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Dissertação - Unicamp

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do cenário artístico nacional nos anos seguintes.<br />

Exclusão fruto, sobretudo, da miopia dos<br />

connaisseurs que nunca acusaram artistas como<br />

Amílcar de Castro e Arcangello Ianeli por<br />

manterem-se, por décadas, filiados a mesma<br />

estética, apenas para lembrar artistas que beberam<br />

em fontes semelhantes.<br />

Percebi, claramente, o modelo que Perina<br />

construiu para si mesmo: “a solidão está presente<br />

em todos os meus trabalhos e é expressa pela falta<br />

de policromia, pela redução da cor a um estado<br />

quase neutro, pois na realidade sou uma pessoa<br />

sozinha”, define-se. A sua reflexão casa-se<br />

nitidamente com suas mudanças cromáticas, cujos<br />

matizes são indicadores de sua personalidade<br />

artística nestes longos anos de resistente<br />

persistência. O preto e o branco, mais as cores<br />

marrom e cinza foram chamados por ele de “tons<br />

surdos”. Na realidade, suas predileções cromáticas<br />

sempre foram mais amplas que sua pretensão<br />

desejara, adotando cores mais quentes e vibrantes<br />

em determinados períodos. No entanto, os cromos<br />

“surdos” impuseram-se por todas as fases de seu<br />

trabalho.<br />

Constitutivos dessa surdez e de um isolamento, as<br />

cores em Perina são fundamentais para demarcar<br />

seus passos e quando me refiro a elas tenho em<br />

mente apenas os últimos 20 anos. Nas primeiras<br />

obras da fase moderna de sua pintura as cores são<br />

introduzidas, ainda, dentro de um programa<br />

impressionista. Atenuá-las diante da luz e<br />

segmentá-las no espaço conforme a divisão dos<br />

planos é uma tônica forte neste momento. Com o<br />

desenvolvimento de seu trabalho a cor passa a<br />

determinar os limites composicionais e construtivos<br />

da obra; as pinturas dos anos 60 possuem essa<br />

característica. Nos anos seguintes, de modo crucial<br />

até o início doas anos 90, Perina passa a isolar<br />

cada uma das cores e a dar-lhes personalidade<br />

própria, os limites rítmicos entre os campos<br />

cromáticos continuam a ser delimitados de modo<br />

preciso. Sua arte passa tímida, mas<br />

definitivamente, à linguagem minimalista.<br />

Justamente essa será a grande ruptura dos últimos<br />

anos em sua arte; ele confeccionou suas últimas<br />

obras através do gesto mais amplo e livre e suas<br />

cores passam a comunicar-se cm mais intimidade.<br />

O branco e negro atravessam-nas com premência.<br />

Assistimos ao retorno das pinceladas pessoais que<br />

indicam as transparências subjacentes à superfície<br />

da obra. Mais gestual, mais orgânico, menos<br />

simbólico, Perina inclina-se sobre a liberdade<br />

como nunca fizera antes.<br />

Uma das buscas essenciais da obra de Perina foi<br />

justamente ultrapassar o sentido do ornato e<br />

transformar a superfície de seus quadros em<br />

sentido de forma. Do mesmo modo que esse sentido<br />

apresenta-se através do mundo, geralmente não<br />

encontraremos em Perina o homem retratado ou<br />

sequer aludido. O sujeito mostra-se impessoal e<br />

imanente à pintura e ao desenho. Nessa direção,<br />

ele está próximo às poéticas distintas como as de<br />

Mira Schendel e Tomie Otake, cujo motor central<br />

identifica o sujeito na dissipação do anonimato e<br />

que, simultaneamente, não de eximem de alcançálo<br />

através da obra, num movimento dual que afasta<br />

o sujeito na mesma proporção que o captura. As<br />

paisagens do campineiro, desde os anos 60,<br />

indicam esse irremediável trânsito que embora<br />

possa soar mimético é no fundo desprovido de<br />

antropomorfismos. Essa busca de sentidos da<br />

forma soa de modo contundente e não-retórico em<br />

Perina, pois bem antes dos baluartes da Nova<br />

Pintura ou da Geração Brasil – e muito diferente<br />

das moralistas poéticas modernistas – Perina<br />

brinca com a fronteira entre a figuração e a<br />

abstração, sem entregar-se a última.<br />

Anexo M<br />

Perina<br />

por<br />

Perina<br />

O que eu fazia estava apoiado num certo conceito<br />

todo meu, de imaginação, de colocar os elementos,<br />

de estruturar a criação, porque de outra maneira<br />

eu não sabia, eu não tinha conhecimento técnico.<br />

Então, aquilo me satisfazia. Posso chamar isso de<br />

auto-comunicação? É bem aplicado o termo?<br />

Então cheguei à conclusão de que a vontade é de<br />

me comunicar comigo mesmo. E continuo fazendo<br />

isso até hoje.

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