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e o filho de italianos Thomaz Perina s~~ao os três longevos, estáveis em suas cidades.<br />
Morandi raramente se afastou de Bologna; Volpi, de seu bairro de eleição, o Cambuci,<br />
em São Paulo; e Perina, da Campinas natal e sua casa na Vila Industrial. Seguiram em<br />
direções solitárias e originais, persistentes em suas temáticas. As sempre repetidas<br />
garrafadas de Morandi banhadas em luz difusa, as bandeirinhas e fachadas de Volpi e as<br />
paisagens de Perina transcendem suas referências naturais e sua aparente simplicidade e<br />
se transfiguram, ganhando um estatuto de permanência estética,, pela força expressiva<br />
que projetam num universo imaginário sem limites temporais e geográficos, rumo à<br />
paisagem cósmica.<br />
Como eles, Perina constrói pequenas utopias, espaços imaginários. Trava uma<br />
luta romântica para liberar a magia, o encanto, o mítico. Nesse sentido estaria<br />
confirmando uma estratégia de resistência da arte nos tempos de globalização. Contra a<br />
banalidade das formas, a instauração, a recuperação da “aura” da obra, contrariando a<br />
clássica previsão de Walter Benjamin.<br />
Na sua produção mais recente, parece tocado por impulsos como a “excitação da<br />
idade”. Contraria o espírito de reconciliação e serenidade que o senso comum estabelece<br />
para os artistas de longa carreira. Ainda se observa nas obras deste octogenário o<br />
interesse pelo processo, a procura de novas formas de fazer, a construção de relações<br />
plásticas nem sempre percebidas pelo primeiro olhar. E, quando menos se espera, ele<br />
diz: “Meu próximo trabalho seguirá esse caminho”, e mostra os esboços selecionados.<br />
5.4. Momentos da arte<br />
Para Perina, o primeiro momento da arte é aquele no qual se aprofunda na<br />
pesquisa, na elaboração do desenho, na definição das cores e técnicas que irá usar.<br />
Trabalha em vários níveis de consciência: espontânea, enquanto é intuitivo e<br />
sentimental; racional, quando levanta questionamentos, experimenta e reflete sobre os<br />
recursos para alcançar sua melhor composição. Como experiência, dá-se o direito de<br />
retornar à paisagem figurativa. A obra de 1984 (acima), que exemplifica esse exercício,<br />
mostra sobriedade e parcimônia de cores e disciplina no desenho, Faz parte de uma série<br />
de flagrantes de recantos inabitados, suspensos no tempo, em que o espectador<br />
provavelmente perceba um aspecto melancólico.