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processo de criação de Perina. Saiu do universo da<br />
arte acadêmica (figurativa: paisagens, retratos,<br />
naturezas-mortas, etc.) onde seu perfeccionismo<br />
técnico à pastel era suplantado por um lirismo<br />
plástico reconhecido por seus admiradores. Passou<br />
em seguida pelo que ele chama de esterilização, em<br />
que brincava de transformar as paisagens,<br />
desrespeitando sua perspectiva, seus tons e formas,<br />
para que em seguida entrar, sem retorno, nos<br />
meandros da arte abstrata. A paisagem foi o tema<br />
que persistiu sempre na pintura de Perina. Mas<br />
como idéia. Sua pintura, assim, se tornou exercício<br />
de liberdade do criador: movimento do puro desejo<br />
de fazer circular sobre a tela em branco o pincel<br />
com as tintas. Optou por poucos elementos na<br />
composição. Se possível, eliminaria todos e<br />
deixaria a tela em branco. Mas a razão de ser da<br />
pintura é a tensão ou a provocação que deixa em<br />
aberto a para um diálogo com o espectador, então,<br />
optou pelo pouco, pela simplicidade, pela carência<br />
ou negação. Linhas (retas ou não, finas ou<br />
reforçadas) e círculos, cheios ou vazios. Se algum<br />
elemento “realista” entra nesse espaço, é como<br />
lapso ou fragmento de memória. Ele adora<br />
fragmentos. Mesmo que o diálogo seja quase que<br />
negado, o espectador pode encontrar aberturas<br />
para sua realização. Ela pode se fazer no plano do<br />
sensorial, do questionamento ou de um repertório<br />
de história da arte, conhecimentos de técnicas, etc.<br />
Essa é a simplicidade das paisagens de Perina,<br />
talvez só comparável à simplicidade de respirar<br />
após o nascimento. É o ar ambiental (espectador)<br />
que a faz viver, ou seja, pelo acolhimento desse ser<br />
estranho após um ato de curiosidade. Fui buscar<br />
em Kandinsky, em sua teoria sobre a composição<br />
(Ponto e Linha sobre um Plano) um repertório de<br />
conceitos para falar das paisagens de Perina.Isto<br />
porque, como se refere Kandinsky sobre a arte<br />
abstrata, elas existem no último degrau de<br />
concretude, de sensível, em relação ao “real”. É<br />
como trabalhar sobre o fio da navalha em que para<br />
lá é “real” e para cá “idéia”, ou vice-versa. É aí<br />
que Thomaz Perina brinca perigosamente,<br />
articulando suas linhas e círculos sobre o plano, já<br />
que para ele a arte é lúdica. O branco e o preto e<br />
os tons que ele chama de “surdos” criam uma<br />
atmosfera que ele mesmo chama de insípida.<br />
Promove o diálogo pela negação da palavra, mas<br />
exige que embarquemos em outro código: o da arte<br />
em sua natureza plena: a relação em sua<br />
primeiridade (sensível), também na secundidade<br />
(refletir sobre as relações que cria) e até mesmo a<br />
terceiridade (a convivência de um repertório). É<br />
simples como se respira ao nascer! Com certeza,<br />
um poeta da pintura.<br />
Anexo L – MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA, CAMPINAS – 2003<br />
Da apresentação de Emerson Dionísio<br />
A entrada de Thomaz Perina na arte moderna e,<br />
posteriormente, naquilo que denominamos como<br />
contemporânea dá-se pela lenta e gradativa<br />
aproximação do pintor ao ideário concretista (...).<br />
Ele não aderiu, ao consumo fácil daquela ou de<br />
outra ideologia artística, sua autenticidade, pelo<br />
contrário, fixou-se a salvo dessas passagens. É<br />
provável que isso tenha lhe custado uma exclusão