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pesquisa formal fazia prever a “derrocada de diversos mitos provincianos que<br />
constituem uma tremenda barreira para as arejadas diretrizes da arte contemporânea”.<br />
Foi produtivo o contato com o grupo mais mobilizado da arte de vanguarda em<br />
São Paulo: o dos concretistas. Os poetas Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Ronaldo<br />
Azeredo compareceram ao encerramento da IV Exposição de Arte Contemporânea de<br />
Campinas. Pignatari considerou a mostra à altura do que se fazia em São Paulo e Rio,<br />
dizendo que seus autores podiam sair sem medo da concha da província.<br />
Também Waldemar Cordeiro, Hermelindo Fiaminghi, Luiz Sacilotto, Maurício<br />
Nogueira Lima e outros pintores do grupo concreto se aproximaram e, mais experientes,<br />
ajudaram a articular uma exposição em São Paulo, na Galeria de Arte das Folhas, que<br />
representava, na época, importante acesso ao mundo artístico paulistano fora das<br />
mostras oficiais.<br />
O surgimento do Grupo Vanguarda, fora dos núcleos das capitais e constituído<br />
em sua maioria por artistas autodidatas, deve ter se revelado aos concretistas como uma<br />
prova de que a absorção das novas formas culturais não era um fenômeno impositivo,<br />
externo, mas o caminho natural da modernidade. Pignatari alinhou os artistas de<br />
Campinas entre as descobertas de coisas e valores novos feitas pelos concretistas em<br />
suas andanças, como a arquitetura da cidade de São Sebastião (no litoral norte), as<br />
fachadas das tinturarias em São Paulo, a pintura de Volpi e a do primitivista José<br />
Antônio da Silva. Estas preferências pela arte anônima e por dois artistas de raízes<br />
populares – casos distantes de um padrão racionalista – estabeleciam relações (não<br />
rupturas) com o histórico, o local. Eximiam os concretistas do espírito dogmático e de<br />
formulações a partir do grau zero a eles imputados. O mesmo ocorreu no enfoque de<br />
Cordeiro, quando filiou a pintura de Perina ao que chamou de realismo artístico,<br />
“descendente do melhor Almeida Júnior, passando por Volpi”.<br />
Inaugurada em 30 de agosto de 1959, a exposição das Folhas intitulou-se<br />
Artistas de Campinas. No catálogo, a apresentação de Cordeiro procurava englobar a<br />
diversidade de estilos presentes dentro do que chamava “uma arte objetiva”. Afirmava<br />
que a mostra nada tinha de local e, pelo contrário, chamava a atenção por trazer em si a<br />
complexidade da arte contemporânea. Essa arte que deveria ser vista sob um novo olhar,<br />
com novos fundamentos, principalmente com um método de julgamento apoiado na<br />
história. Só assim o novo que ela continha – que é o que interessava – poderia ser<br />
caracterizado. Para ele, a pintura de Perina afirmava o novo por meio do abstracionismo