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incandescentes. O design inspirava-se no estilo art déco, muito freqüente na decoração e<br />
arquitetura de Campinas das primeiras décadas do século XX. As bolas eram encaixadas<br />
umas nas outras, eliminando-se os espaços intermediários.<br />
O resultado era uma textura única, rendilhada e translúcida, através da qual a luz<br />
ampliava um espaço escultural por todo ambiente, lembrando a Flor de Cebola de Otto<br />
Piene. O efeito da profusão de luzes tão próximas das pessoas criava uma inevitável<br />
surpresa, uma sensação de impacto. Transformava o lustre em personagem do saguão,<br />
como os dois grandes totens, a dar boas-vindas aos visitantes. Perina estabelecia uma<br />
nova relação com os espectadores: não aquela antiga – contemplativa -, mas funcional.<br />
Era, portanto, uma escultura para brilhar e também para interagir. O conjunto resultou<br />
harmonioso, embora o chegasse ao espectador como algo estranho. Contrapunha<br />
elementos de diferentes apelos: a iluminação feérica da entrada, o grafite sóbrio das<br />
paredes e os fragmentos de esculturas neoclássicas – estes, um signo de reconstrução.<br />
Como síntese ambiental, alcançava a desejada humanização do concreto.<br />
A obra despertou polêmicas, mas se integrou ao acervo urbano. Introduzia<br />
tendências pós-modernas com suas características de ambigüidade: a justaposição do<br />
estilo abstrato e minimalista com fragmentos neoclássicos. Walter Benjamin chama essa<br />
“fetichização do passado” de imagem dialética, por juntar o passado e o presente em<br />
intensidades diferentes, e porque o passado, neste seu ressurgir, não é repetição de si<br />
mesmo; tampouco pode o presente, nessa relação de interpelação pelo passado,<br />
continuar igual a sim mesmo – assinala Klaus Garber. Essa conjunção não passou<br />
despercebida, conforme este depoimento:<br />
Sem qualquer necessidade de cor, Perina baseou a decoração do<br />
novo teatro no preto, no cinza, acentuando sob todos os aspectos as formas<br />
arquitetônicas da construção, tornando infinitos os espaços através do<br />
negro, quebrando através da luz o aspecto severo da decoração... Talvez me<br />
engane... Mas sinto, na decoração de Perina, uma evocação realística do<br />
nosso antigo teatro assassinado... Está presente nos lustres imensos,<br />
surgindo do teto qual a estalactites imensas... Ele continua presente nas<br />
formas esculpidas nas paredes, fragmentos de artísticas construções<br />
passadas, que evocam, com seus relevos e torneados, os antigos adornos<br />
dourados do nosso Teatro Municipal Carlos Gomes.