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mesma coisa, a mesma linguagem, o mesmo discurso, a mesma<br />
problemática. Apenas com um visual diferente.<br />
A obra de Thomaz Perina, embora ponha a mesma questão, passou, através dos<br />
anos, por um rearranjo contínuo. O fato de dar a todos os quadros a denominação<br />
Paisagem, como se estivesse produzindo uma série infinita de tema único, não resgata<br />
seu desejo de reformular sempre. Ao contrário, reativa seus sentidos e suas energias<br />
para novas tentativas.<br />
Alguns exemplos de suas Paisagens dos anos 80 mostrados neste capítulo põem<br />
à mostra o gesto, movimento. Não se vê mais a preocupação com o acabamento<br />
programado e irretocável, como na sua produção da década anterior. Agora, ganha uma<br />
execução mais espontânea. O resultado mostra-se sensível nas mãos do pintor, expõe o<br />
rastro do pincel, como se pode ver claramente na Paisagem de 1984 (p. 87), ou aceita o<br />
descontrole da tinta que escorre de um campo para o outro, como na Paisagem de 1984<br />
(p. 85). São atitudes que abrem caminho para uma exploração mais livre do espaço<br />
pictórico que ele irá assumir a partir dos anos 90. Perina até se permite retornar a<br />
exercícios figurativos (na página anterior), como se investigasse protótipos para novas<br />
composições.<br />
As explorações de Perina refletem as travessias dos remanescentes do grupo<br />
após 1968 e indicam os caminhos dos que chegaram até o novo século. A tarefa de<br />
destruição da representação naturalista, segundo os modelos das “Belas-Artes”, havia<br />
sido cumprida sem grandes traumas, e a obra desses antigos rebelde acabou<br />
estabelecendo novos paradigmas, especialmente no panorama artístico da cidade.<br />
Não fizeram a transição, quando uma “nova sensibilidade” aflorava nos anos 70<br />
com propostas de interferir, ironizar, desafiar o espectador, atraí-lo para a voragem de<br />
experimentos-transgressões, radicalizando a desmaterialização de processos e dando ao<br />
artista a função de propositor de atividades criadoras. Nem mesmo a virada de<br />
Waldemar Cordeiro com seus “popcretos” tocou os campineiros, como, aliás, não tocou<br />
outros que estiveram bem próximos dele, como, por exemplo, Sacilotto. Não por<br />
estarem desatentos às razões políticas, ideológicas ou comportamentais que repercutiam<br />
na expansão de processos e materiais, mas por opção: a de explorar novas possibilidade<br />
dentro de suas próprias poéticas.