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Para os observadores de fora ouvidos, não ir “além de suas fronteiras” foi a falha<br />
basilar do Grupo, e seus depoimentos expõem uma frustração de expectativas. Embora<br />
reconheça a importância que o movimento teve para Campinas, sem nada assimilar no<br />
interior de São Paulo ou do Brasil, para Pignatari o Grupo lembra Aníbal: “é um grupo<br />
cartaginês, chega às portas de Roma e você não sabe por quê, Roma já está entregue, e<br />
não ocupa. Nenhum deles se projetou porque teve a chance e não quis, recusou-se, foi<br />
soberbo, foi provinciano, quem sabe.”<br />
Fiaminghi completa: “na história da Pintura Concreta não existe o Grupo<br />
Vanguarda. Não consta porque eles não faziam, eles nunca falaram que era concreto,<br />
não queriam saber, nem a união com a gente.”<br />
Não parece que os artistas de Campinas tenham se perdido no horizonte por<br />
timidez ou ufanismo. Em grupo, entre 1958 e 1966, fizeram 25 exposições, sendo 9<br />
fora de sua cidade, sem contar as individuais. Se o alinhamento com os concretos não se<br />
formalizou explicitamente, o intercâmbio em exposições da Galeria Aremar, nos Salões<br />
Paulistas de Arte Moderna, em encontros, apresentações e publicações, declaravam uma<br />
franca adesão.<br />
Realmente faltou uma relação alimentadora, de debate, ao gosto dos espíritos<br />
polêmicos de Pignatari e Cordeiro. Isso se daria pela construção de um delineamento<br />
teórico, iniciado por Amêndola Heinzl (que era instrumentado para isto), quando<br />
buscava um “neo-lirismo concreto”, mas sem continuidade devido seu prematuro<br />
afastamento.<br />
A liderança de Perina, na qual os concretos apostavam, não aconteceu. Ele havia<br />
impressionado Cordeiro pela “incrível intuição compositiva”, esperava-se que levasse<br />
consigo seus companheiros. Mas Perina nunca teve a pretensão de liderar ou influir,<br />
mesmo porque todos buscavam a inovação dentro de caminhos próprios. Reconheciam<br />
na pintura dos concretos parâmetros respeitáveis, mas não para serem imitados. E<br />
também não sabiam das não poucas dissensões doutrinárias e estratégicas entre eles.<br />
Daí, a silenciosa reverência que dedicavam ao grupo de São Paulo. Isto, aliás,<br />
incomodava Pignatari. Ele teria preferido o contraditório, a discussão.<br />
É mais provável que a visibilidade do Grupo tenha sido empanada com a<br />
avalanche de correntes pós-modernas e com a política de curadores e galerias. O que<br />
não é fato isolado. Importante contribuinte da arte dos anos 50/60 jazem nos acervos<br />
dos Museus e são esquecidos nas retrospectivas desse período.