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para o abstracionismo e sua forma, considerada por Mário Pedrosa, “mais severa e<br />
duradoura”, a geométrica.<br />
A partir da implantação das Bienais, o ambiente das artes plásticas brasileiras<br />
não poderia mais ser o mesmo. Ainda assim, seus efeitos eram negados ao âmbito dos<br />
salões de belas-artes, incluindo o de Campinas, com os subterfúgios acadêmicos.<br />
Mesmo Perina, que tinha assumido a pesquisa como o caminho para a “construção da<br />
verdadeira arte”, deixava-se levar às vezes por suas mãos – de tantas habilidades que<br />
eram chamadas de “santas” por seus amigos. É o que se pode verificar em A Conversa,<br />
um pastel de 1952 (página anterior), mais tarde considerado “um dos mais altos<br />
momentos dessa técnica no Brasil”.<br />
Mas a série de paisagens urbanas que produziu entre 1951 e 1953 (página<br />
seguinte) indica sua nova direção com uma fatura de traços leves e rápidos e grande<br />
economia de recursos. Perina não sentia necessidade de detalhar o desenho, nem de<br />
acentuara cor para que os recantos da cidade e suas personagens (casas, ruas, veículos)<br />
se compusessem em formas variadas sob uma luminosidade solar. Ainda com a<br />
memória do modelo, mas abrindo ludicamente portas para sair em busca do essencial.<br />
Foi a fase por ele chamada de “estilização”.<br />
Assim, o clima intimista das cenas de família e do pastel cedia lugar ao trabalho<br />
em plena luz da Vila ou outros recantos urbanos. Nos óleos, Paisagem – Bairro Bonfim<br />
(p.21) verifica-se uma reverberação de traços e cores, descuidada nos detalhes, em<br />
busca de um novo equilíbrio. A liberdade gestual da composição ganha certo caráter<br />
expressionista. É sua forma de ultrapassar o modelo.<br />
1.5. No limiar da grande mudança<br />
Em 1953, com a exposição realizada no saguão do Teatro Municipal Carlos<br />
Gomes de Campinas, Perina, Bueno e Covis Chagas (este, do Rio de Janeiro, que<br />
participou casualmente) apresentavam trabalhos identificados como “modernistas”,<br />
despertando a reação dos acadêmicos, que os chamavam de “loucos”. A imprensa, mais<br />
afeita a novas informações, manifestou sua simpatia, defendendo os três artistas, “três<br />
temperamentos diversos inteiramente voltados para a pesquisa no campo maravilhoso<br />
da pintura”. Eles voltariam à cena, agora juntos com Geraldo Jürgensen e seus amigos<br />
do Rio de Janeiro Mário Carneiro e Carlos Bastos. Nas obras de Perina acentuavam-se a