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Dissertação - Unicamp

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Não se enganem: Perina é um artista verdadeiro. Não é apenas um<br />

talento ao estado natural: é um artista, pinta concebendo e concebe<br />

pintando. O conteúdo de suas obras se inscreve nesse realismo que constrói<br />

na matéria pura do concreto, prescindido do subjetivismo arbitrário, do<br />

hedonismo solipsista, prescindido – numa palavra – da metáfora em todas<br />

as suas formas, mesmo as mais camufladas e recentes. Significado<br />

morfológico da obra particular de Perina: jogo sutil de contradições em que<br />

o geométrico, o tom de luz e o tátil se interpenetram, se compensam, se<br />

correspondem, se substituem, harmonizando-se. E concluía: Raramente,<br />

num esquema tão simples, a simetria bilateral teve tantas possibilidades de<br />

relação simultâneas de modo a fornecer um campo onde as surpresas e as<br />

descobertas venham a se constituir na essência mesma da imagem.<br />

A poética visual a que chegara pode ser comparada à de vários criadores que<br />

passaram por essa depuração, vindos da figura para a abstração. Há uma notável<br />

singularidade no resultado da pintura de Perina, cuja conotação – a paisagem – deixa de<br />

preexistir à obra e, num processo sutil e de grande economia, nela se presentifica.<br />

Opera-se o que Maurice Merleau-Ponty chama de o enigma da pintura: “Fazer com que<br />

os objetos estejam na tela sob a condição expressa de não estarem ali, de transcenderem<br />

a materialidade, sem a qual, entretanto, não existiriam, e rumarem para o sentido, sem o<br />

qual não seriam pintura”.<br />

Perina chegava intuitivamente a uma configuração plástica com uma<br />

simplicidade de cores e de estruturas, que poderia se enquadrar no que Mondrian<br />

chamou de “super-realismo neoplástico”, assim interpretado por Décio Pignatari: “A<br />

tela nega a exteriorização metafórica, objeto por sua vez de nova geração, que sintetiza<br />

a concretude real da obra, ou como queria Mondrian, o seu super-realismo”.<br />

Para Perina, negar a exteriorização significava que não se propunha a retratar<br />

certa paisagem, captar uma realidade. Mas o conceito estava interiorizado na obra,<br />

especialmente pelo nome atribuído. Como não estava interessado em determiná-la ou<br />

qualificá-la, a obra remetia para uma paisagem que não existia, a não ser enquanto a<br />

própria obra. Quando deixou em uma de suas raras anotações que “a arte não expressa o

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