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

Abstract<br />

This paper outlines the formation, dynamics and some of the paths taken by the Research<br />

and Study Group on Ethnomath<strong>em</strong>atics and its relationship with the Graduation Program<br />

in Math<strong>em</strong>atics Education, presenting a history of its formation, its knowing, its <strong>do</strong>ing<br />

and its way of being together, and presenting an overview of the research carried out by<br />

its m<strong>em</strong>bers. This paper also addresses the relationship between the group itself with<br />

th<strong>em</strong>es within ethnomath<strong>em</strong>atics, highlighting that the group is a space for collective<br />

education and cooperative self-education, which takes place through exchange of<br />

experiences, sharing of knowledge and in <strong>de</strong>bates and discussions, from being in a<br />

group, respecting the reciprocity and valuing alterity, key aspects of ethnomath<strong>em</strong>atics<br />

education.<br />

Keywords: Historical of Group. The being/to know/to <strong>do</strong>/to live together.<br />

Ethnomath<strong>em</strong>atics Education.<br />

1 Primeiros passos<br />

Este artigo foi escrito a três mãos 1 , porém salientamos que várias foram<br />

as mentes que contribuíram para a sua i<strong>de</strong>alização, especialmente aquelas que<br />

estão ligadas ao <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática (GEPEtno),<br />

da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho (UNESP), campus<br />

<strong>de</strong> Rio Claro-SP, pois, como componentes, faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> sua constituição e,<br />

uma vez que compartilham <strong>em</strong> todas as discussões seus saberes e fazeres, são<br />

partícipes que conviv<strong>em</strong> e encontram-se impregna<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s retro e inter<br />

conhecimentos 2 produzi<strong>do</strong>s durante toda a trajetória <strong>do</strong> grupo, fundin<strong>do</strong>-se nos<br />

intra conhecimentos daqueles que se colocam como autores <strong>de</strong>ste texto.<br />

Para expormos alguns <strong>do</strong>s caminhos percorri<strong>do</strong>s pelo GEPEtno e as<br />

suas relações com a educação mat<strong>em</strong>ática, no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

<strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática (PPGEM), da UNESP <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> campus, julgamos<br />

importante falar um pouco <strong>do</strong>s trabalhos <strong>em</strong> andamento e <strong>do</strong>s que já cruzaram<br />

1 Para a elaboração <strong>de</strong>sse artigo tiv<strong>em</strong>os a colaboração especial <strong>de</strong> Evelaine Cruz <strong>do</strong>s Santos,<br />

Doutoranda <strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática – PPGEM/UNESP – Rio Claro-SP e m<strong>em</strong>bro <strong>do</strong> GEPEtno.<br />

2 De maneira simples e rápida, intra significa o conhecimento que produzimos via reflexão individual<br />

e pessoal, inter trata <strong>do</strong> conhecimento que construímos <strong>em</strong> contato com os outros, numa relação<br />

dialogal, e retro é o conhecimento que traz<strong>em</strong>os via a genética, as histórias <strong>do</strong>s nossos antepassa<strong>do</strong>s,<br />

lendas e superstições que faz<strong>em</strong> parte da nossa história familiar e po<strong>de</strong>m também fazer parte da<br />

história social <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nasc<strong>em</strong>os e cresc<strong>em</strong>os.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

127<br />

as alamedas <strong>de</strong>sta instituição. Também, sobre como foi esse movimento <strong>de</strong><br />

constituição <strong>do</strong> ser grupo, com seu saber, seu fazer e as suas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> convívio<br />

aí <strong>de</strong>finidas, posto que o grupo contribuiu para a consolidação da pesquisa <strong>em</strong><br />

etnomat<strong>em</strong>ática neste pólo educacional reconheci<strong>do</strong> além das fronteiras<br />

brasileiras pelos trabalhos que vêm apresentan<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> oitenta <strong>do</strong><br />

último século.<br />

É salutar antecipar, aqui, que esse grupo s<strong>em</strong>pre buscou refletir e discutir<br />

sobre as questões que envolv<strong>em</strong> o (re)conhecimento e o respeito às diversida<strong>de</strong>s<br />

sociais e culturais e, portanto, o ser, o saber, o fazer e o conviver estão<br />

ininterruptamente imbrica<strong>do</strong>s, e aparecerão oportunamente neste texto.<br />

Façamos constar, então, que <strong>em</strong> 2011, ano da edição <strong>de</strong>ste artigo e<br />

aniversário com<strong>em</strong>orativo <strong>do</strong>s vinte e sete anos <strong>do</strong> PPGEM, o grupo está<br />

composto pelos <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong>s Adailton Alves da Silva, Elivanete Alves <strong>de</strong> Jesus,<br />

Evelaine Cruz <strong>do</strong>s Santos, Marcos Lübeck, Roger Miarka, Sinval <strong>de</strong> Oliveira e<br />

Sonia Regina Coelho; pelos mestran<strong>do</strong>s Al<strong>do</strong> Iván Parra Sánchez e Maria da<br />

Penha Rodrigues <strong>de</strong> Oliveira Godinho; e pelo coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong> grupo, o Doutor<br />

Pedro Paulo Scandiuzzi. Registra-se, ainda, a participação <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor Rogério <strong>de</strong><br />

Oliveira; <strong>do</strong>s mestres Adauto Nunes da Cunha, Adriano Fonseca, João Severino<br />

Filho e Thiago Donda Rodrigues; e <strong>do</strong>s licencia<strong>do</strong>s Edilson Gue<strong>de</strong>s da Silva e<br />

Vinícius Sanchez Tizzo.<br />

2 O ser GEPEtno pelo seu caminhar<br />

Inúmeras são as formas pelas quais po<strong>de</strong>ríamos relatar a atuação <strong>do</strong><br />

nosso grupo, voltada especialmente à educação etnomat<strong>em</strong>ática na diversida<strong>de</strong><br />

sociocultural. Porém, como tu<strong>do</strong> num instante s<strong>em</strong>pre se torna passa<strong>do</strong> – basta<br />

um momento e lá se foi o agora – nos pautamos <strong>em</strong> um excerto <strong>de</strong> Lévi-Strauss,<br />

referência importante estudada por muitos componentes <strong>do</strong> grupo, para iniciar<br />

essa apresentação:<br />

[...] quan<strong>do</strong> nos limitamos ao instante presente da vida <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> [ou <strong>de</strong> um grupo 3 ], somos, antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>,<br />

3 Um grupo, assim como a socieda<strong>de</strong>, “[...] é um consórcio humano [...]. A socieda<strong>de</strong>, como grupo,<br />

consi<strong>de</strong>ra a ativida<strong>de</strong> humana, não no aspecto individual, mas no aspecto <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong><br />

associação pluri-individual” (BERNARDI, 1997, p. 33-34). Po<strong>de</strong>ríamos dizer que nosso grupo t<strong>em</strong><br />

essa característica pluri-individual, pois é composto por el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> várias partes <strong>do</strong> país e,<br />

atualmente, também <strong>do</strong> exterior, com suas próprias peculiarida<strong>de</strong>s, mas que se tornam um grupo<br />

juntos. Burocraticamente, “trata-se <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>res, estudantes e pessoal <strong>de</strong> apoio<br />

técnico que está organiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> torno da execução <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> pesquisa segun<strong>do</strong> uma regra hierárquica<br />

fundada na experiência e na competência técnico-científica. Esse conjunto <strong>de</strong> pessoas utiliza, <strong>em</strong><br />

comum, facilida<strong>de</strong>s e instalações físicas.” (LINS, 2004 apud BARONI; VIEIRA; SCUCUGLIA,<br />

2005, p. 117).<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


128 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011<br />

vítimas <strong>de</strong> uma ilusão: pois tu<strong>do</strong> é história; o que foi dito<br />

ont<strong>em</strong> é história, o que foi dito há um minuto é história.<br />

Mas, sobretu<strong>do</strong>, con<strong>de</strong>namo-nos a não conhecer esse<br />

presente, pois somente o <strong>de</strong>senvolvimento histórico permite<br />

sopesar, e avaliar <strong>em</strong> suas relações respectivas, os el<strong>em</strong>entos<br />

<strong>do</strong> presente. (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 26).<br />

Portanto, concordan<strong>do</strong> com esta concepção, recorr<strong>em</strong>os a fatos<br />

históricos sobre o GEPEtno e <strong>de</strong>paramo-nos com um certo número <strong>de</strong> suas<br />

produções coletivas. Algumas <strong>de</strong>las foram simples pôsteres s<strong>em</strong> publicação<br />

concomitante <strong>de</strong> texto; outras, porém, foram resumos e artigos publica<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

anais <strong>de</strong> eventos. Isso nos mostra o significativo papel <strong>do</strong>s inventários – ou<br />

m<strong>em</strong>oriais – para a perpetuação <strong>do</strong>s acontecimentos nos grupos <strong>de</strong> pesquisa e<br />

para os trabalhos que <strong>de</strong>les <strong>de</strong>rivam. Particularmente, no nosso caso, um <strong>de</strong>les<br />

nos é muito significativo.<br />

Trata-se <strong>do</strong> M<strong>em</strong>orial Descritivo - <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong><br />

Etnomat<strong>em</strong>ática da UNESP/Rio Claro 4 , divulga<strong>do</strong> no 7º Encontro Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Estudantes <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática (VII EBRAPEM),<br />

no ano <strong>de</strong> 2003, no qual consta que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos <strong>de</strong> 1999 e 2000, um pequeno<br />

grupo constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> estudantes regulares <strong>do</strong> PPGEM da UNESP <strong>de</strong> Rio Claro<br />

e alunos <strong>de</strong> iniciação científica da graduação <strong>em</strong> Licenciatura <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<br />

<strong>do</strong> mesmo campus, sentiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reunir<strong>em</strong> para discutir t<strong>em</strong>as<br />

que envolvess<strong>em</strong> o Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e suas implicações<br />

na educação mat<strong>em</strong>ática. Aí passa a existir o GEPEtno 5 .<br />

Como era natural, havia, naquela ocasião (e s<strong>em</strong>pre há), várias críticas<br />

e muitas dúvidas a respeito <strong>de</strong>ste Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> na comunida<strong>de</strong><br />

acadêmica e, então, numa frequência quinzenal, estes poucos estudantes<br />

escolhiam textos indica<strong>do</strong>s a priori por alguém <strong>do</strong> grupo e, uni<strong>do</strong>s, tentavam<br />

articular e enten<strong>de</strong>r as i<strong>de</strong>ias que os perpassavam. Junto a isso, discutiam a<br />

formulação <strong>de</strong> projetos e as referências bibliográficas referentes aos trabalhos<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A <strong>de</strong>scrição textual ainda menciona que um impulso significativo ao<br />

grupo foi da<strong>do</strong> após um minicurso ministra<strong>do</strong> pelo Professor Eduar<strong>do</strong> Sebastiani<br />

Ferreira, <strong>em</strong> 1999, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitória-ES, durante o 3º S<strong>em</strong>inário Nacional <strong>de</strong><br />

História da Mat<strong>em</strong>ática (III SNHM).<br />

4 Amâncio et al. (2003).<br />

5 O registro <strong>do</strong> grupo junto ao CNPq foi efetua<strong>do</strong> apenas no ano <strong>de</strong> 2004, sen<strong>do</strong> certifica<strong>do</strong> pela<br />

UNESP <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, com a linha <strong>de</strong> pesquisa Ticas <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>a: a construção <strong>do</strong> ser entre o saber/<br />

fazer <strong>em</strong> diferentes grupos socioculturais. No PPGEM, a etnomat<strong>em</strong>ática compõe a linha <strong>de</strong><br />

pesquisa Relações entre História e Educação Mat<strong>em</strong>ática.


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

129<br />

Além <strong>de</strong>ssa informação, sen<strong>do</strong> um t<strong>em</strong>a fundamental à etnomat<strong>em</strong>ática<br />

a interpretação das distintas culturas, optou-se por iniciar as discussões a partir<br />

<strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> Clifford Geertz (1989 apud AMÂNCIO et al., 2003, p. 1-2):<br />

Uma das primeiras leituras visava a dar um subsídio sobre<br />

o “mergulho” na cultura <strong>do</strong> outro. Escolh<strong>em</strong>os, então, o<br />

capítulo inicial <strong>do</strong> livro <strong>do</strong> antropólogo norte-americano<br />

Clifford Geertz (1989) no qual são discutidas questões<br />

meto<strong>do</strong>lógicas que sustentaram a sua análise da briga <strong>de</strong><br />

galos praticada <strong>em</strong> Bali, buscan<strong>do</strong> uma interpretação daquela<br />

cultura a partir da compreensão <strong>de</strong>ssa rinha. Para isso,<br />

Geertz fez uso <strong>de</strong> uma idéia central a seu trabalho, a<br />

“<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>nsa”, capaz <strong>de</strong> levar a um entendimento <strong>do</strong>s<br />

sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s da cultura <strong>de</strong>scrita.<br />

Nesse momento, foi da<strong>do</strong> o primeiro passo rumo à consolidação <strong>do</strong> grupo,<br />

haja vista a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mergulhar na cultura <strong>do</strong> outro, no manancial<br />

<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>, e, <strong>de</strong>sse mergulho, fazer <strong>em</strong>ergir<strong>em</strong> <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong>nsas, algo que<br />

se espera <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> textualização <strong>em</strong> etnomat<strong>em</strong>ática. E isso, logo <strong>em</strong><br />

seguida, produziu bons efeitos, como também po<strong>de</strong>mos ler no referi<strong>do</strong> M<strong>em</strong>orial:<br />

O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse esforço <strong>de</strong> textualização foi apresenta<strong>do</strong><br />

no Primeiro Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática,<br />

ocorri<strong>do</strong> <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000 na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação<br />

da USP, na forma <strong>de</strong> um artigo e duas comunicações<br />

científicas, e <strong>em</strong> <strong>do</strong>is relatórios finais apresenta<strong>do</strong>s ao CNPq<br />

como conclusão <strong>de</strong> Iniciação Científica. (AMÂNCIO et al.,<br />

2003, p. 2).<br />

Parecia que tu<strong>do</strong> estava in<strong>do</strong> b<strong>em</strong>, até que no início <strong>de</strong> 2001, ainda que<br />

mantidas as reuniões regulares, com leituras profundas sobre o t<strong>em</strong>a, as condições<br />

<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> tornaram-se um pouco instáveis e alguns probl<strong>em</strong>as começaram<br />

a aparecer, afetan<strong>do</strong> diretamente o quórum <strong>do</strong> grupo.<br />

A fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> grupo mostrou-se pela falta <strong>de</strong> professores<br />

cre<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Educação<br />

Mat<strong>em</strong>ática (PPGEM) <strong>do</strong> IGCE da UNESP <strong>de</strong> Rio Claro que<br />

estivess<strong>em</strong> ofertan<strong>do</strong> orientação para pessoas interessadas<br />

<strong>em</strong> realizar trabalhos nessa vertente. Isso fez com que os<br />

alunos buscass<strong>em</strong> outras possibilida<strong>de</strong>s para dar seqüência<br />

a seus estu<strong>do</strong>s <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> pós-graduação. (AMÂNCIO et<br />

al., 2003, p. 2).<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


130 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

Depois <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> inativida<strong>de</strong>, que seguiu <strong>do</strong> início <strong>de</strong> 2001 até<br />

outubro <strong>de</strong> 2002, o cre<strong>de</strong>nciamento <strong>do</strong> Professor Pedro Paulo Scandiuzzi no<br />

PPGEM fez com que o grupo novamente se fortalecesse, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>ração que se abriram mais vagas para a orientação nesta linha <strong>de</strong> pesquisa<br />

e, também, pela participação efetiva <strong>do</strong> respectivo <strong>do</strong>cente junto ao grupo,<br />

promoven<strong>do</strong> a necessária estabilida<strong>de</strong>.<br />

A partir <strong>de</strong> então, o grupo viveu momentos fecun<strong>do</strong>s, uma vez que se<br />

<strong>de</strong>cidiu por reuniões periódicas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus<br />

participantes. Dev<strong>em</strong>os ressaltar que a maioria <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong>ste grupo realiza<br />

pesquisa <strong>de</strong> campo <strong>em</strong> locais distantes <strong>de</strong> Rio Claro, <strong>em</strong> várias regiões <strong>do</strong> Brasil<br />

e até fora <strong>de</strong>le, e, muitas vezes, não po<strong>de</strong>m comparecer s<strong>em</strong>analmente aos<br />

encontros.<br />

L<strong>em</strong>bramos que, <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os momentos, foi manti<strong>do</strong> o processo acorda<strong>do</strong><br />

inicialmente: a leitura <strong>de</strong> textos para posterior discussão e aprofundamento, visan<strong>do</strong><br />

fortalecer nosso referencial teórico e ampliar nossos horizontes. Assim, o grupo<br />

busca valorizar o conhecimento <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> seus integrantes, valen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong><br />

uma dinâmica segun<strong>do</strong> a qual um m<strong>em</strong>bro <strong>do</strong> grupo age como mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r, <strong>em</strong><br />

cada encontro, escolhen<strong>do</strong> os textos que serão estuda<strong>do</strong>s. Dessa forma, pensamos<br />

estimular o diálogo e diversificar expressivamente as leituras.<br />

Em 2009, houve um diferencial significativo: tornou-se importante que o<br />

grupo enten<strong>de</strong>sse que uma <strong>de</strong>cisão grupal <strong>de</strong>ve ser, s<strong>em</strong>pre, discutida <strong>em</strong> grupo;<br />

que, no grupo, o coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r seria um participante a mais, s<strong>em</strong> posição<br />

privilegiada. Como to<strong>do</strong>s os assuntos <strong>de</strong>veriam ser <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>s coletivamente,<br />

aumentou a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uns para com os outros e não só <strong>de</strong>les <strong>em</strong><br />

relação ao orienta<strong>do</strong>r, como ocorria <strong>de</strong> praxe até então.<br />

Outro fator positivo relacionou-se ao preenchimento <strong>do</strong> quadro <strong>de</strong> vagas<br />

para o mestra<strong>do</strong> e o <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, além da presença <strong>de</strong> orientan<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Professor<br />

Ubiratan D’Ambrósio e da Professora Maria Aparecida Viggiani Bicu<strong>do</strong> e outros<br />

alunos interessa<strong>do</strong>s. Registr<strong>em</strong>os, aqui, que à época <strong>do</strong> início <strong>do</strong> grupo, <strong>em</strong> 2000,<br />

havia apenas um aluno regular no PPGEM, Chateaubriand Nunes Amâncio,<br />

orienta<strong>do</strong> pelo Professor Ubiratan D’Ambrosio, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> trabalho relativo<br />

à etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

Após o cre<strong>de</strong>nciamento <strong>do</strong> Professor Pedro Paulo Scandiuzzi, <strong>em</strong> 2002,<br />

o número <strong>de</strong> alunos regulares aumentou gradativamente, sen<strong>do</strong> que na ocasião<br />

<strong>do</strong> registro <strong>do</strong> grupo junto ao CNPq, no ano <strong>de</strong> 2004, computavam-se quatro<br />

alunos <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong>, respectivamente Adailton Alves da Silva, Ana Paula Truzzi<br />

Mauso, Marcos Lübeck e Rodrigo Alexandro Rodrigues, este último regular<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

131<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003, to<strong>do</strong>s orienta<strong>do</strong>s por este <strong>do</strong>cente recém-chega<strong>do</strong>, além <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> já referi<strong>do</strong>, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra sua tese no final <strong>de</strong>ste mesmo ano. Em<br />

2011, o grupo conta com nove alunos regulares <strong>do</strong> PPGEM, to<strong>do</strong>s já nomina<strong>do</strong>s<br />

na introdução <strong>de</strong>ste artigo.<br />

Cabe mencionar, aqui, que s<strong>em</strong>pre houve alunos regulares e alunos<br />

especiais <strong>do</strong> PPGEM frequentan<strong>do</strong> o grupo. Contu<strong>do</strong>, mesmo haven<strong>do</strong> candidatos,<br />

nunca os orienta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sta linha <strong>de</strong> pesquisa abriram o máximo <strong>de</strong> vagas.<br />

Outro fato é que n<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os alunos especiais, participantes <strong>do</strong> GEPEtno,<br />

ingressam como regulares neste Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação, evadin<strong>do</strong>-se por<br />

vários motivos, seja pela carência <strong>de</strong> vagas, seja por motivos profissionais ou<br />

pessoais, ou ainda pela falta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com a linha <strong>de</strong> pesquisa<br />

etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

Também <strong>em</strong> 2009, uma das propostas <strong>do</strong> grupo foi a elaboração <strong>de</strong> um<br />

livro, conten<strong>do</strong> a produção <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> grupo. Publica<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

2010, pela Editora da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Goiás (PUC-GO), o<br />

livro Educação Etnomat<strong>em</strong>ática: concepções e trajetórias 6 comprova o quanto<br />

o grupo cresceu <strong>em</strong> relação à construção <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>em</strong> relação às<br />

responsabilida<strong>de</strong>s para com a comunida<strong>de</strong> da educação mat<strong>em</strong>ática.<br />

Mesmo sen<strong>do</strong> recente, julgamos que o grupo já manifesta sinais <strong>de</strong><br />

maturida<strong>de</strong>, comprometen<strong>do</strong>-se com seus objetivos ao cuidar:<br />

(1) da manutenção <strong>do</strong> espaço para que cada participante<br />

possa apresentar seus trabalhos; (2) da preocupação <strong>em</strong><br />

relação ao fortalecimento cultural via Educação Mat<strong>em</strong>ática;<br />

(3) da inquietação no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> propor ativida<strong>de</strong>s, com<br />

postura etnomat<strong>em</strong>ática, voltadas para a sala <strong>de</strong> aula; (4)<br />

da intenção <strong>de</strong> produzir artigos coletivamente; (5) da<br />

pretensão <strong>de</strong> editarmos livros; (6) da intensificação <strong>de</strong><br />

contatos com outras pessoas, grupos e instituições.<br />

(AMÂNCIO et al., 2003, p. 2).<br />

A busca <strong>de</strong>ssas metas ainda é uma constante, tanto no trabalho coletivo<br />

quanto no individual, pois não nos esquec<strong>em</strong>os que “etnomat<strong>em</strong>ática não se<br />

ensina: se vive e se faz” (D’AMBROSIO, 1988, p. 16) continuadamente, <strong>em</strong><br />

movimento intenso, também nos locais <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong>cente <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong><br />

GEPEtno, já que to<strong>do</strong>s são educa<strong>do</strong>res <strong>em</strong> diversos níveis <strong>de</strong> ensino e têm<br />

produzi<strong>do</strong>, incansavelmente, sejam artigos, apresentações <strong>em</strong> congressos,<br />

orientações <strong>de</strong> monografias, enfim, atuan<strong>do</strong>, cada um a seu mo<strong>do</strong>, direta ou<br />

6 Organiza<strong>do</strong> por Silva, Jesus e Scandiuzzi (2010).<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


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indiretamente, na construção da educação etnomat<strong>em</strong>ática, da educação<br />

mat<strong>em</strong>ática e <strong>do</strong> próprio grupo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e pesquisa a que pertenc<strong>em</strong>.<br />

Um filme sobre um cerimonial indígena, grava<strong>do</strong> pelo projeto Ví<strong>de</strong>o nas<br />

Al<strong>de</strong>ias 7 ; uma apresentação <strong>do</strong> Cirque du Soleil; uma canção como Geni e o<br />

Zepelim; textos <strong>de</strong> Malinowski, <strong>de</strong> Certeau, Clastres, Clifford, Lévi-Strauss,<br />

Freire, D’Ambrosio, Vergani, enfim, tantos outros, são ex<strong>em</strong>plos <strong>do</strong>s pretextos<br />

que t<strong>em</strong>os para os momentos <strong>de</strong> encontro, quan<strong>do</strong> amadurec<strong>em</strong>os, nos<br />

conectamos, experimentamos e <strong>de</strong>scobrimos que, apesar <strong>de</strong> ora estarmos meio<br />

perdi<strong>do</strong>s, ora orienta<strong>do</strong>s, vamos s<strong>em</strong>pre ao encontro <strong>de</strong> algo. E o <strong>de</strong>stino? Esse<br />

é a educação etnomat<strong>em</strong>ática, uma confluência <strong>de</strong> trajetórias da qual<br />

preten<strong>de</strong>mos tratar <strong>em</strong> seguida.<br />

3 A convergência <strong>de</strong> percursos<br />

É bom transitar <strong>em</strong> um caminho quan<strong>do</strong> a curiosida<strong>de</strong> nos motiva e<br />

estimula. Curiosida<strong>de</strong> sobre as ciências, a educação, as civilizações, a vida...<br />

Esta curiosida<strong>de</strong> leva ao estu<strong>do</strong> e à pesquisa. E a etnomat<strong>em</strong>ática, por sua vez,<br />

abrange a pesquisa e o estu<strong>do</strong> da construção científica <strong>de</strong> grupos socioculturais,<br />

o que abarca os el<strong>em</strong>entos sobre os quais inci<strong>de</strong> nossa curiosida<strong>de</strong>.<br />

O exercício da curiosida<strong>de</strong> convoca a imaginação, a intuição,<br />

as <strong>em</strong>oções, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conjecturar, <strong>de</strong> comparar, na<br />

busca da perfilização <strong>do</strong> objeto ou <strong>do</strong> acha<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua razão<br />

<strong>de</strong> ser. [...]. Satisfeita uma curiosida<strong>de</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inquietar-me e buscar continua <strong>em</strong> pé. (FREIRE, 2009, p.<br />

88).<br />

Nesse andar, nos direcionamos ao que se está convencionan<strong>do</strong> chamar<br />

<strong>de</strong> uma educação etnomat<strong>em</strong>ática 8 , pautada no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> educação para todas<br />

as culturas, <strong>de</strong> forma holística; para todas as socieda<strong>de</strong>s e para todas as pessoas,<br />

pelo respeito ao direito <strong>de</strong> cada um ser qu<strong>em</strong> é.<br />

Desejar essa educação transdisciplinar e transcultural é uma<br />

7 O projeto Ví<strong>de</strong>o nas Al<strong>de</strong>ias, cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1987, é precursor na área <strong>de</strong> produção audiovisual indígena<br />

no Brasil. Seu objetivo s<strong>em</strong>pre foi apoiar as lutas <strong>do</strong>s povos indígenas para fortalecer suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

e seus patrimônios territoriais e culturais por meio <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> Organizações Não-Governamentais.<br />

Em 1997, foi realizada a primeira oficina <strong>de</strong> formação na al<strong>de</strong>ia Xavante <strong>de</strong> Sangra<strong>do</strong>uro, on<strong>de</strong><br />

foram distribuí<strong>do</strong>s equipamentos <strong>de</strong> exibição e câmeras <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o e foi criada uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição<br />

<strong>do</strong>s ví<strong>de</strong>os produzi<strong>do</strong>s. O projeto criou um importante acervo <strong>de</strong> imagens sobre os povos indígenas<br />

no Brasil e produziu uma coleção <strong>de</strong> filmes, a maioria <strong>de</strong>les pr<strong>em</strong>iada nacional e internacionalmente,<br />

e hoje referência na área. Acesse http://www.vi<strong>de</strong>onasal<strong>de</strong>ias.org.br para saber mais.<br />

8 Vergani (2007) lançou inicialmente esta terminologia.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

133<br />

característica nossa, constituída não a partir <strong>de</strong> condicionantes externos<br />

(modismos) ou razões pedantes particulares (egocentrismos), mas motivada pelas<br />

aspirações e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um coletivo.<br />

Nós buscamos a educação etnomat<strong>em</strong>ática, respeitan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

alterida<strong>de</strong>, respeitan<strong>do</strong> as raízes sociológicas, antropológicas, históricas, filosóficas<br />

e educacionais <strong>do</strong> conhecimento das culturas que pesquisamos. Mant<strong>em</strong>os, com<br />

essas culturas, uma relação mútua. Isso é o que nos caracteriza como um grupo,<br />

uma reunião eclética <strong>de</strong> pessoas que forma um to<strong>do</strong>, um ser com saber/fazer<br />

distinto, que busca conviver com as diferenças.<br />

Dessa consi<strong>de</strong>ração, evi<strong>de</strong>nciamos que a educação etnomat<strong>em</strong>ática<br />

interage e dinamiza-se, usufruin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s saberes das várias ciências, com interesses<br />

pedagógicos, científicos, socioculturais e humanos para com os seus envolvi<strong>do</strong>s.<br />

Ela “é uma ‘educação para o ambiente’, <strong>de</strong>senvolvida não a partir das<br />

relações <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> com o meio natural, mas a partir das relações <strong>do</strong> hom<strong>em</strong><br />

com o <strong>do</strong>mínio ecológico das suas capacida<strong>de</strong>s lógico-racionais” (VERGANI,<br />

2007, p. 45), e tenta harmonizar sensações, sentimentos, razão e intuição na<br />

prática educativa, numa espécie <strong>de</strong> ecologia 9 <strong>do</strong> ser/saber/fazer/conviver das<br />

diversida<strong>de</strong>s culturais.<br />

Esse é, justamente, nosso pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> valorizamos aspectos<br />

sociológicos, antropológicos, históricos, pedagógicos e mat<strong>em</strong>áticos <strong>em</strong> ações<br />

cujo el<strong>em</strong>ento essencial é a comunicação, seja ela oral, gestual, escrita... Ou<br />

mesmo silenciosa.<br />

No processo da fala e da escuta a disciplina <strong>do</strong> silêncio a<br />

ser assumi<strong>do</strong> com rigor e a seu t<strong>em</strong>po pelos sujeitos que<br />

falam e escutam é um “sine qua” da comunicação dialógica.<br />

[...]. A importância <strong>do</strong> silêncio no espaço da comunicação é<br />

fundamental. De um la<strong>do</strong>, me proporciona que, ao escutar,<br />

como sujeito e não como objeto, a fala comunicante <strong>de</strong><br />

alguém, procure entrar no movimento interno <strong>do</strong> seu<br />

pensamento, viran<strong>do</strong> linguag<strong>em</strong>; <strong>de</strong> outro, torna possível a<br />

qu<strong>em</strong> fala, realmente comprometi<strong>do</strong> com comunicar e não<br />

com fazer puros comunica<strong>do</strong>s, escutar a indagação, a<br />

dúvida, a criação <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> escutou. Fora disso, fenece a<br />

comunicação. (FREIRE, 2009, p. 116-117, grifo <strong>do</strong> autor).<br />

Posto sermos um grupo interessa<strong>do</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as da educação mat<strong>em</strong>ática<br />

9 Em síntese, ecologia é o estu<strong>do</strong> da estrutura e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das comunida<strong>de</strong>s humanas <strong>em</strong><br />

suas relações com o meio ambiente (natureza) e sua consequente adaptação a ele, explican<strong>do</strong> a<br />

dinâmica <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as sociais que afetam e são afeta<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os aspectos da cultura.<br />

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e, <strong>em</strong> particular, da etnomat<strong>em</strong>ática, vale esclarecer ao leitor qual é o diferencial<br />

<strong>de</strong>sta última, enquanto linha <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e pesquisa, que é, a saber, “[...] a primeira<br />

linha da educação mat<strong>em</strong>ática que lida com a realida<strong>de</strong> voltada à cultura <strong>do</strong>s<br />

sujeitos da pesquisa” (SCANDIUZZI, 2004, p. 123) da<strong>do</strong> que outras linhas, por<br />

sua vez, tratam com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> diferente <strong>de</strong>sta.<br />

Assim, estudar e compreen<strong>de</strong>r as culturas constitui o <strong>de</strong>sígnio <strong>do</strong>s<br />

educa<strong>do</strong>res que compõ<strong>em</strong> o GEPEtno. No entanto, a noção <strong>de</strong> cultura é muito<br />

ampla, e po<strong>de</strong> ser muito vaga. Nos termos <strong>de</strong>ste ensaio, dir<strong>em</strong>os apenas que<br />

uma “cultura é a atualização <strong>de</strong> uma potencialida<strong>de</strong> 10 <strong>do</strong> ser humano, num lugar<br />

b<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> da Terra e num momento b<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> da História”<br />

(NICOLESCU, 1999, p. 115), e que r<strong>em</strong>ete a to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong><br />

social e abrange <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um conhecimento específico até i<strong>de</strong>ias e crenças mais<br />

profundas <strong>de</strong> um fragmento ínfimo da humanida<strong>de</strong>, mas que foi produzi<strong>do</strong><br />

coletivamente.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, toman<strong>do</strong> essa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cultura, também a educação<br />

etnomat<strong>em</strong>ática t<strong>em</strong>, como princípio e fim, o aperfeiçoamento e/ou<br />

<strong>de</strong>senvolvimento integral <strong>de</strong> todas as capacida<strong>de</strong>s humanas pelo viés educativo,<br />

com vistas ao sist<strong>em</strong>a estrutural cultural <strong>de</strong> cada fragmento (leia-se grupo<br />

sociocultural) da humanida<strong>de</strong>.<br />

Po<strong>de</strong>mos, ainda, abusan<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma figura <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, dizer que o ser<br />

humano concebe o mun<strong>do</strong> por uma lente chamada cultura, cujo oculista é a<br />

educação. S<strong>em</strong> a cultura, o movimento <strong>do</strong> ser humano é limita<strong>do</strong>, pois os indivíduos<br />

não consegu<strong>em</strong> ver para on<strong>de</strong> ir, corren<strong>do</strong> o risco <strong>de</strong> simplesmente caminhar<br />

s<strong>em</strong> rumo. É notável, ainda, que:<br />

To<strong>do</strong>s os Povos têm cultura, porque trabalham, porque<br />

transformam o mun<strong>do</strong> e, ao transformá-lo, se transformam.<br />

[...]. Cultura são os instrumentos que o Povo usa para<br />

produzir. Cultura é a forma como o Povo enten<strong>de</strong> e expressa<br />

o seu mun<strong>do</strong> e como o Povo se compreen<strong>de</strong> nas suas<br />

relações com o seu mun<strong>do</strong>. (FREIRE, 2006, p. 75-76).<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da <strong>de</strong>finição que cada um a<strong>do</strong>ta, mas levan<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

10 “Cultura é tu<strong>do</strong> o que é cria<strong>do</strong> pelo hom<strong>em</strong>. [...]. A cultura consiste <strong>em</strong> recriar e não <strong>em</strong> repetir”.<br />

(FREIRE, 2008, p. 30-31). A potencialida<strong>de</strong> é essa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar e recriar <strong>do</strong>s seres humanos,<br />

agregan<strong>do</strong> experiências, criações e recriações ligadas aos homens no seu espaço (lugar da terra) e<br />

t<strong>em</strong>po (história), <strong>de</strong> hoje e <strong>de</strong> ont<strong>em</strong>, aqui e ali, no mun<strong>do</strong>. Por ser dinâmica, a cultura é perene,<br />

apresentan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> mudança, <strong>em</strong> um vir a ser, uma atualização – atualizar significa transformar <strong>em</strong><br />

ato algo que existe <strong>em</strong> potência (NICOLESCU, 1999), daí “a cultura só é enquanto está sen<strong>do</strong>”.<br />

(FREIRE, 1980, p. 54).<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

135<br />

conta a dinamicida<strong>de</strong> que as diversida<strong>de</strong>s culturais e a própria cultura engendram,<br />

o que importa são os fatores essenciais <strong>de</strong> uma cultura, ou seja, os fatores que<br />

permit<strong>em</strong> interpretar, compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>screver as vicissitu<strong>de</strong>s culturais,<br />

evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> todas as manifestações <strong>de</strong>ssa cultura. Estes fatores são:<br />

O anthropos, ou seja, o hom<strong>em</strong> na sua realida<strong>de</strong> individual<br />

e pessoal; o ethnos, comunida<strong>de</strong> ou povo, entendi<strong>do</strong> como<br />

associação estruturada <strong>de</strong> indivíduos; o oikos, o ambiente<br />

natural e cósmico <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> qual o hom<strong>em</strong> se encontra a<br />

atuar; o chronos, t<strong>em</strong>po, condição ao longo da qual, <strong>em</strong><br />

continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucessão, se <strong>de</strong>senvolve a ativida<strong>de</strong><br />

humana. (BERNARDI, 1997, p. 50, grifo <strong>do</strong> autor).<br />

A partir disso, e conforme enunciamos acima, se olharmos para os sujeitos<br />

pela esguelha cultural, então capturamos ou tentamos capturar pessoas;<br />

ex<strong>em</strong>plares (seres) humanos, que (com) viv<strong>em</strong> numa estrutura social, num local<br />

e num espaço on<strong>de</strong> (inter) ag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento e/ou época.<br />

Mas esse capturar é um processo bilateral, <strong>de</strong> duplo senti<strong>do</strong>, entre um<br />

nós e um outros, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se está e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se olha, pois quan<strong>do</strong><br />

olhamos e nos expomos para ver, também somos vistos. Nessa situação <strong>de</strong><br />

contato é preciso que haja compreensão mútua, e que sejam minimiza<strong>do</strong>s os<br />

ruí<strong>do</strong>s que po<strong>de</strong>m impedir a conversação 11 .<br />

Segue daí que “a etnomat<strong>em</strong>ática sabe que um mun<strong>do</strong> unitário e plural<br />

está se forman<strong>do</strong>, e que o <strong>de</strong>sbloqueio entre culturas começa por aten<strong>de</strong>r ao<br />

probl<strong>em</strong>a da ‘tradutibilida<strong>de</strong>’ recíproca” (VERGANI, 2007, p. 14), o que não se<br />

impõe como um probl<strong>em</strong>a para nós <strong>do</strong> GEPEtno, uma vez que “a etnomat<strong>em</strong>ática<br />

conhece e ‘fala’ diversas ‘linguagens’ humanas” (VERGANI, 2007, p. 36).<br />

Mais adiante, retomar<strong>em</strong>os esse conceito <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>.<br />

Como a cultura é um intrinca<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a simbólico, composto por<br />

estruturas, <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s, perenida<strong>de</strong>s e dinamicida<strong>de</strong>s, cabe àquele que a<br />

focaliza, mesmo que uma sua pequena fração, enten<strong>de</strong>r o ser/saber/fazer/conviver<br />

<strong>do</strong>s que <strong>de</strong>la participam. Como isso ocorre? Como os integrantes <strong>do</strong> GEPEtno<br />

tratam disso? Leituras e estu<strong>do</strong>s profun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alguns teóricos são<br />

imprescindíveis 12 para uma formação sólida, mas não rígida, no campo conceitual.<br />

A sequência <strong>de</strong> trabalhos elabora<strong>do</strong>s e apresenta<strong>do</strong>s como dissertações<br />

11 O livro <strong>de</strong> Vergani (2009) apresenta algumas correntes atuais <strong>de</strong> pensamento crítico convergentes<br />

com a etnomat<strong>em</strong>ática quanto aos processos <strong>de</strong> comunicação e socialização, como a <strong>do</strong> paradigma<br />

holístico.<br />

12 Para este artigo foram eleitos apenas alguns, a gosto <strong>do</strong>s seus autores, mas não se resum<strong>em</strong> apenas<br />

nestes.<br />

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<strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> e teses <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, que segue sintetizada abaixo, produzida <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a ativação <strong>do</strong> grupo, mostra essa relação com clareza. Mas, antes, fal<strong>em</strong>os <strong>de</strong><br />

alguns escritores <strong>em</strong> que nos respaldamos.<br />

Nesta via, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> D’Ambrosio (1990; 2002), mas não<br />

exclusivamente, encontramos conceituações acerca da etnomat<strong>em</strong>ática como<br />

um Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> que se mostra essencialmente alimenta<strong>do</strong> pelos<br />

estu<strong>do</strong>s socioculturais cuja abordag<strong>em</strong> respeita distintas formas <strong>de</strong> conhecer.<br />

As artes e técnicas (ticas) próprias para sobreviver e transcen<strong>de</strong>r (mat<strong>em</strong>a) <strong>de</strong><br />

grupos socioculturais peculiares (etno) é o que essa linha evoca, estudan<strong>do</strong><br />

fatores essenciais da cultura, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser entendi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> início, quan<strong>do</strong> se<br />

preten<strong>de</strong> trabalhar numa abordag<strong>em</strong> etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

Defini<strong>do</strong> o objeto da busca, é preciso ir a campo, colher, e voltar com os<br />

frutos para processar, e distribuir a polpa, dan<strong>do</strong> cabo às impurezas. Eis o néctar!<br />

Instrumentos etnológicos, etnográficos, históricos, antropológicos e<br />

historiográficos ajudam nesta lida. Autores como Clifford (1999; 2002), Lévi-<br />

Strauss (1976; 1996), Certeau (1994; 1995; 2002), Clastres (1982) serv<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

mestres, mostran<strong>do</strong> suas táticas e estratégias, seus itinerários, seus campos,<br />

seus relatos <strong>de</strong> espaço e <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> lugar e <strong>de</strong> fronteira; indican<strong>do</strong> como<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong>os fazer, e o que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os saber, para não nos pautarmos segun<strong>do</strong> o<br />

etnocentrismo, por el<strong>em</strong>entos congestivos <strong>do</strong> etnocídio.<br />

Alguns autores nos mostram como sermos educa<strong>do</strong>res na diversida<strong>de</strong>,<br />

como buscar um diálogo simétrico e uma atitu<strong>de</strong> recíproca ao agirmos. Vergani<br />

(2007), Freire (2004; 2005; 2009), Gusmão (2003) e, novamente, Lévi-Strauss<br />

(1976; 1996) nos ajudam a construir o conceito da educação etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> pesquisamos <strong>em</strong> etnomat<strong>em</strong>ática, quan<strong>do</strong> coletamos<br />

da<strong>do</strong>s no trabalho <strong>de</strong> campo, seja qual for o campo, estabelec<strong>em</strong>os uma relação<br />

com as pessoas com as quais lidamos, mesmo que <strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória, nas nossas<br />

retro relações, e esse vínculo <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>, estabeleci<strong>do</strong> artesanalmente,<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>boca na reciprocida<strong>de</strong> 13 . A mais <strong>de</strong> dar, receber e retribuir, a reciprocida<strong>de</strong><br />

estabelece valores afetivos e éticos, como a paz, a confiança, a amiza<strong>de</strong> e a<br />

compreensão mútua.<br />

Neste ambiente, julgamos que a educação etnomat<strong>em</strong>ática é importante<br />

contributo para a educação mat<strong>em</strong>ática por se referir às diversida<strong>de</strong>s e trazêlas<br />

à vista, por motivar o questionamento sobre o diferente, por nos colocar<br />

13 A reciprocida<strong>de</strong> é um princípio, um <strong>do</strong>m, que conecta as coisas e as pessoas no mun<strong>do</strong>, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong><br />

da qual elas constitu<strong>em</strong> uma relação organizada como <strong>em</strong> uma comunida<strong>de</strong>, que dá e que recebe<br />

mutuamente; é uma relação <strong>de</strong> troca comprometida com a igualda<strong>de</strong>, a justiça e a equida<strong>de</strong> entre as<br />

pessoas.<br />

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<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

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perante um espelho e nos reportar a pensar qu<strong>em</strong> somos e qu<strong>em</strong> são os que<br />

chamamos <strong>de</strong> outros. “A alterida<strong>de</strong> revela-se no fato <strong>de</strong> que o que eu sou e o<br />

outro é não se faz <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> linear e único, porém constitui um jogo <strong>de</strong> imagens<br />

múltiplo e diverso” (GUSMÃO, 2003, p. 87; grifos da autora).<br />

A questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> eu, portanto, passa pelo mun<strong>do</strong><br />

on<strong>de</strong> estou, ao qual pertenço e <strong>em</strong> que vivo, mas só é objeto<br />

<strong>de</strong> meu pensar como uma questão, um probl<strong>em</strong>a, quan<strong>do</strong><br />

me <strong>de</strong>fronto com o outro diferente <strong>de</strong> mim e aí me pergunto:<br />

qu<strong>em</strong> sou?<br />

A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a alterida<strong>de</strong> revelam, portanto, que o outro<br />

não é inexistente e estrangeiro, distante <strong>de</strong> nós e daquilo<br />

que constitui nosso mun<strong>do</strong>. O que a alterida<strong>de</strong> diz é que o<br />

outro existe e está no nosso mun<strong>do</strong>, como nós estamos no<br />

<strong>de</strong>le. É esse encontro que nos <strong>de</strong>safia e exige nossa<br />

<strong>de</strong>finição. (GUSMÃO, 2003, p. 89).<br />

Mas não é por acaso que isso acontece e, sim, graças à curiosida<strong>de</strong> que<br />

instiga as pesquisas. As práticas investigativas que conduz<strong>em</strong> à produção <strong>de</strong><br />

conhecimentos e reconhecimento <strong>de</strong> conhecimentos produzi<strong>do</strong>s nos colocam,<br />

também, perante o não-eu. Possibilita-se, assim, uma acepção melhor <strong>de</strong> mim e<br />

<strong>de</strong> um alguém que é investiga<strong>do</strong>.<br />

Não é a partir <strong>de</strong> mim que eu conheço você. Em termos <strong>de</strong><br />

pensamentos filosóficos, é o contrário. A partir da<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> você como não-eu meu, que eu me volto<br />

sobre mim e me percebo como eu e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

enquanto eu <strong>de</strong> mim, eu vivo o tu <strong>de</strong> você. É exatamente<br />

quan<strong>do</strong> o meu eu vira um tu <strong>de</strong>le, que ele <strong>de</strong>scobre o eu<br />

<strong>de</strong>le. (FREIRE, 2004, p. 149, grifos <strong>do</strong> autor).<br />

Na realida<strong>de</strong>, é papel fundamental <strong>do</strong> conhecer saber qu<strong>em</strong> sou e qu<strong>em</strong><br />

o outro é, numa relação <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e exercício <strong>de</strong> apreensão da experiência<br />

alheia e própria, geran<strong>do</strong> uma promoção substantiva recíproca. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

respectivamente, no que diz respeito ao nosso Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>, t<strong>em</strong>-se<br />

que:<br />

A etnomat<strong>em</strong>ática procura re-situar o pensamento da ciência<br />

in lócus, sobre o solo fecun<strong>do</strong> da experiência humana, on<strong>de</strong><br />

a inteligência sensível se ergue para trabalhar o mun<strong>do</strong> [...]<br />

[e ela ainda abre] gran<strong>de</strong>s clareiras <strong>de</strong> escuta, <strong>de</strong> diálogo,<br />

<strong>de</strong> silêncio criativo: lugares vocaciona<strong>do</strong>s à compreensão<br />

da alterida<strong>de</strong>/i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, portanto ao crescimento mútuo –<br />

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certamente <strong>de</strong>sconcertantes aos olhos daqueles que se<br />

habituaram a dissociar conteú<strong>do</strong>s, objetos e meto<strong>do</strong>logias.<br />

(VERGANI, 2007, p. 35).<br />

Assim, com a divulgação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s das dissertações e teses <strong>do</strong>s<br />

alunos <strong>do</strong> PPGEM vincula<strong>do</strong>s ao GEPEtno, muitos lugares e culturas tornam-se<br />

conheci<strong>do</strong>s. Deste mo<strong>do</strong>, mesmo quan<strong>do</strong> se inci<strong>de</strong> um olhar diferencia<strong>do</strong> para<br />

a velha sala <strong>de</strong> aula, por ex<strong>em</strong>plo, nós po<strong>de</strong>mos nos surpreen<strong>de</strong>r com visões<br />

(imagens e miragens) que <strong>de</strong>la po<strong>de</strong>m surgir, especialmente quan<strong>do</strong> se fala <strong>de</strong><br />

novas realida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> inclusão, seja social ou cultural, sobre o que muito t<strong>em</strong> si<strong>do</strong><br />

discuti<strong>do</strong>, mas cujas disposições pouco têm se efetiva<strong>do</strong>.<br />

Observamos daí, que:<br />

O mun<strong>do</strong> conhece agora, e cada vez mais, diferentes<br />

culturas, diferentes povos, além <strong>de</strong> pessoas diferentes na<br />

própria socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que se vive. [...]. Queiramos ou não, a<br />

inclusão <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os seus aspectos está aí e será vivenciada<br />

por aqueles que trabalham com educação. Queiramos ou<br />

não, será impossível trabalhar um conteú<strong>do</strong> específico s<strong>em</strong><br />

suas inter-relações. (SCANDIUZZI, 2008, p. 298-299).<br />

Esse é o futuro que já chegou, e nos <strong>de</strong>ixa, a to<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> atraso. Mas não<br />

t<strong>em</strong><strong>em</strong>os e seguimos firmes na nossa linha, pois “a educação etnomat<strong>em</strong>ática –<br />

lidan<strong>do</strong> com a inteireza racional, psíquica, <strong>em</strong>ocional, social e cultural <strong>do</strong> hom<strong>em</strong><br />

– é uma postura criativa que ecoa a diferentes níveis e segun<strong>do</strong> diferentes graus<br />

<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>” (VERGANI, 2007, p. 42), e esta há <strong>de</strong> nos inspirar. Contu<strong>do</strong>,<br />

antes <strong>de</strong> profetizar o amanhã, fal<strong>em</strong>os mais um pouco <strong>do</strong> ont<strong>em</strong> e <strong>do</strong> hoje.<br />

Nós cr<strong>em</strong>os no caráter que a etnomat<strong>em</strong>ática t<strong>em</strong> <strong>de</strong> não usar<br />

categorização; mas, para organizar este artigo, dir<strong>em</strong>os que as contribuições<br />

das dissertações e teses elaboradas pelos m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> GEPEtno e <strong>de</strong>fendidas<br />

no PPGEM envolv<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as que (inter/intra/retro) relacionam a etnomat<strong>em</strong>ática<br />

com a cultura indígena, a cultura <strong>de</strong> lavra<strong>do</strong>res, a formação <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>res para<br />

a diversida<strong>de</strong> sociocultural; a historiografia; a etnografia/etnologia; história;<br />

filosofia; sociologia; a educação inclusiva; a inclusão cultural; as novas realida<strong>de</strong>s;<br />

o conhecimento socialmente construí<strong>do</strong>; a cultura afro-brasileira; a educação e<br />

a cultura a partir <strong>do</strong> espaço escolar; a educação <strong>de</strong> jovens e adultos; as concepções<br />

<strong>de</strong> transdisciplinarida<strong>de</strong> e transculturalida<strong>de</strong>; t<strong>em</strong>as que estão presentes na arena<br />

da educação mat<strong>em</strong>ática nestes t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> transição.<br />

No breviário a seguir, esperamos ilustrar um pouco <strong>do</strong> que foi dito até


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

139<br />

aqui e mostrar, mesmo que implícita e sucintamente, algumas <strong>de</strong>stas relações 14 .<br />

Antecipamos que os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> grupo são sustenta<strong>do</strong>s<br />

por pressupostos da investigação qualitativa 15 , <strong>em</strong> geral <strong>de</strong> caráter etnográfico<br />

e/ou historiográfico.<br />

4 As trilhas <strong>do</strong>s transeuntes 16<br />

Em Uma Perspectiva Sociológica <strong>do</strong> Conhecimento Mat<strong>em</strong>ático,<br />

Chateaubriand Nunes Amâncio (2004) 17 faz uso <strong>de</strong> fontes históricas e/ou<br />

bibliográficas para subsidiar suas consi<strong>de</strong>rações acerca <strong>do</strong> conhecimento sobre<br />

a perspectiva, tomada como objeto artístico e mat<strong>em</strong>ático concebi<strong>do</strong> pelo hom<strong>em</strong>.<br />

O autor se <strong>em</strong>basa na sociologia <strong>do</strong> conhecimento, aplican<strong>do</strong>-a à mat<strong>em</strong>ática,<br />

constatan<strong>do</strong> que esta última é fruto da cultura humana, e que o conhecimento<br />

mat<strong>em</strong>ático <strong>em</strong>ana da realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que é socialmente elabora<strong>do</strong>, organiza<strong>do</strong> e<br />

difundi<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> meto<strong>do</strong>logicamente <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as concepções <strong>do</strong><br />

Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática. Com isso, conclui sua tese afirman<strong>do</strong><br />

que o conhecimento mat<strong>em</strong>ático, como no caso a representação perspectiva <strong>do</strong><br />

espaço, é, também, um constructo social. Essa atitu<strong>de</strong> historiográfica objetivou<br />

elucidar a presença <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias mat<strong>em</strong>áticas (da geometria projetiva) nas ativida<strong>de</strong>s<br />

humanas, seguin<strong>do</strong> a pr<strong>em</strong>issa <strong>de</strong> que <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os momentos da história, e <strong>em</strong><br />

todas as civilizações, essas i<strong>de</strong>ias estão urdidas <strong>em</strong> todas as formas <strong>de</strong> fazer e<br />

<strong>de</strong> saber, contribuin<strong>do</strong> para o preenchimento da lacuna existente sobre a sociologia<br />

<strong>do</strong> conhecimento aplicada à mat<strong>em</strong>ática.<br />

R<strong>em</strong>exen<strong>do</strong> livros <strong>de</strong> história, enciclopédias e textos etnográficos, Rodrigo<br />

Alexandro Rodrigues (2005) 18 reúne e apresenta, na dissertação <strong>de</strong>nominada<br />

14 A íntegra <strong>do</strong>s trabalhos está disponível para consulta <strong>em</strong> versão impressa na Biblioteca da UNESP<br />

<strong>de</strong> Rio Claro e, também, <strong>em</strong> versão digital online <strong>em</strong> http://www.athena.biblioteca.unesp.br.<br />

15 A investigação qualitativa, conforme Bogdan; Biklen (2006) é uma forma que agrupa diversas<br />

estratégias <strong>de</strong> investigação que partilham <strong>de</strong>terminadas características. Esse méto<strong>do</strong> caracteriza-se<br />

pela palavra da<strong>do</strong>s, ditos qualitativos, ricos <strong>em</strong> pormenores <strong>de</strong>scritivos, on<strong>de</strong> se busca, através das<br />

etapas da pesquisa, atingir a compreensão <strong>de</strong> um fato via a tentativa <strong>de</strong> dar ou interpretar este fato<br />

<strong>em</strong> toda sua complexida<strong>de</strong> e <strong>em</strong> seu contexto natural. É uma meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> investigação que<br />

enfatiza, principalmente, a <strong>de</strong>scrição e o estu<strong>do</strong> das percepções pessoais, a partir das diferentes<br />

realida<strong>de</strong>s. Nesta modalida<strong>de</strong>, o investiga<strong>do</strong>r preocupa-se com o contexto; sua pesquisa é <strong>de</strong>scritiva;<br />

ele se interessa pelo processo e não somente pelo produto, cujos da<strong>do</strong>s são analisa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma<br />

indutiva e com eles constrói significa<strong>do</strong>s. Quanto à etnomat<strong>em</strong>ática, esta não t<strong>em</strong> por hábito seguir<br />

o méto<strong>do</strong> analítico, mas sim o méto<strong>do</strong> sintético, on<strong>de</strong> se dá ênfase à totalida<strong>de</strong>, ao olhar holístico.<br />

16 To<strong>do</strong>s os pesquisa<strong>do</strong>res lista<strong>do</strong>s frequentaram o GEPEtno. N<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s continuaram a frequentar o<br />

grupo após a <strong>de</strong>fesa.<br />

17 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Ubiratan D’Ambrosio.<br />

18 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


140 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

As “Ticas” <strong>de</strong> “Mat<strong>em</strong>a” <strong>do</strong>s Índios Kalapalo: uma interpretação <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s<br />

etnográficos, com o auxílio da etnomat<strong>em</strong>ática, da<strong>do</strong>s sobre o saber <strong>de</strong>stes<br />

indígenas, mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Alto Xingu no Centro-Oeste brasileiro, afirman<strong>do</strong> que<br />

estes mostram <strong>do</strong>minar uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos mat<strong>em</strong>áticos<br />

e que precisam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser marginaliza<strong>do</strong>s como tantos outros grupos nacionais<br />

s<strong>em</strong>pre o foram. Para tal, ele faz uma interpretação <strong>do</strong> seu sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> numeração,<br />

listan<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como esta etnia concebe seus números, estudan<strong>do</strong> as<br />

histórias e mitos Kalapalo, combaten<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> limitação, arraigada no senso<br />

comum sobre as culturas indígenas, particularmente <strong>em</strong> relação aos seus mo<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> contar.<br />

A dissertação <strong>de</strong> Marcos Lübeck (2005) 19 , intitulada Uma Investigação<br />

Etnomat<strong>em</strong>ática Sobre os Trabalhos <strong>do</strong>s Jesuítas nos Sete Povos das<br />

Missões/RS nos Séculos XVII e XVIII, apresenta um estu<strong>do</strong> sobre a presença<br />

das mat<strong>em</strong>áticas nas ativida<strong>de</strong>s cotidianas <strong>do</strong>s jesuítas naquele local (região<br />

noroeste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul) e perío<strong>do</strong> (quase um século), <strong>em</strong> que<br />

estiveram (com) viven<strong>do</strong> com indígenas Guarani <strong>em</strong> al<strong>de</strong>amentos chama<strong>do</strong>s<br />

Reduções. Também está <strong>em</strong>basa<strong>do</strong> <strong>em</strong> pesquisas bibliográficas, nas quais se<br />

buscou olhar para os trabalhos lá realiza<strong>do</strong>s, como as mat<strong>em</strong>áticas se articulavam,<br />

como se ligavam ao sociocultural circundante e qual sua relevância à época e a<br />

posteriori. Trata-se <strong>de</strong> mais um exame histórico, envolven<strong>do</strong> o Programa <strong>de</strong><br />

<strong>Pesquisa</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática, que explora aspectos socioculturais relaciona<strong>do</strong>s com<br />

a día<strong>de</strong> jesuíta/guarani para expor o ser/saber/fazer/conviver humano por meio<br />

da historiografia, a partir <strong>do</strong> qual o autor evi<strong>de</strong>ncia t<strong>em</strong>as cotidianos registra<strong>do</strong>s<br />

e edita<strong>do</strong>s da época, o ser/saber/fazer/conviver missioneiro, algo importante<br />

para a educação mat<strong>em</strong>ática pela valorização <strong>do</strong> outro e <strong>de</strong> seus valores no<br />

passa<strong>do</strong> e suas lições para o presente.<br />

Já o trabalho A Organização Espacial A’uw – Xavante: um olhar<br />

qualitativo sobre o espaço, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por Adailton Alves da Silva (2006) 20 ,<br />

é uma investigação sobre a organização espacial/social <strong>do</strong> povo A’uw – Xavante,<br />

<strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> indígena <strong>do</strong> Mato Grosso. Para efetivar a pesquisa, o autor<br />

inseriu-se no contexto cultural investiga<strong>do</strong> e lá procurou compreen<strong>de</strong>r aspectos<br />

da cultura que influenciavam essas mat<strong>em</strong>áticas <strong>do</strong> grupo, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong>-as a<br />

partir <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> dia-a-dia e <strong>de</strong> oficinas pedagógicas lá <strong>de</strong>senvolvidas com<br />

professores indígenas, a influência da organização espacial/social na geração,<br />

sist<strong>em</strong>atização e difusão <strong>do</strong> pensamento mat<strong>em</strong>ático naquela estrutura vigente.<br />

19 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

20 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

141<br />

Discute, ainda, a diferença <strong>de</strong> concepções <strong>de</strong> espaço e suas dimensões, e o<br />

mo<strong>do</strong> como isso sedimenta a cultura <strong>de</strong> um povo, algo essencial para ser refleti<strong>do</strong><br />

e incorpora<strong>do</strong> à educação mat<strong>em</strong>ática.<br />

Um Estu<strong>do</strong> da Utilização <strong>de</strong> Medidas Não-Oficiais <strong>em</strong> uma<br />

Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vocação Rural é feito por Ana Paula Truzzi Mauso (2006) 21<br />

para abordar o t<strong>em</strong>a das medidas não-oficiais no cotidiano das pessoas, <strong>em</strong><br />

especial as da área rural <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Talha<strong>do</strong>, nos arrabal<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São José <strong>do</strong><br />

Rio Preto-SP. A autora <strong>de</strong>screve cronologicamente um panorama teórico sobre<br />

a institucionalização <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a métrico <strong>de</strong>cimal e, da parte <strong>em</strong>pírica, quan<strong>do</strong><br />

esteve <strong>em</strong> campo, mostra as medidas lá encontradas, também ten<strong>do</strong> como base<br />

o referencial <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática. Apresentan<strong>do</strong> os<br />

diferentes mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> conceber medidas expressos pela cultura pesquisada, a<br />

autora contribui para com a educação mat<strong>em</strong>ática ao combater i<strong>de</strong>ais que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a universalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma única mat<strong>em</strong>ática, que, inúmeras vezes<br />

propaga<strong>do</strong>s, merec<strong>em</strong> ser repensa<strong>do</strong>s.<br />

Estudar uma coletivida<strong>de</strong> que vive fora <strong>do</strong>s padrões sociais até pouco<br />

t<strong>em</strong>po aceitos como mo<strong>de</strong>lo único <strong>de</strong> civilização é o que motivou Elivanete Alves<br />

<strong>de</strong> Jesus (2007) 22 a elaborar sua pesquisa sobre As Artes e as Técnicas <strong>do</strong> Ser<br />

e <strong>do</strong> Saber/Fazer <strong>em</strong> Algumas Ativida<strong>de</strong>s no Cotidiano da Comunida<strong>de</strong><br />

Kalunga <strong>do</strong> Riachão, r<strong>em</strong>anescente quilombola <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás.<br />

A autora apoia-se teoricamente na etnomat<strong>em</strong>ática, da<strong>do</strong>s os princípios <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong>s<br />

por esta linha <strong>de</strong> pesquisa quanto aos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> explicar e <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os diversos<br />

contextos socioculturais. Essa fundamentação permitiu à autora focar e<br />

interpretar, <strong>de</strong> forma transcultural e holística, saberes e fazeres <strong>do</strong> ser Kalunga.<br />

Técnicas etnográficas a ajudaram a alcançar sua proposta <strong>de</strong> estudar a produção<br />

<strong>de</strong> conhecimento, seus processos <strong>de</strong> difusão, seus hábitos e costumes, para<br />

<strong>de</strong>screver, <strong>de</strong>ntre outros, o processo educacional da criança nessa cultura. Isso<br />

contribui para a educação mat<strong>em</strong>ática priorizar a convivência entre diferentes<br />

mo<strong>de</strong>los culturais que s<strong>em</strong>pre coexistiram.<br />

A Etnomat<strong>em</strong>ática no Contexto <strong>do</strong> Ensino Inclusivo: possibilida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong>safios é o título da dissertação <strong>de</strong> Thiago Donda Rodrigues (2008) 23 , cuja<br />

pesquisa, <strong>de</strong> caráter etnográfico, permitiu ao autor estudar como os professores<br />

<strong>de</strong> uma escola inclusiva, ligada ao projeto Centro Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />

Jovens e Adultos, da Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, lidam,<br />

na disciplina <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática, com seus alunos. Basea<strong>do</strong> no Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong><br />

21 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

22 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

23 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


142 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

Etnomat<strong>em</strong>ática, o trabalho indica que o processo <strong>de</strong> inclusão está liga<strong>do</strong> à<br />

postura ética <strong>de</strong> prezar pelo respeito, a solidarieda<strong>de</strong> e a cooperação, pautada<br />

na valorização das diferenças. O autor argumenta, ainda, que não existe um<br />

mo<strong>de</strong>lo pronto para o processo <strong>de</strong> inclusão, mas há como transitar da integração<br />

existente para a inclusão no <strong>de</strong>vir, através <strong>de</strong> práticas inclusivas <strong>em</strong> ambientes<br />

com proposta inclusiva. Essa postura contribui com a educação mat<strong>em</strong>ática no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sugerir olhares e ações distintas sobre o mun<strong>do</strong> das diferentes pessoas.<br />

Paralelamente, a dissertação <strong>de</strong> Aira Casagran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oliveira Calore<br />

(2008) 24 <strong>de</strong>nominada As “Ticas” <strong>de</strong> “Mat<strong>em</strong>a” <strong>de</strong> Cegos Sob o Viés<br />

Institucional: da integração à inclusão <strong>em</strong>erge <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos cegos, cujas ticas <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>a foram investigadas segun<strong>do</strong> o Programa<br />

<strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> educação inclusiva. Seus propósitos<br />

<strong>de</strong> observar, <strong>de</strong>screver e analisar o ser, o saber e o fazer <strong>de</strong> pessoas cegas <strong>em</strong><br />

instituições <strong>de</strong> ensino, à maneira etnográfica, se efetivaram <strong>em</strong> um instituto<br />

especializa<strong>do</strong> 25 e <strong>em</strong> uma escola estadual 26 da re<strong>de</strong> regular <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> São<br />

José <strong>do</strong> Rio Preto. As artes e as técnicas culturais <strong>de</strong>sses grupos, compostos<br />

por alunos e professora, trouxe como consequência a análise e a compreensão<br />

<strong>de</strong> experiências educacionais <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong> inclusão, ex<strong>em</strong>plifican<strong>do</strong> a<br />

transição entre integração e inclusão, e fez a autora questionar, na sua dissertação,<br />

o impacto da cultura <strong>de</strong> um grupo cego quanto à proposta <strong>de</strong> educação inclusiva,<br />

mostran<strong>do</strong> que a educação mat<strong>em</strong>ática para to<strong>do</strong>s também <strong>de</strong>ve incluir os cegos.<br />

Adriano Fonseca (2009) 27 , <strong>em</strong> A Construção <strong>do</strong> Conhecimento<br />

Mat<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> uma Turma <strong>de</strong> Alunos <strong>do</strong> Ensino Médio num Espaço<br />

Sociocultural: uma postura etnomat<strong>em</strong>ática retrata, seguin<strong>do</strong> os princípios<br />

<strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> caráter etnográfico <strong>em</strong> etnomat<strong>em</strong>ática, como acontece a<br />

construção <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> um grupo social, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por uma turma <strong>de</strong><br />

alunos <strong>do</strong> Ensino Médio Estadual, no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Ipeúna. O autor mostra que a sala <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong> se constituir <strong>em</strong> um espaço<br />

sociocultural, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> haver diálogo simétrico e relações <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>,<br />

principalmente se for<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s os princípios da etnomat<strong>em</strong>ática quanto<br />

ao respeito, à solidarieda<strong>de</strong> e à cooperação. Como o trabalho <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> um<br />

projeto chama<strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Leitura <strong>de</strong> Mun<strong>do</strong> com um Olhar<br />

Etnomat<strong>em</strong>ático 28 e <strong>de</strong> outras teorias educacionais pautadas na <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong><br />

24 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

25 Instituo Rio-Pretense <strong>do</strong>s Cegos Trabalha<strong>do</strong>res.<br />

26 Escola Estadual Car<strong>de</strong>al L<strong>em</strong>e.<br />

27 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

28 Projeto <strong>do</strong> autor, realiza<strong>do</strong> com alunos da educação básica, com o objetivo <strong>de</strong> promover o estu<strong>do</strong><br />

e a pesquisa <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as (transversais) <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>sses alunos, relacionan<strong>do</strong>-os com as suas leituras<br />

<strong>de</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

143<br />

diálogo, seu autor percebe e afirma que é possível mudar a postura, tanto conceitual<br />

quanto prática, ao refletir sobre a relação com o outro.<br />

Relacionan<strong>do</strong> o Programa <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e o espaço<br />

escolar, a dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> Vivências Espaciais e Saberes <strong>em</strong> uma<br />

Escola Wal<strong>do</strong>rf: um estu<strong>do</strong> etnomat<strong>em</strong>ático 29 , <strong>de</strong> Evelaine Cruz <strong>do</strong>s Santos<br />

(2010) 30 , busca compreen<strong>de</strong>r as vivências espaciais e saberes veicula<strong>do</strong>s na<br />

Escola Associativa Wal<strong>do</strong>rf Veredas, localizada <strong>em</strong> Campinas-SP. A escola<br />

pesquisada t<strong>em</strong> uma arquitetura diferenciada e os lugares não são utiliza<strong>do</strong>s<br />

somente para as funções que, normalmente, são atribuídas a eles, ten<strong>do</strong> múltiplas<br />

finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as necessida<strong>de</strong>s e vonta<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> escolar.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong>s saberes, percebe-se que as aulas, mais <strong>do</strong> que espaço <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r, se mostram como espaços <strong>de</strong> formação <strong>do</strong> ser humano on<strong>de</strong> se cultivam<br />

valores. O currículo é trabalha<strong>do</strong> <strong>em</strong> épocas que prove<strong>em</strong> um estu<strong>do</strong> intensifica<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se utilizar da inter, multi e transdisciplinarida<strong>de</strong>. O fato <strong>de</strong><br />

se ter professor <strong>de</strong> classe que ministra todas as matérias básicas contribui para<br />

isto. As formas <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e produzir conhecimento se mostraram variadas<br />

(com movimentos corporais, através da música, <strong>do</strong> ritmo, <strong>de</strong> histórias, <strong>de</strong> passeios<br />

etc.). A produção <strong>do</strong>s saberes <strong>de</strong>ve ser sentida ou experienciada pelo ser humano<br />

integral (corpo, alma, espírito) e então po<strong>de</strong> ser mais viva, dinâmica e criativa.<br />

Já Adauto Nunes da Cunha (2010) 31 , <strong>em</strong> sua dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>nominada Diferentes Realida<strong>de</strong>s: ticas <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>a na mat<strong>em</strong>ática escolar,<br />

apresenta parte <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> teórico que v<strong>em</strong> realizan<strong>do</strong> nos últimos anos.<br />

Nele, apresenta uma discussão acerca das transformações ocorridas nos sist<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> comunicação, resultantes <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> globalização, no intuito <strong>de</strong> mostrar<br />

que tal processo t<strong>em</strong> refleti<strong>do</strong> diretamente nos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> geração e aquisição <strong>do</strong><br />

conhecimento. Preten<strong>de</strong>, ainda, mostrar, <strong>em</strong> contrapartida, que os indivíduos<br />

traz<strong>em</strong> ao processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento sua herança cultural, e que<br />

tais fatos influenciam fundamentalmente a maneira como o indivíduo percebe a<br />

realida<strong>de</strong>. Reconhecen<strong>do</strong> que o conhecimento se dá <strong>de</strong> maneira diferente <strong>em</strong><br />

distintas culturas e <strong>em</strong> épocas diferentes, preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar os probl<strong>em</strong>as disso<br />

<strong>de</strong>correntes ao ensino-aprendizag<strong>em</strong>, b<strong>em</strong> como propor uma alternativa viável<br />

<strong>de</strong> trabalho apoia<strong>do</strong> na etnomat<strong>em</strong>ática, que, por sua característica<br />

transdisciplinar, v<strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r ao esfacelamento <strong>do</strong> conhecimento. Assim sen<strong>do</strong>,<br />

29 Uma exposição <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utoramento que dá continuida<strong>de</strong> a esta dissertação<br />

integra outro artigo <strong>de</strong>sta mesma edição <strong>do</strong> BOLEMA. O trabalho é orienta<strong>do</strong> pelo Professor<br />

Ubiratan D’Ambrosio e teve início no ano <strong>de</strong> 2011.<br />

30 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Ubiratan D’Ambrosio.<br />

31 Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


144 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

a etnomat<strong>em</strong>ática apresenta-se como ferramenta valiosa ao trabalho pedagógico<br />

uma vez que, nela, o conhecimento apresenta-se contextualiza<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma cultura, b<strong>em</strong> como traz à baila as implicações da visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong><br />

e realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos presentes nesse processo. Dessa forma, ao final da<br />

ação, sa<strong>em</strong> enriqueci<strong>do</strong>s tanto a mat<strong>em</strong>ática quanto o indivíduo que <strong>de</strong>la faz<br />

uso.<br />

Em to<strong>do</strong>s estes trabalhos encontram-se firma<strong>do</strong>s compromissos para<br />

com os grupos culturais estuda<strong>do</strong>s. Neles são apresenta<strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos que inclu<strong>em</strong><br />

estes grupos nos cenários acadêmicos e institucionais, o que já, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong>,<br />

retribui <strong>em</strong> parte o que <strong>de</strong>les foi ganho durante as investigações; ainda, há o<br />

engajamento individual <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res, postural e ético, que se<br />

reafirma no agir <strong>em</strong> prol da manutenção das diversida<strong>de</strong>s e na diss<strong>em</strong>inação<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s próprios <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> saber, <strong>de</strong> fazer e <strong>de</strong> conviver <strong>de</strong> cada cultura,<br />

para suas sobrevivência e transcendência.<br />

5 Novos trajetos<br />

Buscamos agrupar as atuais pesquisas <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento no grupo<br />

com a intenção <strong>de</strong> dar ao leitor uma visão <strong>do</strong> que está sen<strong>do</strong> aborda<strong>do</strong> nestas<br />

investigações mais recentes. Neste senti<strong>do</strong>, há pesquisas que lidam com povos<br />

indígenas; há outras que perpassam o espaço escolar; uma que t<strong>em</strong>atiza povos<br />

afro-brasileiros; há, também, uma pesquisa historiográfica sobre a t<strong>em</strong>ática<br />

missioneira e, ainda, uma investigação fenomenológica que focou concepções<br />

<strong>de</strong> etnomat<strong>em</strong>ática (MIARKA, 2011), esta <strong>de</strong>senvolvida no grupo <strong>de</strong> pesquisa<br />

Fenomenologia e Educação Mat<strong>em</strong>ática (FEM), orientada por Maria Aparecida<br />

Viggiani Bicu<strong>do</strong>, cujo autor, Roger Miarka, dialoga com o GEPEtno, por meio <strong>de</strong><br />

discussões <strong>de</strong> textos trabalha<strong>do</strong>s por esse grupo, abrin<strong>do</strong> compreensões<br />

possibilitadas pela fenomenologia husserliana e pela antropologia filosófica e<br />

cultural 32 .<br />

Cabe ressaltar que a maioria das pesquisas e seus pesquisa<strong>do</strong>res,<br />

m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> GEPEtno, transitam por diferentes t<strong>em</strong>as e abordagens, privilegian<strong>do</strong>,<br />

entretanto, o caráter etnográfico, utilizan<strong>do</strong> como suporte teórico principal a<br />

etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

32 Esta última, trazida <strong>de</strong> suas próprias investigações <strong>em</strong> estágios efetua<strong>do</strong>s na Itália e na Nova<br />

Zelândia. MIARKA, R. Etnomat<strong>em</strong>ática: <strong>do</strong> ôntico ao ontológico. 2011. 427 f. Tese (Doutora<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática) – Instituto <strong>de</strong> Geociências e Ciências Exatas, Universida<strong>de</strong> Estadual<br />

Paulista, Rio Claro. 2011.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

145<br />

Assim, a pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>de</strong> Adailton Alves da Silva, relacionada<br />

com povos indígenas, intitulada A Mat<strong>em</strong>ática nos Mitos, Ritos e Cerimônias<br />

A’uw – Xavante: saberes e fazeres dinâmicos e transdisciplinares 33 é uma<br />

investigação <strong>de</strong> natureza qualitativa que se insere, sob o ponto <strong>de</strong> vista<br />

meto<strong>do</strong>lógico, no campo da etnomat<strong>em</strong>ática, que, por sua vez, dialoga<br />

transdisciplinarmente com diferentes áreas <strong>do</strong> conhecimento. Nessa perspectiva,<br />

os procedimentos investigativos efetivam-se a partir <strong>de</strong> uma imersão na cultura<br />

<strong>do</strong> povo A’uw – Xavante, buscan<strong>do</strong> vivenciar to<strong>do</strong>s os tipos <strong>de</strong> estranhamento,<br />

no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> permitir o exercício da alterida<strong>de</strong> na relação com o diferente.<br />

Nesse caminhar, o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> caráter etnográfico é amplamente utiliza<strong>do</strong>,<br />

buscan<strong>do</strong> colocar <strong>em</strong> evidência os el<strong>em</strong>entos mat<strong>em</strong>áticos relaciona<strong>do</strong>s aos<br />

mitos, ritos e cerimônias <strong>do</strong> povo referi<strong>do</strong>. Para isso, durante a execução da<br />

pesquisa, reservou-se um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze meses <strong>de</strong> permanência na comunida<strong>de</strong><br />

investigada. Nessa convivência busca-se compreen<strong>de</strong>r a forma como os mitos,<br />

ritos e cerimônias estão articula<strong>do</strong>s aos saberes mat<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong>sse povo. Esse<br />

trabalho está sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> junto à comunida<strong>de</strong> indígena <strong>de</strong> Pimentel<br />

Barbosa, na Terra Indígena Rio das Mortes, pertencente aos municípios <strong>de</strong><br />

Canarana-MT e Ribeirão Cascalheira-MT. Acredita-se que esta investigação<br />

possa contribuir para, <strong>em</strong> linhas gerais, conhecer outras maneiras e lógicas <strong>de</strong><br />

povos culturalmente distintos, sedimentar a pesquisa sobre as mat<strong>em</strong>áticas<br />

indígenas e subsidiar políticas públicas com relação à Educação Escolar Indígena.<br />

Versan<strong>do</strong>, ainda, sobre a t<strong>em</strong>ática indígena, o <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> Sinval <strong>de</strong><br />

Oliveira <strong>em</strong> seu trabalho sobre As Práticas Socioculturais <strong>do</strong>s Educa<strong>do</strong>res<br />

Indígenas Apinayé: uma perspectiva da educação indígena 34 propõe uma<br />

investigação que procura articular uma tripla confluência que se dá entre o<br />

contexto da educação escolar indígena Apinayé, suas necessida<strong>de</strong>s específicas<br />

quanto à formação <strong>de</strong> professores e as práticas pedagógicas efetivas no âmbito<br />

das al<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>sta etnia no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tocantins. A questão elencada como guia<br />

visa à sist<strong>em</strong>atização <strong>de</strong> uma epist<strong>em</strong>ologia da prática <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res Apinayé,<br />

engloban<strong>do</strong> conhecimentos conceituais e práticos, relaciona<strong>do</strong>s ao saber/fazer/<br />

ser/conviver <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>. Paralelamente, alguns objetivos são propostos,<br />

visan<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>screver os processos <strong>de</strong> construção pedagógica<br />

utiliza<strong>do</strong>s pelos educa<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ssa etnia. As ferramentas meto<strong>do</strong>lógicas estão<br />

organizadas inicialmente a partir <strong>de</strong> alguns estu<strong>do</strong>s teóricos <strong>de</strong> pesquisas<br />

conduzidas no âmbito <strong>de</strong> outras socieda<strong>de</strong>s indígenas, à luz da etnomat<strong>em</strong>ática<br />

e, particularmente, na pesquisa <strong>de</strong> cunho etnográfico, abordag<strong>em</strong> que estabelece<br />

33 Ano <strong>de</strong> início: 2009. Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

34 Ano <strong>de</strong> início: 2009. Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


146 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

os el<strong>em</strong>entos básicos para configurar uma investigação que coloque <strong>em</strong> relevo<br />

raízes culturais.<br />

O pesquisa<strong>do</strong>r Pedro Paulo Scandiuzzi 35 t<strong>em</strong> investi<strong>do</strong> seus esforços<br />

investigativos <strong>em</strong> pesquisas relacionadas a povos indígenas, procuran<strong>do</strong> dar<br />

prosseguimento à análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s para seus trabalhos <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> e<br />

<strong>do</strong>utora<strong>do</strong>. Por ter realiza<strong>do</strong> uma pesquisa etnográfica <strong>em</strong> uma realida<strong>de</strong> distante<br />

da sua, acredita ter cometi<strong>do</strong>, à época, alguns erros <strong>de</strong> interpretação, além <strong>de</strong><br />

não ter compreendi<strong>do</strong>, naquele momento e condições, alguns fatos que coletou.<br />

Concentra-se, agora, na retomada <strong>de</strong>sses estu<strong>do</strong>s. Sob outro aspecto, como<br />

professor aposenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Prática <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática e Prática <strong>de</strong> Ensino<br />

<strong>de</strong> Desenho Geométrico, procura abordar, <strong>em</strong> sua produção, a formação <strong>de</strong><br />

professores, inclusive professores indígenas, a partir <strong>de</strong> sua vivência <strong>de</strong> sala <strong>de</strong><br />

aula. Estuda a transculturalida<strong>de</strong>, a inclusão e outros t<strong>em</strong>as relaciona<strong>do</strong>s à<br />

educação etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

A dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> <strong>de</strong>nominada As Diferenças Culturais <strong>do</strong>s<br />

Alunos da Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos <strong>do</strong> Ensino Médio: uma visão<br />

etnomat<strong>em</strong>ática, <strong>de</strong> Maria da Penha Rodrigues <strong>de</strong> Oliveira Godinho (2011) 36 ,<br />

procurou estudar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> conhecimento mat<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> uma turma<br />

<strong>de</strong> alunos que faz<strong>em</strong> parte da Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos <strong>do</strong> Ensino Médio,<br />

da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ibiúna, interior <strong>de</strong> São Paulo. O trabalho buscou englobar as<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s alunos, b<strong>em</strong> como observar como o diálogo e o respeito<br />

contribu<strong>em</strong> com a aprendizag<strong>em</strong> e a percepção das mat<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong>sse grupo,<br />

numa reflexão sobre a prática pedagógica na sala <strong>de</strong> aula. Dos estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s,<br />

surgiu a percepção <strong>de</strong> que as diferenças e to<strong>do</strong> o dinamismo <strong>do</strong>s acontecimentos<br />

circundantes contribu<strong>em</strong> com to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s, tanto alunos quanto<br />

professores. Percebeu-se que mudanças na postura <strong>do</strong> professor <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, pelo<br />

menos, levar <strong>em</strong> conta o outro (os alunos), promover o diálogo e olhar para o<br />

entorno social. Aproveitar as experiências <strong>de</strong> alunos e professores é uma maneira<br />

<strong>de</strong> contribuir para a educação mat<strong>em</strong>ática e para a educação <strong>de</strong> maneira geral.<br />

A pesquisa relacionada com povos afro-brasileiros é a da <strong>do</strong>utoranda<br />

Elivanete Alves <strong>de</strong> Jesus, cujo título é As Mat<strong>em</strong>áticas presentes nos mitos e<br />

nos ritos e na religiosida<strong>de</strong> das Comunida<strong>de</strong>s Kalunga: uma análise da<br />

transcendência via aspecto transcultural 37 . Com o intuito <strong>de</strong> estudar a<br />

35 O Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi é o único <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> PPGEM m<strong>em</strong>bro <strong>do</strong> GEPEtno. Suas pesquisas<br />

vêm geran<strong>do</strong> publicações <strong>de</strong> artigos, capítulos <strong>de</strong> livros e livros que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à educação<br />

etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

36 GODINHO, M. P. R. O. As Diferenças Culturais <strong>do</strong>s Alunos da Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos <strong>do</strong><br />

Ensino Médio: uma visão etnomat<strong>em</strong>ática. 2011. 189 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> <strong>em</strong> Educação<br />

Mat<strong>em</strong>ática) – Instituto <strong>de</strong> Geociências e Ciências Exatas, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista, Rio<br />

Claro. 2011.<br />

37 Ano <strong>de</strong> início: 2008. Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


<strong>Itinerários</strong> <strong>do</strong> <strong>Grupo</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong> e <strong>Pesquisa</strong> <strong>em</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e sua Relação com...<br />

147<br />

construção <strong>de</strong> conhecimentos e sua difusão na organização social <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quilombolas chamada Kalunga, a autora procura focar os<br />

relacionamentos no seio das ativida<strong>de</strong>s diárias <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>. Seu olhar<br />

está direciona<strong>do</strong> a perceber quais os lugares e espaços <strong>do</strong>s Kalunga, e a obtenção<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s ocorre pela observação e a <strong>de</strong>scrição in lócus da cultura quilombola<br />

e pelas entrevistas (bate-papos) não estruturadas na convivência e as ativida<strong>de</strong>s<br />

diárias da comunida<strong>de</strong>.<br />

Sob a perspectiva historiográfica, a pesquisa <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> intitulada<br />

Utopia e Esperança: <strong>do</strong> mito da terra s<strong>em</strong> males à educação<br />

etnomat<strong>em</strong>ática 38 , <strong>de</strong>senvolvida por Marcos Lübeck, t<strong>em</strong> como ambiente o<br />

espaço <strong>em</strong> que jesuítas e guaranis coexistiram e conviveram nos Sete Povos<br />

das Missões, região noroeste <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, entre 1680 e<br />

1768. O estu<strong>do</strong> trata <strong>do</strong> ensino jesuíta e da educação guarani, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong><br />

tanto fontes <strong>de</strong> época quanto posteriores, nas quais aparec<strong>em</strong> <strong>de</strong>scritas<br />

experiências socioculturais marcantes, como a <strong>do</strong> mito da busca da terra s<strong>em</strong><br />

males. Procura-se, a partir <strong>de</strong>ste recorte e por meio da etnomat<strong>em</strong>ática,<br />

apresentar reflexões que façam repensar a educação escolar atual (<strong>em</strong> especial,<br />

para o indígena, mas não exclusivamente), <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que se entenda o ser/saber/<br />

fazer/conviver <strong>de</strong> grupos singulares, fenômeno relevante para as socieda<strong>de</strong>s<br />

cont<strong>em</strong>porâneas. O autor preten<strong>de</strong>, com esta tese, apresentar uma historiografia<br />

que versará sobre as visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> próprias <strong>do</strong>s grupos culturais envolvi<strong>do</strong>s,<br />

observan<strong>do</strong> sua crença mais marcante, pelo viés da utopia e da esperança, para<br />

que educa<strong>do</strong>res façam uso <strong>de</strong>la como um suporte teórico na perspectiva da<br />

educação etnomat<strong>em</strong>ática e <strong>em</strong> ações pedagógicas <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>.<br />

6 As marcas no caminho<br />

Enten<strong>de</strong>mos que o GEPEtno é um campo <strong>de</strong> formação, e por isso,<br />

também, <strong>de</strong> uma auto-formação cooperativa que acontece através da troca <strong>de</strong><br />

experiências, <strong>do</strong> compartilhamento <strong>de</strong> saberes e fazeres, nos <strong>de</strong>bates e conflitos,<br />

<strong>do</strong> ser <strong>em</strong> grupo, <strong>do</strong> respeito à reciprocida<strong>de</strong> e da estima à alterida<strong>de</strong>, visan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver e efetivar uma educação etnomat<strong>em</strong>ática.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar, ainda, que trabalhos divulga<strong>do</strong>s no exterior por m<strong>em</strong>bros<br />

<strong>do</strong> grupo, especialmente os <strong>do</strong> Professor Pedro Paulo Scandiuzzi, condicionaram<br />

a vinda <strong>de</strong> Al<strong>do</strong> Iván Parra Sánchez, mestran<strong>do</strong> <strong>do</strong> PPGEM <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2010, cujo<br />

projeto <strong>de</strong> pesquisa intitula<strong>do</strong> Etnomat<strong>em</strong>ática e Educação Própria 39 preten<strong>de</strong>,<br />

38 Ano <strong>de</strong> início: 2009. Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

39 Ano <strong>de</strong> início: 2010. Orienta<strong>do</strong>r: Dr. Pedro Paulo Scandiuzzi.<br />

Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011


148 SCANDIUZZI, P. P.; LÜBECK, M.<br />

seguin<strong>do</strong> os parâmetros da etnomat<strong>em</strong>ática, objetiva <strong>de</strong>senvolver e impl<strong>em</strong>entar<br />

uma experiência <strong>de</strong> formação <strong>em</strong> educação mat<strong>em</strong>ática para professores<br />

indígenas <strong>do</strong> povo Nasa, no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cauca, na Colômbia. O autor assume,<br />

assim, uma investigação ligada à prática <strong>do</strong>cente como sen<strong>do</strong> componente<br />

fundamental <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> formação continuada para os professores indígenas.<br />

Essa internacionalização das ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> GEPEtno é mais um subsídio<br />

da<strong>do</strong> pelos seus m<strong>em</strong>bros à educação mat<strong>em</strong>ática, pois se efetivam conexões<br />

que visam uma postura investigativa s<strong>em</strong> fronteiras.<br />

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Bol<strong>em</strong>a, Rio Claro (SP), v. 25, n. 41, p. 125-151, <strong>de</strong>z. 2011

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