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grande armazém de ferragens e materiais de construção da rua Andrade Neves, próximo<br />
à estação ferroviária das companhias Mogiana e Paulista, em torna da qual se<br />
localizavam outras atividades, como a Manufatura de Equipamentos Agrícolas<br />
Lingerwood e a Companhia Columbia de Cerveja, formando o primeiro núcleo<br />
industrial e comercial da cidade. Dali atravessava-se um túnel sobre os trilhos e o<br />
cenário mudava para a Vila Industrial, pacato bairro em formação, habitado por<br />
trabalhados das estradas de ferro e industriários, com predomínio de italianos ou filhos<br />
de italianos.<br />
Nesse universo de trabalho, estreitas relações familiares e misturas de valores<br />
culturas da Itália com os do novo ambiente urbano se instalou o casal Perina com seus<br />
seis filhos. Thomaz e sua irmã gêmea Virgínia são os mais novos, nascidos em<br />
Campinas, em 25 de maio de 1921, na mesma casa onde residem até hoje, a rua Carlos<br />
de Campos, nº 56.<br />
Os pais, adaptados ao meio brasileiro, mantinham uma alegre comunicação com<br />
seus filhos. Conservavam alguns costumes do país de origem, a fala continuava<br />
“italianada”, mas não havia exigência de que os filhos falassem o italiano. Para a época,<br />
seu pai podia se considerar um trabalhador qualificado. Conhecia operações<br />
matemáticas e as utilizava no controle da compra e venda de madeira. Em casa, era<br />
alegre, dançava e animava o ambiente tocando seu pistão. Fez parte Banda Ítalo-<br />
Campineira por mais de vinte anos.<br />
Thomaz aprendia rápido a viver nesse ambiente de transformações e adaptações<br />
culturais. É provável que tenha herdado atavicamente o talento artístico. Como ouvinte,<br />
a música para ele continua “imprescindível”, mas foram as artes plásticas, para as quais<br />
demonstrava precoce aptidão, que o atraíram definitivamente.<br />
O espaço do menino e adolescente – a Vila das primeiras décadas do século<br />
passado – abria-se em um imenso descampado que divisava de seu quintal, quebrado<br />
por poucas e pequenas casas, sem nenhuma urbanização. Se escolheu o tema paisagem<br />
por afeição, como ele afirma, essa foi possivelmente, a “paisagem original”. Tornou-se<br />
uma lembrança recorrente.<br />
Sua primeira “exposição” foi na vitrine de uma quitanda, decorada por ocasião<br />
do natal. O dono manifestou a mãe de Thomaz a intenção de promover o menino que<br />
sabia pintar. Lembra-se: “Pintava, emoldurava e punha na vitrine. Uma vez pintei uma<br />
paisagem e escrevi: ‘um menino de 14 anos é autor deste quadro’.”