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Dissertação - Unicamp

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Martins Costa – uma crônica antes que crítica -, que partia do território das telas para<br />

conclusões catárticas:<br />

Thomaz perina seria um poeta. A vida está ali, mas o poeta apenas<br />

sugere, através de vagas indicações. Passa de leve quando poderia afundar<br />

e afundar. Você que descubra. E morra de alegria ao descobrir. E goze. E<br />

tenha mil orgasmos ininterruptos ao sentir que você é capaz de perceber<br />

todas as angústias e todos os sonhos do poeta, esmagados sob as cores<br />

opacas na tela. E chore também, porque essas angústias e esses sonhos são<br />

seus, e você não sabia.<br />

Esses depoimentos traduziam modos particulares de recepção da obra. Em<br />

conjunto demonstravam como seu cromatismo lacônico era desafiador, tocava a<br />

sensibilidade e induzia a interpretações. O que poderia ser tido como auto-suficiência<br />

não significava, portanto, a anulação de valores expressivos. A pintura de perina entre<br />

os anos de 60 e 70 não havia passado por saltos ou rupturas. Ante o ambiente de<br />

ostensiva e ruidosa virada das artes visuais para novos processos, ele permanecia<br />

tranquilamente no ringue tradicional de tela, da luz e da abstração. Assim era sua<br />

linguagem, o seu idioma. Continuava com divisões e círculos, explorando relações<br />

cromáticas e espaciais. As cores em geral discretas, esmaecidas, transparentes, como se<br />

pode observar nas Paisagens desse período, colocam-se num campo para além do<br />

conteudismo e do formalismo e se alinham com uma poética da incomunicabilidade<br />

identificada por Argan na arte moderna:<br />

Para além da linguagem, que sempre reflete uma concepção do mundo e<br />

implica a idéia de relação, não há senão a singularidade, a irrelatividade, a<br />

inexplicabilidade, mas também a incontestável realidade da existência. O<br />

artista existe, e existe porque faz. Não diz o que deve ou o que quer fazer e<br />

para o mundo, cabe ao mundo dar sentido ao que faz.

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