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Mais de dez anos depois , em outra série de exercícios de 1997 (abaixo), o pintor<br />
se mantém no mesmo diapasão de cores, agora carregado pela aplicação do verniz. A<br />
composição guarda os recorrentes sinais da paisagem (casa, árvore, caminhos),<br />
desenhados com contornos largos e escuros. Evoca formas e tons expressionistas.<br />
Entre 1998 e 2002, em formatos menores e sobre papel (exemplos na página<br />
anterior), exercita cores e traçados com liberdade, fazendo recortes em cantos ou<br />
panoramas mais abertos. Apesar da simplicidade dos elementos selecionados e rápido<br />
acabamento, o resultado é intrigante pela versatilidade de ângulos e pelas cores. Mas<br />
são apenas caminhos, pistas para outros trabalhos. Assim também devem ser<br />
consideradas as aguadas de tinta acrílica sobre colagem (exemplos nesta página) já<br />
inteiramente abstratas. Além desses ensaios, qualquer papel lhe serve para elabora<br />
pequenos e numerosos esquemas. Antes de aplicar as tintas sobre a tela atravessa um<br />
estado de “devaneio” – segundo suas palavras.<br />
Gostaria de poder chegar à síntese absoluta: num único traço com um único<br />
gesto. O tudo ou nada. Mas sabe que seria um gesto suicida, incompreensível. Estudo,<br />
então, as múltiplas possibilidades do movimento e espessura da linha, da textura, da cor.<br />
Testa as melhores e aponta as tonalidades – as relações entre seus “personagens”, como<br />
ele denomina os elementos plásticos. Dedica cuidado a esses personagens que conhece<br />
tão bem, selecionados para acompanhá-lo em seu trajeto criador. Saberá exatamente o<br />
momento de reconhecer quando estão prontos para o mundo lá fora, para o “outro”,<br />
longe de sua interferência.<br />
Apesar desse trabalho minucioso de experimentação, que através dos anos foi<br />
consolidando seu repertório, quando se lança à realização da obra assume os riscos, os<br />
acasos, o aleatório. Nas Paisagens nos anos 90 a trincha larga passou a ser um de seus<br />
instrumentos preferidos, Recria cores em tonalidades aguadas, patinadas; com<br />
movimentos que compõem, separam, aglutinam e contrastam. Enfim, a junção de um<br />
ritmo vital com o exercício de um grafismo que não despreza i feio e o inacabado.<br />
Como uma pele, acha que a tela deve exibir brotoejas, estrias, imperfeições surgidas no<br />
rastro da trincha e do pincel. Isso incorpora o histórico, o vivo. Libera a expressão da<br />
matéria. “É outra paisagem” – confessa muitas vezes com surpresa diante do quadro<br />
pronto.<br />
E continua a se desafiar para obter o máximo de expressão com parcimônia de<br />
recursos. As cores, sempre discretas em sua paleta, vão se diluindo. Os largos traçados