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Dissertação - Unicamp

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Começo o trabalho colorindo, mas depois vou<br />

descolorindo. Se alguém tirar o cinza do meu<br />

trabalho vai encontrar cores. É uma questão de<br />

clima. A cor povoa, cria personagens e eu não<br />

quero ninguém. Vou chegar à tela em branco.<br />

Ponho a moldura num quadro branco. Mas ainda<br />

não tive coragem. Ou apenas um traço.<br />

Mesmo fazendo pouco, como geralmente eu faço,<br />

faço tudo com tanta paixão, que não destaco<br />

nenhuma obra da outra. Agora, numa análise<br />

clínica, talvez um crítico, um entendido saiba<br />

separar o que está inferior a outro. Eu não saberia,<br />

porque foram feitos com o mesmo sentido. Quando<br />

eu sinto que eu não resolvi, eu rasgo. Se não<br />

rasguei, é porque aceitei a criação. Então, tem o<br />

mesmo caráter, o mesmo valor, tudo.<br />

O corte é para determinar o círculo como árvore.<br />

Porque essa linha de círculo, é a maneira mais<br />

difícil de falar da árvore. Se eu a esboçasse de mil<br />

e uma maneiras seria fácil, mas com a intenção de<br />

fazer através de uma forma fica mais difícil. Falar<br />

da árvore através de uma linha mais pura é mais<br />

difícil. Há sempre uma estrutura formal que<br />

implica na ausência do óbvio.<br />

Se eu fizer um auto-retrato, tenha certeza, será<br />

realmente como eu gostaria que me vissem. Eu<br />

tenho certeza que eu não faria meu retrato como<br />

realmente sou. Porque você se esconde, entende?<br />

Você quer ter a melhor das aparências em todos os<br />

sentidos, não só aparência física. Se eu fizer um<br />

auto-retrato tenho certeza que eu vou me enfeitar.<br />

Não por pretensão de mentir e nem para te<br />

enganar. É a vontade do que eu gostaria de ser.<br />

Não haveria nenhuma sinceridade nisso.<br />

Não considero a paixão que eu tenho pelo cinema<br />

como hobby. É uma necessidade que nós temos, um<br />

alimento. Eu lembro da primeira vez que assisti A<br />

Doce Vida, de Fellini. Me entusiasmei. Depois<br />

assisti A Noite, de Antonioni. A Doce Vida achei<br />

estranho, mas, de imediato, maravilhoso. Quando<br />

assisti A Noite, eu estava com o espírito mais<br />

esclarecido e cheguei a agradecer a Deus por ter<br />

assistido aquele filme. Cheguei mesmo. Cheguei em<br />

casa e disse: “Meu Deus do céu, que privilégio ver<br />

esse filme”.<br />

O que mais me apaixona, o que passa até a<br />

interferir em algum compromisso, mesmo que eu<br />

tenha um convite para uma coisa que esteja<br />

esperando há tempo, que esteja entusiasmado,<br />

aguardando o instante? O vento. O vento me<br />

apaixona. Eu sinto o efeito, me dá uma definição,<br />

que parece uma coisa bíblica para mim. Eu posso<br />

estar fisicamente doente, que me revigoro, sou<br />

capaz de sarar. Agora, nessa parte eu sou bem<br />

estranho e errado, acredito. Eu tenho fobia pelo<br />

sol. Fobia mesmo. E sei da necessidade, sei da<br />

contribuição benéfica que ele traz para mim<br />

também. Sou ingrato! Sei do bem que ele me faz e<br />

“detesto” ele!<br />

Eu não sei o que é política. Eu sempre pensei que<br />

sou a-político. Mas no fundo, no fundo a gente<br />

critica ou acredita. Certas ações políticas para<br />

mim, tanto faz. Quando o governo tenta lutar para<br />

melhorar, eu fico satisfeito. Mas não sou de<br />

criticar. As vezes o governo tem boas intenções,<br />

mas não é bem assessorado. É difícil criticar o<br />

governo, porque é um conjunto de pessoas.<br />

A dança é uma das coisas pelas quais tenho a<br />

maior paixão. Nunca tive intenção de ser bailarino,<br />

mas me apaixona. Tanto o ballet clássico como o<br />

moderno. Eu gostaria de ilustrar aquela<br />

habilidade, um traço, uma leveza, espontaneidade<br />

de traço. O ballet para mim é aquele abandono, um<br />

abandono calculado. Acho fantástico. Para mim, o<br />

bailarino está vivendo e vibrando como eu vibro<br />

como espectador. O porquê eu não sei; ignoro<br />

totalmente a parte técnica. Parece que é um rasgo,<br />

um traço, leve, espontâneo. Eu passaria o dia<br />

inteiro vendo a imagem de dança.

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