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quando começaram a arrumar aqueles barrancos, blocos de terra, e eu me apaixonei<br />
por aquilo. Os arruamentos eram assuntos para pintura. Então, não posso precisar em<br />
que momento a paisagem da vila ou da periferia exerceu influência maior, porque,<br />
quando íamos para o campo, já sabíamos que assunto seria o nosso. Sempre virávamos<br />
as costas para modelos bonitos. Era só distanciar um pouco de casa e colhíamos um<br />
novo quadro, maços de quadros (guaches) como experiências quando então<br />
brincávamos com a pintura à vontade.<br />
Como o promeneur (que passeia ao acaso) de que fala Walter Benjamin, “não<br />
absolvia no seu espírito a cópia das coisas; antes, era ele que imprimia seu espírito nas<br />
coisas”. Em casa, depurava mais e mais o resultado, criando paisagens que brotavam de<br />
sua imaginação, de sua sensibilidade.<br />
A ausência de uma formação profissional regular em Campinas aguçava o senso<br />
de observação desses jovens artistas. Mesmo desejando superar o que consideravam<br />
convencional dos Salões de Belas Artes que visitavam, eram esses únicos mostruários<br />
que haviam freqüentado a esse tempo. Dedicaram-se, então, a um persistente exercício<br />
auto-didata, onde a habilidade de Perina realimentou seus colegas. Nas paisagens que<br />
pintavam nessa época buscavam soluções além da tradição paisagística da virada do<br />
século, que persistia nos meios acadêmicos e tinha em Campinas seus epígonos.<br />
A experiência dos jovens campineiros tem afinidades com a historia de outro<br />
grupo de pintores, o Santa Helena, que, dez anos antes, estivera empenhado em<br />
pesquisas, com interesses que iam do pós-impressionismo (especialmente Cézanne) ao<br />
expressionismo.<br />
Aproxima-nos, além desses interesses, algumas características do grupo<br />
paulistano destacadas por Lisbeth Rebollo Gonçalves, como a preocupação com o<br />
aprimoramento técnico, as origens sociais, o autodidatismo, e a preferência iconográfica<br />
resultante de um olhar periférico, que faz a crônica dos espaços da cidade.<br />
Paisagem, em 1950 (acima) é bastante reveladora neste sentido. Surpreende pela<br />
materialidade das cores, mostrando um paleta privilegiada, de possível filiação<br />
cezanneana. A composição equilibrada, com um forte e luminoso predomínio dos<br />
verdes e amarelos, criando uma espacialidade dinâmica que se desdobra em múltiplos<br />
planos. Notem-se a árvore e os caminhos, referências axiais da paisagem, que se<br />
tornariam permanentes para o pintor.