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ASSALTO ÀS JÓIAS DA MÃE - Económico - Sapo

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Revista distribuída com o Diário <strong>Económico</strong> nº 5180 de 20 de Maio de 2011. Não pode ser vendida separadamente.<br />

FORA DE SÉRIE<br />

ESPECIAL <strong>JÓIAS</strong>, MAIO 2011<br />

<strong>ASSALTO</strong> <strong>ÀS</strong> <strong>JÓIAS</strong><br />

<strong>DA</strong> <strong>MÃE</strong><br />

Quando as jóias saltam do cofre<br />

e se tornam brinquedos. Quem nunca sonhou<br />

brincar assim? Todas as tendências num<br />

especial jóias e relógios.<br />

E AIN<strong>DA</strong><br />

As jóias da coroa<br />

britânica depois<br />

do casamento real<br />

Cartier ainda sem data<br />

marcada para voltar<br />

a Portugal<br />

Christie’s bate recordes<br />

na venda<br />

de relógios ‘vintage’<br />

China, o país que alimenta<br />

o mercado relojoeiro.<br />

Mas até quando?


RUE ROYALE COLECÇÃO<br />

Calibre Royal, com múltiplas complicações integradas,<br />

em estreia mundial. Totalmente concebido e<br />

realizado nos laboratórios e nas oficinas de alta<br />

relojoaria Pequignet em Morteau, França. Corda<br />

directa do fundo de tambor, difusão da força por<br />

intermédio de um eixo central. Indicador de reserva<br />

de energia de 88 horas. Grande fase da lua exacta.<br />

Grande janela dupla da data e do dia com 3 discos de<br />

triplo salto instantâneo, acerto através da coroa e<br />

em qualquer posição dos ponteiros. 21 600<br />

alternâncias/hora, grande balanço de forte inércia<br />

com parafusos de compensação. Corda automática<br />

nos dois sentidos, sistema de alto rendimento.<br />

Obra-prima de inovação relojoeira, a sua técnica<br />

encerra a mais primorosa harmonia.<br />

Contacto Miguel Pereira 960 31 38 36<br />

mpereira@pequignet.com www.pequignet.com<br />

HAUTE HORLOGERIE FRANÇAISE


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*MAIS DO QUE SE VÊ


14<br />

O TEMPO <strong>DA</strong>S<br />

<strong>JÓIAS</strong> <strong>DA</strong> COROA<br />

BRITÂNICA<br />

20<br />

CARTIER DE NOVO<br />

EM PORTUGAL<br />

NÃO É PARA JÁ<br />

24<br />

BULGARI<br />

CELEBRA 125<br />

ANOS DE <strong>JÓIAS</strong><br />

40<br />

AS <strong>JÓIAS</strong><br />

NA I<strong>DA</strong>DE <strong>DA</strong><br />

INOCÊNCIA<br />

48<br />

AS TENDÊNCIAS<br />

JOALHEIRAS<br />

E RELOJOEIRAS<br />

52<br />

CHINA MARCA<br />

O COMPASSO<br />

DO MERCADO<br />

Presidente Nuno Vasconcellos Vice-presidente Rafael Mora Administradores Paulo Gomes, António Costa Directora Márcia Galrão e Miguel Costa Nunes Empresas Patrícia Silva Dias (coordenadora), Ana Baptista, Carlos Caldeira, Cátia Simões, Marina<br />

Propriedade S.T. & S.F., Sociedade de<br />

Administrativa e Financeira Elisabete Seixo Director Geral Comercial Bruno Vasconcelos Redacção, Administração e Conceição e Sara Piteira Mota Finanças Tiago Freire (editor), Alexandra Brito e Luis Leitão (coordenadores), Catarina Melo, Filipe<br />

Publicações, Lda. Contribuinte 502642807<br />

Publicidade Rua Vieira da Silva, nº45, 1350-342 Lisboa, Telf. 21 323 67 00/ 21 323 68 00 - Fax 21 323 68 01 Delegação Porto Alves, Maria Ana Barroso, Marta Reis, Marta Marques Silva, Rui Barroso Desporto Paulo Pereira (editor), Filipe Garcia (coordenador),<br />

Edição S.T. & S.F., Sociedade de Publicações,<br />

Edifício Scala, Rua do Vilar, 235-4º, 4050-626 Porto, Telf. 22 543 90 20 - Fax 22 609 90 68<br />

Eduardo Melo Media Catarina Madeira e Rebeca Venâncio Universidades Carla Castro (coordenadora), Andrea Duarte e Pedro<br />

Lda. Registo Comercial de Lisboa<br />

Quedas Outlook Isabel Lucas (editora), João Pedro Oliveira (coordenador) Angela Marques, Barbara Silva, Joana Moura e Cristina<br />

2958911033 Registo ICS 124569 Administra-<br />

Director António Costa Director-executivo Bruno Proença Subdirectores Francisco Ferreira da Silva, Helena Cristina Coelho, Pedro Borges (assistente) Projectos Especiais Irina Marcelino (editora), Ana Cunha Almeida (coordenadora), Dircia Lopes e Raquel<br />

ção Rua Vítor Cordon, nº 19 1º 1200-482<br />

Sousa Carvalho e Vitor Costa Editores Executivos António Albuquerque e Renato Santos Editora de Fecho Gisa Martinho Fora de Carvalho Opinião Ricardo da Costa Nunes (editor) e Madalena Leal DE online Pedro Latoeiro (coordenador), Rogério Junior<br />

Lisboa Telefone 213236700 Redacção<br />

Série Rita Ibérico Nogueira (editora), Ana Filipa Amaro (coordenadora), Inês Queiroz e Rita Saldanha da Gama (textos), Lurdes (webdesigner), António Sarmento, Cristina Barreto, Eudora Ribeiro, Mafalda Aguilar, Pedro Duarte, Rita Paz, Nuno Barreto Infografi a<br />

e Produção Rua Vieira da Silva, nº 45<br />

Ferreira (secretariado), Inês Maia (paginação) Colaboradores Diana Moreira, Fernando Correia de Oliveira, Filipe Carriço, Helena Susana Lopes (coordenadora), Mário Malhão e Marta Carvalho Fotografi a Paulo Figueiredo (editor), Cristina Bernardo, João Paulo<br />

1350-342 Lisboa Telefone 213236700 Fax<br />

Viegas, Rodrigo Moita de Deus, Rui Aguiar e Sandra Xavier Produção Ana Marques (chefi a), Artur Camarão, Carlos Martins, João Dias, Paula Nunes e Paulo Alexandre Coelho Assistente de Direcção Rita Rodrigues Secretariado Geral Dulce Costa Redacção<br />

213236800 Assinaturas Telf. 213236816/6771<br />

Santos, Rui Rato Tratamento de imagem Samuel Rainho (coordenador), Paulo Garcia, Pedro Felipe, Tiago Maia Grandes Repórteres do Porto Elisabete Felismino (coordenadora), António Freitas de Sousa, Elisabete Soares, Sónia Santos Pereira e Mira Fernandes<br />

E-Mail assinaturas@economica.sgps.<br />

Ana Maria Gonçalves, Francisco Teixeira, Hermínia Saraiva, Lígia Simões, Luís Rego, Maria Teixeira Alves e Nuno Miguel Silva (secretária) Tradutores Ana Pina e Carlos Sousa Departamento Gráfi co Paulo Couto (director de arte), Pedro Fernandes, Maria de<br />

com Impressão e Acabamento Sogapal,<br />

Destaque 11 Mónica Silvares (editora) Economia Marta Moitinho Oliveira e Catarina Duarte (coordenadora), Cristina Oliveira, Denise<br />

Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Fernandes, Luis Reis Pires, Mariana Adam, Margarida Peixoto, Paula Cravina de Sousa Política Ana Petronilho, Inês Davis Bastos,<br />

Jesus Correia e Rute Marcelino (coordenadores), Ana Antunes, Carla Carvalho, Jaime Ribeiro, Patricia Castro, Sandra Costa e Vanda<br />

Distribuição Logista Portugal,SA<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 11<br />

Tiragem<br />

Clemente Exclusivos Corriere della Sera, El Mundo, Expansión e Financial Times.<br />

média 34000 exemplares.


CARLOS RAMOS<br />

RITA IBÉRICO NOGUEIR A<br />

rita.nogueira@economico.pt<br />

<strong>JÓIAS</strong> GLOBAIS<br />

E DEMOCRÁTICAS<br />

uando os analistas do mercado do<br />

luxo afi rmam que este será um<br />

ano em grande para as jóias e os<br />

relógios, é caso para levar a sério.<br />

Apesar da crise fi nanceira que se<br />

vive na Europa e nos Estados Unidos<br />

da América, o mercado do luxo<br />

continua a crescer com números<br />

surpreendentes. E as previsões do início do ano<br />

têm-se mostrado proféticas. Luxo em alta, com o<br />

sector dos relógios e das jóias a mostrar uma saúde<br />

de ferro. Muito graças – como nos conta Fernando<br />

Correia de Oliveira, o jornalista especializado na<br />

área – aos consumidores chineses, que benefi ciam<br />

de uma economia galopante. Frequentador assíduo<br />

dos mais importantes eventos anuais do sector relojoeiro,<br />

o Salão Internacional de Alta Relojoaria,<br />

em Genebra, e a feira Baselworld, em Basileia, ambas<br />

na Suíça, Correia de Oliveira falou com alguns<br />

analistas e todos concluem o mesmo: o luxo anda à<br />

boleia da China. Mas até quando? A História já nos<br />

ensinou que, a um período de forte crescimento segue-se<br />

uma crise. A da China não se vê ainda, mas<br />

está anunciada. E quando chegar, toda a indústria<br />

se vai ressentir. Enquanto não passar de uma previsão,<br />

relógios e jóias benefi ciam da paixão chinesa<br />

por marcas de luxo e pelo seu estatuto de bens<br />

tangíveis, transportáveis e facilmente conversíveis<br />

em ‘cash’ em tempo de recessão, com o ouro a atingir<br />

máximos históricos. Uma interessante análise<br />

para ler nas páginas 52-55 neste Especial Jóias e Relógios,<br />

o primeiro em que a Fora de Série junta os<br />

dois temas numa só revista.<br />

Inocentes, alheios a toda esta problemática, longe<br />

de crises e previsões de crescimento e tendências<br />

de consumo, estiveram Bárbara e Zé Maria, de um e<br />

dois anos, que passaram uma tarde diferente das a<br />

que estão habituados. Deixando de lado os bonecos<br />

de peluche, os carrinhos e as bolas, estes dois bebés<br />

brincaram com jóias, enormes, verdadeiras, caríssimas,<br />

cheias de pedras preciosas. Como brinquedos<br />

improvisados, colares, anéis, pulseiras e alfi netes<br />

foram analisados, torcidos, lambidos, desprezados,<br />

transformados em objectos banais, do dia-a-dia. Na<br />

verdade, é isto o que as marcas de jóias modernas<br />

andam a apregoar há anos: não fazem peças para fi -<br />

carem escondidas em cofres, mas para serem usadas<br />

12 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

em todas as ocasiões. E nada como as crianças para<br />

entenderem este conceito de democratização à primeira...<br />

Zé Maria encantou-se, encheu as mãos de<br />

anéis e pulseiras. Bárbara deixou-se levar pela beleza<br />

dos colares e gargantilhas, alguns peças vindas<br />

especialmente de Paris para a ocasião. Brincaram,<br />

riram, choraram, foram crianças. E este encantador<br />

editorial de jóias faz a capa desta edição e pode ver-<br />

-se nas páginas 40-46.<br />

Saudosos da elegância das jóias Cartier, desde que o<br />

brilho deste joalheiro se apagou com o encerramento<br />

da loja do Chiado, perguntámos a Olivier Gay, o director<br />

Ibérico da marca francesa, se podíamos manter a<br />

esperança de voltar a ver a Cartier por Lisboa (páginas<br />

20-22). A resposta foi satisfatória. Não será para<br />

já, mas está nos planos da marca. Só que, desta vez, a<br />

loja tem de ser perfeita. No sítio certo (na Avenida da<br />

Liberdade, apostamos), com o tamanho e o conceito<br />

certos. E, com tantos condicionantes, só por isso Olivier<br />

Gay não adiantou uma data concreta. Mas, por<br />

cá, fi camos a aguardar o regresso, com expectativa. E<br />

aproveitamos as deslocações a outras cidades da Europa<br />

em que a Cartier está presente para espreitar e<br />

sonhar com a nossa futura loja Cartier.<br />

Foi o que fi zemos este mês em Londres e em Milão.<br />

Na primeira, a jornalista do Economico TV, Sandra<br />

Xavier, foi conhecer, em plena histeria do casamento<br />

real do príncipe William com Kate Middleton, as<br />

jóias que contam a história da coroa britânica e que<br />

estão disponíveis para visita na Torre de Londres.<br />

A reportagem pode ler-se nas páginas 14-18. Na segunda,<br />

a jornalista Helena Viegas e o editor de fotografi<br />

a Paulo Figueiredo foram conhecer o atelier<br />

e a manufactura da Pasquale Bruni, marca de jóias<br />

italiana desenvolvida por pai e fi lha, que faz furor<br />

em Portugal (páginas 30-34). Por pouco não se cruzavam<br />

com algum membro da família Bulgari, cuja<br />

saga familiar (que este ano celebra 125 anos) aqui<br />

narramos, nas páginas 24-28. Não tendo a equipa de<br />

reportagem passado por Florença, infelizmente não<br />

teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o<br />

hotel L’Orologio (página 62), todo ele decorado com<br />

mais de duas mil peças alusivas a relógios, da colecção<br />

privada do proprietário do hotel, que dividiu<br />

os 54 quartos por três andares, cada um dedicado<br />

a uma manufactura: Rolex, Vacheron Constantin,<br />

Patek Philippe. Quem sabe para a próxima?<br />

BLOG<br />

NÃO DEIXE<br />

DE ACOMPANHAR<br />

TAMBÉM TO<strong>DA</strong>S<br />

AS NOVI<strong>DA</strong>DES<br />

FORA DE SÉRIE<br />

NUM NOVO ESPAÇO<br />

‘ONLINE’<br />

http://foradeserie.economico.sapo.pt<br />

Capa: Fotografi a de Rui Aguiar. Anéis em ouro amarelo e diamantes<br />

(2210, 3050 e 4900 euros) Montblanc. Pulseira “Oscar Niemeyer<br />

Copan” em ouro amarelo e diamantes (16,900 euros) H.Stern.<br />

Sumário: Relógio “Jwlry Machine”, da linha “Wings of Desire”, da<br />

“Cabinet Curiosities”, de Boucheron. Uma interpretação da MB&F nº3,<br />

em ouro branco com ametistas, diamantes e safi ras azuis e violetas.


14 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011


Destaque<br />

<strong>JÓIAS</strong><br />

PA R A INGLÊ S<br />

VER<br />

As jóias da coroa britânica<br />

estão expostas desde, pelo menos,<br />

1661, na Torre de Londres.<br />

Após várias mudanças, as peças<br />

encontram-se actualmente<br />

em exposição na Casa das Jóias,<br />

inaugurada, em 1994, pela rainha<br />

Isabel II. Muito mais do que “meras”<br />

pedras preciosas, as jóias<br />

da coroa simbolizam centenas<br />

de anos da história do país<br />

e da realeza e ainda hoje são usadas<br />

em ocasiões de Estado.<br />

TEXTO DE SANDRA XAVIER,<br />

EM LONDRES<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 15


Destaque<br />

O<br />

Reino Unido é das poucas monarquias onde ainda existe<br />

coroação, uma cerimónia simbólica onde as jóias são<br />

usadas para marcar a investidura de um soberano com<br />

poderes régios. A colecção de jóias da coroa britânica é<br />

uma colecção funcional, uma vez que alguns objectos<br />

continuam a ser usados, por exemplo, na cerimónia de<br />

abertura do Parlamento. No entanto, a colecção tem,<br />

igualmente, peças que não são usadas na coroação e<br />

que foram adquiridas por vários monarcas ao longo<br />

dos séculos. São, por isso, muitas as razões para que esta<br />

colecção suscite o interesse de milhares de pessoas<br />

de todos os cantos do mundo, de todos os credos, raças<br />

e de todas as idades. O fascínio é tal que entre dez a 15<br />

mil pessoas visitam, diariamente, a colecção de jóias da<br />

coroa patente na Torre de Londres. Nem que para isso<br />

tenham de esperar uma hora, que chega a ser o tempo<br />

de espera no Verão, a época de maior afl uência. Enquanto<br />

esperam nas fi las, os mais novos entretêm-se a<br />

tirar fotografi as ao guarda de plantão, no exterior do<br />

edifício. O burburinho ao redor é grande perante uma<br />

figura que mais parece um “homem-estátua”. Já os<br />

adultos preferem ir ouvindo as explicações dadas pelo<br />

áudio-guia. Ficam, desde logo, a saber que a colecção<br />

de jóias da coroa contempla objectos – de ouro maciço<br />

e prata dourada – usados nas cerimónias religiosas. As<br />

explicações, em vários idiomas, indicam ainda que as<br />

coroas reais estão guardadas na Torre de Londres desde<br />

a Idade Média. A fi la avança, a passo de caracol, e a<br />

expectativa vai aumentando à medida que os turistas<br />

se aproximam da entrada. Uma vez no interior da Torre,<br />

os visitantes começam por ver vídeos projectados<br />

na parede, que exibem imagens da coroação da rainha<br />

Isabel II, a 2 de Junho de 1953 – a primeira da história<br />

da monarquia britânica a ser transmitida pela rádio e<br />

pela televisão.<br />

SALÃO DOS MONARCAS<br />

Terminado o tempo de espera nas fi las, o entusiasmo<br />

aumenta à chegada à primeira sala – o Salão dos Monarcas<br />

–, onde constam os nomes de todos os reis e rainhas<br />

desde a construção da Torre de Londres, ou seja,<br />

desde Guilherme, o Conquistador até à rainha Isabel II.<br />

A coroa usada pela rainha no dia da coroação está exposta<br />

na Torre de Londres e só é usada em cerimónias<br />

do género. Signifi ca, pois, que a coroa de Isabel II não é<br />

usada há mais de meio século.<br />

Na coroação, o monarca não é só investido com a coroa.<br />

Outros objectos, como as designadas insígnias reais,<br />

desempenham um papel importante. Todas elas<br />

são parte integrante da cerimónia. São os casos da<br />

grande espada, que simboliza a autoridade do monarca,<br />

do anel da coroação e ainda do ‘orbi’, que representa<br />

a soberania de Cristo no mundo. A coroação signifi ca<br />

igualmente a elevação a chefe da igreja anglicana. O<br />

‘orbi’ é colocado na mão direita do soberano e depois<br />

reposto no altar. Este objecto, em forma de globo, tem<br />

incrustadas mais de 600 pérolas e pedras preciosas. Na<br />

exposição, “divide” o espaço com o ceptro, que representa<br />

o poder régio. Trata-se de uma peça de grande<br />

importância ou dela não fi zesse parte o maior diaman-<br />

16 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

DEZ A 15 MIL<br />

PESSOAS VISITAM,<br />

DIARIAMENTE,<br />

A COLECÇÃO<br />

DE <strong>JÓIAS</strong> <strong>DA</strong> COROA,<br />

NA TORRE<br />

DE LONDRES.<br />

NEM QUE PARA ISSO<br />

TENHAM<br />

DE ESPER AR<br />

UMA HOR A.<br />

A colecção de jóias da coroa está guardada na<br />

Torre de Londres, da qual faz parte o diamante<br />

‘Koh-I-Noor’ que, na ilustração, de 1851, aparece<br />

em exposição. Em cima, um retrato do Rei Jorge V,<br />

Imperador da Índia.<br />

te do mundo – a Grande Estrela de África. Aliás, a par<br />

deste esplendoroso diamante, a colecção de jóias da<br />

coroa ostenta algumas das pedras preciosas mais excepcionais<br />

do planeta. A pedra mais antiga da colecção<br />

é a safi ra de Santo Eduardo, datada de 1661, a qual só é<br />

usada em coroações e apenas durante 15 minutos.<br />

MONTANHA DE LUZ<br />

Costuma dizer-se que “os homens não se medem aos<br />

palmos” e quando se fala de diamantes também não.<br />

O ‘Koh-I-Noor’ até pode passar despercebido – dada a<br />

sua reduzida dimensão –, mas tem um valor inestimável.<br />

É o diamante mais caro do mundo. Símbolo de<br />

esplendor e de riqueza, tem lugar de honra na coroa<br />

da rainha. Também conhecido por Montanha de Luz,<br />

o ‘Koh-i-Noor’ passou a fazer parte da Coroa Britânica<br />

quando a rainha Vitória foi proclamada imperatriz<br />

da Índia, em 1877. Quando chegou a Inglaterra pesava<br />

186,10 quilates, mas acabou por ser cortado em<br />

diamantes menores, por sugestão do príncipe Albert.<br />

A operação levou 38 dias e resultou numa perda de<br />

peso de quase 43 por cento. Actualmente, pesa 105,6<br />

quilates. Mas não foi por perder peso que o ‘Koh-i-Noor’<br />

perdeu importância. Muito pelo contrário. Esta é<br />

uma jóia única pelo seu valor comercial, mas também<br />

emocional e cultural, uma vez que está envolta<br />

em inúmeros mitos e lendas. Uma delas diz que quem<br />

tivesse o diamante poderia dominar o mundo. Outra,<br />

diz que a jóia só traz sorte para as mulheres, uma lenda<br />

que tem sido levada à letra entre a monarquia bri-<br />

NA ABERTURA, FOTOGRAFIA DE JONATHAN BLAIR/CORBIS. NESTA PÁGINA, FOTOGRAFIA DE ALANCOPSON/CORBIS E FOTOGRAFIAS ANTIGAS <strong>DA</strong> COLECÇÃO BETTMANN/CORBIS


Destaque<br />

tânica. Guardado religiosamente na Torre de Londres,<br />

o ‘Koh-I-Hoor’ só sai do edifício em ocasiões muito<br />

especiais, como por exemplo, a coroação de um novo<br />

monarca inglês. Uma das suas últimas aparições<br />

públicas aconteceu em 2002, aquando do funeral da<br />

rainha-mãe, ocasião em que permaneceu em cima do<br />

caixão durante todo o cortejo fúnebre.<br />

A GR ANDE ESTRELA DE ÁFRICA<br />

E A COROA DO ESTADO IMPERIAL<br />

A Grande Estrela de África, ou ‘Cullinan’, foi<br />

descoberta por Frederick Wells, responsável pela mina<br />

Premier, na África do Sul, onde foi encontrado este<br />

diamante em bruto, o maior alguma vez descoberto,<br />

a 26 de Janeiro de 1905. Foi comprado pelo governo<br />

de Transval que o ofereceu ao Rei Eduardo VII no seu<br />

66º aniversário. A sua lapidação foi entregue a Joseph<br />

Asscher. Após um estudo prolongado, a pedra foi,<br />

inicialmente, dividida em duas: o ‘Cullinan I’, que faz<br />

parte do ceptro, e o ‘Cullinan II’, que se encontra na<br />

coroa imperial de Inglaterra. Datada de 1937, é a jóia<br />

que sua majestade, a rainha Isabel II, usa na abertura<br />

do Parlamento. Por isso, é regularmente vista por<br />

milhões de pessoas em todo o mundo. Nessa ocasião,<br />

a coroa não está exposta na Torre de Londres, pelo que<br />

tem que ser substituída.<br />

Nem só de diamantes se compõe a colecção de jóias da<br />

coroa britânica. Ali, também é possível encontrar um<br />

expositor com peças muito especiais, apesar de não<br />

pertencerem ao cerimonial da coroação, como os cálices<br />

e as patenas antes usados para dar a comunhão<br />

aos prisioneiros e que hoje são utilizados, três vezes<br />

ao ano, nas cerimónias de Estado. Destaque para a<br />

baixela dos banquetes, composta por 122 peças, desmontada<br />

para limpeza de dois em dois anos. A grande<br />

cisterna de vinho, datada de 1841 é, igualmente, uma<br />

fi gura de peso na colecção. Com os seus imponentes<br />

250 quilogramas, não passa despercebida aos visitantes<br />

que se detêm em grandes aglomerados ao redor da<br />

vitrina que a suporta. Na sala da cisterna, os visitantes<br />

podem ainda ver as duas grandes pias baptismais onde<br />

todas as crianças da família real foram baptizadas<br />

com água proveniente do rio Jordão: a pia de Carlos II,<br />

de 1660, e a Lily Font, de 1840.<br />

THE LAST BUT NOT THE LEAST<br />

O melhor está guardado para fim. Ninguém abandona<br />

a sala sem passar pela Coroa da Índia, uma das<br />

mais interessantes de toda a colecção. A sua história<br />

remonta a 1911, ano em que Jorge V se tornou rei do<br />

Reino Unido. Mas esse não era o seu único título. Jorge<br />

V era, também, Imperador da Índia. Nessa altura, organizou-se<br />

uma grande recepção, em Deli, para celebrar<br />

a coroação do monarca. Mas como nenhuma das coroas<br />

reais podia sair do país, criou-se uma nova coroa:<br />

ALIANÇA REAL: UM PE<strong>DA</strong>ÇO DE OURO GALÊS<br />

A aliança de casamento que Kate<br />

Middleton usa, desde o dia 29 de<br />

Abril, foi fabricada por joalheiros<br />

do País de Gales a partir de um<br />

pedaço de ouro galês que pertencia<br />

a William, um presente de sua avó,<br />

a rainha Isabel II.<br />

A jóia foi construída a partir de<br />

ouro extraído da mina de Clogau<br />

Saint David, situada em Bontddu,<br />

no norte do País de Gales, de onde<br />

vem o ouro para a fabricação de<br />

todas as alianças reais desde os<br />

anos 20.<br />

A rainha presenteou o neto com o<br />

ouro galês pouco tempo depois de<br />

18 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

ele e Kate anunciarem o noivado,<br />

em Novembro do ano passado.<br />

A joalheira Wartski, que fez<br />

o anel de casamento para<br />

o príncipe Carlos quando se casou<br />

pela segunda vez, em 2005,<br />

com Camila Parker-Bowles, fi cou<br />

encarregada da aliança que William<br />

ofereceu a Kate.<br />

Quanto à tiara usada para segurar<br />

o véu de Kate Middleton, pertence<br />

à Rainha Isabel II e foi emprestada<br />

para o dia do casamento real.<br />

Feita pelo ‘designer’ de jóias da<br />

Cartier, foi um presente do Rei<br />

Jorge VI para a Rainha-mãe, em<br />

O ‘KOH-I-HOOR’<br />

SÓ SAI DO EDIFÍCIO<br />

EM OCASIÕES<br />

MUITO ESPECIAIS.<br />

A ÚLTIMA FOI<br />

EM 2002, AQUANDO<br />

DO FUNERAL<br />

<strong>DA</strong> R AINHA-<strong>MÃE</strong>.<br />

a afamada Coroa da Índia, que custou 160 mil libras<br />

(cerca de 180 mil euros). A jóia tem mais de seis mil<br />

diamantes, safi ras de caxemira, esmeraldas da Colômbia<br />

e rubis da Birmânia, que proporcionam um efeito<br />

luminoso muito intenso. Quando o rei e a rainha regressaram<br />

ao Reino Unido, a Coroa da Índia foi adicionada<br />

à colecção. A jóia está separada das restantes<br />

insígnias reais porque só foi usada uma única vez, mas<br />

nunca em coroações. É a única coroa com autorização<br />

para sair do reino. E por falar em sair, a sensação com<br />

que se abandona a sala da colecção de jóias é a mesma<br />

com que se entra, a de “viver” um conto de fadas, ou<br />

melhor, um conto de príncipes e princesas. Não deixa<br />

de ser verdade. A história e as personagens são verdadeiras,<br />

tal como as jóias. Aliás, essa é a sua maior<br />

beleza, são reais e continuam a ser usadas. Talvez por<br />

isso exerçam um fascínio tão grande em tanta gente,<br />

mesmo que só seja possível observá-las através de uma<br />

passadeira rolante e sob o olhar atento dos funcionários<br />

da Torre de Londres. A segurança apertada tem<br />

sido, de resto, apanágio desde 1671, data desde a qual<br />

não se perde um único diamante. Tal segurança é absolutamente<br />

justifi cável e a causa não podia ser mais<br />

nobre. As jóias representam o passado e o futuro do<br />

país. Não é por acaso que esta é considerada a maior<br />

colecção de todo o mundo e que, acima de tudo, se diz<br />

que “as jóias da coroa britânica são o que toda a gente<br />

espera que sejam”.<br />

A joalheira<br />

Wartski fi cou<br />

responsável<br />

pela aliança<br />

que William<br />

ofereceu a Kate<br />

e Robinson<br />

Pelham foi o<br />

‘designer’ dos<br />

brincos com<br />

diamantes em<br />

forma de bolota,<br />

em homenagem<br />

ao brasão dos<br />

Middleton. A<br />

tiara usada<br />

por Kate tem<br />

a assinatura<br />

da Cartier e é<br />

uma herança<br />

da família real.<br />

Foi um presente<br />

do Rei Jorge VI<br />

para a Rainha-<br />

-mãe, em 1936.<br />

1936. A compra foi feita três dias<br />

antes do então duque suceder ao<br />

irmão – o Rei Eduardo, que abdicou<br />

do trono de Inglaterra.<br />

Posteriormente, a tiara foi<br />

passada da Rainha-mãe para<br />

a fi lha Isabel, no dia em que<br />

completou 18 anos.<br />

No casamento, Kate Middleton<br />

usou ainda uns brincos desenhados<br />

por Robinson Pelham. A peça<br />

de joalharia tinha diamantes<br />

em forma de bolota, numa alusão<br />

ao brasão dos Middleton, uma<br />

vez que foram oferecidas à noiva<br />

pelos pais.<br />

FOTOGRAFIA DOS REIS DE POOL PHOTOGRAPH/CORBIS. COROA DE INGLATERRA <strong>DA</strong> PRINT COLLECTOR/CORBIS. NA CAIXA, FOTOGRAFIAS DE WPA POOL/EQUIPA E DE BEN STANSALL/STRINGER, AMBAS <strong>DA</strong> GETTYIMAGES


20 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Personagem<br />

ADORARÍAMOS VOLTAR<br />

A LISBOA MAS NESTE MOMENTO<br />

NÃO TEMOS NA<strong>DA</strong> DEFINIDO<br />

A Cartier tem um novo director-geral para a Península Ibérica. Olivier Gay<br />

é agora o responsável por, na cabeça de muitos portugueses, devolver a Cartier<br />

a Portugal. Uma loja própria faz falta à cidade mas a marca francesa não tem pressa.<br />

É que a próxima tem de ser perfeita.<br />

TEXTO DE ANA FILIPA AMARO<br />

T<br />

em 35 anos e 12 de Cartier. Olivier Gay foi nomeado, no fi nal do ano passado, director-geral da<br />

joalheira francesa para a Península Ibérica, cargo que lhe traz, à partida, um desafi o iminente:<br />

voltar a ter uma loja própria em Portugal. A Cartier fechou a única loja que tinha, em Lisboa, o<br />

ano passado e desde essa altura, as colecções só chegam ao país através de revendedores. Numa<br />

entrevista por e-mail, Olivier Gay explicou os motivos que levaram ao encerramento do espaço<br />

na Rua Garrett, no Chiado, e, para desgosto dos apaixonados pela marca – mas não só, pois a<br />

Cartier traria mais valias ao mercado nacional –, confessou que não há ainda perspectivas para<br />

a Cartier voltar à cidade. Argumentos, diz o director Ibérico, não faltam: laços históricos entre<br />

Portugal e a Cartier, clientes que gostam de bons relógios e bonitas jóias e uma arquitectura ímpar<br />

que muito bem receberia uma loja actual Cartier. Parece que só falta a oportunidade certa.<br />

Aguardemos.<br />

Com o fecho da loja no ano passado, a Cartier representa-se em Portugal através de revendedores<br />

e no El Corte Inglès. Como tem sido o desempenho da marca nesses canais?<br />

A loja da Cartier na Rua Garrett era bastante pequena e tinha um conceito estético antigo em<br />

relação a outras lojas da marca. Estamos a estudar o mercado e a ver se um dia podemos ter uma<br />

localização mais adequada. Seria um sonho poder voltar a ter presença na cidade de Lisboa com<br />

uma nova joalharia com as dimensões que precisamos, com uma boa fachada para destacar os<br />

nossos escaparates e num edifício elegante e representativo. Esta última condição é a menos<br />

complicada, já que Lisboa está cheia de edifícios incríveis do ponto de vista arquitectónico.<br />

O El Corte Inglès é uma “boa” casa para a Cartier?<br />

A ‘maison’ Cartier tem dois canais de distribuição: as joalharias Cartier, onde podemos encontrar<br />

todo o universo da marca e relojoaria multimarca; e os grandes armazéns. Neste aspecto,<br />

o El Corte Inglès encaixa perfeitamente na nossa estratégia já que tem grande visibilidade e<br />

é de fácil acesso para os clientes chegarem até lá e interessarem-se pelos produtos Cartier. O<br />

El Corte Inglès de Lisboa criou também um grande espaço de luxo com muitas marcas re-


Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 21


Personagem<br />

presentativas. Por outro lado, temos um trabalho muito<br />

próximo com os nossos representantes em Portugal, como<br />

a Boutique dos Relógios, a David Rosas, o Machado<br />

Joalheiro e o Pires Joalheiro.<br />

Como defi ne o cliente Cartier português?<br />

É um cliente muito exigente que gosta muito de arte e de<br />

objectos bonitos. Isso vê-se tanto no país, no rico património<br />

que tem, como na sua História. O cliente em Portugal<br />

é também um grande ‘connaiseur’ pelo que vemos do<br />

tipo de relógios que compra, muitos deles com complicações.<br />

É, portanto, um cliente muito bem informado e<br />

que conhece as novidades que apresentamos a cada ano.<br />

Na questão estética, aposta num desenho intemporal e<br />

elegante.<br />

Há alguma estratégia pensada para recuperarem a<br />

presença no nosso mercado? A Avenida da Liberdade<br />

pode ser, agora, uma hipótese?<br />

Adoraríamos voltar a Lisboa mas neste momento não temos<br />

nada defi nido. Estamos a estudar o mercado e à espera<br />

de uma boa oportunidade, mas não temos planos a<br />

curto prazo.<br />

O facto de a Cartier não estar na artéria principal de<br />

Lisboa poderá ter sido um dos factores para que o desempenho<br />

da marca não tivesse atingido os objectivos<br />

pretendidos?<br />

A nossa loja no Chiado não tinha as dimensões necessárias<br />

para a cidade de Lisboa. Por isso, tinha um conceito<br />

antigo de joalharia que tínhamos de renovar para ter a<br />

mesma imagem que a Cartier tem em todos os países.<br />

Um conceito criado pelo arquitecto Bruno Moinard e<br />

que identifi ca as joalharias Cartier. Voltar a Lisboa está<br />

nos nossos planos mas estamos a estudar o mercado.<br />

Abrindo um novo espaço, a estratégia para Portugal<br />

será diferente daquela que tinham?<br />

Obviamente, a abertura de uma joalharia implica uma<br />

grande mudança tanto na inauguração do novo espaço<br />

como na comunicação da marca no país. Teremos que ter<br />

uma maior presença nos meios de comunicação portugueses<br />

através de campanhas de publicidade e de eventos<br />

de relações públicas.<br />

Que argumentos tem Portugal para voltar a “convencer”<br />

a Cartier a estar novamente no nosso mercado<br />

com loja própria?<br />

O mercado português é muito importante para a Cartier<br />

não só pelos nossos laços históricos mas também pela procura<br />

e exigência dos clientes portugueses. Não existe um<br />

prazo limite para regressar a Portugal com uma joalharia,<br />

já que depende das oportunidades que o mercado ofereça.<br />

O seu trabalho na Cartier nos últimos anos foi desenvolvido<br />

em mercados emergentes, como o Brasil,<br />

a Rússia ou a África do Sul, mercados bem diferentes<br />

dos europeus, inclusive do espanhol e, especialmente,<br />

do português. Espera maiores difi culdades para<br />

atingir o seu actual objectivo de “transformar a Península<br />

Ibérica num dos mercados da Europa mais<br />

importantes para a Cartier”?<br />

Para a Cartier todos os mercados são importantes. É<br />

verdade que nos últimos anos temos investido grandes<br />

recursos em países como a Rússia, onde, no ano passado,<br />

abrimos uma nova loja, em São Petersburgo, e onde<br />

realizámos várias exposições para exibir muitas das<br />

peças que a ‘maison’ criou para a Corte Imperial Russa<br />

e outras que foram buscar inspiração àquele país. Mas<br />

a Europa é um mercado natural da Cartier e a sua presença<br />

nesse continente é muito mais importante do<br />

que noutros. Os turistas que vêm à Europa adoram vi-<br />

22 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

A NOSSA LOJA<br />

NO CHIADO<br />

NÃO TINHA<br />

AS DIMENSÕES<br />

NECESSÁRIAS<br />

PA R A A CI<strong>DA</strong> DE<br />

DE LISBOA.<br />

TINHA UM<br />

CONCEITO<br />

ANTIGO<br />

DE JOALHARIA<br />

QUE TÍNHAMOS<br />

DE RENOVAR.<br />

A colecção<br />

“Évasions<br />

Joaillières” foi<br />

lançada este ano,<br />

inspirada pela<br />

arquitectura,<br />

a natureza e a<br />

‘art déco’. Nas<br />

fotos, anel em<br />

ouro rosa, opala<br />

rosa, ónix, safi ra<br />

rosa e negra e<br />

diamantes; alfi nete<br />

para o cabelo nos<br />

mesmos materiais.<br />

sitar as marcas que fazem parte do seu património.<br />

Conhece Portugal? O que mais gosta no país?<br />

A primeira vez que fui a Portugal foi na minha época de<br />

estudante, quando tinha 20 anos. Visitei Lisboa e o Porto,<br />

que me encantaram, tanto pela arquitectura, que refl ecte<br />

o rico passado histórico do país, como o ambiente nas ruas,<br />

a alegria das pessoas… foi uma visita muito agradável.<br />

Também me chamaram a atenção as paisagens do litoral<br />

atlântico.<br />

Somos um país, reconhecidamente, de grande tradição<br />

joalheira. Conhece esse lado da nossa História?<br />

Portugal tem uma tradição joalheira muito importante,<br />

tradição que está muito próxima também da Cartier, já<br />

que a Corte Real Portuguesa nomeou a Cartier como distribuidor<br />

ofi cial, em 1905. É por esse motivo que temos<br />

uma relação especial com o país e é para nós muito importante<br />

ter uma loja Cartier em Portugal.<br />

Sabemos que é apaixonado por esqui. Para onde gosta<br />

de ir esquiar? Quantas vezes por ano costuma ir?<br />

Adoro o esqui e a velocidade. Tento esquiar o maior tempo<br />

possível dentro daquilo que minhas responsabilidades<br />

permitem, sendo que desde o ano passado que é mais<br />

difícil ter tempo. As minhas estâncias de esqui preferidas<br />

são Zermatt, St. Moritz e Megève, todas nos Alpes. O esqui<br />

permite-me recarregar baterias e prepara-me para intensas<br />

semanas de trabalho.<br />

Tem outro ‘hobby’ além do esqui?<br />

Também me deixa muito relaxado a equitação, a literatura<br />

e visitar museus das cidades que visito.<br />

Como passa o tempo livre que tem?<br />

Uma das coisas que mais me apaixona é passear por cidades<br />

sem rumo certo. Descobrir o ambiente da cidade, as<br />

pessoas que estão nas ruas… Neste aspecto, Lisboa é uma<br />

cidade especial que adorei descobrir desta maneira.<br />

Dizem que é um apaixonado por Espanha. Porquê?<br />

O povo espanhol é muito caloroso, muito apaixonado. O<br />

país tem cidades com uma arquitectura incrível e muito<br />

diferentes umas das outras, com um património muito rico.<br />

As ruas estão sempre muito animadas, as pessoas sempre<br />

alegres e com muita vontade de se divertirem e, claro,<br />

tem um clima fantástico e uma luz muito especial. Adoro<br />

visitar Espanha e ver o contraste entre a arquitectura com<br />

séculos de História e os novos edifícios, como o Museu<br />

Guggenheim, em Bilbao, ou a Cidade das Artes e das Ciências,<br />

em Valência. Espanha tem uma cultura muito rica e<br />

diversa que seduz os estrangeiros que a visitam.<br />

Prefere alguma cidade em particular?<br />

Paris é uma das minhas cidades preferidas já que passei lá<br />

muito tempo. Madrid, onde vivo hoje, e Lisboa também<br />

têm todos os ingredientes que fazem delas cidades de que<br />

gosto muito. Diferentes destas últimas, mas que também<br />

me deixaram apaixonado, foram a Cidade do Cabo, Nova<br />

Iorque e Londres.<br />

É também apreciador de arte contemporânea.<br />

Sou apaixonado por arte contemporânea mas sobretudo,<br />

por arquitectura contemporânea. Tenho muitos livros<br />

tanto de arte como de arquitectura contemporânea que<br />

adoro reler.<br />

Tem algum destino preferido para ir de férias?<br />

Não tenho um sítio especial. Gosto muito de viajar e de<br />

conhecer novas cidades. Mas as minhas próximas férias<br />

vou passá-las, de certeza, ao Algarve, um lugar perfeito<br />

para descansar e praticar desporto.<br />

FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA


24 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011


Fotografi a histórica<br />

da família Bulgari.<br />

Sotirio Bulgari,<br />

emigrante grego em<br />

Itália, foi o fundador<br />

da marca, em 1884.<br />

Estilo<br />

Bulgari<br />

A JÓIA<br />

<strong>DA</strong><br />

COROA<br />

ITALIANA<br />

Comprada em Março pela Louis<br />

Vuitton Möet Henessy, a empresa<br />

familiar Bulgari fechou o primeiro<br />

trimestre do ano com vendas<br />

de 253, 8 milhões de euros – um<br />

aumento de 27,5% em relação<br />

ao ano anterior. A marca foi<br />

comprada, mas o agora<br />

vice-‘chairman’, Nicola Bulgari,<br />

garante: “Esta família não vai<br />

a lado nenhum”.<br />

TEXTO DE ÂNGELA MARQUES<br />

A<br />

maioria das mulheres a quem os homens oferecem<br />

a lua fi caria mais satisfeita com uma jóia. Felizmente<br />

para Elizabeth Taylor, Richard Burton era um homem<br />

com os pés no chão. Em 1963, o actor, perdidamente<br />

apaixonado e empenhado em conquistar a<br />

actriz ali mesmo nos estúdios da Cinecitta, em Roma,<br />

onde ambos fi lmavam “Cleópatra”, pôs um joelho<br />

no chão e ofereceu-lhe uma jóia Bulgari. Mais<br />

tarde, explicou: “Introduzi Elizabeth ao prazer da<br />

cerveja, ela fez-me conhecer as maravilhas artísticas<br />

de Bulgari”.<br />

Em 1963 a Bulgari tinha já 79 anos (e o homem ainda<br />

não tinha chegado à lua, portanto, mesmo que quisesse,<br />

Richard Burton não poderia dar a lua a Elizabeth<br />

Taylor). A marca foi realmente fundada em 1884.<br />

Sotirio Bulgari, emigrante grego em Itália, era espe-<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 25


Estilo<br />

cialista em pratas. Depois de passar por Nápoles sem<br />

se fi xar em qualquer trabalho, mudou-se para Roma.<br />

Ali, em 1879, começa a vender as suas pratas nas escadarias<br />

da Academia Francesa. Mas, em 1894, investe<br />

o que tem e abre a primeira loja na Via Condotti, em<br />

frente ao bem frequentado Caffe Grecco. Chama-lhe<br />

“Old Curiosity Shop”. Acha que um nome em inglês<br />

pode atrair clientes estrangeiros. Não se engana.<br />

Mais tarde, Sotirio abre outra joalharia em St. Moritz<br />

(onde todas as celebridades passam férias, logo,<br />

onde está o dinheiro). E os fi lhos Giorgio e Constantino,<br />

nascidos entretanto de um casamento arranjado<br />

com a grega Elena Basios, entram para o negócio.<br />

A Bulgari deixa assim de ser um negócio de Sotirio<br />

para passar a ser um negócio de família que atravessa<br />

gerações.<br />

Podia ter corrido mal. Mas não. Em 2002, em entrevista,<br />

Francesco Bulgari Trapani, explicou porquê:<br />

“Na nossa família temos conseguido manter as rédeas<br />

entre nós. Nem sempre é fácil. Em muitos casos,<br />

a difi culdade está não só em gerir o ‘business’,<br />

mas as relações políticas com os próprios familiares.<br />

Nesta, só eu opero nos negócios. Os meus tios<br />

são accionistas muito importantes, mas não têm<br />

funções executivas.”<br />

Só que, olhando para os 127 anos da Bulgari, Francesco<br />

Bulgari Trapani é quase fi cção científi ca. Porque<br />

difícil deve ter sido gerir o negócio quando ele<br />

estava a começar e não agora que ela é mundialmente<br />

conhecida como a marca de jóias das estrelas de<br />

cinema, sinónimo de um requinte à prova de bala.<br />

Difícil podia ter sido nessa altura. Mas na verdade<br />

nem isso.<br />

Porque quando Sotirio morreu, em 1932, a loja da<br />

26 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

“A DIFICUL<strong>DA</strong> DE<br />

ESTÁ NÃO SÓ<br />

EM GERIR O<br />

‘BUSINESS’, MAS<br />

AS RELAÇÕES<br />

POLÍTICAS COM<br />

OS PRÓPRIOS<br />

FA MILIA R ES”,<br />

DISSE FR ANCESCO<br />

BULGARI TR APANI.<br />

Cláudia Cardinale e Anna Magnani fazem hoje parte da história da<br />

Bulgari depois de terem assumido publicamente o gosto que tinham<br />

pelas linhas da marca italiana.<br />

Via Condotti transformou-se num ‘must see’ de<br />

Roma e as coisas começam a acontecer. Construída<br />

como uma casa privada, a loja funcionava como<br />

espaço para atender os clientes individualmente e<br />

tinha lá dentro um museu com a colecção de objectos<br />

de prata que foi desenhada por Constantino, um<br />

dos fi lhos de Sotirio.<br />

O mesmo Constantino, que numa das muitas visitas<br />

que fez a Lisboa, terá fi cado impressionado com uma<br />

peça de arte religiosa em prata encomendada pelo<br />

Rei D. João V a um artesão romano, de nome Giuseppe<br />

Gugliardi, que não conhecia. É que Constantino<br />

tinha fi cado a gerir as lojas do pai, mas não era<br />

um entendido em joalharia. Problema que deixou de<br />

existir porque o fi lho de Sotirio decidiu, então, que<br />

iria estudar esta arte.<br />

A internacionalização da Bulgari dá-se em 1970. A família<br />

abre uma loja em Nova Iorque, Genebra, Montecarlo<br />

e Paris. Sete anos depois decide inovar e entra<br />

no negócio dos relógios. Por esta altura, Giorgio,<br />

irmão de Constantino, já tinha passado o negócio ao<br />

fi lho Gianni, que (a dada altura tem sempre de haver<br />

uma geração menos inspirada ou mais inpirada para<br />

outras coisas) depois de estar à frente da empresa<br />

durante alguns anos a abandona.<br />

Assim, em 1984, Gianni sai da empresa da família.<br />

Mas não se fi ca por aí. Cria mesmo a sua própria linha<br />

de relógios, a “Enigma GB”, produzida em Genebra.<br />

Ainda assim a Bulgari não cai em desgraça (a<br />

família treme, mas a empresa não). Paolo, irmão de<br />

Gianni, assume o comando da marca. E abre uma loja<br />

no Japão (em 1986). Seis anos depois lança o primeiro<br />

perfume Bulgari, “Cologne au thé vert”.<br />

Por esta altura, em Roma, a loja da Via Condotti, com<br />

FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA


Pacific Chronograph<br />

Convocam-se descobridores.<br />

Para homens que gostam de conquistar novos territórios: o Pacific Chronograph.<br />

Um relógio versátil, simultaneamente elegante e desportivo para melhor lidar<br />

com os desafios do dia-a-dia. Estanque até 100 metros, é um belo instrumento<br />

que se sente à vontade tanto no escritório como ao ar livre.<br />

www.chronoswiss.com


Estilo<br />

vista para a Piazza Di Spagna, já não tinha as mesmas<br />

funções. Servia de escritório de Paolo (considerado<br />

entretanto a alma criativa da família). Numa<br />

das paredes do escritório (situado nas traseiras da loja)<br />

existiria um quadro com o retrato do avô, pintado<br />

em 1933, a provar a infl uência que a sua fi gura ainda<br />

tinha nos seus descendentes.<br />

Numa entrevista em 1996, Paolo contou como era<br />

o seu dia-a-dia: “Passo a maior parte do meu tempo<br />

de trabalho com os seis ‘designers’ em Roma no<br />

desenvolvimento de novos produtos”. Com 35 anos<br />

de experiência, a sua maior preocupação era ainda<br />

inovar. “Se um negócio não cria nada de novo, difi<br />

cilmente poderá sobreviver no futuro. Por estas<br />

e outras razões, a Bulgari investe muito dinheiro<br />

na pesquisa de novas criações, ideias e no ‘design’,<br />

o mesmo não se passando com outras marcas concorrentes”.<br />

Mas um clássico será sempre um clássico e a jóia<br />

mais antiga da Bulgari, da linha “Tubogás”, fabricada<br />

desde 1940, tem sido a peça mais vendida (com o<br />

preço de um colar desta linha a tocar, no mínimo,<br />

os cinco mil euros). Mas há outras peças que nunca<br />

desiludem no número de vendas. É o caso da colecção<br />

de moedas antigas com origem nos anos 40.<br />

Mas como dizia Paolo o importante é criar. Criar para<br />

que outras mulheres se sintam como Grace Kelly,<br />

Sophia Loren ou Cláudia Cardinale quando usam as<br />

jóias da Bulgari – é curioso pensar que o negócio é até<br />

hoje gerido por homens e nunca por mulheres, até<br />

porque daí se poderá retirar que estes homens sabem<br />

realmente o que as mulheres querem. Mas não são os<br />

únicos. E, por isso, em Março deste ano, o milionário<br />

Bernard Arnault comprou 50,4% da Bulgari.<br />

O ‘chairman’ e presidente executivo do grupo Louis<br />

Vuitton Möet Henessy afi rmou na altura que o ne-<br />

28 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

A espanhola Paz Vega e a americana Julianne Moore são duas das<br />

actuais actrizes que escolhem as jóias Bulgari para os eventos mais<br />

importantes. Gwyneth Paltrow ou Jessica Alba juntam-se a esta lista.<br />

“PARA MIM,<br />

ENTRAR NUMA<br />

JOALHARIA<br />

BULGARI É COMO<br />

VISITAR A MELHOR<br />

EXIBIÇÃO DE ARTE<br />

CONTEMPORÂNEA”,<br />

DISSE UM DIA ANDY<br />

WA R HOL .<br />

gócio era um negócio de transformação – “Isto não é<br />

tanto uma aquisição, mas uma associação entre duas<br />

famílias que partilham uma visão e uma fi losofi a”,<br />

disse ao “Financial Times”. A verdade é que Arnault<br />

comprou 50,4% da marca em troca de uma participação<br />

de 3% na Louis Vuitton Möet Henessy e de dois<br />

lugares na administração deste grupo (que inclui<br />

marcas como Dior, Louis Vuitton e Möet Chandon).<br />

As famílias não se escolhem?<br />

Numa entrevista ao “The Wall Street Journal” um<br />

mês depois da venda, Nicola Bulgari afi rmou: “A nossa<br />

família não vai a lado nenhum. Há uma originalidade<br />

e continuidade do ‘design’ que nos guia em tudo<br />

o que fazemos – das jóias aos relógios às fragrâncias”.<br />

Apaixonado por jazz (gosta de Erroll Garner e Oscar<br />

Peterson, mas também novos músicos como Brad<br />

Mehldau), tem dinheiro que sobra para algumas extravagâncias.<br />

Como por exemplo, convidar regularmente<br />

quintetos de jazz para tocar em sua casa.<br />

Apesar de alguns gostos que dão nas vistas (fi ca sempre<br />

no mesmo hotel em Paris – onde já fi cava com os<br />

pais quando passavam férias em França – e sempre<br />

que está em Nova Iorque pode ser visto a andar a pé<br />

de manhã no Central Park), garante que a Bulgari é<br />

muito discreta. Tão discreta que nunca revela os nomes<br />

dos seus clientes. “Nem sob tortura”, garante.<br />

Mas se a marca não revela os clientes, os clientes revelam-se.<br />

“Para mim, entrar numa joalharia Bulgari<br />

é como visitar a melhor exibição de arte contemporânea”,<br />

disse um dia Andy Warhol. Que, conta-se<br />

em Itália, admirava de tal maneira os desenhos, as<br />

formas e a qualidade das pedras preciosas trabalhadas<br />

pela Bulgari que coleccionava jóias da marca.<br />

O que prova que os homens também conseguem<br />

saber aquilo que os homens querem. E que as famílias<br />

se escolhem.<br />

Em Março deste ano, o milionário Bernard Arnault comprou 50,4% da<br />

Bulgari. O ‘chairman’ e presidente executivo do grupo LVMH afi rmou<br />

na altura que o negócio era um negócio de transformação.<br />

FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA


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30 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Estilo<br />

E ASSIM<br />

NASCE<br />

UMA JÓIA...<br />

É num discreto edifício da tradicional cidade<br />

italiana de Valenza, sob rigorosas medidas<br />

de segurança, que o ‘designer’ Pasquale Bruni<br />

e a fi lha Eugenia dão corpo às suas criações.<br />

Os pequenos detalhes que defi nem a alta joalharia<br />

são o segredo do negócio de família.<br />

TEXTO DE HELANA VIEGAS, EM MILÃO<br />

FOTOGRAFIA DE PAULO FIGUEIREDO<br />

E<br />

ugenia Bruni pega com as mãos delicadas em cada<br />

peça e mostra-a a partir de ângulos inusitados. Não<br />

é por acaso. Há pormenores “escondidos” em cada<br />

uma das jóias que desenha: corações gravados,<br />

estrelas recortadas, luas, lapidados nas pedras do<br />

interior de um anel só perceptíveis em contra-luz.<br />

Os detalhes são uma obsessão para o pai, o ‘designer’<br />

italiano Pasquale Bruni, e agora também para<br />

ela. O negócio iniciado em 1976 mantém-se na<br />

família e ambos trabalham a par na empresa, em<br />

Valenza, Itália, uma zona com forte tradição na<br />

alta joalharia.


Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 31


Estilo<br />

Nas paredes e nas portas dos armários do seu ‘atelier’,<br />

Eugenia tem expostos recortes e fotografias,<br />

imagens da princesa Elisabete da Bavaria, Sissi,<br />

que inspirou uma das suas colecções, retratos da<br />

actriz Elizabeth Taylor e alegorias várias, num ‘patchwork’<br />

onde se cruzam a madre Teresa de Calcutá<br />

e Buda. É neste espaço colorido que a jovem de<br />

33 anos desenha, em folhas A4 de esquissos e com<br />

lápis de cor, as formas e ângulos dos colares, pulseiras,<br />

brincos e anéis cravejados de pedras preciosas<br />

da marca. Sempre inspirada numa ideia, num sentimento,<br />

na sensação que a jóia deve provocar em<br />

quem a usa. “O meu pai é mais técnico, eu dou mais<br />

importância ao lado espiritual”, diz. Aos 13 anos,<br />

já desenhava jóias para ocupar a timidez, “como<br />

quem escreve um diário”. Descobriu o ioga aos 15<br />

anos, estudou ‘design’ gráfico nos Estados Unidos.<br />

Tenta que tudo isso, todas as suas experiências e<br />

aprendizagem, trespasse cada novo trabalho que<br />

faz: “Há uma mensagem de amor, luxo e emoção<br />

sempre presente. Uma jóia tem que ser um mistério,<br />

como uma mulher”.<br />

Para quem cresceu naquela empresa, entre a pesagem<br />

das pedras – rigorosamente medidas e controladas<br />

à chegada – e os moldes de silicone ou plástico<br />

de cada pedaço de ouro e a arte de construção de<br />

uma jóia, os segredos são poucos. Eugenia coloca<br />

um anel “Rose”, em ouro branco e diamantes, na<br />

mão e informa que a peça é formada por 20 partes<br />

diferentes; mostra um colar “Black and White”<br />

e vira-o para comprovar a beleza do interior, que<br />

vai ficar junto ao peito. Depois, exibe um anel da<br />

colecção “atelier” – peças únicas feitas a partir de<br />

uma pedra preciosa – para explicar que o lapidado<br />

de cada diamante, safira, quartzo ou rubi, é criado<br />

32 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

NAS PAREDES DO<br />

‘ATELIER’, EUGENI A<br />

TEM EXPOSTAS<br />

IMAGENS <strong>DA</strong><br />

PRINCESA ELISABETE<br />

<strong>DA</strong> BAVAR IA, SISSI,<br />

QUE INSPIROU UMA<br />

<strong>DA</strong>S SUAS COLECÇÕES.<br />

Pasquale Bruni (no topo da página) criou a primeira colecção de<br />

joalharia com 20 anos. A sua fi lha, Eugenia Bruni (em cima), desenha<br />

jóias desde criança e está agora à frente do gabinete criativo.<br />

na Pasquale Bruni de acordo com o efeito de luz<br />

pretendido e depois patenteado para impedir qualquer<br />

cópia.<br />

A mais recente colecção que a Pasquale Bruni apresentou<br />

na feira de Basileia joga com as cores da pedraria<br />

para formar painéis que, olhados a partir<br />

do interior, evocam os vitrais de uma igreja. Os<br />

desenhos de Eugenia, feitos à mão, foram estudados<br />

pela equipa na dimensão exacta para o efeito e<br />

transferidos para o computador. As pedras vieram<br />

da Ásia e foram recebidas pela lente de aumentar<br />

atenta dos controladores de qualidade da empresa,<br />

que as medem, classificam e separam por tamanho<br />

com uma pinça. O ouro rosa foi fundido a partir<br />

de barras, despejado num molde, depois esculpido<br />

a laser, manuseado à mão para nele incrustar as<br />

pedras. Até finalmente, o trabalho poder ser dado<br />

como terminado.<br />

Dois meses é o tempo médio de criação de uma peça.<br />

Há que testar o resultado no gabinete de ‘design’<br />

com pastas de moldar, protótipos em prata e pedras<br />

semi-preciosas, antes de partir para o nº1 de uma<br />

jóia. Depois, harmonizar as técnicas antigas com os<br />

equipamentos mais sofisticados, como a máquina<br />

de lapidação a laser. E há ainda o não menos importante<br />

‘know-how’, que tem de ser aprendido e<br />

transmitido, com tempo e rigor.<br />

Os artesãos mais novos são escolhidos entre os estagiários<br />

da afamada escola de ‘design’ de joalharia<br />

de Valenza, explica Pasquale Bruni. “O segredo<br />

é decidir bem a quem entregar cada projecto, saber<br />

aproveitar as mais-valias de cada pessoa”, acrescenta.<br />

Todos trabalham ali com pedras contadas, preenchem<br />

relatórios, almoçam à mesma hora. A segurança<br />

impera no edifício: há separações por área


www.dinhvan.com<br />

Colecção Impression<br />

FUNCHAL: David Rosas<br />

LISBOA: David Rosas - Machado Joalheiro - Rubiouro - Yor Surprise Me - PORTO: David Rosas - Machado Joalheiro


Estilo<br />

PATENTE<br />

A lapidação é<br />

exclusiva.<br />

com códigos de segurança e as portas fecham entre<br />

a uma e as duas horas.<br />

HISTÓRIA DE FAMÍLIA<br />

Pasquale Bruni, o pai de Eugenia, trabalha no último<br />

piso do edifício, acima da filha e das oficinas,<br />

num gabinete de criativo, enorme e desarrumado,<br />

onde se acumulam esquissos de jóias, livros de arte,<br />

esculturas e cartazes da marca. Actualmente, é ele<br />

quem está à frente do projecto “atelier”, dedicado<br />

às peças únicas ou séries limitadas.<br />

Começou na alta costura mas, tal como a filha,<br />

sentiu cedo a vocação da joalharia. Ali mesmo, em<br />

Valenza, e criou a primeira colecção com 20 anos.<br />

Em 1976, fundou a Gioelmoda, com uma equipa<br />

de cinco colaboradores. Deu o seu próprio nome à<br />

empresa em 1997. Hoje, emprega 90 pessoas, dirige<br />

uma empresa com um volume de negócios de 14 mil<br />

milhões de euros, em 2010, e expõe as criações da<br />

marca em mais de 250 pontos de venda espalhados<br />

pelo mundo.<br />

A Pasquale Bruni tem apenas quatro lojas próprias,<br />

localizadas em pontos estratégicos pensados para<br />

dar prestígio ao nome. Além do espaço na Via della<br />

Spiga de Milão, a marca está também na famosa<br />

Place Vendôme parisiense, na avenida Petrovka,<br />

em Moscovo, e no centro comercial Wafi, no Dubai<br />

– na Wafi ‘city’, um edifício com a forma de<br />

uma pirâmide egípcia, com hotel e um ‘shopping’<br />

de 350 lojas. Todos os espaços de ‘show-room’, com<br />

paredes de vidro forradas<br />

no interior com seda natural<br />

em verde lima e vermelho,<br />

a contrastar com as<br />

sóbrias madeiras escuras<br />

escolhidas para o mobiliário,<br />

foram criados pelo arquitecto<br />

britânico David<br />

Chipperfield, discípulo de<br />

Norman Foster.<br />

Na loja de Milão, onde existe<br />

uma antecâmara de entrada<br />

e várias câmaras vigilância,<br />

as vitrinas mostram as últimas<br />

colecções. Lá estão os<br />

pendentes em forma de elefantes,<br />

cobertos de diamantes,<br />

desenhados por Pasquale<br />

Bruni, as colecções “Sissi”<br />

e “Sissi in Paris”, de Eugenia,<br />

e peças mais clássicas como<br />

o trio “Eterno Fiori”, peças<br />

34 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

RIGOR<br />

As pedras são vistas<br />

à lupa.<br />

SISSI<br />

As pedras<br />

preciosas<br />

dos anéis e<br />

pendentes<br />

da colecção<br />

inspirada<br />

na famosa<br />

imperatriz são<br />

emolduradas<br />

por uma<br />

estrutura em<br />

ouro na forma<br />

de coroa.<br />

CINCO PASSOS DE CRIAÇÃO<br />

MOLDE<br />

O ouro é moldado<br />

em silicone.<br />

OS MAIORES<br />

CLIENTES<br />

<strong>DA</strong> PASQUALE SÃO<br />

ASIÁTICOS<br />

E RUSSOS,<br />

QUE GOSTAM<br />

DE <strong>JÓIAS</strong> GR ANDES.<br />

OS PORTUGUESES<br />

SÃO MAIS<br />

DISCRETOS.<br />

UMA QUESTÃO DE PORMENOR<br />

PORMENOR<br />

Os detalhes são<br />

feitos à mão.<br />

São muitos os detalhes que compõem o universo Pasquale Bruni.<br />

Estes são alguns dos que estão em foco nas actuais colecções.<br />

BON TON<br />

O formato<br />

de fl or é dado<br />

pelo lapidado<br />

da pedra,<br />

criado pelos<br />

‘designers’<br />

da marca e<br />

patenteado.<br />

MA<strong>DA</strong>ME<br />

EIFFEL<br />

Em homenagem<br />

a Paris, Eugenia<br />

criou anéis<br />

e pendentes<br />

preciosos com<br />

a imagem da<br />

Torre Eiffel. As<br />

peças foram<br />

apresentadas<br />

na última feira<br />

de joalharia<br />

em Basileia, na<br />

Suíça.<br />

PRATO<br />

FIORITO<br />

Os pequenos<br />

brilhantes que<br />

pendem soltos<br />

da estrutura<br />

da jóia<br />

aumentam o<br />

efeito refl ector<br />

da luz em cada<br />

peça.<br />

CONCEITO<br />

As jóias têm luas, fl ores e<br />

corações escondidos no interior.<br />

construídas numa fi na malha de minúsculos diamantes<br />

que se cola à pele “como uma tatuagem”.<br />

Os maiores clientes da marca, asiáticos e russos,<br />

procuram sobretudo as jóias com maior presença<br />

– pedras mais expressivas, com mais volume, trabalhados<br />

mais intricados. Já os portugueses “são mais<br />

discretos”, preferem um ‘design’ mais sóbrio, confessa<br />

Nuno Torres, da Anselmo 1910, representante<br />

da Pasquale Bruni no mercado nacional. A colecção<br />

“Eterno Fiori” é uma das que mais vende.<br />

As jóias criadas por Pasquale e Eugenia são dirigidas<br />

a mulheres entre os 30 e os 55 anos, com alto<br />

poder de compra. Todas as jóias são pensadas a<br />

360º e evocam os quatro elementos – terra, fogo,<br />

ar e água – através de símbolos, como o coração,<br />

a flor, a estrela ou a lua. Os fios e pendentes são<br />

passíveis de combinações diferentes, a ideia é permitirem<br />

uma decisão pessoal ao gosto de quem as<br />

usa. Algumas das peças foram já várias vezes mostradas<br />

na televisão pela apresentadora italiana Simona<br />

Ventura. A cantora Jennifer Lopez também<br />

escolheu os brincos “Stella Nascente”, em forma de<br />

estrela e cravejados de diamantes, para usar no festival<br />

de música de San Remo. E, na Feira de Basileia,<br />

a rainha da Malásia quis conhecer as colecções e<br />

propor uma encomenda de desenhos exclusivos.<br />

Os clientes VIP são recebidos à hora marcada, com<br />

discrição, em zonas privadas das lojas ou pontos de<br />

exposição. Nos balcões, há sempre um mínimo de<br />

duas pessoas, além do segurança. O valor das peças<br />

em causa é altíssimo.<br />

Um anel pode custar 20<br />

mil euros, um colar 100<br />

mil ou até mais do que is-<br />

AMORE<br />

A palavra<br />

“AMOR”<br />

aparece<br />

escrita em<br />

várias línguas<br />

em cada uma<br />

das jóias. É a<br />

única colecção<br />

com modelos<br />

também em<br />

prata.<br />

so. Só a colecção “Amore”<br />

foi pensada fora do âmbito<br />

da alta joalharia. As<br />

peças em prata ou ouro<br />

estão na ordem das centenas<br />

de euros por uma<br />

razão: para chegar a um<br />

público mais abrangente<br />

e porque a marca abdicou<br />

dos lucros a favor<br />

de um projecto solidário,<br />

um centro de pediátrico<br />

no sul de Darfur, no Sudão.<br />

Para criar esta colecção,<br />

Eugenia inspirou-se<br />

numa ideia simples: a palavra<br />

“Amor”, escrita em<br />

diversas línguas.


Estilo<br />

H.STERN EM HOMENAGEM A NIEMEYER<br />

O Brasil já conhecia a colecção que a H.Stern concebeu inspirada na obra<br />

de um dos maiores nomes da arquitectura moderna. Três anos depois, a linha<br />

“H.Stern by Oscar Niemeyer” chega fi nalmente a Portugal.<br />

TEXTO DE CATARINA MADEIRA<br />

uem já fi xou os olhos no morro do Pão de<br />

Açúcar, no Rio de Janeiro, sabe que a curva<br />

é a forma mais perfeita do universo.<br />

Foi por essa forma fl uida e sensual que<br />

Oscar Niemeyer, um dos nomes maiores<br />

da arquitectura mundial, se apaixonou. Desde aí, essa<br />

é a forma que defi ne todos os seus trabalhos, porque<br />

os ângulos e as linhas rectas nunca o atraíram. Foram<br />

as curvas com que Niemeyer desenhou de raiz, na década<br />

de 50, a cidade de Brasília ou o edifício sede das<br />

Nações Unidas em Nova Iorque, que inspiraram uma<br />

colecção de jóias para a H.Stern. O resultado são peças<br />

que conjugam amplitude, liberdade e fl uidez, na simplicidade<br />

genial do traço do mais famoso arquitecto<br />

brasileiro.<br />

Esta é uma história que começa em 2008, quando Roberto<br />

Stern, presidente e director criativo da H.Stern,<br />

convidou Niemeyer a emprestar a sua assinatura a<br />

uma colecção da marca brasileira. Oscar Niemeyer<br />

completava 100 anos e Roberto Stern estava empenhado<br />

em dar sequência a uma série de colecções<br />

inspiradas em personalidades alheias ao mundo da<br />

joalharia. O arquitecto, agora com 103 anos, aceitou<br />

o desafi o e aprovou o resultado.<br />

“A jóias são lindíssimas e muito luminosas. É incrível<br />

como conseguiram replicar com exactidão os meus<br />

desenhos”, comentou no fi nal. As peças nasceram<br />

dos seus esquiços de traço largo e negro e impuseram<br />

à equipa de criadores e artesãos uma nova superação<br />

das barreiras criativas e técnicas. Em 2011, a<br />

colecção – que até agora só estava disponível nas lojas<br />

da marca – é lançada em todo o mundo, chegando<br />

36 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

“Não é o ângulo recto que me atrai,<br />

nem a linha recta, dura, infl exível,<br />

criada pelo homem.<br />

O que me atrai é a curva livre e sensual,<br />

a curva que encontro nas montanhas<br />

do meu país.<br />

No curso sinuoso dos seus rios,<br />

nas ondas do mar, no corpo<br />

da mulher preferida.<br />

De curvas é feito todo o universo,<br />

o universo curvo de Einstein”.<br />

IN “POEMA <strong>DA</strong> CURVA”, OSCAR NIEMEYER<br />

As linhas da colecção<br />

“H.Stern by Oscar<br />

Niemeyer” surgem<br />

torcidas e fl uidas<br />

como as dos edifícios<br />

projectados pelo<br />

arquitecto. Desde as<br />

formas convexas do<br />

projecto de Brasília<br />

ao ‘design’ sinuoso<br />

da igreja de São<br />

Francisco de Assis<br />

em Pampulha (Minas<br />

Gerais), a H.Stern pediu<br />

licença a Niemeyer<br />

para reinterpretar<br />

em ouro e diamantes<br />

as suas obras mais<br />

emblemáticas.<br />

fi nalmente a Portugal, com modelos mais recentes.<br />

Os ‘designers’ da marca reinterpretaram em ouro<br />

branco e amarelo e diamantes as criações consagradas<br />

de Niemeyer: os conjuntos arquitectónicos de<br />

Brasília (Congresso Nacional, as colunas da Alvorada<br />

e do Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal) e<br />

da Pampulha, o edifício Copan e os prédios do Parque<br />

Ibirapuera (São Paulo), ou ainda o surpreendente<br />

Museu de Arte Contemporânea de Niterói.<br />

A Colecção “H.Stern by Oscar Niemeyer” é dividida<br />

em seis linhas, baptizadas com nomes de desenhos,<br />

obras e projetos de referência do arquitecto:<br />

Pampulha, Brasília, Copan, Croqui, Curvas e Flor.<br />

Os anéis, pulseiras e brincos revelam ainda, como<br />

diz Niemeyer no seu Poema da curva, “o corpo da<br />

mulher preferida”.<br />

Oscar Niemeyer e Roberto Stern partilham o interesse pelas formas<br />

orgânicas e sinuosas. Juntos acompanharam a produção da linha de<br />

jóias “H.Stern by Oscar Niemeyer”.


Apesar de serem criadores de áreas distintas (separadas<br />

não só pelos materiais que usam mas também<br />

pela escala das obras que constroem), joalheiro e<br />

arquitecto partilham esse interesse pelas formas<br />

orgânicas e sinuosas. “Na natureza não existem<br />

linhas rectas, por isso gosto de assimetrias e contornos<br />

irregulares. São mais humanos e naturais”,<br />

diz Stern.<br />

Esta foi a primeira parceria em que o convidado teve<br />

uma presença activa no resultado da colecção, mas<br />

não foi a única em que a marca procurou captar os<br />

movimentos e formas do corpo humano. Em 2009,<br />

a H.Stern traduziu em jóias os movimentos de dança<br />

do Grupo Corpo, considerada a mais importante<br />

companhia de dança contemporânea do Brasil (uma<br />

colecção que também chegou recentemente ao mercado<br />

português).<br />

As jóias da linha de Niemeyer não dançam, mas inspiram<br />

música: Carlinhos Brown – cantor, percussionista,<br />

compositor e produtor – e George Israel<br />

– compositor, guitarrista e saxofonista brasileiro<br />

– compuseram uma música em homenagem ao arquitecto,<br />

criada especifi camente para o lançamento<br />

da colecção de jóias. “Linhameyer” é o nome desse<br />

tema, mas é também a banda sonora de uma animação<br />

digital, dirigida por Andrés Lieban, que retrata<br />

as linhas dos desenhos e croquis de Niemeyer. As<br />

imagens originais foram digitalizadas e compostas<br />

para contar a história da música através de ferramentas<br />

virtuais e técnicas de animação 2D. Quanto<br />

às jóias, podem agora ser vistas em 3D, também nas<br />

lojas Torres Joalheiros.<br />

FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 37


38 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Jóias, arquitectura e viagens. Será possível<br />

juntar os três temas num só projecto? Philippe<br />

Tournaire provou que sim e o resultado<br />

é uma colecção ímpar de anéis com miniaturas<br />

das principais cidades e monumentos do mundo.<br />

Paris, Londres, Nova Iorque, Moscovo, Pequim ou<br />

Dubai, são alguns dos lugares representados na colecção<br />

“Bague Architecture” que o joalheiro francês<br />

concebeu em ouro, prata ou platina, com diamantes<br />

e pedras preciosas.<br />

Num primeiro olhar, as peças de Tournaire podem<br />

parecer excêntricas, até um pouco ostensivas, afi nal,<br />

é andar com uma cidade nas mãos. Mas no segundo<br />

seguinte, o olhar perde-se nos detalhes minuciosos.<br />

As escadarias dos palácios e dos castelos europeus, os<br />

efeitos da linha arquitectónica das tradicionais casas<br />

chinesas, as cúpulas ornamentadas da arquitectura<br />

russa ou os traços clássicos dos principais pontos turísticos<br />

de Paris, tudo é possível ver ao pormenor no<br />

trabalho de Tournaire.<br />

Conhecido como “escultor de metais nobres”, Philippe<br />

Tournaire tem a sua morada principal na Place Vendôme,<br />

o lugar de excelência das grandes e históricas joalharias.<br />

No entanto, o ‘designer’ está<br />

longe de ter um estilo clássico e<br />

Estilo<br />

VOLTA AO MUNDO<br />

O que poderia ser apenas mais uma exposição de maquetas, o joalheiro Philippe<br />

Tournaire transformou numa linha de jóias. Anéis de arquitectura que permitem ter<br />

Paris, Londres ou Nova Iorque nas mãos.<br />

TEXTO DE ANA FILIPA AMARO<br />

e o templo de Jerusalém destruído. Tradições e rituais<br />

que Tournaire actualizou e modernizou com criatividade<br />

e com técnicas apuradas. Para conceber cada um<br />

dos anéis da colecção “Bague Architecture”, o ‘designer’<br />

fotografa o monumento ou a casa que pretende, depois<br />

faz um esboço e um desenho a 3D para, só depois, criar<br />

a jóia. Um trabalho de cores e de formas que resultaram<br />

num dos maiores sucessos do joalheiro. A boa notícia<br />

é que estas jóias podem ser exclusivas e feitas à medida<br />

já que o ‘atelier’ de Tournaire aceita encomendas (mais<br />

informações em www.philippetournaire.com).<br />

Um apontamento curioso é o facto de Philippe Tournaire<br />

ser formado em engenharia eléctrica, uma especialidade<br />

que não o desviou do talento joalheiro<br />

e arquitectónico, que imprime à grande maioria dos<br />

projectos. O seu ‘atelier’ também produz colares, fi os,<br />

relógios e pulseiras, tudo com o mesmo critério, como<br />

o próprio admite: combinar metais e pedras preciosas<br />

com a história da arte e da ciência. E sempre com a<br />

mesma certeza: “Não se obtém sucesso apenas aplicando<br />

as capacidades que se tem, mas também a ser<br />

criativo e adaptando cada peça de ‘design’ ao mundo<br />

que a rodeia”.


40 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011


Estilo<br />

Quando crescerem, a Bárbara e o Zé Maria vão perceber que fi zeram aquilo que todos os adultos gostavam de ter feito naquela idade.<br />

Mesmo que depois não se lembrem. Pegar nas mais valiosas jóias, nos mais volumosos cachuchos ou em pendentes<br />

e colares e brincar. Brincar, atirá-los ao ar, usá-los em desajeito e dispensá-los distraidamente em menos de três segundos.<br />

A inocência de criança que quisemos que valesse ouro… diamantes, safi ras, esmeraldas e pérolas.<br />

TEXTO DE ANA FILIPA AMARO FOTOGRAFIA DE RUI AGUIAR ASSISTIDO POR PEDRO FARIA<br />

PRODUÇÃO DE FILIPE CARRIÇO ASSISTIDO POR MARTA ESPA<strong>DA</strong>S MODELOS BÁRBARA E ZÉ MARIA GAIOSO<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 41


42 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Estilo<br />

Na abertura, colar com pendente em ouro branco, diamantes e ónix (16,430 euros) Piaget, na Anselmo<br />

1910. Nesta página, colar em ouro branco e diamantes (10,950 euros) Piaget, na Anselmo 1910. Ao lado,<br />

pulseira em ouro amarelo e esmeraldas (preço sob consulta) David Rosas.


Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 43


44 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011


Estilo<br />

Nesta página, colar em ouro rosa, diamantes e morganite (15,290 euros) Monseo, na Anselmo 1910.<br />

Ao lado, alfi nete em ouro branco e diamantes (preço sob consulta) David Rosas.<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 45


46 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Estilo<br />

Colar “Nature Top” em ouro nobre, diamantes<br />

e turmalinas verdes (39,200 euros) H.Stern.<br />

MORA<strong>DA</strong>S: <strong>DA</strong>VID ROSAS: Av. da Liberdade, nº 69 A – Lisboa. Tel.: 213243870;<br />

H.STERN na MACHADO JOALHEIRO: Av. da Liberdade, nº 180, Tivoli Fórum – Lisboa. Tel.: 211543940; MONSEO na ANSELMO 1910: Av. Eng. Duarte Pacheco, Centro Comercial Amoreiras, loja nº<br />

2070/71 – Lisboa. Tel.: 218480738; MONTBLANC: Av. Liberdade, nº 107 – Lisboa. Tel.: 213259826; PIAGET na ANSELMO 1910: Av. Eng. Duarte Pacheco,<br />

Centro Comercial Amoreiras, loja nº 2070/71 – Lisboa. Tel.: 218480738.


2011<br />

novidades d d<br />

6<br />

<strong>JÓIAS</strong><br />

A verdadeira arte do joalheiro é a de<br />

transformar a natureza que o inspira<br />

em peças de beleza inigualável,<br />

feitas de matérias duras e incorruptíveis.<br />

A inspiração está em todo o<br />

lado, sobretudo na natureza. E nas<br />

linhas geométricas da ‘art deco’.<br />

TEXTO DE<br />

RITA IBÉRICO NOGUEIRA<br />

48 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

5<br />

8<br />

7<br />

2<br />

10<br />

3<br />

4<br />

1<br />

9<br />

11


13<br />

12<br />

14<br />

17<br />

15<br />

22<br />

23 24<br />

18<br />

25<br />

16<br />

21<br />

26<br />

20<br />

19<br />

SERPENTES<br />

1.<br />

Colar “Adam” com diamantes, safi ras<br />

e esmeraldas da linha “Bewitching<br />

Snakes” Boucheron.<br />

2.<br />

Brincos em ouro amarelo com diamantes,<br />

opalas, spessartites, tsavoritas, safi<br />

ras, turmalinas e laca, da linha “Coffret<br />

de Victoire” Dior Fine Jewelry.<br />

3.<br />

Anel “Pythie” da linha “Bewitching<br />

Snakes” Boucheron.<br />

4.<br />

Anel em ouro branco com diamantes,<br />

turquesas, ametistas, esmeraldas, rubelite<br />

e rubis da linha “Coffret de Victoire”<br />

Dior Fine Jewelry.<br />

FLORES<br />

5.<br />

Anel em ouro amarelo com diamantes e<br />

safi ras da linha “Tribal” Louis Vuitton.<br />

6.<br />

Pendente em ouro branco com diamantes<br />

LV e diamantes brancos e cordão<br />

preto da linha “Les Ardentes” Louis<br />

Vuitton.<br />

7.<br />

Brincos em ouro branco com com diamantes<br />

LV e diamantes brancosda linha<br />

“Les Ardentes” Louis Vuitton.<br />

8.<br />

Pulseira em safi ras com diamantes da<br />

colecção “Red Carpet” Chopard.<br />

9.<br />

Colar “Précieuses Rose” em ouro branco<br />

com diamantes, esmeraldas e safi ras<br />

Dior Fine Jewelry.<br />

10.<br />

Brincos “Limelight Garden Party” em<br />

ouro branco com diamantes e esmeraldas<br />

Piaget.<br />

11.<br />

Anel “Limelight Garden Party” em ouro<br />

branco com diamantes, esmeraldas, calcedónia<br />

branca, rubelite e safi ras Piaget.<br />

ENCARNADOS<br />

12.<br />

Brincos “Chopard’s Temptation” com<br />

diamantes, rubis e esmeraldas Chopard.<br />

13.<br />

Anel “Lady Hawke” em ouro branco com<br />

safi ras e diamantes, rubi e spessartite<br />

garnet oval da linha “Wings of Desire”<br />

Boucheron.<br />

14.<br />

Anel em ouro amarelo e branco com<br />

diamantes, peridot, rubis, safi ras e laca<br />

da linha “Coffret de Victoire” Dior Fine<br />

Jewelry.<br />

AZUL-MAR<br />

15.<br />

Alfi nete “Peacock” com diamantes,<br />

safi ras e esmeraldas da “Animal World<br />

Collection” Chopard.<br />

16.<br />

Colar em ouro branco, tanzanitas, ónix,<br />

esmeralda, safi ras e diamantes da colecção<br />

“Évasions Joaillières” Cartier.<br />

17.<br />

Anel em ouro branco e diamantes com<br />

tanzanita da colecção “Retro” Monseo.<br />

18.<br />

Brincos em ouro branco com turmalinas,<br />

safi ras, tsavoritas e diamantes da colecção<br />

“Bee My Love” Chaumet.<br />

19.<br />

Brincos “Epinosa” em ouro branco com<br />

diamantes, ametistas, rubelite, peridots,<br />

turmalina e laca Dior Fine Jewelry.<br />

20.<br />

Anel “Melanésia” com diamantes e safi -<br />

ras da linha “Aquatic Waves” Boucheron.<br />

GEOMETRIA<br />

21.<br />

Brincos em ouro branco com diamantes<br />

da colecção “Cosmopolitan” Monseo.<br />

Preço: 2,930 euros.<br />

22.<br />

Pulseiras da linha “Première” em ouro<br />

amarelo e branco com ónix e diamantes<br />

Chanel.<br />

23.<br />

Brincos em ouro rosa da colecção<br />

“B.Zero1” Bulgari.<br />

24.<br />

Anel em ouro branco com diamantes<br />

da colecção “Cosmopolitan” Monseo.<br />

Preço: 2,200 euros.<br />

25.<br />

Anel em ouro branco com diamantes<br />

pretos e brancos da colecção “Black<br />

and White” Anselmo 1910. Preço: 4700<br />

euros.<br />

26.<br />

Anel em linhas geométricas em ouro<br />

branco com diamantes Pequignet.<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 49


DESCUBRA O PRESENTE IDEAL<br />

PARA ELE OU PARA ELA, ENTRE O<br />

CLÁSSICO OU O ‘DESIGN’ CONTEMPORÂNEO<br />

50 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

U<br />

ns, chamam-lhes eternos; outros, os<br />

melhores amigos das mulheres. Mas,<br />

seja qual for o chavão escolhido, de<br />

uma coisa ninguém tem dúvidas: é<br />

que, grandes ou pequenos, os diamantes não<br />

passam despercebidos em lado nenhum. Nem<br />

mesmo ‘online’.<br />

Essa é certamente a convicção da De Beers Diamond<br />

Jewellers, propriedade da De Beers S.A. e da LVMH,<br />

que lançou recentemente o seu novo ‘website’, uma<br />

genuína ‘e-store’ onde o cliente é convidado a explorar<br />

com aquele mesmo à vontade que usa habitualmente<br />

no seu supermercado – e com direito a<br />

carrinho de compras e tudo. Passe a simplicidade da<br />

comparação, aqui não há dispositivos de segurança<br />

complicados, nem pressas, e todos os interlocutores<br />

são virtuais. A má notícia é que, por enquanto, para se<br />

poder comprar ‘online’ no novo ‘website’ da De Beers<br />

Jewellers, tem que se ser residente nos Estados Unidos.<br />

Um pequeno revés que a empresa espera resolver<br />

rapidamente, até porque quem ali chega, tem a possibilidade<br />

de escolher a língua com que se sente mais<br />

à vontade. Nem faria sentido de<br />

outra forma.<br />

Lançado no passado dia 14 de<br />

Abril, em Nova Iorque, com direito<br />

a uma ‘cocktail party’ na loja<br />

De Beers da 5ª Avenida, o novo<br />

site tem por principal objectivo<br />

reforçar a ligação entre a De Beers<br />

Diamond Jewellers e os seus<br />

clientes.<br />

O processo é semelhante ao de<br />

qualquer ‘e-store’, com inscrição<br />

obrigatória para quem quer comprar.<br />

Mas é perfeitamente possível<br />

Negócio<br />

OSMELHORESAMIGOS.COM<br />

Nasceu a 14 de Abril , com pompa e circunstância. O novo site da De Beers Diamond<br />

Jewellers colocou as mais bonitas jóias da marca à distância de um clique.<br />

TEXTO DE INÊS QUEIROZ<br />

POR ENQUANTO,<br />

PAR A SE PODER<br />

COMPRAR<br />

‘ONLINE’,<br />

TEM QUE SE SER<br />

RESIDENTE<br />

NOS ESTADOS<br />

UNIDOS.<br />

manter o estatuto confortável de ‘voyeur’ anónimo,<br />

‘clicando’ aqui, ali e à mercê da vontade. À esquerda,<br />

as jóias tradicionais, com os seus anéis, brincos, colares,<br />

pulseiras, jóias masculinas e ainda uma secção de<br />

ajuda para quem quer encontrar o presente perfeito.<br />

Ao lado, o departamento das alianças e anéis de noivado,<br />

os únicos que não podem ser comprados ‘online’,<br />

mas pelos quais é possível marcar uma reunião com<br />

um especialista real, na De Beers mais perto de casa. Seguem-se<br />

as colecções de ‘design’, a alta joalharia, uma<br />

secção inteirinha dedicada à arte dos diamantes e uma<br />

secção cultural, onde se enquadram os eventos que vão<br />

sendo promovidos pela De Beers.<br />

Detalhes aparte, para aqueles compradores mais individualistas<br />

que, por norma, respondem ao tradicional<br />

“em que posso ajudá-lo” com um brusco “ai! estou só<br />

a ver e vou-me já embora” – até mesmo quando isso<br />

não corresponde inteiramente à verdade – o www.<br />

debeers.com veio mesmo a calhar. E nem vale a pena<br />

pensar em ter remorsos se, na ânsia de encontrar a jóia<br />

perfeita, virarmos a loja do avesso. Aqui, a arrumação<br />

faz-se sozinha, à mesma medida e ritmo da escolha<br />

que se segue e não há tempos per-<br />

didos se, na hora da verdade, afi -<br />

nal não se comprar nada. Toda a<br />

gente sabe que uma jóia não se<br />

compra assim, do pé para a mão.<br />

Se, como diz o presidente do De<br />

Beers Institute of Diamonds, independentemente<br />

da lapidação,<br />

cor, claridade e peso, “a beleza é o<br />

único árbitro que pesa na escolha<br />

de um diamante”, para um comprador,<br />

mesmo compulsivo, às vezes<br />

olhar apenas é o quanto basta<br />

para infl amar um sonho.<br />

A ARTE <strong>DA</strong> JOALHARIA<br />

TUDO AQUILO QUE SEMPRE QUIS SABER<br />

SOBRE DIAMANTES


A relojoaria é a terceira<br />

indústria de exportação suíça e, após a crise de<br />

2008/2009, a recuperação foi rápida, devido à procura<br />

exponencial que continua a registar-se na Ásia, especialmente<br />

na China.<br />

Pela primeira vez desde que há registos, a China colocouse<br />

em Março como segundo mercado para a relojoaria<br />

suíça, ultrapassando os Estados Unidos. Se pensarmos<br />

que em primeiro lugar está Hong Kong, e que mercados<br />

como o francês vivem bastante das compras efectuadas<br />

por chineses em viagem, podemos facilmente perceber<br />

a importância crucial que está a assumir o consumidor<br />

chinês no quadro global.<br />

A maior parte dos observadores prevê que 2011 seja,<br />

também por isso, um ano de recorde absoluto em termos<br />

de exportações relojoeiras helvéticas.<br />

A médio prazo, o quadro poderá não ser tão animador,<br />

52 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

avisam algumas vozes. Desde logo, alerta-se para o facto<br />

de o sector começar a estar demasiado dependente de<br />

um único mercado – há marcas que destinam até 50 por<br />

cento da sua produção para a China e, no cômputo geral,<br />

pensa-se que entre cada 4 relógios produzidos na Suíça,<br />

um vá parar a mãos chinesas. Ora, se algo ocorrer de negativo<br />

para os lados de Pequim…<br />

Martin Wolf, editor-chefe-adjunto e comentador do<br />

“Financial Times”, recentemente nomeado pelo governo<br />

britânico para a nova Independent Commission on<br />

Banking, é uma das vozes pessimistas. Falando no Fórum<br />

de Alta Relojoaria, há dias ocorrido em Genebra,<br />

ele pensa que a economia mundial ainda se encontra<br />

à beira da recessão. “Quando tudo parece bem em economia,<br />

a experiência diz-nos que é porque vem aí uma<br />

crise”, pensa ele. “Como está tudo a correr tão bem nos<br />

países emergentes, a próxima crise virá daí”, conclui.<br />

Negócio<br />

A<br />

SALÃO INTERNACIONAL DE ALTA RELOJOARIA<br />

H ORA<br />

BASELWORLD<br />

A<br />

M<br />

ARELA


Estará a indústria<br />

do luxo, e por<br />

maioria de razão,<br />

a relojoaria, a viver<br />

tempos demasiado<br />

dependentes<br />

da surpreendente<br />

China?<br />

Por enquanto,<br />

os ventos estão<br />

de feição, o semáforo<br />

está verde, mas há<br />

quem avise que ele vai<br />

passar rapidamente<br />

a amarelo, e preveja<br />

que a próxima<br />

tempestade<br />

económica<br />

e fi nanceira virá<br />

do “vermelho”<br />

Império do Meio.<br />

TEXTO DE FERNANDO CORREIA<br />

DE OLIVEIRA<br />

Martin Wolf faz notar que esses países emergentes têm<br />

conseguido taxas de crescimento da ordem dos 6 a 7<br />

por cento ao ano, “duplicam a sua economia em cada 12<br />

anos” e que os optimistas antevêem uma China mais<br />

rica que os Estados Unidos já daqui a 20 anos.<br />

O quadro é impressionante – a China conseguiu, em 20<br />

anos, passar o seu PIB do equivalente a 5 por cento do<br />

PIB norte-americano para os actuais 20 por cento. “Isso<br />

pode comparar-se com o quadro do Japão face aos EUA<br />

nos anos 50 do século XX”, faz notar Martin Wolf.<br />

Adepto das análises dos chamados “modelos longos”,<br />

o britânico salienta que a crise mundial vivida em<br />

2008/2009 foi a maior desde a Grande Depressão e que<br />

os factores da sua génese se encontram ainda todos presentes.<br />

A Grã-Bretanha, a exemplo da generalidade dos<br />

países ocidentais, regista défi ces apenas ocorridos em<br />

tempos de guerra. “Os países desenvolvidos não ultra-<br />

passarão tão cedo os efeitos da crise e não é seguro que o<br />

crescimento que temos vindo a assistir em países como<br />

a China, Índia, Brasil ou México seja sustentado”, diz.<br />

Martin Wolf traça um quadro negro – desastre fi scal<br />

iminente no Ocidente, aumento das desigualdades sociais,<br />

infl ação devido à subida de preço das matériasprimas<br />

não renováveis. “A China vai passar ao estádio<br />

de desenvolvimento mais exigente em termos de matérias-primas<br />

– o do aumento do consumo privado: carros,<br />

máquinas de lavar, frigorífi cos, televisões”, aponta.<br />

“O aumento do preço das matérias-primas é estrutural e<br />

não conjuntural. Se a China e a Índia quiserem ter o número<br />

de carros per capita igual ao dos Estados Unidos,<br />

não haverá petróleo que chegue”.<br />

O fl uxo de capital que nos últimos anos inverteu a tendência<br />

normal e começou a ir dos países pobres (com<br />

balanças comerciais positivas) para os países ricos (es-<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 53


Negócio<br />

Nas fotos, o Omega “De Ville Hour Vision Blue” com<br />

calibre automático, escape co-axial, cronómetro<br />

certifi cado COSC. Caixa de 41 mm, em aço; e o<br />

Glashütte Original “Sixties Square Tourbillon” com<br />

calibre automático, da manufactura, rotor em ouro,<br />

turbilhão volante.<br />

pecialmente os Estados Unidos, onde foi gasto na bolha<br />

imobiliária) vai continuar. “Nos países emergentes, está<br />

mais dinheiro a chegar lá do quem aquilo que eles podem<br />

absorver”. “Em termos mundiais, os países não podem<br />

todos crescer as suas exportações. Não temos um<br />

grande mercado em Marte”, diz Martin Wolf.<br />

Considerada actualmente o motor da indústria do luxo<br />

(ultrapassou no ano passado o Japão como primeiro<br />

mercado mundial), a China viverá dentro de pouco tempo<br />

uma crise – vaticina Wolf. “Durante as últimas décadas,<br />

o investimento chinês foi superior ao crescimento<br />

do PIB, criando uma situação muito instável em termos<br />

de infl ação. Agora, as autoridades chinesas começam a<br />

estar preocupadas e haverá uma diminuição brusca do<br />

investimento. O crescimento cairá abruptamente quando<br />

o investimento estiver abaixo da taxa de consumo”,<br />

avisa. “O fi m do ‘boom’ vai acontecer, inevitavelmente,<br />

só não sabemos quando”.<br />

Quanto ao mercado português, 2010 foi ano de recorde<br />

absoluto de importações relojoeiras – o que não<br />

deixa de surpreender, dado que já então prevalecia o<br />

ambiente de crise. Mas 2011 deverá ter uma redução<br />

sensível no consumo, como já indicam os números do<br />

primeiro trimestre. “A situação só não é mais grave<br />

porque temos tido a ajuda dos consumidores angolanos,<br />

sobretudo, e brasileiros”, dizia-nos há dias um dos<br />

principais retalhistas de Alta Relojoaria, com pontos<br />

de venda em Lisboa e Porto. “E, agora, começa a surgir<br />

também o chinês residente em Portugal, que vai comprando<br />

algumas peças caras”.<br />

O UNIVERSO INTERNET<br />

O ano relojoeiro começou, como é já tradição, com a<br />

realização, em Janeiro, do Salão Internacional de Alta<br />

Relojoaria (SIHH), em Genebra. Ali, um escasso número<br />

de marcas (não chegam a 20, mas produzem peças<br />

de altíssimo valor acrescentado) tem os primeiros<br />

54 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

contactos com os maiores e melhores retalhistas de<br />

todo o mundo. O SIHH deste ano decorreu sob o pano<br />

de fundo de mais um WorldWatchReport, o estudo regular<br />

‘online’ sobre as tendências de consumo no sector,<br />

a nível mundial. Uma das primeiras conclusões:<br />

uma em cada quatro buscas de marcas de Alta Relojoaria<br />

na Internet é proveniente da China, posição apenas<br />

ultrapassada pelos Estados Unidos (29%). Depois,<br />

aquilo que os potenciais consumidores procuram difere<br />

de país para país: o interesse em falsifi cações de<br />

Alta Relojoaria é mais elevado no Brasil e nos Estados<br />

Unidos. A informação sobre preços tem grande importância<br />

nas buscas da China e da Índia: os nomes dos<br />

modelos lideram nos países ocidentais. A IWC e a Patek<br />

Philippe consolidam a sua posição como marcas<br />

mais procuradas com, respectivamente, 31.4% (+6.7<br />

pontos) e 18.8% (+5.3 pontos) da procura global ‘online’.<br />

Com mais de 45 mil fãs, a Audemars Piguet é a<br />

mais popular marca de Alta Relojoaria no Facebook,<br />

que continua a ser a maior comunidade ‘online’ para<br />

relógios topo de gama, com um total de 150 mil fãs.<br />

A sétima edição do estudo de mercado WorldWatchReport<br />

foi feito pela IC-Agency, uma empresa especializada<br />

em marketing de luxo digital, e baseou-se<br />

em entradas registadas em motores de busca para 25<br />

marcas de relojoaria de luxo. O estudo cobriu 10 mercados<br />

cruciais, incluindo os BRIC – Brasil, Rússia, Índia<br />

e China – e os principais mercados de exportação<br />

(Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Itália, França e<br />

Alemanha). Por ordem decrescente, estas são as dez<br />

marcas de Alta Relojoaria mais populares na Internet:<br />

Audemars Piguet, Blancpain, Breguet, Franck Muller,<br />

Girard-Perregaux, IWC, Jaeger-LeCoultre, Patek Philippe,<br />

Vacheron Constantin e Zenith.<br />

Os três modelos mais populares nas buscas ‘online’<br />

são o “Reverso”, da Jaeger-LeCoultre, o “Royal Oak”,<br />

da Audemars Piguet, e o “Português”, da IWC. O trio<br />

NO MERCADO<br />

PORTUGUÊS, 2010<br />

FOI ANO DE RECORDE<br />

ABSOLUTO DE<br />

IMPORTAÇÕES<br />

RELOJOEIRAS.<br />

MAS 2011 DEVERÁ<br />

TER UMA REDUÇÃO<br />

SENSÍVEL<br />

NO CONSUMO.


epresenta cerca de 20 por cento da procura global de<br />

Alta Relojoaria.<br />

A importância do Facebook é crescente. No WorldWatchReport<br />

de 2010, apenas metade das marcas analisadas<br />

tinham página nessa rede social. Em 2011, apenas<br />

uma não está presente (Patek Philippe).<br />

O WorldWatchReport tem como campo de análise várias<br />

marcas. Na Alta Relojoaria: Audemars Piguet, Blancpain,<br />

Breguet, Girard- Perregaux, Jaeger-LeCoultre,<br />

Patek Philippe, Vacheron Constantin, Franck Muller,<br />

Zenith, IWC; na Joalharia / Femininas: Bvlgari, Cartier,<br />

Chopard, Piaget; em Prestígio: Breitling, Hublot, Omega,<br />

Rolex, Tag Heuer; e Gama Média: Baume & Mercier,<br />

Ebel, Longines, Montblanc, Raymond Weil, Rado.<br />

AS TENDÊNCIAS FORMAIS<br />

Em Março, na Baselworld, a maior feira do sector, que<br />

congrega centenas de marcas em Basileia, o ambiente<br />

geral era de optimismo, mais uma vez devido à presença<br />

maciça de compradores chineses – contrabalançando a<br />

ausência do Norte de África e de algum Médio Oriente<br />

(devido à agitação social e política na zona) e o choque<br />

psicológico do Japão (no rescaldo da catástrofe terramoto<br />

/’tsumani’ / nuclear).<br />

As tendências formais na Baselworld vieram confi rmar<br />

as do SIHH em Genebra e estiveram em linha com o volte-face<br />

ocorrido em 2010, após a crise – modelos mais<br />

sóbrios, linhas mais depuradas, cores pastel, formas revivalistas<br />

a lembrar os anos 50 e 60 – as chamadas peças<br />

‘vintage’ são agora as grandes inspiradoras. Não quer isto<br />

dizer que os chamados relógios conceptuais (novas formas<br />

de ler o tempo, uma explosão criativa ocorrida há<br />

15 anos) tenham desaparecido. Mas estão hoje mais claramente<br />

situados em nichos de mercado, com as grandes<br />

marcas a abandonarem essas experiências. Uma das<br />

excepções é a Hermès, que continua a cultivar a sua “leitura<br />

poética do Tempo”, tendo apresentado este ano um<br />

surpreendente “Temps Suspendu”, revolução mecânica<br />

“vestida” num fato clássico… (criação do mestre relojoeiro<br />

Jean-Marc Wiedrrecht, que permite a suspensão<br />

da contagem do tempo pelo período que se quiser, premindo<br />

um botão, com os ponteiros das horas e minutos<br />

a recolherem-se às 12 horas, desaparecendo o ponteiro<br />

da data. Accionando-se de novo o botão, a contagem do<br />

tempo recupera, como se nada se tivesse passado).<br />

Uma das razões dessa onda conservadora na indústria<br />

é o novíssimo mercado emergente asiático, que quer<br />

comprar relógios de formas clássicas, que lhes dê acesso<br />

imediato ao paradigma de “luxo europeu”, sem estravagâncias…<br />

As caixas estão a diminuir de tamanho – os 38 mm<br />

começam de novo a ser aceites, acima dos 44 mm já<br />

quase não há modelos – e os extra-planos aumentam<br />

a sua presença nos catálogos. As marcas com história<br />

revisitam os seus catálogos antigos e começam a cingir-se<br />

a ícones que lhes dão automática identidade – a<br />

Cartier com um “Ballon Bleu” extra-plano; a Glashütte<br />

Original com o “Sixties Square Tourbillon”; a Jaeger-<br />

-LeCoultre com o “Grande Reverso Ultra Thin Tribute to<br />

1931”; a Omega com o “De Ville Hour Vision Blue”; a Rolex<br />

e a declinação do “Cosmograph Daytona”; a Vacheron<br />

Constantin com o “Historiques Aronde 1954” – são<br />

exemplos disso mesmo.<br />

Além do quadro global de incerteza, num sector que<br />

vive hoje em dia de olhos voltados para a China (onde<br />

tem feito investimentos avultados, com a inauguração<br />

de boutiques mono-marca, a melhor maneira de<br />

chegar ao consumidor local), há um factor que se vai<br />

COFFRINI/AFP/GETTYIMAGES<br />

agravando de dia para dia: a falta de relojoeiros. No<br />

último quarto de século, com o ressuscitar do relógio<br />

FABRICE DE<br />

mecânico, centenas de milhões de novas peças foram<br />

vendidas. Elas têm que ser mantidas, reparadas. Esti-<br />

FUNDO DE<br />

ma-se que o ritmo de formação de relojoeiros seja dez<br />

vezes inferior às necessidades do mercado. Ora, aí está<br />

uma profi ssão de futuro… FOTOGRAFIAS<br />

Carlos Monjardino<br />

INSIDER<br />

“MOMENTOS<br />

ESPECIAIS<br />

E FELIZES FORAM<br />

OS NASCIMENTOS<br />

DOS MEUS<br />

FILHOS”<br />

É o presidente da Fundação<br />

Oriente e um eterno viajante.<br />

Do mundo que percorreu guarda<br />

muitas memórias e uma colecção<br />

de relógios única.<br />

Quem lhe deu o seu primeiro relógio?<br />

Foi o meu pai.<br />

Que relógio era e que idade tinha?<br />

Um Cortebert e tinha 9 anos.<br />

Ainda guarda esse relógio?<br />

Infelizmente não.<br />

Que relógio usa hoje?<br />

Um Franck Muller.<br />

Porquê?<br />

Porque o acho particularmente bonito.<br />

Como se lembrou de se tornar<br />

um coleccionador de relógios?<br />

Foi acontecendo por via das inúmeras viagens<br />

que tenho feito de há 45 anos para cá. Primeiro<br />

com relógios de bolso e depois de pulso.<br />

Quantos relógios tem hoje na sua colecção?<br />

Cerca de 120 relógios de bolso e 40 de pulso.<br />

Qual é a ‘jóia da coroa’?<br />

Um UNIVERSAL, por ter pertencido ao meu pai.<br />

Continua a coleccionar ou já parou?<br />

Continuo mas a um menor ritmo.<br />

Se o luxo fosse um relógio, qual seria<br />

a marca?<br />

Franck Muller.<br />

Os relógios falam de tempo e o tempo<br />

de momentos. Quais os momentos mais<br />

especiais que viveu até hoje?<br />

Especiais e felizes foram os nascimentos<br />

dos meus filhos.<br />

Quando tem tempo para si o que<br />

mais gosta de fazer?<br />

Ler, ver televisão e guiar.<br />

Se lhe dessem uma oportunidade de viajar<br />

no tempo, qual a época e a civilização<br />

que escolheria visitar?<br />

Teria a curiosidade de visitar várias: a Inca<br />

e depois uma visita ao século XVI<br />

e ao século XVIII.<br />

Porquê?<br />

A civilização Inca porque era avançada<br />

para o seu tempo e o século XVI pelos<br />

Descobrimentos – devido ao meu espírito<br />

irrequieto. O século XVIII pela admiração<br />

que tenho pelo Marquês de Pombal.<br />

TEXTO DE INÊS QUEIROZ<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 55


56 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

F<br />

oi um ano recorde para a Christie’s. Só em<br />

leilões de relógios raros, a facturação chegou<br />

aos 91,2 milhões de dólares no fi nal do ano<br />

passado. Qualquer coisa como 63,7 milhões<br />

de euros que, traduzidos em palavras, representam o<br />

valor mais elevado de sempre no que diz respeito a relógios<br />

leiloados num só ano.<br />

Contactada pela Fora de Série, a Christie’s avançou que<br />

já 2009 tinha sido um ano excepcional para este nicho<br />

de mercado específi co. Concretamente, os valores atingidos<br />

em leilão totalizaram os 46 milhões de euros no<br />

fi nal do ano. Ainda assim, nada comparado com aquilo<br />

que se passou em 2010.<br />

De acordo com a leiloeira, entre os relógios com<br />

maior procura, a Patek Philippe foi, sem dúvida, a<br />

marca do ano. Nem de propósito, nove das dez peças<br />

que atingiram os valores de martelo mais elevados<br />

no ano passado foram produzidos por esta casa suíça.<br />

A honrosa excepção foi um Daniel Vaucher, datado<br />

de 1783 e considerado peça única, que ocupou a<br />

oitava posição na tabela dos “10+”.<br />

Trata-se de um relógio de bolso<br />

em ouro branco e amarelo de 18<br />

quilates e esmalte. O relógio, fabricado<br />

para o mercado turco, foi<br />

vendido por 515,2 mil euros a um<br />

coleccionador internacional. Um<br />

valor que, independentemente da<br />

raridade da peça, fi cou a anos de<br />

luz dos 4,4 milhões de euros alcançados<br />

pelo número 1 do ano,<br />

um relógio de pulso Patek Philippe<br />

de 1943, também em ouro de<br />

Negócio<br />

São peças raras, de colecção, que em tempos de crise acabam por ser encaradas como<br />

valores de refúgio. E os números não enganam.<br />

N.º 1<br />

Por 4,4 milhões de<br />

euros, esta peça rara<br />

foi o relógio mais caro<br />

até hoje vendido em<br />

leilão, de acordo com a<br />

Christie’s.<br />

VALORES DE REFÚGIO<br />

TEXTO DE INÊS QUEIROZ<br />

“O RELÓGIO<br />

É UM OBJECTO<br />

CUJO VALOR<br />

CULTURAL<br />

E PATRIMONIAL<br />

ESCAPA <strong>ÀS</strong><br />

MO<strong>DA</strong>S”.<br />

N.º 2<br />

Em ouro rosa, com duas<br />

coroas e mostrador<br />

em esmalte azul, este<br />

Patek Philippe chegou a<br />

valor de martelo de dois<br />

milhões de euros.<br />

18 quilates, leiloado em Maio pela Christie’s de Genebra<br />

e licitado por um museu privado suíço.<br />

A seguir a esta, e também Patek Philippe, as duas peças<br />

que atingiram os valores de martelo mais altos em<br />

2010 foram um relógio de pulso em ouro rosa com<br />

mostrador em esmalte azul, datado de 1953 e comprado<br />

por um coleccionador asiático por dois milhões<br />

de euros, e um relógio com cronógrafo e calendário<br />

perpétuo, de 1957, vendido por 887 mil euros a um<br />

comprador anónimo.<br />

Em anos em que o bom senso apela à contenção de custos,<br />

será sensato que os coleccionadores de relógios invistam<br />

tamanhas exorbitâncias numa peça, ainda que<br />

rara? É provavelmente mais sensato do que os investimentos<br />

ditos tradicionais e a prova disso é o que os valores<br />

atingidos nos últimos anos nos leilões de relógios<br />

já chamaram a atenção de vários ‘players’ do mercado,<br />

nomeadamente gestores de fundos de investimento.<br />

Foi o caso de dois profi ssionais do sector fi nanceiro luxemburgueses,<br />

Miriam Mascherin e Michel Tamisier,<br />

fundadores da empresa Elite Advisers,<br />

que em Janeiro deste ano cria-<br />

ram o ‘Precious Time’, um fundo<br />

inteiramente dedicado a relógios<br />

de colecção. É que, como explicam,<br />

“o relógio é um objecto cujo valor<br />

cultural e patrimonial escapa às<br />

modas. O seu valor aumenta com o<br />

passar dos tempos”. Deste modo, e à<br />

semelhança das “obras de arte, jóias<br />

ou pedras preciosas, os relógios de<br />

colecção são valores de refúgio em<br />

economias mais voláteis”.<br />

N.º 3<br />

Fabricado em 1957,<br />

este relógio foi leiloado<br />

no ano passado em<br />

Genebra, tendo sido<br />

vendido por 887 mil<br />

euros.<br />

FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA LEILOEIRA


Roberto<br />

Passariello<br />

é director de<br />

comunicação e<br />

marketing da Bell &<br />

Ross. Apesar de andar<br />

a mil, diz-se muito<br />

cioso do seu tempo,<br />

até porque “o tempo<br />

que passa é a vida<br />

que passa”, diz.<br />

58 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Negócio<br />

VENDEDOR DE SONHOS<br />

Roberto Passariello tem dedicado a vida a vender sonhos. Hoje, fá-lo com o tempo.<br />

Uma indústria conservadora que ainda vive muito de códigos e simbolismos.<br />

TEXTO DE RITA SAL<strong>DA</strong>NHA <strong>DA</strong> GAMA FOTOGRAFIA DE PAULO ALEXANDRE COELHO<br />

uando chegou ao mundo da alta relojoaria,<br />

já lá vão três anos, fez-lhe confusão como é<br />

que num mercado onde se “vende” o tempo,<br />

o tempo tinha parado. Como é que em<br />

todas as publicidades, os relógios marcam<br />

as dez e dez, perguntava-se. Porque não as duas menos<br />

dez? Porque não ao contrário? Qualquer coisa desde que<br />

mostrasse o tempo a passar. “Isto é simbólico do conservadorismo<br />

desta indústria. É um mercado muito codifi -<br />

cado”, diz Roberto Passariello, director de comunicação<br />

e marketing da Bell & Ross. “Um conservadorismo numa<br />

indústria muito manual, muito vincada pela tradição”,<br />

acrescenta.<br />

Rendeu-se. À tradição junta-lhe hoje valores como a qualidade,<br />

a estética, mas também a simplicidade e a funcionalidade<br />

para jogar com o imaginário dos homens.<br />

“Vendo sonhos”, diz. Foi o que sempre fez. Apesar de ter<br />

um curso de engenharia química, foi na publicidade e na<br />

gestão de produtos que sempre trabalhou. Primeiro em<br />

agências de publicidade como a americana DMB&B ou<br />

a BBDO, depois no mundo da fantasia por excelência, a<br />

Disney em Paris, mesmo antes de se fi xar na Eurosport.<br />

“Tem tudo a ver com o imaginário masculino”, expli-<br />

ca. Quem é que na infância nunca sonhou ser piloto de<br />

avião, de carros de Fórmula 1 ou até trabalhar na Nasa?<br />

É nesses sonhos que a marca se inspira. É com base nos<br />

pilotos que a Bell & Ross cria os modelos. Qualquer coisa,<br />

desde que tenha uma base militar, serve para dar origem<br />

a um relógio da marca. Desde o painel de um ‘cockpit’, tatuagens<br />

de soldados ou símbolos em aviões de combate.<br />

“É uma inspiração profi ssional para profi ssionais”, conta<br />

Passariello, cuja missão é a de “ter a certeza que estamos<br />

sempre a dizer a mesma coisa e a ser consistentes com a<br />

nossa história”, diz.<br />

Apesar de ser uma marca recente, a Bell & Ross abriu, este<br />

ano, uma nova sede em Paris e mais sete lojas só na Ásia.<br />

Em Portugal, aumentou os pontos de venda, assim como<br />

no resto do mundo. Mas não só. A presença crescente das<br />

marcas de luxo na Web fê-los apostar numa loja ‘online’.<br />

Primeiro na Europa, depois nos Estados Unidos. “Actualmente,<br />

a Internet representa para nós o equivalente ao<br />

volume de vendas de uma loja física”, adianta o director<br />

de marketing da marca.<br />

Apesar de não ser um grande coleccionador, Roberto Passariello<br />

ainda guarda o primeiro relógio. “Um Tissot ou<br />

um Seiko. Já não tenho bem a certeza. Foi um relógio que<br />

o meu pai me deu quando acabei os estudos”. Hoje, é um<br />

Bell & Ross que traz ao pulso, até porque esta é a melhor<br />

maneira de fazer publicidade às novidades da marca. Reconhece,<br />

no entanto, que enquanto as mulheres vêem<br />

o relógio como um acessório de moda, “para os homens,<br />

a relação é bem mais emocional”.<br />

“PARA AS MULHERES<br />

UM RELÓGIO É UM<br />

ACESSÓRIO DE MO<strong>DA</strong>.<br />

PAR A OS HOMENS A<br />

RELAÇÃO É BEM MAIS<br />

EMOCIONAL”.


60 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Tendência<br />

PEQUIGNET,<br />

O TEMPO SOB A LUZ<br />

A alta relojoaria francesa apresenta-se sob o signo Pequignet Manufacture.<br />

A engenharia faz o ‘Tic’, a estética dá-lhe o ‘Tac’ e a marca conta as badaladas<br />

ao ritmo das melhores e mais recomendadas casas de relojoaria.<br />

Os modelos “Calibre Royal” nascem<br />

das mãos dos peritos relojoeiros nos<br />

laboratórios de Morteau, em França,<br />

e estão a marcar pontos no mercado<br />

mundial, incluindo por cá. Mas já que<br />

o tempo é matéria nossa, vamos manobrá-lo<br />

e voltar atrás, ao coração da relojoaria franco-suíça,<br />

no ano de 1973. Pequignet, músico,<br />

cavaleiro e esquiador, era<br />

um homem de várias paixões<br />

que se achou desiludido<br />

com o aspecto dos relógios de<br />

pulso por ser impossível distinguir,<br />

à vista desarmada, o<br />

que era um bom e o que era<br />

um mau relógio. Falava-lhe o<br />

apelo da beleza, da criatividade<br />

e da elegância, elementos<br />

de apresentação que a marca<br />

defende até hoje.<br />

A Pequignet passou por vários<br />

empreendedores, deu-se à elaboração<br />

exterior em tons de<br />

luxo mas recorreu sempre à<br />

técnica e aos mecanismos dos<br />

vizinhos suíços. Em 2008 quis<br />

sonhar mais alto e então afirmou-se<br />

como a marca de relojoaria<br />

francesa de excelência.<br />

Testaram os elementos da sua<br />

criação ao longo de seis dolorosos<br />

meses em que aceleraram<br />

o processo de envelhecimento<br />

das peças e as submeteram<br />

a choques térmicos e<br />

físicos. Por fim, deram por garantido<br />

o sucesso e lançaram o primeiro mecanismo<br />

totalmente pensado, desenvolvido e montado<br />

nas oficinas de Morteau.<br />

Um ano mais tarde a Pequignet começa a receber<br />

os primeiros prémios de inovação. Em 2010 cria e<br />

TEXTO DE DIANA MOREIRA<br />

PEQUIGNET<br />

CRIOU A PRÓPRIA<br />

MARCA. ESTAVA<br />

DESILUDIDO<br />

COM O ASPECTO<br />

DOS RELÓGIOS<br />

DE PULSO.<br />

lança o primeiro movimento exclusivo. Em 2010<br />

apresenta a colecção “Royale”, na Feira de Basileia,<br />

sob o olhar atento de conhecedores e amantes da<br />

relojoaria de alta-roda. Foram produzidos por<br />

encomenda uns estreantes 300 exemplares. É<br />

já no início deste ano que decide apostar no<br />

regime de venda directa ao mercado português.<br />

Foi por isso pouco o tempo gasto nesta<br />

ascensão e reconhecimento<br />

da obra própria e muito o<br />

tempo dispendido na elaboração<br />

dos 318 componentes<br />

do “Calibre Royale”.<br />

Esta é uma colecção que, de<br />

acordo com a marca, consegue<br />

dar resposta à tensão entre<br />

Binário e Desgaste, que<br />

resulta numa peça de alta<br />

precisão e que preserva o relógio<br />

evitando o esforço. Por<br />

outro lado, consegue conter<br />

nos seus 5,88 milímetros de<br />

espessura todas as complica-<br />

ções e dar-lhes toda a corda<br />

para um desempenho em<br />

modo fiável.<br />

Cristais e lentes garantem<br />

a transparência através da<br />

safira, um material que só<br />

o diamante consegue riscar.<br />

Os diamantes são certificados<br />

individualmente quanto<br />

às suas dimensões e regularidade<br />

antes de receberem<br />

a garantia e poderem ser colocados<br />

na peça. E como o<br />

tempo não atravessa os materiais aqui trabalhados<br />

– safira, diamante, ouro e platina – a casa garante<br />

o armazenamento de centenas de peças para que<br />

os possíveis herdeiros e as gerações futuras, nunca<br />

percam o pulso ao seu relógio.<br />

FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA


Se pensarmos bem, há muito de alta relojoaria<br />

no universo da hotelaria de topo. Ora<br />

vejamos: a relojoaria procura, na complicação<br />

dos seus mecanismos e peças minúsculas,<br />

atingir a perfeição. Os segundos, minutos e<br />

horas medidos com precisão, numa máquina em<br />

que cada peça sabe rigorosamente a sua função e se<br />

move no sentido de que nada falhe. Nos relógios, tal<br />

como nos hotéis de luxo, os detalhes valem ouro e o<br />

prazer reside precisamente neles.<br />

Sandro Fratini, empresário e coleccionador de relógios,<br />

sabia, de experiência própria, que estaria a falar<br />

uma linguagem nova – e apelativa aos afi cionados,<br />

como ele, pelo mundo dos relógios – quando criou o<br />

conceito do Hotel L’Orologio, em Florença. Um hotel<br />

como nenhum outro no mundo, que conta a passagem<br />

das horas na cidade do Renascimento.<br />

Proprietário de uma impressionante colecção de mais<br />

de dois mil relógios ‘vintage’ de três das mais prestigiadas<br />

marcas – Rolex, Patek Philippe e Vacheron<br />

Constantin –, em vez de esconder a sua colecção em<br />

casa, Fratini quis antes partilhá-la e fez do universo<br />

dos movimentos, das rodas dentadas e dos calibres,<br />

uma casa para os seus hóspedes.<br />

Inquestionavelmente com o público masculino como<br />

‘target’, o L’Orologio (L’O, para os mais íntimos)<br />

fi ca virado para a Piazza Santa Maria Novella, uma<br />

das mais fantásticas de Florença. O hotel divide os<br />

62 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Evasão<br />

L’O HOTEL L’OROLOGIO<br />

Piazza Santa Maria Novella, nº24<br />

Florença – Itália<br />

Tel.: +39 055 277380<br />

E-Mail: info@hotelorologio.it<br />

Mais informações em www.whythebesthotels.com<br />

DORMINDO COM O TEMPO<br />

Uma coisa é certa: quem se hospeda no L’O, em Florença, nunca chega atrasado aos seus compromissos.<br />

Fica difícil, quando o hotel está decorado com mais de dois mil relógios…<br />

TEXTO DE RITA IBÉRICO NOGUEIRA<br />

NOS RELÓGIOS,<br />

TAL COMO NOS HOTÉIS<br />

DE LUXO, OS DETALHES<br />

VA LEM OURO<br />

E O PRAZER RESIDE<br />

PRECISAMENTE<br />

NELES.<br />

dedicado à sua manufactura. Cada quarto é decorado<br />

com fotografi as e pinturas de determinados modelos<br />

de relógio, de colecções que atravessam boa parte<br />

do século XX, dos anos 20 à década de 70. Com uma<br />

vista desafogada, é do terceiro piso, dedicado à Patek<br />

Philippe, que se pode desfrutar da melhor paisagem,<br />

sobre a catedral Santa Maria del Fiore e a sua cúpula,<br />

da autoria de Bruneleschi.<br />

Se Fratini é a cabeça por trás do negócio – foi o fundador<br />

e mantém-se à frente do Hotel, bem como do<br />

grupo Whythebest, que detém mais hotéis de charme<br />

espalhados por Itália –, é Antonella, a sua mulher,<br />

a peça mais importante na engrenagem. É ela<br />

que fi ca atenta ao mecanismo, a ver se nada falta, e<br />

dirige a orquestra de empregados que compõem o<br />

serviço atento deste hotel temático, na melhor tradição<br />

hospitaleira de Florença.<br />

A arquitecta Marianna Gagliardi assina os interiores,<br />

inspirados no mundo dos homens. O ambiente é<br />

morno, temperado a couro, bronze, mármore, veludo,<br />

madeiras, que, em cada canto, ressuscitam o conceito<br />

relojoeiro. Um mecanismo aqui, uma peça ali. É o caso<br />

do ‘smoking lounge’, do bar e da sala de leitura, que<br />

formam quase um clube masculino onde se incluem<br />

uma lareira trabalhada e uma mesa de ‘snooker’. É,<br />

certamente, um dos hotéis boutique mais ‘hip’ de Florença<br />

– local nada descabido para o receber, já que, to-<br />

HOTEL<br />

PELO CEDI<strong>DA</strong>S<br />

dos os anos, a cidade dá as boas-vindas à Pitti Uommo,<br />

seus 54 quartos por três andares distintos, cada um uma feira de moda masculina. A visitar.<br />

FOTOGRAFIAS


5<br />

2011<br />

novidades d d<br />

RELÓGIOS<br />

Nunca se tem só um. Como nos<br />

automóveis, há os utilitários, os<br />

desportivos, os clássicos. E há os de<br />

senhora, verdadeiras jóias de trazer<br />

no pulso. Para coleccionadores ou<br />

simples admiradores, as últimas<br />

novidades para ler o tempo.<br />

TEXTO DE<br />

RITA IBÉRICO NOGUEIRA<br />

64 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

8<br />

1<br />

6<br />

3<br />

9<br />

7<br />

10<br />

4<br />

2<br />

13<br />

12<br />

11<br />

HHOMEM


S<br />

SENHORA<br />

6 8<br />

10<br />

9 11<br />

5<br />

7<br />

3<br />

1<br />

4<br />

2<br />

HOMEM<br />

DESPORTIVOS<br />

1.<br />

Panerai “Luminor 1950 Chrono”<br />

monopulsante titânico (para<br />

canhotos). Edição especial 150<br />

unidades.<br />

2.<br />

Chanel “J12 Marine” em cerâmica,<br />

com pulseira em borracha, com<br />

movimento mecânico resistente à<br />

àgua a 300m.<br />

3.<br />

Porsche Design “Le Mans P’6612<br />

Dashboard”. Homenagem à vitória<br />

da Porsche no Le Mans de 1970.<br />

Preço: 4,917 euros.<br />

4.<br />

Louis Vuitton “Tambour XL<br />

Automatique Regatta Navy”. Edição<br />

limitada a 250 relógios.<br />

CLÁSSICOS<br />

5.<br />

Glashütte Original “Senator<br />

Automatic”, em ouro encarnado.<br />

Pulseira em crocodilo.<br />

6.<br />

Cartier “Rotunde Astrorregulador”,<br />

em titânico com pulseira em couro.<br />

Calibre 9800MC. Série limitada e<br />

numerada a 50 peças.<br />

7.<br />

Vacheron Constantin “Quai de<br />

L’lle”. Calendário anual retrógrado,<br />

personalizável em 700 variações<br />

possíveis.<br />

8.<br />

IWC “Portuguese Automatic” com<br />

movimento mecânico, em ouro<br />

branco e pulseira em crocodilo.<br />

9.<br />

Girard-Perregaux “Vintage 1945<br />

XXL”, de inspiração ‘art deco’, caixa<br />

rectangular ouro rosa. Pulseira em<br />

crocodilo. Também disponível em<br />

aço.<br />

MODERNOS<br />

10.<br />

Zenith “El Primero Stratos Flyback”.<br />

Cronógrafo automático, bracelete<br />

em crocodilo.<br />

11.<br />

Hublot “Big Bang Aero Bang Gold”<br />

em ouro encarnado, mostrador<br />

esqueleto, pulseira em crocodilo.<br />

Movimento de corda manual.<br />

Cronógrafo.<br />

12.<br />

Roger Dubuis “Excalibur” de corda<br />

manual e micro-rotor e turbilhão<br />

voador em ouro branco. Limitado a<br />

88 edições.<br />

13.<br />

Bulgari “Octo Grande Sonnerie<br />

Tourbillon”, da colecção “Daniel<br />

Roth & Gérald Genta”, em ouro<br />

branco e pulseira em crocodilo.<br />

SENHORA<br />

MARCAS DE MO<strong>DA</strong><br />

1.<br />

Louis Vuitton “Tambour Bijou<br />

Pétale” em aço com diamantes.<br />

2.<br />

Chanel “J12” de 29mm em cerâmica<br />

preta com diamantes no aro e<br />

nos indicadores do mostrador.<br />

Movimento de quartzo.<br />

3.<br />

D&G “BBQ” em aço dourado<br />

ionizado. Preço: 202 euros.<br />

4.<br />

Versace “Destiny Precious” com<br />

mostrador em madre-pérola,<br />

diamantes e safi ras, pulseira em pele<br />

de lagarto. Preço: 2.460 euros.<br />

ALTA-RELOJOARIA<br />

5.<br />

Boucheron “Kephri” com<br />

escaravelho em lapis lazuli com<br />

esmeraldas e pulseira de diamantes.<br />

6.<br />

Glashütte Original “Panomatic<br />

Luna White” em madre-pérola e<br />

diamantes e pulseira de borracha.<br />

7.<br />

Piaget “Limelight Garden Party” em<br />

ouro branco, diamantes e pulseira<br />

em seda preta.<br />

8.<br />

Roger Dubuis “Excalibur” em ouro<br />

rosa com diamantes e pulseira em<br />

seda cinzenta.<br />

9.<br />

Chopard “Owl” da linha “Animal<br />

World”.<br />

10.<br />

Hublot “Big Bang Gold Leopard”,<br />

cronógrafo mecânico em ouro<br />

encarnado.<br />

11.<br />

Omega “Constellation” em ouro<br />

rosa com diamantes e pulseira em<br />

crocodilo branco.<br />

Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 65


66 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />

Crónica<br />

Sulista, elitista e pedante* . Rodrigo Moita de Deus<br />

NOT MADE IN CHINA<br />

Òpá – E quando achamos que o nosso<br />

português é especialmente maltratado<br />

nas escolas, passo pelo canal<br />

Parlamento e vejo o nosso primeiro.<br />

Na casa da democracia, em resposta a<br />

um deputado, larga um “òpá”. Assim<br />

mesmo. “Òpá”. Não foi um “pá”. Foi<br />

um “òpá” (declinação do “pá”). A<br />

coisa passou. Nem sequer foi comentada. Nem havia razões<br />

para isso. O “pá” e o “òpá” estão quase institucionalizados e<br />

vão sendo utilizados como pontuação. Pontuação tipo dois<br />

pontos, tipo ponto de exclamação ou de interrogação. “O que<br />

é isso òpá”. “ÒPá, que é isso”. Ou simplesmente “pá”. Também<br />

serve de adjectivo, isso é muito “pá”, ou de verbo, eu pá, tu<br />

pá, ele òpá. São pazadas, umas atrás das outras, no português.<br />

Sem que o português se importe muito com isso.<br />

Multiculturalidade I – Estive com Dominque de Villepen<br />

nas Conferências do Estoril. Diz-se que pode ser candidato<br />

às presidenciais em França. Alto como um nórdico, forte<br />

como um espanhol, vestido como um inglês, sedutor como<br />

um italiano, eloquente como um americano. Bom de ver<br />

que vai perder as eleições. Afinal, sempre estamos a falar<br />

de França.<br />

Multiculturalidade II – Sabendo o que sei, “not made in<br />

China” seria hoje uma boa etiqueta para acrescentar aos<br />

produtos.<br />

Peão – Ofereci três peões aos meus três filhos. Peões. Daqueles<br />

antigos, de madeira, de enrolar o cordel. Não tinha<br />

grandes esperanças na coisa. Um peão é um objecto estranho<br />

para quem tem uma Xbox no quarto. Com a falta de jeito<br />

própria da idade lá fiz uma exibição da coisa. Uma vez. Duas<br />

vezes. As vezes suficientes até acertar. E quando finalmente<br />

acertei vi a reacção da criançada. O mais novo olhava para<br />

mim como se estivesse a fazer magia. Os restantes estavam<br />

mais impressionados com o objecto do que com o 3D do FIFA<br />

2010. A geração da Xbox ficou tão fascinada com o assunto<br />

como o meu avô.<br />

Finlandeses – Tenho lido alguns intelectuais artigos sobre<br />

o famoso vídeo. É verdade. Tem imprecisões. A Roménia<br />

também nunca ganhou um festival da Eurovisão e tenho<br />

dúvidas que o Ronaldo português seja melhor que o Ronaldo<br />

brasileiro. Tudo o resto era para fazer sorrir.<br />

Campanha – Há qualquer coisa de ideológico na forma como<br />

os líderes partidários se vestem. O conservadorismo de Paulo<br />

Portas vê-se nos ‘tweeds’. A vontade de Francisco Louçã<br />

em formar um governo de esquerda vê-se na forma como<br />

passou a utilizar mais os blazers. A linha dura de Jerónimo<br />

de Sousa reflecte-se no estilo operário com que se apresenta<br />

aos portugueses e o estilo chique/Milão é uma constante nos<br />

fatinhos de três botões do primeiro-ministro socialista. E ao<br />

contrário do que dizem, não há neoliberalismo algum nos<br />

fatos de dois botões de Passos Coelho.<br />

*A palavra “pedante” vem do italiano.<br />

Na língua dos romanos signifi ca “mestre-escola”. Talvez por<br />

isso adquiriu mais tarde signifi cado de formalista ou pessoa<br />

excessivamente preocupada com detalhes. Estranho mundo,<br />

este, onde pedante é insulto.

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