ASSALTO ÀS JÓIAS DA MÃE - Económico - Sapo
ASSALTO ÀS JÓIAS DA MÃE - Económico - Sapo
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Revista distribuída com o Diário <strong>Económico</strong> nº 5180 de 20 de Maio de 2011. Não pode ser vendida separadamente.<br />
FORA DE SÉRIE<br />
ESPECIAL <strong>JÓIAS</strong>, MAIO 2011<br />
<strong>ASSALTO</strong> <strong>ÀS</strong> <strong>JÓIAS</strong><br />
<strong>DA</strong> <strong>MÃE</strong><br />
Quando as jóias saltam do cofre<br />
e se tornam brinquedos. Quem nunca sonhou<br />
brincar assim? Todas as tendências num<br />
especial jóias e relógios.<br />
E AIN<strong>DA</strong><br />
As jóias da coroa<br />
britânica depois<br />
do casamento real<br />
Cartier ainda sem data<br />
marcada para voltar<br />
a Portugal<br />
Christie’s bate recordes<br />
na venda<br />
de relógios ‘vintage’<br />
China, o país que alimenta<br />
o mercado relojoeiro.<br />
Mas até quando?
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Calibre Royal, com múltiplas complicações integradas,<br />
em estreia mundial. Totalmente concebido e<br />
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directa do fundo de tambor, difusão da força por<br />
intermédio de um eixo central. Indicador de reserva<br />
de energia de 88 horas. Grande fase da lua exacta.<br />
Grande janela dupla da data e do dia com 3 discos de<br />
triplo salto instantâneo, acerto através da coroa e<br />
em qualquer posição dos ponteiros. 21 600<br />
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com parafusos de compensação. Corda automática<br />
nos dois sentidos, sistema de alto rendimento.<br />
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encerra a mais primorosa harmonia.<br />
Contacto Miguel Pereira 960 31 38 36<br />
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*MAIS DO QUE SE VÊ
14<br />
O TEMPO <strong>DA</strong>S<br />
<strong>JÓIAS</strong> <strong>DA</strong> COROA<br />
BRITÂNICA<br />
20<br />
CARTIER DE NOVO<br />
EM PORTUGAL<br />
NÃO É PARA JÁ<br />
24<br />
BULGARI<br />
CELEBRA 125<br />
ANOS DE <strong>JÓIAS</strong><br />
40<br />
AS <strong>JÓIAS</strong><br />
NA I<strong>DA</strong>DE <strong>DA</strong><br />
INOCÊNCIA<br />
48<br />
AS TENDÊNCIAS<br />
JOALHEIRAS<br />
E RELOJOEIRAS<br />
52<br />
CHINA MARCA<br />
O COMPASSO<br />
DO MERCADO<br />
Presidente Nuno Vasconcellos Vice-presidente Rafael Mora Administradores Paulo Gomes, António Costa Directora Márcia Galrão e Miguel Costa Nunes Empresas Patrícia Silva Dias (coordenadora), Ana Baptista, Carlos Caldeira, Cátia Simões, Marina<br />
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Administrativa e Financeira Elisabete Seixo Director Geral Comercial Bruno Vasconcelos Redacção, Administração e Conceição e Sara Piteira Mota Finanças Tiago Freire (editor), Alexandra Brito e Luis Leitão (coordenadores), Catarina Melo, Filipe<br />
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Ferreira (secretariado), Inês Maia (paginação) Colaboradores Diana Moreira, Fernando Correia de Oliveira, Filipe Carriço, Helena Susana Lopes (coordenadora), Mário Malhão e Marta Carvalho Fotografi a Paulo Figueiredo (editor), Cristina Bernardo, João Paulo<br />
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Ana Maria Gonçalves, Francisco Teixeira, Hermínia Saraiva, Lígia Simões, Luís Rego, Maria Teixeira Alves e Nuno Miguel Silva (secretária) Tradutores Ana Pina e Carlos Sousa Departamento Gráfi co Paulo Couto (director de arte), Pedro Fernandes, Maria de<br />
com Impressão e Acabamento Sogapal,<br />
Destaque 11 Mónica Silvares (editora) Economia Marta Moitinho Oliveira e Catarina Duarte (coordenadora), Cristina Oliveira, Denise<br />
Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Fernandes, Luis Reis Pires, Mariana Adam, Margarida Peixoto, Paula Cravina de Sousa Política Ana Petronilho, Inês Davis Bastos,<br />
Jesus Correia e Rute Marcelino (coordenadores), Ana Antunes, Carla Carvalho, Jaime Ribeiro, Patricia Castro, Sandra Costa e Vanda<br />
Distribuição Logista Portugal,SA<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 11<br />
Tiragem<br />
Clemente Exclusivos Corriere della Sera, El Mundo, Expansión e Financial Times.<br />
média 34000 exemplares.
CARLOS RAMOS<br />
RITA IBÉRICO NOGUEIR A<br />
rita.nogueira@economico.pt<br />
<strong>JÓIAS</strong> GLOBAIS<br />
E DEMOCRÁTICAS<br />
uando os analistas do mercado do<br />
luxo afi rmam que este será um<br />
ano em grande para as jóias e os<br />
relógios, é caso para levar a sério.<br />
Apesar da crise fi nanceira que se<br />
vive na Europa e nos Estados Unidos<br />
da América, o mercado do luxo<br />
continua a crescer com números<br />
surpreendentes. E as previsões do início do ano<br />
têm-se mostrado proféticas. Luxo em alta, com o<br />
sector dos relógios e das jóias a mostrar uma saúde<br />
de ferro. Muito graças – como nos conta Fernando<br />
Correia de Oliveira, o jornalista especializado na<br />
área – aos consumidores chineses, que benefi ciam<br />
de uma economia galopante. Frequentador assíduo<br />
dos mais importantes eventos anuais do sector relojoeiro,<br />
o Salão Internacional de Alta Relojoaria,<br />
em Genebra, e a feira Baselworld, em Basileia, ambas<br />
na Suíça, Correia de Oliveira falou com alguns<br />
analistas e todos concluem o mesmo: o luxo anda à<br />
boleia da China. Mas até quando? A História já nos<br />
ensinou que, a um período de forte crescimento segue-se<br />
uma crise. A da China não se vê ainda, mas<br />
está anunciada. E quando chegar, toda a indústria<br />
se vai ressentir. Enquanto não passar de uma previsão,<br />
relógios e jóias benefi ciam da paixão chinesa<br />
por marcas de luxo e pelo seu estatuto de bens<br />
tangíveis, transportáveis e facilmente conversíveis<br />
em ‘cash’ em tempo de recessão, com o ouro a atingir<br />
máximos históricos. Uma interessante análise<br />
para ler nas páginas 52-55 neste Especial Jóias e Relógios,<br />
o primeiro em que a Fora de Série junta os<br />
dois temas numa só revista.<br />
Inocentes, alheios a toda esta problemática, longe<br />
de crises e previsões de crescimento e tendências<br />
de consumo, estiveram Bárbara e Zé Maria, de um e<br />
dois anos, que passaram uma tarde diferente das a<br />
que estão habituados. Deixando de lado os bonecos<br />
de peluche, os carrinhos e as bolas, estes dois bebés<br />
brincaram com jóias, enormes, verdadeiras, caríssimas,<br />
cheias de pedras preciosas. Como brinquedos<br />
improvisados, colares, anéis, pulseiras e alfi netes<br />
foram analisados, torcidos, lambidos, desprezados,<br />
transformados em objectos banais, do dia-a-dia. Na<br />
verdade, é isto o que as marcas de jóias modernas<br />
andam a apregoar há anos: não fazem peças para fi -<br />
carem escondidas em cofres, mas para serem usadas<br />
12 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
em todas as ocasiões. E nada como as crianças para<br />
entenderem este conceito de democratização à primeira...<br />
Zé Maria encantou-se, encheu as mãos de<br />
anéis e pulseiras. Bárbara deixou-se levar pela beleza<br />
dos colares e gargantilhas, alguns peças vindas<br />
especialmente de Paris para a ocasião. Brincaram,<br />
riram, choraram, foram crianças. E este encantador<br />
editorial de jóias faz a capa desta edição e pode ver-<br />
-se nas páginas 40-46.<br />
Saudosos da elegância das jóias Cartier, desde que o<br />
brilho deste joalheiro se apagou com o encerramento<br />
da loja do Chiado, perguntámos a Olivier Gay, o director<br />
Ibérico da marca francesa, se podíamos manter a<br />
esperança de voltar a ver a Cartier por Lisboa (páginas<br />
20-22). A resposta foi satisfatória. Não será para<br />
já, mas está nos planos da marca. Só que, desta vez, a<br />
loja tem de ser perfeita. No sítio certo (na Avenida da<br />
Liberdade, apostamos), com o tamanho e o conceito<br />
certos. E, com tantos condicionantes, só por isso Olivier<br />
Gay não adiantou uma data concreta. Mas, por<br />
cá, fi camos a aguardar o regresso, com expectativa. E<br />
aproveitamos as deslocações a outras cidades da Europa<br />
em que a Cartier está presente para espreitar e<br />
sonhar com a nossa futura loja Cartier.<br />
Foi o que fi zemos este mês em Londres e em Milão.<br />
Na primeira, a jornalista do Economico TV, Sandra<br />
Xavier, foi conhecer, em plena histeria do casamento<br />
real do príncipe William com Kate Middleton, as<br />
jóias que contam a história da coroa britânica e que<br />
estão disponíveis para visita na Torre de Londres.<br />
A reportagem pode ler-se nas páginas 14-18. Na segunda,<br />
a jornalista Helena Viegas e o editor de fotografi<br />
a Paulo Figueiredo foram conhecer o atelier<br />
e a manufactura da Pasquale Bruni, marca de jóias<br />
italiana desenvolvida por pai e fi lha, que faz furor<br />
em Portugal (páginas 30-34). Por pouco não se cruzavam<br />
com algum membro da família Bulgari, cuja<br />
saga familiar (que este ano celebra 125 anos) aqui<br />
narramos, nas páginas 24-28. Não tendo a equipa de<br />
reportagem passado por Florença, infelizmente não<br />
teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o<br />
hotel L’Orologio (página 62), todo ele decorado com<br />
mais de duas mil peças alusivas a relógios, da colecção<br />
privada do proprietário do hotel, que dividiu<br />
os 54 quartos por três andares, cada um dedicado<br />
a uma manufactura: Rolex, Vacheron Constantin,<br />
Patek Philippe. Quem sabe para a próxima?<br />
BLOG<br />
NÃO DEIXE<br />
DE ACOMPANHAR<br />
TAMBÉM TO<strong>DA</strong>S<br />
AS NOVI<strong>DA</strong>DES<br />
FORA DE SÉRIE<br />
NUM NOVO ESPAÇO<br />
‘ONLINE’<br />
http://foradeserie.economico.sapo.pt<br />
Capa: Fotografi a de Rui Aguiar. Anéis em ouro amarelo e diamantes<br />
(2210, 3050 e 4900 euros) Montblanc. Pulseira “Oscar Niemeyer<br />
Copan” em ouro amarelo e diamantes (16,900 euros) H.Stern.<br />
Sumário: Relógio “Jwlry Machine”, da linha “Wings of Desire”, da<br />
“Cabinet Curiosities”, de Boucheron. Uma interpretação da MB&F nº3,<br />
em ouro branco com ametistas, diamantes e safi ras azuis e violetas.
14 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011
Destaque<br />
<strong>JÓIAS</strong><br />
PA R A INGLÊ S<br />
VER<br />
As jóias da coroa britânica<br />
estão expostas desde, pelo menos,<br />
1661, na Torre de Londres.<br />
Após várias mudanças, as peças<br />
encontram-se actualmente<br />
em exposição na Casa das Jóias,<br />
inaugurada, em 1994, pela rainha<br />
Isabel II. Muito mais do que “meras”<br />
pedras preciosas, as jóias<br />
da coroa simbolizam centenas<br />
de anos da história do país<br />
e da realeza e ainda hoje são usadas<br />
em ocasiões de Estado.<br />
TEXTO DE SANDRA XAVIER,<br />
EM LONDRES<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 15
Destaque<br />
O<br />
Reino Unido é das poucas monarquias onde ainda existe<br />
coroação, uma cerimónia simbólica onde as jóias são<br />
usadas para marcar a investidura de um soberano com<br />
poderes régios. A colecção de jóias da coroa britânica é<br />
uma colecção funcional, uma vez que alguns objectos<br />
continuam a ser usados, por exemplo, na cerimónia de<br />
abertura do Parlamento. No entanto, a colecção tem,<br />
igualmente, peças que não são usadas na coroação e<br />
que foram adquiridas por vários monarcas ao longo<br />
dos séculos. São, por isso, muitas as razões para que esta<br />
colecção suscite o interesse de milhares de pessoas<br />
de todos os cantos do mundo, de todos os credos, raças<br />
e de todas as idades. O fascínio é tal que entre dez a 15<br />
mil pessoas visitam, diariamente, a colecção de jóias da<br />
coroa patente na Torre de Londres. Nem que para isso<br />
tenham de esperar uma hora, que chega a ser o tempo<br />
de espera no Verão, a época de maior afl uência. Enquanto<br />
esperam nas fi las, os mais novos entretêm-se a<br />
tirar fotografi as ao guarda de plantão, no exterior do<br />
edifício. O burburinho ao redor é grande perante uma<br />
figura que mais parece um “homem-estátua”. Já os<br />
adultos preferem ir ouvindo as explicações dadas pelo<br />
áudio-guia. Ficam, desde logo, a saber que a colecção<br />
de jóias da coroa contempla objectos – de ouro maciço<br />
e prata dourada – usados nas cerimónias religiosas. As<br />
explicações, em vários idiomas, indicam ainda que as<br />
coroas reais estão guardadas na Torre de Londres desde<br />
a Idade Média. A fi la avança, a passo de caracol, e a<br />
expectativa vai aumentando à medida que os turistas<br />
se aproximam da entrada. Uma vez no interior da Torre,<br />
os visitantes começam por ver vídeos projectados<br />
na parede, que exibem imagens da coroação da rainha<br />
Isabel II, a 2 de Junho de 1953 – a primeira da história<br />
da monarquia britânica a ser transmitida pela rádio e<br />
pela televisão.<br />
SALÃO DOS MONARCAS<br />
Terminado o tempo de espera nas fi las, o entusiasmo<br />
aumenta à chegada à primeira sala – o Salão dos Monarcas<br />
–, onde constam os nomes de todos os reis e rainhas<br />
desde a construção da Torre de Londres, ou seja,<br />
desde Guilherme, o Conquistador até à rainha Isabel II.<br />
A coroa usada pela rainha no dia da coroação está exposta<br />
na Torre de Londres e só é usada em cerimónias<br />
do género. Signifi ca, pois, que a coroa de Isabel II não é<br />
usada há mais de meio século.<br />
Na coroação, o monarca não é só investido com a coroa.<br />
Outros objectos, como as designadas insígnias reais,<br />
desempenham um papel importante. Todas elas<br />
são parte integrante da cerimónia. São os casos da<br />
grande espada, que simboliza a autoridade do monarca,<br />
do anel da coroação e ainda do ‘orbi’, que representa<br />
a soberania de Cristo no mundo. A coroação signifi ca<br />
igualmente a elevação a chefe da igreja anglicana. O<br />
‘orbi’ é colocado na mão direita do soberano e depois<br />
reposto no altar. Este objecto, em forma de globo, tem<br />
incrustadas mais de 600 pérolas e pedras preciosas. Na<br />
exposição, “divide” o espaço com o ceptro, que representa<br />
o poder régio. Trata-se de uma peça de grande<br />
importância ou dela não fi zesse parte o maior diaman-<br />
16 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
DEZ A 15 MIL<br />
PESSOAS VISITAM,<br />
DIARIAMENTE,<br />
A COLECÇÃO<br />
DE <strong>JÓIAS</strong> <strong>DA</strong> COROA,<br />
NA TORRE<br />
DE LONDRES.<br />
NEM QUE PARA ISSO<br />
TENHAM<br />
DE ESPER AR<br />
UMA HOR A.<br />
A colecção de jóias da coroa está guardada na<br />
Torre de Londres, da qual faz parte o diamante<br />
‘Koh-I-Noor’ que, na ilustração, de 1851, aparece<br />
em exposição. Em cima, um retrato do Rei Jorge V,<br />
Imperador da Índia.<br />
te do mundo – a Grande Estrela de África. Aliás, a par<br />
deste esplendoroso diamante, a colecção de jóias da<br />
coroa ostenta algumas das pedras preciosas mais excepcionais<br />
do planeta. A pedra mais antiga da colecção<br />
é a safi ra de Santo Eduardo, datada de 1661, a qual só é<br />
usada em coroações e apenas durante 15 minutos.<br />
MONTANHA DE LUZ<br />
Costuma dizer-se que “os homens não se medem aos<br />
palmos” e quando se fala de diamantes também não.<br />
O ‘Koh-I-Noor’ até pode passar despercebido – dada a<br />
sua reduzida dimensão –, mas tem um valor inestimável.<br />
É o diamante mais caro do mundo. Símbolo de<br />
esplendor e de riqueza, tem lugar de honra na coroa<br />
da rainha. Também conhecido por Montanha de Luz,<br />
o ‘Koh-i-Noor’ passou a fazer parte da Coroa Britânica<br />
quando a rainha Vitória foi proclamada imperatriz<br />
da Índia, em 1877. Quando chegou a Inglaterra pesava<br />
186,10 quilates, mas acabou por ser cortado em<br />
diamantes menores, por sugestão do príncipe Albert.<br />
A operação levou 38 dias e resultou numa perda de<br />
peso de quase 43 por cento. Actualmente, pesa 105,6<br />
quilates. Mas não foi por perder peso que o ‘Koh-i-Noor’<br />
perdeu importância. Muito pelo contrário. Esta é<br />
uma jóia única pelo seu valor comercial, mas também<br />
emocional e cultural, uma vez que está envolta<br />
em inúmeros mitos e lendas. Uma delas diz que quem<br />
tivesse o diamante poderia dominar o mundo. Outra,<br />
diz que a jóia só traz sorte para as mulheres, uma lenda<br />
que tem sido levada à letra entre a monarquia bri-<br />
NA ABERTURA, FOTOGRAFIA DE JONATHAN BLAIR/CORBIS. NESTA PÁGINA, FOTOGRAFIA DE ALANCOPSON/CORBIS E FOTOGRAFIAS ANTIGAS <strong>DA</strong> COLECÇÃO BETTMANN/CORBIS
Destaque<br />
tânica. Guardado religiosamente na Torre de Londres,<br />
o ‘Koh-I-Hoor’ só sai do edifício em ocasiões muito<br />
especiais, como por exemplo, a coroação de um novo<br />
monarca inglês. Uma das suas últimas aparições<br />
públicas aconteceu em 2002, aquando do funeral da<br />
rainha-mãe, ocasião em que permaneceu em cima do<br />
caixão durante todo o cortejo fúnebre.<br />
A GR ANDE ESTRELA DE ÁFRICA<br />
E A COROA DO ESTADO IMPERIAL<br />
A Grande Estrela de África, ou ‘Cullinan’, foi<br />
descoberta por Frederick Wells, responsável pela mina<br />
Premier, na África do Sul, onde foi encontrado este<br />
diamante em bruto, o maior alguma vez descoberto,<br />
a 26 de Janeiro de 1905. Foi comprado pelo governo<br />
de Transval que o ofereceu ao Rei Eduardo VII no seu<br />
66º aniversário. A sua lapidação foi entregue a Joseph<br />
Asscher. Após um estudo prolongado, a pedra foi,<br />
inicialmente, dividida em duas: o ‘Cullinan I’, que faz<br />
parte do ceptro, e o ‘Cullinan II’, que se encontra na<br />
coroa imperial de Inglaterra. Datada de 1937, é a jóia<br />
que sua majestade, a rainha Isabel II, usa na abertura<br />
do Parlamento. Por isso, é regularmente vista por<br />
milhões de pessoas em todo o mundo. Nessa ocasião,<br />
a coroa não está exposta na Torre de Londres, pelo que<br />
tem que ser substituída.<br />
Nem só de diamantes se compõe a colecção de jóias da<br />
coroa britânica. Ali, também é possível encontrar um<br />
expositor com peças muito especiais, apesar de não<br />
pertencerem ao cerimonial da coroação, como os cálices<br />
e as patenas antes usados para dar a comunhão<br />
aos prisioneiros e que hoje são utilizados, três vezes<br />
ao ano, nas cerimónias de Estado. Destaque para a<br />
baixela dos banquetes, composta por 122 peças, desmontada<br />
para limpeza de dois em dois anos. A grande<br />
cisterna de vinho, datada de 1841 é, igualmente, uma<br />
fi gura de peso na colecção. Com os seus imponentes<br />
250 quilogramas, não passa despercebida aos visitantes<br />
que se detêm em grandes aglomerados ao redor da<br />
vitrina que a suporta. Na sala da cisterna, os visitantes<br />
podem ainda ver as duas grandes pias baptismais onde<br />
todas as crianças da família real foram baptizadas<br />
com água proveniente do rio Jordão: a pia de Carlos II,<br />
de 1660, e a Lily Font, de 1840.<br />
THE LAST BUT NOT THE LEAST<br />
O melhor está guardado para fim. Ninguém abandona<br />
a sala sem passar pela Coroa da Índia, uma das<br />
mais interessantes de toda a colecção. A sua história<br />
remonta a 1911, ano em que Jorge V se tornou rei do<br />
Reino Unido. Mas esse não era o seu único título. Jorge<br />
V era, também, Imperador da Índia. Nessa altura, organizou-se<br />
uma grande recepção, em Deli, para celebrar<br />
a coroação do monarca. Mas como nenhuma das coroas<br />
reais podia sair do país, criou-se uma nova coroa:<br />
ALIANÇA REAL: UM PE<strong>DA</strong>ÇO DE OURO GALÊS<br />
A aliança de casamento que Kate<br />
Middleton usa, desde o dia 29 de<br />
Abril, foi fabricada por joalheiros<br />
do País de Gales a partir de um<br />
pedaço de ouro galês que pertencia<br />
a William, um presente de sua avó,<br />
a rainha Isabel II.<br />
A jóia foi construída a partir de<br />
ouro extraído da mina de Clogau<br />
Saint David, situada em Bontddu,<br />
no norte do País de Gales, de onde<br />
vem o ouro para a fabricação de<br />
todas as alianças reais desde os<br />
anos 20.<br />
A rainha presenteou o neto com o<br />
ouro galês pouco tempo depois de<br />
18 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
ele e Kate anunciarem o noivado,<br />
em Novembro do ano passado.<br />
A joalheira Wartski, que fez<br />
o anel de casamento para<br />
o príncipe Carlos quando se casou<br />
pela segunda vez, em 2005,<br />
com Camila Parker-Bowles, fi cou<br />
encarregada da aliança que William<br />
ofereceu a Kate.<br />
Quanto à tiara usada para segurar<br />
o véu de Kate Middleton, pertence<br />
à Rainha Isabel II e foi emprestada<br />
para o dia do casamento real.<br />
Feita pelo ‘designer’ de jóias da<br />
Cartier, foi um presente do Rei<br />
Jorge VI para a Rainha-mãe, em<br />
O ‘KOH-I-HOOR’<br />
SÓ SAI DO EDIFÍCIO<br />
EM OCASIÕES<br />
MUITO ESPECIAIS.<br />
A ÚLTIMA FOI<br />
EM 2002, AQUANDO<br />
DO FUNERAL<br />
<strong>DA</strong> R AINHA-<strong>MÃE</strong>.<br />
a afamada Coroa da Índia, que custou 160 mil libras<br />
(cerca de 180 mil euros). A jóia tem mais de seis mil<br />
diamantes, safi ras de caxemira, esmeraldas da Colômbia<br />
e rubis da Birmânia, que proporcionam um efeito<br />
luminoso muito intenso. Quando o rei e a rainha regressaram<br />
ao Reino Unido, a Coroa da Índia foi adicionada<br />
à colecção. A jóia está separada das restantes<br />
insígnias reais porque só foi usada uma única vez, mas<br />
nunca em coroações. É a única coroa com autorização<br />
para sair do reino. E por falar em sair, a sensação com<br />
que se abandona a sala da colecção de jóias é a mesma<br />
com que se entra, a de “viver” um conto de fadas, ou<br />
melhor, um conto de príncipes e princesas. Não deixa<br />
de ser verdade. A história e as personagens são verdadeiras,<br />
tal como as jóias. Aliás, essa é a sua maior<br />
beleza, são reais e continuam a ser usadas. Talvez por<br />
isso exerçam um fascínio tão grande em tanta gente,<br />
mesmo que só seja possível observá-las através de uma<br />
passadeira rolante e sob o olhar atento dos funcionários<br />
da Torre de Londres. A segurança apertada tem<br />
sido, de resto, apanágio desde 1671, data desde a qual<br />
não se perde um único diamante. Tal segurança é absolutamente<br />
justifi cável e a causa não podia ser mais<br />
nobre. As jóias representam o passado e o futuro do<br />
país. Não é por acaso que esta é considerada a maior<br />
colecção de todo o mundo e que, acima de tudo, se diz<br />
que “as jóias da coroa britânica são o que toda a gente<br />
espera que sejam”.<br />
A joalheira<br />
Wartski fi cou<br />
responsável<br />
pela aliança<br />
que William<br />
ofereceu a Kate<br />
e Robinson<br />
Pelham foi o<br />
‘designer’ dos<br />
brincos com<br />
diamantes em<br />
forma de bolota,<br />
em homenagem<br />
ao brasão dos<br />
Middleton. A<br />
tiara usada<br />
por Kate tem<br />
a assinatura<br />
da Cartier e é<br />
uma herança<br />
da família real.<br />
Foi um presente<br />
do Rei Jorge VI<br />
para a Rainha-<br />
-mãe, em 1936.<br />
1936. A compra foi feita três dias<br />
antes do então duque suceder ao<br />
irmão – o Rei Eduardo, que abdicou<br />
do trono de Inglaterra.<br />
Posteriormente, a tiara foi<br />
passada da Rainha-mãe para<br />
a fi lha Isabel, no dia em que<br />
completou 18 anos.<br />
No casamento, Kate Middleton<br />
usou ainda uns brincos desenhados<br />
por Robinson Pelham. A peça<br />
de joalharia tinha diamantes<br />
em forma de bolota, numa alusão<br />
ao brasão dos Middleton, uma<br />
vez que foram oferecidas à noiva<br />
pelos pais.<br />
FOTOGRAFIA DOS REIS DE POOL PHOTOGRAPH/CORBIS. COROA DE INGLATERRA <strong>DA</strong> PRINT COLLECTOR/CORBIS. NA CAIXA, FOTOGRAFIAS DE WPA POOL/EQUIPA E DE BEN STANSALL/STRINGER, AMBAS <strong>DA</strong> GETTYIMAGES
20 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Personagem<br />
ADORARÍAMOS VOLTAR<br />
A LISBOA MAS NESTE MOMENTO<br />
NÃO TEMOS NA<strong>DA</strong> DEFINIDO<br />
A Cartier tem um novo director-geral para a Península Ibérica. Olivier Gay<br />
é agora o responsável por, na cabeça de muitos portugueses, devolver a Cartier<br />
a Portugal. Uma loja própria faz falta à cidade mas a marca francesa não tem pressa.<br />
É que a próxima tem de ser perfeita.<br />
TEXTO DE ANA FILIPA AMARO<br />
T<br />
em 35 anos e 12 de Cartier. Olivier Gay foi nomeado, no fi nal do ano passado, director-geral da<br />
joalheira francesa para a Península Ibérica, cargo que lhe traz, à partida, um desafi o iminente:<br />
voltar a ter uma loja própria em Portugal. A Cartier fechou a única loja que tinha, em Lisboa, o<br />
ano passado e desde essa altura, as colecções só chegam ao país através de revendedores. Numa<br />
entrevista por e-mail, Olivier Gay explicou os motivos que levaram ao encerramento do espaço<br />
na Rua Garrett, no Chiado, e, para desgosto dos apaixonados pela marca – mas não só, pois a<br />
Cartier traria mais valias ao mercado nacional –, confessou que não há ainda perspectivas para<br />
a Cartier voltar à cidade. Argumentos, diz o director Ibérico, não faltam: laços históricos entre<br />
Portugal e a Cartier, clientes que gostam de bons relógios e bonitas jóias e uma arquitectura ímpar<br />
que muito bem receberia uma loja actual Cartier. Parece que só falta a oportunidade certa.<br />
Aguardemos.<br />
Com o fecho da loja no ano passado, a Cartier representa-se em Portugal através de revendedores<br />
e no El Corte Inglès. Como tem sido o desempenho da marca nesses canais?<br />
A loja da Cartier na Rua Garrett era bastante pequena e tinha um conceito estético antigo em<br />
relação a outras lojas da marca. Estamos a estudar o mercado e a ver se um dia podemos ter uma<br />
localização mais adequada. Seria um sonho poder voltar a ter presença na cidade de Lisboa com<br />
uma nova joalharia com as dimensões que precisamos, com uma boa fachada para destacar os<br />
nossos escaparates e num edifício elegante e representativo. Esta última condição é a menos<br />
complicada, já que Lisboa está cheia de edifícios incríveis do ponto de vista arquitectónico.<br />
O El Corte Inglès é uma “boa” casa para a Cartier?<br />
A ‘maison’ Cartier tem dois canais de distribuição: as joalharias Cartier, onde podemos encontrar<br />
todo o universo da marca e relojoaria multimarca; e os grandes armazéns. Neste aspecto,<br />
o El Corte Inglès encaixa perfeitamente na nossa estratégia já que tem grande visibilidade e<br />
é de fácil acesso para os clientes chegarem até lá e interessarem-se pelos produtos Cartier. O<br />
El Corte Inglès de Lisboa criou também um grande espaço de luxo com muitas marcas re-
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 21
Personagem<br />
presentativas. Por outro lado, temos um trabalho muito<br />
próximo com os nossos representantes em Portugal, como<br />
a Boutique dos Relógios, a David Rosas, o Machado<br />
Joalheiro e o Pires Joalheiro.<br />
Como defi ne o cliente Cartier português?<br />
É um cliente muito exigente que gosta muito de arte e de<br />
objectos bonitos. Isso vê-se tanto no país, no rico património<br />
que tem, como na sua História. O cliente em Portugal<br />
é também um grande ‘connaiseur’ pelo que vemos do<br />
tipo de relógios que compra, muitos deles com complicações.<br />
É, portanto, um cliente muito bem informado e<br />
que conhece as novidades que apresentamos a cada ano.<br />
Na questão estética, aposta num desenho intemporal e<br />
elegante.<br />
Há alguma estratégia pensada para recuperarem a<br />
presença no nosso mercado? A Avenida da Liberdade<br />
pode ser, agora, uma hipótese?<br />
Adoraríamos voltar a Lisboa mas neste momento não temos<br />
nada defi nido. Estamos a estudar o mercado e à espera<br />
de uma boa oportunidade, mas não temos planos a<br />
curto prazo.<br />
O facto de a Cartier não estar na artéria principal de<br />
Lisboa poderá ter sido um dos factores para que o desempenho<br />
da marca não tivesse atingido os objectivos<br />
pretendidos?<br />
A nossa loja no Chiado não tinha as dimensões necessárias<br />
para a cidade de Lisboa. Por isso, tinha um conceito<br />
antigo de joalharia que tínhamos de renovar para ter a<br />
mesma imagem que a Cartier tem em todos os países.<br />
Um conceito criado pelo arquitecto Bruno Moinard e<br />
que identifi ca as joalharias Cartier. Voltar a Lisboa está<br />
nos nossos planos mas estamos a estudar o mercado.<br />
Abrindo um novo espaço, a estratégia para Portugal<br />
será diferente daquela que tinham?<br />
Obviamente, a abertura de uma joalharia implica uma<br />
grande mudança tanto na inauguração do novo espaço<br />
como na comunicação da marca no país. Teremos que ter<br />
uma maior presença nos meios de comunicação portugueses<br />
através de campanhas de publicidade e de eventos<br />
de relações públicas.<br />
Que argumentos tem Portugal para voltar a “convencer”<br />
a Cartier a estar novamente no nosso mercado<br />
com loja própria?<br />
O mercado português é muito importante para a Cartier<br />
não só pelos nossos laços históricos mas também pela procura<br />
e exigência dos clientes portugueses. Não existe um<br />
prazo limite para regressar a Portugal com uma joalharia,<br />
já que depende das oportunidades que o mercado ofereça.<br />
O seu trabalho na Cartier nos últimos anos foi desenvolvido<br />
em mercados emergentes, como o Brasil,<br />
a Rússia ou a África do Sul, mercados bem diferentes<br />
dos europeus, inclusive do espanhol e, especialmente,<br />
do português. Espera maiores difi culdades para<br />
atingir o seu actual objectivo de “transformar a Península<br />
Ibérica num dos mercados da Europa mais<br />
importantes para a Cartier”?<br />
Para a Cartier todos os mercados são importantes. É<br />
verdade que nos últimos anos temos investido grandes<br />
recursos em países como a Rússia, onde, no ano passado,<br />
abrimos uma nova loja, em São Petersburgo, e onde<br />
realizámos várias exposições para exibir muitas das<br />
peças que a ‘maison’ criou para a Corte Imperial Russa<br />
e outras que foram buscar inspiração àquele país. Mas<br />
a Europa é um mercado natural da Cartier e a sua presença<br />
nesse continente é muito mais importante do<br />
que noutros. Os turistas que vêm à Europa adoram vi-<br />
22 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
A NOSSA LOJA<br />
NO CHIADO<br />
NÃO TINHA<br />
AS DIMENSÕES<br />
NECESSÁRIAS<br />
PA R A A CI<strong>DA</strong> DE<br />
DE LISBOA.<br />
TINHA UM<br />
CONCEITO<br />
ANTIGO<br />
DE JOALHARIA<br />
QUE TÍNHAMOS<br />
DE RENOVAR.<br />
A colecção<br />
“Évasions<br />
Joaillières” foi<br />
lançada este ano,<br />
inspirada pela<br />
arquitectura,<br />
a natureza e a<br />
‘art déco’. Nas<br />
fotos, anel em<br />
ouro rosa, opala<br />
rosa, ónix, safi ra<br />
rosa e negra e<br />
diamantes; alfi nete<br />
para o cabelo nos<br />
mesmos materiais.<br />
sitar as marcas que fazem parte do seu património.<br />
Conhece Portugal? O que mais gosta no país?<br />
A primeira vez que fui a Portugal foi na minha época de<br />
estudante, quando tinha 20 anos. Visitei Lisboa e o Porto,<br />
que me encantaram, tanto pela arquitectura, que refl ecte<br />
o rico passado histórico do país, como o ambiente nas ruas,<br />
a alegria das pessoas… foi uma visita muito agradável.<br />
Também me chamaram a atenção as paisagens do litoral<br />
atlântico.<br />
Somos um país, reconhecidamente, de grande tradição<br />
joalheira. Conhece esse lado da nossa História?<br />
Portugal tem uma tradição joalheira muito importante,<br />
tradição que está muito próxima também da Cartier, já<br />
que a Corte Real Portuguesa nomeou a Cartier como distribuidor<br />
ofi cial, em 1905. É por esse motivo que temos<br />
uma relação especial com o país e é para nós muito importante<br />
ter uma loja Cartier em Portugal.<br />
Sabemos que é apaixonado por esqui. Para onde gosta<br />
de ir esquiar? Quantas vezes por ano costuma ir?<br />
Adoro o esqui e a velocidade. Tento esquiar o maior tempo<br />
possível dentro daquilo que minhas responsabilidades<br />
permitem, sendo que desde o ano passado que é mais<br />
difícil ter tempo. As minhas estâncias de esqui preferidas<br />
são Zermatt, St. Moritz e Megève, todas nos Alpes. O esqui<br />
permite-me recarregar baterias e prepara-me para intensas<br />
semanas de trabalho.<br />
Tem outro ‘hobby’ além do esqui?<br />
Também me deixa muito relaxado a equitação, a literatura<br />
e visitar museus das cidades que visito.<br />
Como passa o tempo livre que tem?<br />
Uma das coisas que mais me apaixona é passear por cidades<br />
sem rumo certo. Descobrir o ambiente da cidade, as<br />
pessoas que estão nas ruas… Neste aspecto, Lisboa é uma<br />
cidade especial que adorei descobrir desta maneira.<br />
Dizem que é um apaixonado por Espanha. Porquê?<br />
O povo espanhol é muito caloroso, muito apaixonado. O<br />
país tem cidades com uma arquitectura incrível e muito<br />
diferentes umas das outras, com um património muito rico.<br />
As ruas estão sempre muito animadas, as pessoas sempre<br />
alegres e com muita vontade de se divertirem e, claro,<br />
tem um clima fantástico e uma luz muito especial. Adoro<br />
visitar Espanha e ver o contraste entre a arquitectura com<br />
séculos de História e os novos edifícios, como o Museu<br />
Guggenheim, em Bilbao, ou a Cidade das Artes e das Ciências,<br />
em Valência. Espanha tem uma cultura muito rica e<br />
diversa que seduz os estrangeiros que a visitam.<br />
Prefere alguma cidade em particular?<br />
Paris é uma das minhas cidades preferidas já que passei lá<br />
muito tempo. Madrid, onde vivo hoje, e Lisboa também<br />
têm todos os ingredientes que fazem delas cidades de que<br />
gosto muito. Diferentes destas últimas, mas que também<br />
me deixaram apaixonado, foram a Cidade do Cabo, Nova<br />
Iorque e Londres.<br />
É também apreciador de arte contemporânea.<br />
Sou apaixonado por arte contemporânea mas sobretudo,<br />
por arquitectura contemporânea. Tenho muitos livros<br />
tanto de arte como de arquitectura contemporânea que<br />
adoro reler.<br />
Tem algum destino preferido para ir de férias?<br />
Não tenho um sítio especial. Gosto muito de viajar e de<br />
conhecer novas cidades. Mas as minhas próximas férias<br />
vou passá-las, de certeza, ao Algarve, um lugar perfeito<br />
para descansar e praticar desporto.<br />
FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA
24 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011
Fotografi a histórica<br />
da família Bulgari.<br />
Sotirio Bulgari,<br />
emigrante grego em<br />
Itália, foi o fundador<br />
da marca, em 1884.<br />
Estilo<br />
Bulgari<br />
A JÓIA<br />
<strong>DA</strong><br />
COROA<br />
ITALIANA<br />
Comprada em Março pela Louis<br />
Vuitton Möet Henessy, a empresa<br />
familiar Bulgari fechou o primeiro<br />
trimestre do ano com vendas<br />
de 253, 8 milhões de euros – um<br />
aumento de 27,5% em relação<br />
ao ano anterior. A marca foi<br />
comprada, mas o agora<br />
vice-‘chairman’, Nicola Bulgari,<br />
garante: “Esta família não vai<br />
a lado nenhum”.<br />
TEXTO DE ÂNGELA MARQUES<br />
A<br />
maioria das mulheres a quem os homens oferecem<br />
a lua fi caria mais satisfeita com uma jóia. Felizmente<br />
para Elizabeth Taylor, Richard Burton era um homem<br />
com os pés no chão. Em 1963, o actor, perdidamente<br />
apaixonado e empenhado em conquistar a<br />
actriz ali mesmo nos estúdios da Cinecitta, em Roma,<br />
onde ambos fi lmavam “Cleópatra”, pôs um joelho<br />
no chão e ofereceu-lhe uma jóia Bulgari. Mais<br />
tarde, explicou: “Introduzi Elizabeth ao prazer da<br />
cerveja, ela fez-me conhecer as maravilhas artísticas<br />
de Bulgari”.<br />
Em 1963 a Bulgari tinha já 79 anos (e o homem ainda<br />
não tinha chegado à lua, portanto, mesmo que quisesse,<br />
Richard Burton não poderia dar a lua a Elizabeth<br />
Taylor). A marca foi realmente fundada em 1884.<br />
Sotirio Bulgari, emigrante grego em Itália, era espe-<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 25
Estilo<br />
cialista em pratas. Depois de passar por Nápoles sem<br />
se fi xar em qualquer trabalho, mudou-se para Roma.<br />
Ali, em 1879, começa a vender as suas pratas nas escadarias<br />
da Academia Francesa. Mas, em 1894, investe<br />
o que tem e abre a primeira loja na Via Condotti, em<br />
frente ao bem frequentado Caffe Grecco. Chama-lhe<br />
“Old Curiosity Shop”. Acha que um nome em inglês<br />
pode atrair clientes estrangeiros. Não se engana.<br />
Mais tarde, Sotirio abre outra joalharia em St. Moritz<br />
(onde todas as celebridades passam férias, logo,<br />
onde está o dinheiro). E os fi lhos Giorgio e Constantino,<br />
nascidos entretanto de um casamento arranjado<br />
com a grega Elena Basios, entram para o negócio.<br />
A Bulgari deixa assim de ser um negócio de Sotirio<br />
para passar a ser um negócio de família que atravessa<br />
gerações.<br />
Podia ter corrido mal. Mas não. Em 2002, em entrevista,<br />
Francesco Bulgari Trapani, explicou porquê:<br />
“Na nossa família temos conseguido manter as rédeas<br />
entre nós. Nem sempre é fácil. Em muitos casos,<br />
a difi culdade está não só em gerir o ‘business’,<br />
mas as relações políticas com os próprios familiares.<br />
Nesta, só eu opero nos negócios. Os meus tios<br />
são accionistas muito importantes, mas não têm<br />
funções executivas.”<br />
Só que, olhando para os 127 anos da Bulgari, Francesco<br />
Bulgari Trapani é quase fi cção científi ca. Porque<br />
difícil deve ter sido gerir o negócio quando ele<br />
estava a começar e não agora que ela é mundialmente<br />
conhecida como a marca de jóias das estrelas de<br />
cinema, sinónimo de um requinte à prova de bala.<br />
Difícil podia ter sido nessa altura. Mas na verdade<br />
nem isso.<br />
Porque quando Sotirio morreu, em 1932, a loja da<br />
26 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
“A DIFICUL<strong>DA</strong> DE<br />
ESTÁ NÃO SÓ<br />
EM GERIR O<br />
‘BUSINESS’, MAS<br />
AS RELAÇÕES<br />
POLÍTICAS COM<br />
OS PRÓPRIOS<br />
FA MILIA R ES”,<br />
DISSE FR ANCESCO<br />
BULGARI TR APANI.<br />
Cláudia Cardinale e Anna Magnani fazem hoje parte da história da<br />
Bulgari depois de terem assumido publicamente o gosto que tinham<br />
pelas linhas da marca italiana.<br />
Via Condotti transformou-se num ‘must see’ de<br />
Roma e as coisas começam a acontecer. Construída<br />
como uma casa privada, a loja funcionava como<br />
espaço para atender os clientes individualmente e<br />
tinha lá dentro um museu com a colecção de objectos<br />
de prata que foi desenhada por Constantino, um<br />
dos fi lhos de Sotirio.<br />
O mesmo Constantino, que numa das muitas visitas<br />
que fez a Lisboa, terá fi cado impressionado com uma<br />
peça de arte religiosa em prata encomendada pelo<br />
Rei D. João V a um artesão romano, de nome Giuseppe<br />
Gugliardi, que não conhecia. É que Constantino<br />
tinha fi cado a gerir as lojas do pai, mas não era<br />
um entendido em joalharia. Problema que deixou de<br />
existir porque o fi lho de Sotirio decidiu, então, que<br />
iria estudar esta arte.<br />
A internacionalização da Bulgari dá-se em 1970. A família<br />
abre uma loja em Nova Iorque, Genebra, Montecarlo<br />
e Paris. Sete anos depois decide inovar e entra<br />
no negócio dos relógios. Por esta altura, Giorgio,<br />
irmão de Constantino, já tinha passado o negócio ao<br />
fi lho Gianni, que (a dada altura tem sempre de haver<br />
uma geração menos inspirada ou mais inpirada para<br />
outras coisas) depois de estar à frente da empresa<br />
durante alguns anos a abandona.<br />
Assim, em 1984, Gianni sai da empresa da família.<br />
Mas não se fi ca por aí. Cria mesmo a sua própria linha<br />
de relógios, a “Enigma GB”, produzida em Genebra.<br />
Ainda assim a Bulgari não cai em desgraça (a<br />
família treme, mas a empresa não). Paolo, irmão de<br />
Gianni, assume o comando da marca. E abre uma loja<br />
no Japão (em 1986). Seis anos depois lança o primeiro<br />
perfume Bulgari, “Cologne au thé vert”.<br />
Por esta altura, em Roma, a loja da Via Condotti, com<br />
FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA
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Para homens que gostam de conquistar novos territórios: o Pacific Chronograph.<br />
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com os desafios do dia-a-dia. Estanque até 100 metros, é um belo instrumento<br />
que se sente à vontade tanto no escritório como ao ar livre.<br />
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Estilo<br />
vista para a Piazza Di Spagna, já não tinha as mesmas<br />
funções. Servia de escritório de Paolo (considerado<br />
entretanto a alma criativa da família). Numa<br />
das paredes do escritório (situado nas traseiras da loja)<br />
existiria um quadro com o retrato do avô, pintado<br />
em 1933, a provar a infl uência que a sua fi gura ainda<br />
tinha nos seus descendentes.<br />
Numa entrevista em 1996, Paolo contou como era<br />
o seu dia-a-dia: “Passo a maior parte do meu tempo<br />
de trabalho com os seis ‘designers’ em Roma no<br />
desenvolvimento de novos produtos”. Com 35 anos<br />
de experiência, a sua maior preocupação era ainda<br />
inovar. “Se um negócio não cria nada de novo, difi<br />
cilmente poderá sobreviver no futuro. Por estas<br />
e outras razões, a Bulgari investe muito dinheiro<br />
na pesquisa de novas criações, ideias e no ‘design’,<br />
o mesmo não se passando com outras marcas concorrentes”.<br />
Mas um clássico será sempre um clássico e a jóia<br />
mais antiga da Bulgari, da linha “Tubogás”, fabricada<br />
desde 1940, tem sido a peça mais vendida (com o<br />
preço de um colar desta linha a tocar, no mínimo,<br />
os cinco mil euros). Mas há outras peças que nunca<br />
desiludem no número de vendas. É o caso da colecção<br />
de moedas antigas com origem nos anos 40.<br />
Mas como dizia Paolo o importante é criar. Criar para<br />
que outras mulheres se sintam como Grace Kelly,<br />
Sophia Loren ou Cláudia Cardinale quando usam as<br />
jóias da Bulgari – é curioso pensar que o negócio é até<br />
hoje gerido por homens e nunca por mulheres, até<br />
porque daí se poderá retirar que estes homens sabem<br />
realmente o que as mulheres querem. Mas não são os<br />
únicos. E, por isso, em Março deste ano, o milionário<br />
Bernard Arnault comprou 50,4% da Bulgari.<br />
O ‘chairman’ e presidente executivo do grupo Louis<br />
Vuitton Möet Henessy afi rmou na altura que o ne-<br />
28 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
A espanhola Paz Vega e a americana Julianne Moore são duas das<br />
actuais actrizes que escolhem as jóias Bulgari para os eventos mais<br />
importantes. Gwyneth Paltrow ou Jessica Alba juntam-se a esta lista.<br />
“PARA MIM,<br />
ENTRAR NUMA<br />
JOALHARIA<br />
BULGARI É COMO<br />
VISITAR A MELHOR<br />
EXIBIÇÃO DE ARTE<br />
CONTEMPORÂNEA”,<br />
DISSE UM DIA ANDY<br />
WA R HOL .<br />
gócio era um negócio de transformação – “Isto não é<br />
tanto uma aquisição, mas uma associação entre duas<br />
famílias que partilham uma visão e uma fi losofi a”,<br />
disse ao “Financial Times”. A verdade é que Arnault<br />
comprou 50,4% da marca em troca de uma participação<br />
de 3% na Louis Vuitton Möet Henessy e de dois<br />
lugares na administração deste grupo (que inclui<br />
marcas como Dior, Louis Vuitton e Möet Chandon).<br />
As famílias não se escolhem?<br />
Numa entrevista ao “The Wall Street Journal” um<br />
mês depois da venda, Nicola Bulgari afi rmou: “A nossa<br />
família não vai a lado nenhum. Há uma originalidade<br />
e continuidade do ‘design’ que nos guia em tudo<br />
o que fazemos – das jóias aos relógios às fragrâncias”.<br />
Apaixonado por jazz (gosta de Erroll Garner e Oscar<br />
Peterson, mas também novos músicos como Brad<br />
Mehldau), tem dinheiro que sobra para algumas extravagâncias.<br />
Como por exemplo, convidar regularmente<br />
quintetos de jazz para tocar em sua casa.<br />
Apesar de alguns gostos que dão nas vistas (fi ca sempre<br />
no mesmo hotel em Paris – onde já fi cava com os<br />
pais quando passavam férias em França – e sempre<br />
que está em Nova Iorque pode ser visto a andar a pé<br />
de manhã no Central Park), garante que a Bulgari é<br />
muito discreta. Tão discreta que nunca revela os nomes<br />
dos seus clientes. “Nem sob tortura”, garante.<br />
Mas se a marca não revela os clientes, os clientes revelam-se.<br />
“Para mim, entrar numa joalharia Bulgari<br />
é como visitar a melhor exibição de arte contemporânea”,<br />
disse um dia Andy Warhol. Que, conta-se<br />
em Itália, admirava de tal maneira os desenhos, as<br />
formas e a qualidade das pedras preciosas trabalhadas<br />
pela Bulgari que coleccionava jóias da marca.<br />
O que prova que os homens também conseguem<br />
saber aquilo que os homens querem. E que as famílias<br />
se escolhem.<br />
Em Março deste ano, o milionário Bernard Arnault comprou 50,4% da<br />
Bulgari. O ‘chairman’ e presidente executivo do grupo LVMH afi rmou<br />
na altura que o negócio era um negócio de transformação.<br />
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30 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Estilo<br />
E ASSIM<br />
NASCE<br />
UMA JÓIA...<br />
É num discreto edifício da tradicional cidade<br />
italiana de Valenza, sob rigorosas medidas<br />
de segurança, que o ‘designer’ Pasquale Bruni<br />
e a fi lha Eugenia dão corpo às suas criações.<br />
Os pequenos detalhes que defi nem a alta joalharia<br />
são o segredo do negócio de família.<br />
TEXTO DE HELANA VIEGAS, EM MILÃO<br />
FOTOGRAFIA DE PAULO FIGUEIREDO<br />
E<br />
ugenia Bruni pega com as mãos delicadas em cada<br />
peça e mostra-a a partir de ângulos inusitados. Não<br />
é por acaso. Há pormenores “escondidos” em cada<br />
uma das jóias que desenha: corações gravados,<br />
estrelas recortadas, luas, lapidados nas pedras do<br />
interior de um anel só perceptíveis em contra-luz.<br />
Os detalhes são uma obsessão para o pai, o ‘designer’<br />
italiano Pasquale Bruni, e agora também para<br />
ela. O negócio iniciado em 1976 mantém-se na<br />
família e ambos trabalham a par na empresa, em<br />
Valenza, Itália, uma zona com forte tradição na<br />
alta joalharia.
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 31
Estilo<br />
Nas paredes e nas portas dos armários do seu ‘atelier’,<br />
Eugenia tem expostos recortes e fotografias,<br />
imagens da princesa Elisabete da Bavaria, Sissi,<br />
que inspirou uma das suas colecções, retratos da<br />
actriz Elizabeth Taylor e alegorias várias, num ‘patchwork’<br />
onde se cruzam a madre Teresa de Calcutá<br />
e Buda. É neste espaço colorido que a jovem de<br />
33 anos desenha, em folhas A4 de esquissos e com<br />
lápis de cor, as formas e ângulos dos colares, pulseiras,<br />
brincos e anéis cravejados de pedras preciosas<br />
da marca. Sempre inspirada numa ideia, num sentimento,<br />
na sensação que a jóia deve provocar em<br />
quem a usa. “O meu pai é mais técnico, eu dou mais<br />
importância ao lado espiritual”, diz. Aos 13 anos,<br />
já desenhava jóias para ocupar a timidez, “como<br />
quem escreve um diário”. Descobriu o ioga aos 15<br />
anos, estudou ‘design’ gráfico nos Estados Unidos.<br />
Tenta que tudo isso, todas as suas experiências e<br />
aprendizagem, trespasse cada novo trabalho que<br />
faz: “Há uma mensagem de amor, luxo e emoção<br />
sempre presente. Uma jóia tem que ser um mistério,<br />
como uma mulher”.<br />
Para quem cresceu naquela empresa, entre a pesagem<br />
das pedras – rigorosamente medidas e controladas<br />
à chegada – e os moldes de silicone ou plástico<br />
de cada pedaço de ouro e a arte de construção de<br />
uma jóia, os segredos são poucos. Eugenia coloca<br />
um anel “Rose”, em ouro branco e diamantes, na<br />
mão e informa que a peça é formada por 20 partes<br />
diferentes; mostra um colar “Black and White”<br />
e vira-o para comprovar a beleza do interior, que<br />
vai ficar junto ao peito. Depois, exibe um anel da<br />
colecção “atelier” – peças únicas feitas a partir de<br />
uma pedra preciosa – para explicar que o lapidado<br />
de cada diamante, safira, quartzo ou rubi, é criado<br />
32 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
NAS PAREDES DO<br />
‘ATELIER’, EUGENI A<br />
TEM EXPOSTAS<br />
IMAGENS <strong>DA</strong><br />
PRINCESA ELISABETE<br />
<strong>DA</strong> BAVAR IA, SISSI,<br />
QUE INSPIROU UMA<br />
<strong>DA</strong>S SUAS COLECÇÕES.<br />
Pasquale Bruni (no topo da página) criou a primeira colecção de<br />
joalharia com 20 anos. A sua fi lha, Eugenia Bruni (em cima), desenha<br />
jóias desde criança e está agora à frente do gabinete criativo.<br />
na Pasquale Bruni de acordo com o efeito de luz<br />
pretendido e depois patenteado para impedir qualquer<br />
cópia.<br />
A mais recente colecção que a Pasquale Bruni apresentou<br />
na feira de Basileia joga com as cores da pedraria<br />
para formar painéis que, olhados a partir<br />
do interior, evocam os vitrais de uma igreja. Os<br />
desenhos de Eugenia, feitos à mão, foram estudados<br />
pela equipa na dimensão exacta para o efeito e<br />
transferidos para o computador. As pedras vieram<br />
da Ásia e foram recebidas pela lente de aumentar<br />
atenta dos controladores de qualidade da empresa,<br />
que as medem, classificam e separam por tamanho<br />
com uma pinça. O ouro rosa foi fundido a partir<br />
de barras, despejado num molde, depois esculpido<br />
a laser, manuseado à mão para nele incrustar as<br />
pedras. Até finalmente, o trabalho poder ser dado<br />
como terminado.<br />
Dois meses é o tempo médio de criação de uma peça.<br />
Há que testar o resultado no gabinete de ‘design’<br />
com pastas de moldar, protótipos em prata e pedras<br />
semi-preciosas, antes de partir para o nº1 de uma<br />
jóia. Depois, harmonizar as técnicas antigas com os<br />
equipamentos mais sofisticados, como a máquina<br />
de lapidação a laser. E há ainda o não menos importante<br />
‘know-how’, que tem de ser aprendido e<br />
transmitido, com tempo e rigor.<br />
Os artesãos mais novos são escolhidos entre os estagiários<br />
da afamada escola de ‘design’ de joalharia<br />
de Valenza, explica Pasquale Bruni. “O segredo<br />
é decidir bem a quem entregar cada projecto, saber<br />
aproveitar as mais-valias de cada pessoa”, acrescenta.<br />
Todos trabalham ali com pedras contadas, preenchem<br />
relatórios, almoçam à mesma hora. A segurança<br />
impera no edifício: há separações por área
www.dinhvan.com<br />
Colecção Impression<br />
FUNCHAL: David Rosas<br />
LISBOA: David Rosas - Machado Joalheiro - Rubiouro - Yor Surprise Me - PORTO: David Rosas - Machado Joalheiro
Estilo<br />
PATENTE<br />
A lapidação é<br />
exclusiva.<br />
com códigos de segurança e as portas fecham entre<br />
a uma e as duas horas.<br />
HISTÓRIA DE FAMÍLIA<br />
Pasquale Bruni, o pai de Eugenia, trabalha no último<br />
piso do edifício, acima da filha e das oficinas,<br />
num gabinete de criativo, enorme e desarrumado,<br />
onde se acumulam esquissos de jóias, livros de arte,<br />
esculturas e cartazes da marca. Actualmente, é ele<br />
quem está à frente do projecto “atelier”, dedicado<br />
às peças únicas ou séries limitadas.<br />
Começou na alta costura mas, tal como a filha,<br />
sentiu cedo a vocação da joalharia. Ali mesmo, em<br />
Valenza, e criou a primeira colecção com 20 anos.<br />
Em 1976, fundou a Gioelmoda, com uma equipa<br />
de cinco colaboradores. Deu o seu próprio nome à<br />
empresa em 1997. Hoje, emprega 90 pessoas, dirige<br />
uma empresa com um volume de negócios de 14 mil<br />
milhões de euros, em 2010, e expõe as criações da<br />
marca em mais de 250 pontos de venda espalhados<br />
pelo mundo.<br />
A Pasquale Bruni tem apenas quatro lojas próprias,<br />
localizadas em pontos estratégicos pensados para<br />
dar prestígio ao nome. Além do espaço na Via della<br />
Spiga de Milão, a marca está também na famosa<br />
Place Vendôme parisiense, na avenida Petrovka,<br />
em Moscovo, e no centro comercial Wafi, no Dubai<br />
– na Wafi ‘city’, um edifício com a forma de<br />
uma pirâmide egípcia, com hotel e um ‘shopping’<br />
de 350 lojas. Todos os espaços de ‘show-room’, com<br />
paredes de vidro forradas<br />
no interior com seda natural<br />
em verde lima e vermelho,<br />
a contrastar com as<br />
sóbrias madeiras escuras<br />
escolhidas para o mobiliário,<br />
foram criados pelo arquitecto<br />
britânico David<br />
Chipperfield, discípulo de<br />
Norman Foster.<br />
Na loja de Milão, onde existe<br />
uma antecâmara de entrada<br />
e várias câmaras vigilância,<br />
as vitrinas mostram as últimas<br />
colecções. Lá estão os<br />
pendentes em forma de elefantes,<br />
cobertos de diamantes,<br />
desenhados por Pasquale<br />
Bruni, as colecções “Sissi”<br />
e “Sissi in Paris”, de Eugenia,<br />
e peças mais clássicas como<br />
o trio “Eterno Fiori”, peças<br />
34 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
RIGOR<br />
As pedras são vistas<br />
à lupa.<br />
SISSI<br />
As pedras<br />
preciosas<br />
dos anéis e<br />
pendentes<br />
da colecção<br />
inspirada<br />
na famosa<br />
imperatriz são<br />
emolduradas<br />
por uma<br />
estrutura em<br />
ouro na forma<br />
de coroa.<br />
CINCO PASSOS DE CRIAÇÃO<br />
MOLDE<br />
O ouro é moldado<br />
em silicone.<br />
OS MAIORES<br />
CLIENTES<br />
<strong>DA</strong> PASQUALE SÃO<br />
ASIÁTICOS<br />
E RUSSOS,<br />
QUE GOSTAM<br />
DE <strong>JÓIAS</strong> GR ANDES.<br />
OS PORTUGUESES<br />
SÃO MAIS<br />
DISCRETOS.<br />
UMA QUESTÃO DE PORMENOR<br />
PORMENOR<br />
Os detalhes são<br />
feitos à mão.<br />
São muitos os detalhes que compõem o universo Pasquale Bruni.<br />
Estes são alguns dos que estão em foco nas actuais colecções.<br />
BON TON<br />
O formato<br />
de fl or é dado<br />
pelo lapidado<br />
da pedra,<br />
criado pelos<br />
‘designers’<br />
da marca e<br />
patenteado.<br />
MA<strong>DA</strong>ME<br />
EIFFEL<br />
Em homenagem<br />
a Paris, Eugenia<br />
criou anéis<br />
e pendentes<br />
preciosos com<br />
a imagem da<br />
Torre Eiffel. As<br />
peças foram<br />
apresentadas<br />
na última feira<br />
de joalharia<br />
em Basileia, na<br />
Suíça.<br />
PRATO<br />
FIORITO<br />
Os pequenos<br />
brilhantes que<br />
pendem soltos<br />
da estrutura<br />
da jóia<br />
aumentam o<br />
efeito refl ector<br />
da luz em cada<br />
peça.<br />
CONCEITO<br />
As jóias têm luas, fl ores e<br />
corações escondidos no interior.<br />
construídas numa fi na malha de minúsculos diamantes<br />
que se cola à pele “como uma tatuagem”.<br />
Os maiores clientes da marca, asiáticos e russos,<br />
procuram sobretudo as jóias com maior presença<br />
– pedras mais expressivas, com mais volume, trabalhados<br />
mais intricados. Já os portugueses “são mais<br />
discretos”, preferem um ‘design’ mais sóbrio, confessa<br />
Nuno Torres, da Anselmo 1910, representante<br />
da Pasquale Bruni no mercado nacional. A colecção<br />
“Eterno Fiori” é uma das que mais vende.<br />
As jóias criadas por Pasquale e Eugenia são dirigidas<br />
a mulheres entre os 30 e os 55 anos, com alto<br />
poder de compra. Todas as jóias são pensadas a<br />
360º e evocam os quatro elementos – terra, fogo,<br />
ar e água – através de símbolos, como o coração,<br />
a flor, a estrela ou a lua. Os fios e pendentes são<br />
passíveis de combinações diferentes, a ideia é permitirem<br />
uma decisão pessoal ao gosto de quem as<br />
usa. Algumas das peças foram já várias vezes mostradas<br />
na televisão pela apresentadora italiana Simona<br />
Ventura. A cantora Jennifer Lopez também<br />
escolheu os brincos “Stella Nascente”, em forma de<br />
estrela e cravejados de diamantes, para usar no festival<br />
de música de San Remo. E, na Feira de Basileia,<br />
a rainha da Malásia quis conhecer as colecções e<br />
propor uma encomenda de desenhos exclusivos.<br />
Os clientes VIP são recebidos à hora marcada, com<br />
discrição, em zonas privadas das lojas ou pontos de<br />
exposição. Nos balcões, há sempre um mínimo de<br />
duas pessoas, além do segurança. O valor das peças<br />
em causa é altíssimo.<br />
Um anel pode custar 20<br />
mil euros, um colar 100<br />
mil ou até mais do que is-<br />
AMORE<br />
A palavra<br />
“AMOR”<br />
aparece<br />
escrita em<br />
várias línguas<br />
em cada uma<br />
das jóias. É a<br />
única colecção<br />
com modelos<br />
também em<br />
prata.<br />
so. Só a colecção “Amore”<br />
foi pensada fora do âmbito<br />
da alta joalharia. As<br />
peças em prata ou ouro<br />
estão na ordem das centenas<br />
de euros por uma<br />
razão: para chegar a um<br />
público mais abrangente<br />
e porque a marca abdicou<br />
dos lucros a favor<br />
de um projecto solidário,<br />
um centro de pediátrico<br />
no sul de Darfur, no Sudão.<br />
Para criar esta colecção,<br />
Eugenia inspirou-se<br />
numa ideia simples: a palavra<br />
“Amor”, escrita em<br />
diversas línguas.
Estilo<br />
H.STERN EM HOMENAGEM A NIEMEYER<br />
O Brasil já conhecia a colecção que a H.Stern concebeu inspirada na obra<br />
de um dos maiores nomes da arquitectura moderna. Três anos depois, a linha<br />
“H.Stern by Oscar Niemeyer” chega fi nalmente a Portugal.<br />
TEXTO DE CATARINA MADEIRA<br />
uem já fi xou os olhos no morro do Pão de<br />
Açúcar, no Rio de Janeiro, sabe que a curva<br />
é a forma mais perfeita do universo.<br />
Foi por essa forma fl uida e sensual que<br />
Oscar Niemeyer, um dos nomes maiores<br />
da arquitectura mundial, se apaixonou. Desde aí, essa<br />
é a forma que defi ne todos os seus trabalhos, porque<br />
os ângulos e as linhas rectas nunca o atraíram. Foram<br />
as curvas com que Niemeyer desenhou de raiz, na década<br />
de 50, a cidade de Brasília ou o edifício sede das<br />
Nações Unidas em Nova Iorque, que inspiraram uma<br />
colecção de jóias para a H.Stern. O resultado são peças<br />
que conjugam amplitude, liberdade e fl uidez, na simplicidade<br />
genial do traço do mais famoso arquitecto<br />
brasileiro.<br />
Esta é uma história que começa em 2008, quando Roberto<br />
Stern, presidente e director criativo da H.Stern,<br />
convidou Niemeyer a emprestar a sua assinatura a<br />
uma colecção da marca brasileira. Oscar Niemeyer<br />
completava 100 anos e Roberto Stern estava empenhado<br />
em dar sequência a uma série de colecções<br />
inspiradas em personalidades alheias ao mundo da<br />
joalharia. O arquitecto, agora com 103 anos, aceitou<br />
o desafi o e aprovou o resultado.<br />
“A jóias são lindíssimas e muito luminosas. É incrível<br />
como conseguiram replicar com exactidão os meus<br />
desenhos”, comentou no fi nal. As peças nasceram<br />
dos seus esquiços de traço largo e negro e impuseram<br />
à equipa de criadores e artesãos uma nova superação<br />
das barreiras criativas e técnicas. Em 2011, a<br />
colecção – que até agora só estava disponível nas lojas<br />
da marca – é lançada em todo o mundo, chegando<br />
36 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
“Não é o ângulo recto que me atrai,<br />
nem a linha recta, dura, infl exível,<br />
criada pelo homem.<br />
O que me atrai é a curva livre e sensual,<br />
a curva que encontro nas montanhas<br />
do meu país.<br />
No curso sinuoso dos seus rios,<br />
nas ondas do mar, no corpo<br />
da mulher preferida.<br />
De curvas é feito todo o universo,<br />
o universo curvo de Einstein”.<br />
IN “POEMA <strong>DA</strong> CURVA”, OSCAR NIEMEYER<br />
As linhas da colecção<br />
“H.Stern by Oscar<br />
Niemeyer” surgem<br />
torcidas e fl uidas<br />
como as dos edifícios<br />
projectados pelo<br />
arquitecto. Desde as<br />
formas convexas do<br />
projecto de Brasília<br />
ao ‘design’ sinuoso<br />
da igreja de São<br />
Francisco de Assis<br />
em Pampulha (Minas<br />
Gerais), a H.Stern pediu<br />
licença a Niemeyer<br />
para reinterpretar<br />
em ouro e diamantes<br />
as suas obras mais<br />
emblemáticas.<br />
fi nalmente a Portugal, com modelos mais recentes.<br />
Os ‘designers’ da marca reinterpretaram em ouro<br />
branco e amarelo e diamantes as criações consagradas<br />
de Niemeyer: os conjuntos arquitectónicos de<br />
Brasília (Congresso Nacional, as colunas da Alvorada<br />
e do Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal) e<br />
da Pampulha, o edifício Copan e os prédios do Parque<br />
Ibirapuera (São Paulo), ou ainda o surpreendente<br />
Museu de Arte Contemporânea de Niterói.<br />
A Colecção “H.Stern by Oscar Niemeyer” é dividida<br />
em seis linhas, baptizadas com nomes de desenhos,<br />
obras e projetos de referência do arquitecto:<br />
Pampulha, Brasília, Copan, Croqui, Curvas e Flor.<br />
Os anéis, pulseiras e brincos revelam ainda, como<br />
diz Niemeyer no seu Poema da curva, “o corpo da<br />
mulher preferida”.<br />
Oscar Niemeyer e Roberto Stern partilham o interesse pelas formas<br />
orgânicas e sinuosas. Juntos acompanharam a produção da linha de<br />
jóias “H.Stern by Oscar Niemeyer”.
Apesar de serem criadores de áreas distintas (separadas<br />
não só pelos materiais que usam mas também<br />
pela escala das obras que constroem), joalheiro e<br />
arquitecto partilham esse interesse pelas formas<br />
orgânicas e sinuosas. “Na natureza não existem<br />
linhas rectas, por isso gosto de assimetrias e contornos<br />
irregulares. São mais humanos e naturais”,<br />
diz Stern.<br />
Esta foi a primeira parceria em que o convidado teve<br />
uma presença activa no resultado da colecção, mas<br />
não foi a única em que a marca procurou captar os<br />
movimentos e formas do corpo humano. Em 2009,<br />
a H.Stern traduziu em jóias os movimentos de dança<br />
do Grupo Corpo, considerada a mais importante<br />
companhia de dança contemporânea do Brasil (uma<br />
colecção que também chegou recentemente ao mercado<br />
português).<br />
As jóias da linha de Niemeyer não dançam, mas inspiram<br />
música: Carlinhos Brown – cantor, percussionista,<br />
compositor e produtor – e George Israel<br />
– compositor, guitarrista e saxofonista brasileiro<br />
– compuseram uma música em homenagem ao arquitecto,<br />
criada especifi camente para o lançamento<br />
da colecção de jóias. “Linhameyer” é o nome desse<br />
tema, mas é também a banda sonora de uma animação<br />
digital, dirigida por Andrés Lieban, que retrata<br />
as linhas dos desenhos e croquis de Niemeyer. As<br />
imagens originais foram digitalizadas e compostas<br />
para contar a história da música através de ferramentas<br />
virtuais e técnicas de animação 2D. Quanto<br />
às jóias, podem agora ser vistas em 3D, também nas<br />
lojas Torres Joalheiros.<br />
FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 37
38 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Jóias, arquitectura e viagens. Será possível<br />
juntar os três temas num só projecto? Philippe<br />
Tournaire provou que sim e o resultado<br />
é uma colecção ímpar de anéis com miniaturas<br />
das principais cidades e monumentos do mundo.<br />
Paris, Londres, Nova Iorque, Moscovo, Pequim ou<br />
Dubai, são alguns dos lugares representados na colecção<br />
“Bague Architecture” que o joalheiro francês<br />
concebeu em ouro, prata ou platina, com diamantes<br />
e pedras preciosas.<br />
Num primeiro olhar, as peças de Tournaire podem<br />
parecer excêntricas, até um pouco ostensivas, afi nal,<br />
é andar com uma cidade nas mãos. Mas no segundo<br />
seguinte, o olhar perde-se nos detalhes minuciosos.<br />
As escadarias dos palácios e dos castelos europeus, os<br />
efeitos da linha arquitectónica das tradicionais casas<br />
chinesas, as cúpulas ornamentadas da arquitectura<br />
russa ou os traços clássicos dos principais pontos turísticos<br />
de Paris, tudo é possível ver ao pormenor no<br />
trabalho de Tournaire.<br />
Conhecido como “escultor de metais nobres”, Philippe<br />
Tournaire tem a sua morada principal na Place Vendôme,<br />
o lugar de excelência das grandes e históricas joalharias.<br />
No entanto, o ‘designer’ está<br />
longe de ter um estilo clássico e<br />
Estilo<br />
VOLTA AO MUNDO<br />
O que poderia ser apenas mais uma exposição de maquetas, o joalheiro Philippe<br />
Tournaire transformou numa linha de jóias. Anéis de arquitectura que permitem ter<br />
Paris, Londres ou Nova Iorque nas mãos.<br />
TEXTO DE ANA FILIPA AMARO<br />
e o templo de Jerusalém destruído. Tradições e rituais<br />
que Tournaire actualizou e modernizou com criatividade<br />
e com técnicas apuradas. Para conceber cada um<br />
dos anéis da colecção “Bague Architecture”, o ‘designer’<br />
fotografa o monumento ou a casa que pretende, depois<br />
faz um esboço e um desenho a 3D para, só depois, criar<br />
a jóia. Um trabalho de cores e de formas que resultaram<br />
num dos maiores sucessos do joalheiro. A boa notícia<br />
é que estas jóias podem ser exclusivas e feitas à medida<br />
já que o ‘atelier’ de Tournaire aceita encomendas (mais<br />
informações em www.philippetournaire.com).<br />
Um apontamento curioso é o facto de Philippe Tournaire<br />
ser formado em engenharia eléctrica, uma especialidade<br />
que não o desviou do talento joalheiro<br />
e arquitectónico, que imprime à grande maioria dos<br />
projectos. O seu ‘atelier’ também produz colares, fi os,<br />
relógios e pulseiras, tudo com o mesmo critério, como<br />
o próprio admite: combinar metais e pedras preciosas<br />
com a história da arte e da ciência. E sempre com a<br />
mesma certeza: “Não se obtém sucesso apenas aplicando<br />
as capacidades que se tem, mas também a ser<br />
criativo e adaptando cada peça de ‘design’ ao mundo<br />
que a rodeia”.
40 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011
Estilo<br />
Quando crescerem, a Bárbara e o Zé Maria vão perceber que fi zeram aquilo que todos os adultos gostavam de ter feito naquela idade.<br />
Mesmo que depois não se lembrem. Pegar nas mais valiosas jóias, nos mais volumosos cachuchos ou em pendentes<br />
e colares e brincar. Brincar, atirá-los ao ar, usá-los em desajeito e dispensá-los distraidamente em menos de três segundos.<br />
A inocência de criança que quisemos que valesse ouro… diamantes, safi ras, esmeraldas e pérolas.<br />
TEXTO DE ANA FILIPA AMARO FOTOGRAFIA DE RUI AGUIAR ASSISTIDO POR PEDRO FARIA<br />
PRODUÇÃO DE FILIPE CARRIÇO ASSISTIDO POR MARTA ESPA<strong>DA</strong>S MODELOS BÁRBARA E ZÉ MARIA GAIOSO<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 41
42 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Estilo<br />
Na abertura, colar com pendente em ouro branco, diamantes e ónix (16,430 euros) Piaget, na Anselmo<br />
1910. Nesta página, colar em ouro branco e diamantes (10,950 euros) Piaget, na Anselmo 1910. Ao lado,<br />
pulseira em ouro amarelo e esmeraldas (preço sob consulta) David Rosas.
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 43
44 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011
Estilo<br />
Nesta página, colar em ouro rosa, diamantes e morganite (15,290 euros) Monseo, na Anselmo 1910.<br />
Ao lado, alfi nete em ouro branco e diamantes (preço sob consulta) David Rosas.<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 45
46 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Estilo<br />
Colar “Nature Top” em ouro nobre, diamantes<br />
e turmalinas verdes (39,200 euros) H.Stern.<br />
MORA<strong>DA</strong>S: <strong>DA</strong>VID ROSAS: Av. da Liberdade, nº 69 A – Lisboa. Tel.: 213243870;<br />
H.STERN na MACHADO JOALHEIRO: Av. da Liberdade, nº 180, Tivoli Fórum – Lisboa. Tel.: 211543940; MONSEO na ANSELMO 1910: Av. Eng. Duarte Pacheco, Centro Comercial Amoreiras, loja nº<br />
2070/71 – Lisboa. Tel.: 218480738; MONTBLANC: Av. Liberdade, nº 107 – Lisboa. Tel.: 213259826; PIAGET na ANSELMO 1910: Av. Eng. Duarte Pacheco,<br />
Centro Comercial Amoreiras, loja nº 2070/71 – Lisboa. Tel.: 218480738.
2011<br />
novidades d d<br />
6<br />
<strong>JÓIAS</strong><br />
A verdadeira arte do joalheiro é a de<br />
transformar a natureza que o inspira<br />
em peças de beleza inigualável,<br />
feitas de matérias duras e incorruptíveis.<br />
A inspiração está em todo o<br />
lado, sobretudo na natureza. E nas<br />
linhas geométricas da ‘art deco’.<br />
TEXTO DE<br />
RITA IBÉRICO NOGUEIRA<br />
48 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
5<br />
8<br />
7<br />
2<br />
10<br />
3<br />
4<br />
1<br />
9<br />
11
13<br />
12<br />
14<br />
17<br />
15<br />
22<br />
23 24<br />
18<br />
25<br />
16<br />
21<br />
26<br />
20<br />
19<br />
SERPENTES<br />
1.<br />
Colar “Adam” com diamantes, safi ras<br />
e esmeraldas da linha “Bewitching<br />
Snakes” Boucheron.<br />
2.<br />
Brincos em ouro amarelo com diamantes,<br />
opalas, spessartites, tsavoritas, safi<br />
ras, turmalinas e laca, da linha “Coffret<br />
de Victoire” Dior Fine Jewelry.<br />
3.<br />
Anel “Pythie” da linha “Bewitching<br />
Snakes” Boucheron.<br />
4.<br />
Anel em ouro branco com diamantes,<br />
turquesas, ametistas, esmeraldas, rubelite<br />
e rubis da linha “Coffret de Victoire”<br />
Dior Fine Jewelry.<br />
FLORES<br />
5.<br />
Anel em ouro amarelo com diamantes e<br />
safi ras da linha “Tribal” Louis Vuitton.<br />
6.<br />
Pendente em ouro branco com diamantes<br />
LV e diamantes brancos e cordão<br />
preto da linha “Les Ardentes” Louis<br />
Vuitton.<br />
7.<br />
Brincos em ouro branco com com diamantes<br />
LV e diamantes brancosda linha<br />
“Les Ardentes” Louis Vuitton.<br />
8.<br />
Pulseira em safi ras com diamantes da<br />
colecção “Red Carpet” Chopard.<br />
9.<br />
Colar “Précieuses Rose” em ouro branco<br />
com diamantes, esmeraldas e safi ras<br />
Dior Fine Jewelry.<br />
10.<br />
Brincos “Limelight Garden Party” em<br />
ouro branco com diamantes e esmeraldas<br />
Piaget.<br />
11.<br />
Anel “Limelight Garden Party” em ouro<br />
branco com diamantes, esmeraldas, calcedónia<br />
branca, rubelite e safi ras Piaget.<br />
ENCARNADOS<br />
12.<br />
Brincos “Chopard’s Temptation” com<br />
diamantes, rubis e esmeraldas Chopard.<br />
13.<br />
Anel “Lady Hawke” em ouro branco com<br />
safi ras e diamantes, rubi e spessartite<br />
garnet oval da linha “Wings of Desire”<br />
Boucheron.<br />
14.<br />
Anel em ouro amarelo e branco com<br />
diamantes, peridot, rubis, safi ras e laca<br />
da linha “Coffret de Victoire” Dior Fine<br />
Jewelry.<br />
AZUL-MAR<br />
15.<br />
Alfi nete “Peacock” com diamantes,<br />
safi ras e esmeraldas da “Animal World<br />
Collection” Chopard.<br />
16.<br />
Colar em ouro branco, tanzanitas, ónix,<br />
esmeralda, safi ras e diamantes da colecção<br />
“Évasions Joaillières” Cartier.<br />
17.<br />
Anel em ouro branco e diamantes com<br />
tanzanita da colecção “Retro” Monseo.<br />
18.<br />
Brincos em ouro branco com turmalinas,<br />
safi ras, tsavoritas e diamantes da colecção<br />
“Bee My Love” Chaumet.<br />
19.<br />
Brincos “Epinosa” em ouro branco com<br />
diamantes, ametistas, rubelite, peridots,<br />
turmalina e laca Dior Fine Jewelry.<br />
20.<br />
Anel “Melanésia” com diamantes e safi -<br />
ras da linha “Aquatic Waves” Boucheron.<br />
GEOMETRIA<br />
21.<br />
Brincos em ouro branco com diamantes<br />
da colecção “Cosmopolitan” Monseo.<br />
Preço: 2,930 euros.<br />
22.<br />
Pulseiras da linha “Première” em ouro<br />
amarelo e branco com ónix e diamantes<br />
Chanel.<br />
23.<br />
Brincos em ouro rosa da colecção<br />
“B.Zero1” Bulgari.<br />
24.<br />
Anel em ouro branco com diamantes<br />
da colecção “Cosmopolitan” Monseo.<br />
Preço: 2,200 euros.<br />
25.<br />
Anel em ouro branco com diamantes<br />
pretos e brancos da colecção “Black<br />
and White” Anselmo 1910. Preço: 4700<br />
euros.<br />
26.<br />
Anel em linhas geométricas em ouro<br />
branco com diamantes Pequignet.<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 49
DESCUBRA O PRESENTE IDEAL<br />
PARA ELE OU PARA ELA, ENTRE O<br />
CLÁSSICO OU O ‘DESIGN’ CONTEMPORÂNEO<br />
50 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
U<br />
ns, chamam-lhes eternos; outros, os<br />
melhores amigos das mulheres. Mas,<br />
seja qual for o chavão escolhido, de<br />
uma coisa ninguém tem dúvidas: é<br />
que, grandes ou pequenos, os diamantes não<br />
passam despercebidos em lado nenhum. Nem<br />
mesmo ‘online’.<br />
Essa é certamente a convicção da De Beers Diamond<br />
Jewellers, propriedade da De Beers S.A. e da LVMH,<br />
que lançou recentemente o seu novo ‘website’, uma<br />
genuína ‘e-store’ onde o cliente é convidado a explorar<br />
com aquele mesmo à vontade que usa habitualmente<br />
no seu supermercado – e com direito a<br />
carrinho de compras e tudo. Passe a simplicidade da<br />
comparação, aqui não há dispositivos de segurança<br />
complicados, nem pressas, e todos os interlocutores<br />
são virtuais. A má notícia é que, por enquanto, para se<br />
poder comprar ‘online’ no novo ‘website’ da De Beers<br />
Jewellers, tem que se ser residente nos Estados Unidos.<br />
Um pequeno revés que a empresa espera resolver<br />
rapidamente, até porque quem ali chega, tem a possibilidade<br />
de escolher a língua com que se sente mais<br />
à vontade. Nem faria sentido de<br />
outra forma.<br />
Lançado no passado dia 14 de<br />
Abril, em Nova Iorque, com direito<br />
a uma ‘cocktail party’ na loja<br />
De Beers da 5ª Avenida, o novo<br />
site tem por principal objectivo<br />
reforçar a ligação entre a De Beers<br />
Diamond Jewellers e os seus<br />
clientes.<br />
O processo é semelhante ao de<br />
qualquer ‘e-store’, com inscrição<br />
obrigatória para quem quer comprar.<br />
Mas é perfeitamente possível<br />
Negócio<br />
OSMELHORESAMIGOS.COM<br />
Nasceu a 14 de Abril , com pompa e circunstância. O novo site da De Beers Diamond<br />
Jewellers colocou as mais bonitas jóias da marca à distância de um clique.<br />
TEXTO DE INÊS QUEIROZ<br />
POR ENQUANTO,<br />
PAR A SE PODER<br />
COMPRAR<br />
‘ONLINE’,<br />
TEM QUE SE SER<br />
RESIDENTE<br />
NOS ESTADOS<br />
UNIDOS.<br />
manter o estatuto confortável de ‘voyeur’ anónimo,<br />
‘clicando’ aqui, ali e à mercê da vontade. À esquerda,<br />
as jóias tradicionais, com os seus anéis, brincos, colares,<br />
pulseiras, jóias masculinas e ainda uma secção de<br />
ajuda para quem quer encontrar o presente perfeito.<br />
Ao lado, o departamento das alianças e anéis de noivado,<br />
os únicos que não podem ser comprados ‘online’,<br />
mas pelos quais é possível marcar uma reunião com<br />
um especialista real, na De Beers mais perto de casa. Seguem-se<br />
as colecções de ‘design’, a alta joalharia, uma<br />
secção inteirinha dedicada à arte dos diamantes e uma<br />
secção cultural, onde se enquadram os eventos que vão<br />
sendo promovidos pela De Beers.<br />
Detalhes aparte, para aqueles compradores mais individualistas<br />
que, por norma, respondem ao tradicional<br />
“em que posso ajudá-lo” com um brusco “ai! estou só<br />
a ver e vou-me já embora” – até mesmo quando isso<br />
não corresponde inteiramente à verdade – o www.<br />
debeers.com veio mesmo a calhar. E nem vale a pena<br />
pensar em ter remorsos se, na ânsia de encontrar a jóia<br />
perfeita, virarmos a loja do avesso. Aqui, a arrumação<br />
faz-se sozinha, à mesma medida e ritmo da escolha<br />
que se segue e não há tempos per-<br />
didos se, na hora da verdade, afi -<br />
nal não se comprar nada. Toda a<br />
gente sabe que uma jóia não se<br />
compra assim, do pé para a mão.<br />
Se, como diz o presidente do De<br />
Beers Institute of Diamonds, independentemente<br />
da lapidação,<br />
cor, claridade e peso, “a beleza é o<br />
único árbitro que pesa na escolha<br />
de um diamante”, para um comprador,<br />
mesmo compulsivo, às vezes<br />
olhar apenas é o quanto basta<br />
para infl amar um sonho.<br />
A ARTE <strong>DA</strong> JOALHARIA<br />
TUDO AQUILO QUE SEMPRE QUIS SABER<br />
SOBRE DIAMANTES
A relojoaria é a terceira<br />
indústria de exportação suíça e, após a crise de<br />
2008/2009, a recuperação foi rápida, devido à procura<br />
exponencial que continua a registar-se na Ásia, especialmente<br />
na China.<br />
Pela primeira vez desde que há registos, a China colocouse<br />
em Março como segundo mercado para a relojoaria<br />
suíça, ultrapassando os Estados Unidos. Se pensarmos<br />
que em primeiro lugar está Hong Kong, e que mercados<br />
como o francês vivem bastante das compras efectuadas<br />
por chineses em viagem, podemos facilmente perceber<br />
a importância crucial que está a assumir o consumidor<br />
chinês no quadro global.<br />
A maior parte dos observadores prevê que 2011 seja,<br />
também por isso, um ano de recorde absoluto em termos<br />
de exportações relojoeiras helvéticas.<br />
A médio prazo, o quadro poderá não ser tão animador,<br />
52 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
avisam algumas vozes. Desde logo, alerta-se para o facto<br />
de o sector começar a estar demasiado dependente de<br />
um único mercado – há marcas que destinam até 50 por<br />
cento da sua produção para a China e, no cômputo geral,<br />
pensa-se que entre cada 4 relógios produzidos na Suíça,<br />
um vá parar a mãos chinesas. Ora, se algo ocorrer de negativo<br />
para os lados de Pequim…<br />
Martin Wolf, editor-chefe-adjunto e comentador do<br />
“Financial Times”, recentemente nomeado pelo governo<br />
britânico para a nova Independent Commission on<br />
Banking, é uma das vozes pessimistas. Falando no Fórum<br />
de Alta Relojoaria, há dias ocorrido em Genebra,<br />
ele pensa que a economia mundial ainda se encontra<br />
à beira da recessão. “Quando tudo parece bem em economia,<br />
a experiência diz-nos que é porque vem aí uma<br />
crise”, pensa ele. “Como está tudo a correr tão bem nos<br />
países emergentes, a próxima crise virá daí”, conclui.<br />
Negócio<br />
A<br />
SALÃO INTERNACIONAL DE ALTA RELOJOARIA<br />
H ORA<br />
BASELWORLD<br />
A<br />
M<br />
ARELA
Estará a indústria<br />
do luxo, e por<br />
maioria de razão,<br />
a relojoaria, a viver<br />
tempos demasiado<br />
dependentes<br />
da surpreendente<br />
China?<br />
Por enquanto,<br />
os ventos estão<br />
de feição, o semáforo<br />
está verde, mas há<br />
quem avise que ele vai<br />
passar rapidamente<br />
a amarelo, e preveja<br />
que a próxima<br />
tempestade<br />
económica<br />
e fi nanceira virá<br />
do “vermelho”<br />
Império do Meio.<br />
TEXTO DE FERNANDO CORREIA<br />
DE OLIVEIRA<br />
Martin Wolf faz notar que esses países emergentes têm<br />
conseguido taxas de crescimento da ordem dos 6 a 7<br />
por cento ao ano, “duplicam a sua economia em cada 12<br />
anos” e que os optimistas antevêem uma China mais<br />
rica que os Estados Unidos já daqui a 20 anos.<br />
O quadro é impressionante – a China conseguiu, em 20<br />
anos, passar o seu PIB do equivalente a 5 por cento do<br />
PIB norte-americano para os actuais 20 por cento. “Isso<br />
pode comparar-se com o quadro do Japão face aos EUA<br />
nos anos 50 do século XX”, faz notar Martin Wolf.<br />
Adepto das análises dos chamados “modelos longos”,<br />
o britânico salienta que a crise mundial vivida em<br />
2008/2009 foi a maior desde a Grande Depressão e que<br />
os factores da sua génese se encontram ainda todos presentes.<br />
A Grã-Bretanha, a exemplo da generalidade dos<br />
países ocidentais, regista défi ces apenas ocorridos em<br />
tempos de guerra. “Os países desenvolvidos não ultra-<br />
passarão tão cedo os efeitos da crise e não é seguro que o<br />
crescimento que temos vindo a assistir em países como<br />
a China, Índia, Brasil ou México seja sustentado”, diz.<br />
Martin Wolf traça um quadro negro – desastre fi scal<br />
iminente no Ocidente, aumento das desigualdades sociais,<br />
infl ação devido à subida de preço das matériasprimas<br />
não renováveis. “A China vai passar ao estádio<br />
de desenvolvimento mais exigente em termos de matérias-primas<br />
– o do aumento do consumo privado: carros,<br />
máquinas de lavar, frigorífi cos, televisões”, aponta.<br />
“O aumento do preço das matérias-primas é estrutural e<br />
não conjuntural. Se a China e a Índia quiserem ter o número<br />
de carros per capita igual ao dos Estados Unidos,<br />
não haverá petróleo que chegue”.<br />
O fl uxo de capital que nos últimos anos inverteu a tendência<br />
normal e começou a ir dos países pobres (com<br />
balanças comerciais positivas) para os países ricos (es-<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 53
Negócio<br />
Nas fotos, o Omega “De Ville Hour Vision Blue” com<br />
calibre automático, escape co-axial, cronómetro<br />
certifi cado COSC. Caixa de 41 mm, em aço; e o<br />
Glashütte Original “Sixties Square Tourbillon” com<br />
calibre automático, da manufactura, rotor em ouro,<br />
turbilhão volante.<br />
pecialmente os Estados Unidos, onde foi gasto na bolha<br />
imobiliária) vai continuar. “Nos países emergentes, está<br />
mais dinheiro a chegar lá do quem aquilo que eles podem<br />
absorver”. “Em termos mundiais, os países não podem<br />
todos crescer as suas exportações. Não temos um<br />
grande mercado em Marte”, diz Martin Wolf.<br />
Considerada actualmente o motor da indústria do luxo<br />
(ultrapassou no ano passado o Japão como primeiro<br />
mercado mundial), a China viverá dentro de pouco tempo<br />
uma crise – vaticina Wolf. “Durante as últimas décadas,<br />
o investimento chinês foi superior ao crescimento<br />
do PIB, criando uma situação muito instável em termos<br />
de infl ação. Agora, as autoridades chinesas começam a<br />
estar preocupadas e haverá uma diminuição brusca do<br />
investimento. O crescimento cairá abruptamente quando<br />
o investimento estiver abaixo da taxa de consumo”,<br />
avisa. “O fi m do ‘boom’ vai acontecer, inevitavelmente,<br />
só não sabemos quando”.<br />
Quanto ao mercado português, 2010 foi ano de recorde<br />
absoluto de importações relojoeiras – o que não<br />
deixa de surpreender, dado que já então prevalecia o<br />
ambiente de crise. Mas 2011 deverá ter uma redução<br />
sensível no consumo, como já indicam os números do<br />
primeiro trimestre. “A situação só não é mais grave<br />
porque temos tido a ajuda dos consumidores angolanos,<br />
sobretudo, e brasileiros”, dizia-nos há dias um dos<br />
principais retalhistas de Alta Relojoaria, com pontos<br />
de venda em Lisboa e Porto. “E, agora, começa a surgir<br />
também o chinês residente em Portugal, que vai comprando<br />
algumas peças caras”.<br />
O UNIVERSO INTERNET<br />
O ano relojoeiro começou, como é já tradição, com a<br />
realização, em Janeiro, do Salão Internacional de Alta<br />
Relojoaria (SIHH), em Genebra. Ali, um escasso número<br />
de marcas (não chegam a 20, mas produzem peças<br />
de altíssimo valor acrescentado) tem os primeiros<br />
54 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
contactos com os maiores e melhores retalhistas de<br />
todo o mundo. O SIHH deste ano decorreu sob o pano<br />
de fundo de mais um WorldWatchReport, o estudo regular<br />
‘online’ sobre as tendências de consumo no sector,<br />
a nível mundial. Uma das primeiras conclusões:<br />
uma em cada quatro buscas de marcas de Alta Relojoaria<br />
na Internet é proveniente da China, posição apenas<br />
ultrapassada pelos Estados Unidos (29%). Depois,<br />
aquilo que os potenciais consumidores procuram difere<br />
de país para país: o interesse em falsifi cações de<br />
Alta Relojoaria é mais elevado no Brasil e nos Estados<br />
Unidos. A informação sobre preços tem grande importância<br />
nas buscas da China e da Índia: os nomes dos<br />
modelos lideram nos países ocidentais. A IWC e a Patek<br />
Philippe consolidam a sua posição como marcas<br />
mais procuradas com, respectivamente, 31.4% (+6.7<br />
pontos) e 18.8% (+5.3 pontos) da procura global ‘online’.<br />
Com mais de 45 mil fãs, a Audemars Piguet é a<br />
mais popular marca de Alta Relojoaria no Facebook,<br />
que continua a ser a maior comunidade ‘online’ para<br />
relógios topo de gama, com um total de 150 mil fãs.<br />
A sétima edição do estudo de mercado WorldWatchReport<br />
foi feito pela IC-Agency, uma empresa especializada<br />
em marketing de luxo digital, e baseou-se<br />
em entradas registadas em motores de busca para 25<br />
marcas de relojoaria de luxo. O estudo cobriu 10 mercados<br />
cruciais, incluindo os BRIC – Brasil, Rússia, Índia<br />
e China – e os principais mercados de exportação<br />
(Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Itália, França e<br />
Alemanha). Por ordem decrescente, estas são as dez<br />
marcas de Alta Relojoaria mais populares na Internet:<br />
Audemars Piguet, Blancpain, Breguet, Franck Muller,<br />
Girard-Perregaux, IWC, Jaeger-LeCoultre, Patek Philippe,<br />
Vacheron Constantin e Zenith.<br />
Os três modelos mais populares nas buscas ‘online’<br />
são o “Reverso”, da Jaeger-LeCoultre, o “Royal Oak”,<br />
da Audemars Piguet, e o “Português”, da IWC. O trio<br />
NO MERCADO<br />
PORTUGUÊS, 2010<br />
FOI ANO DE RECORDE<br />
ABSOLUTO DE<br />
IMPORTAÇÕES<br />
RELOJOEIRAS.<br />
MAS 2011 DEVERÁ<br />
TER UMA REDUÇÃO<br />
SENSÍVEL<br />
NO CONSUMO.
epresenta cerca de 20 por cento da procura global de<br />
Alta Relojoaria.<br />
A importância do Facebook é crescente. No WorldWatchReport<br />
de 2010, apenas metade das marcas analisadas<br />
tinham página nessa rede social. Em 2011, apenas<br />
uma não está presente (Patek Philippe).<br />
O WorldWatchReport tem como campo de análise várias<br />
marcas. Na Alta Relojoaria: Audemars Piguet, Blancpain,<br />
Breguet, Girard- Perregaux, Jaeger-LeCoultre,<br />
Patek Philippe, Vacheron Constantin, Franck Muller,<br />
Zenith, IWC; na Joalharia / Femininas: Bvlgari, Cartier,<br />
Chopard, Piaget; em Prestígio: Breitling, Hublot, Omega,<br />
Rolex, Tag Heuer; e Gama Média: Baume & Mercier,<br />
Ebel, Longines, Montblanc, Raymond Weil, Rado.<br />
AS TENDÊNCIAS FORMAIS<br />
Em Março, na Baselworld, a maior feira do sector, que<br />
congrega centenas de marcas em Basileia, o ambiente<br />
geral era de optimismo, mais uma vez devido à presença<br />
maciça de compradores chineses – contrabalançando a<br />
ausência do Norte de África e de algum Médio Oriente<br />
(devido à agitação social e política na zona) e o choque<br />
psicológico do Japão (no rescaldo da catástrofe terramoto<br />
/’tsumani’ / nuclear).<br />
As tendências formais na Baselworld vieram confi rmar<br />
as do SIHH em Genebra e estiveram em linha com o volte-face<br />
ocorrido em 2010, após a crise – modelos mais<br />
sóbrios, linhas mais depuradas, cores pastel, formas revivalistas<br />
a lembrar os anos 50 e 60 – as chamadas peças<br />
‘vintage’ são agora as grandes inspiradoras. Não quer isto<br />
dizer que os chamados relógios conceptuais (novas formas<br />
de ler o tempo, uma explosão criativa ocorrida há<br />
15 anos) tenham desaparecido. Mas estão hoje mais claramente<br />
situados em nichos de mercado, com as grandes<br />
marcas a abandonarem essas experiências. Uma das<br />
excepções é a Hermès, que continua a cultivar a sua “leitura<br />
poética do Tempo”, tendo apresentado este ano um<br />
surpreendente “Temps Suspendu”, revolução mecânica<br />
“vestida” num fato clássico… (criação do mestre relojoeiro<br />
Jean-Marc Wiedrrecht, que permite a suspensão<br />
da contagem do tempo pelo período que se quiser, premindo<br />
um botão, com os ponteiros das horas e minutos<br />
a recolherem-se às 12 horas, desaparecendo o ponteiro<br />
da data. Accionando-se de novo o botão, a contagem do<br />
tempo recupera, como se nada se tivesse passado).<br />
Uma das razões dessa onda conservadora na indústria<br />
é o novíssimo mercado emergente asiático, que quer<br />
comprar relógios de formas clássicas, que lhes dê acesso<br />
imediato ao paradigma de “luxo europeu”, sem estravagâncias…<br />
As caixas estão a diminuir de tamanho – os 38 mm<br />
começam de novo a ser aceites, acima dos 44 mm já<br />
quase não há modelos – e os extra-planos aumentam<br />
a sua presença nos catálogos. As marcas com história<br />
revisitam os seus catálogos antigos e começam a cingir-se<br />
a ícones que lhes dão automática identidade – a<br />
Cartier com um “Ballon Bleu” extra-plano; a Glashütte<br />
Original com o “Sixties Square Tourbillon”; a Jaeger-<br />
-LeCoultre com o “Grande Reverso Ultra Thin Tribute to<br />
1931”; a Omega com o “De Ville Hour Vision Blue”; a Rolex<br />
e a declinação do “Cosmograph Daytona”; a Vacheron<br />
Constantin com o “Historiques Aronde 1954” – são<br />
exemplos disso mesmo.<br />
Além do quadro global de incerteza, num sector que<br />
vive hoje em dia de olhos voltados para a China (onde<br />
tem feito investimentos avultados, com a inauguração<br />
de boutiques mono-marca, a melhor maneira de<br />
chegar ao consumidor local), há um factor que se vai<br />
COFFRINI/AFP/GETTYIMAGES<br />
agravando de dia para dia: a falta de relojoeiros. No<br />
último quarto de século, com o ressuscitar do relógio<br />
FABRICE DE<br />
mecânico, centenas de milhões de novas peças foram<br />
vendidas. Elas têm que ser mantidas, reparadas. Esti-<br />
FUNDO DE<br />
ma-se que o ritmo de formação de relojoeiros seja dez<br />
vezes inferior às necessidades do mercado. Ora, aí está<br />
uma profi ssão de futuro… FOTOGRAFIAS<br />
Carlos Monjardino<br />
INSIDER<br />
“MOMENTOS<br />
ESPECIAIS<br />
E FELIZES FORAM<br />
OS NASCIMENTOS<br />
DOS MEUS<br />
FILHOS”<br />
É o presidente da Fundação<br />
Oriente e um eterno viajante.<br />
Do mundo que percorreu guarda<br />
muitas memórias e uma colecção<br />
de relógios única.<br />
Quem lhe deu o seu primeiro relógio?<br />
Foi o meu pai.<br />
Que relógio era e que idade tinha?<br />
Um Cortebert e tinha 9 anos.<br />
Ainda guarda esse relógio?<br />
Infelizmente não.<br />
Que relógio usa hoje?<br />
Um Franck Muller.<br />
Porquê?<br />
Porque o acho particularmente bonito.<br />
Como se lembrou de se tornar<br />
um coleccionador de relógios?<br />
Foi acontecendo por via das inúmeras viagens<br />
que tenho feito de há 45 anos para cá. Primeiro<br />
com relógios de bolso e depois de pulso.<br />
Quantos relógios tem hoje na sua colecção?<br />
Cerca de 120 relógios de bolso e 40 de pulso.<br />
Qual é a ‘jóia da coroa’?<br />
Um UNIVERSAL, por ter pertencido ao meu pai.<br />
Continua a coleccionar ou já parou?<br />
Continuo mas a um menor ritmo.<br />
Se o luxo fosse um relógio, qual seria<br />
a marca?<br />
Franck Muller.<br />
Os relógios falam de tempo e o tempo<br />
de momentos. Quais os momentos mais<br />
especiais que viveu até hoje?<br />
Especiais e felizes foram os nascimentos<br />
dos meus filhos.<br />
Quando tem tempo para si o que<br />
mais gosta de fazer?<br />
Ler, ver televisão e guiar.<br />
Se lhe dessem uma oportunidade de viajar<br />
no tempo, qual a época e a civilização<br />
que escolheria visitar?<br />
Teria a curiosidade de visitar várias: a Inca<br />
e depois uma visita ao século XVI<br />
e ao século XVIII.<br />
Porquê?<br />
A civilização Inca porque era avançada<br />
para o seu tempo e o século XVI pelos<br />
Descobrimentos – devido ao meu espírito<br />
irrequieto. O século XVIII pela admiração<br />
que tenho pelo Marquês de Pombal.<br />
TEXTO DE INÊS QUEIROZ<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 55
56 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
F<br />
oi um ano recorde para a Christie’s. Só em<br />
leilões de relógios raros, a facturação chegou<br />
aos 91,2 milhões de dólares no fi nal do ano<br />
passado. Qualquer coisa como 63,7 milhões<br />
de euros que, traduzidos em palavras, representam o<br />
valor mais elevado de sempre no que diz respeito a relógios<br />
leiloados num só ano.<br />
Contactada pela Fora de Série, a Christie’s avançou que<br />
já 2009 tinha sido um ano excepcional para este nicho<br />
de mercado específi co. Concretamente, os valores atingidos<br />
em leilão totalizaram os 46 milhões de euros no<br />
fi nal do ano. Ainda assim, nada comparado com aquilo<br />
que se passou em 2010.<br />
De acordo com a leiloeira, entre os relógios com<br />
maior procura, a Patek Philippe foi, sem dúvida, a<br />
marca do ano. Nem de propósito, nove das dez peças<br />
que atingiram os valores de martelo mais elevados<br />
no ano passado foram produzidos por esta casa suíça.<br />
A honrosa excepção foi um Daniel Vaucher, datado<br />
de 1783 e considerado peça única, que ocupou a<br />
oitava posição na tabela dos “10+”.<br />
Trata-se de um relógio de bolso<br />
em ouro branco e amarelo de 18<br />
quilates e esmalte. O relógio, fabricado<br />
para o mercado turco, foi<br />
vendido por 515,2 mil euros a um<br />
coleccionador internacional. Um<br />
valor que, independentemente da<br />
raridade da peça, fi cou a anos de<br />
luz dos 4,4 milhões de euros alcançados<br />
pelo número 1 do ano,<br />
um relógio de pulso Patek Philippe<br />
de 1943, também em ouro de<br />
Negócio<br />
São peças raras, de colecção, que em tempos de crise acabam por ser encaradas como<br />
valores de refúgio. E os números não enganam.<br />
N.º 1<br />
Por 4,4 milhões de<br />
euros, esta peça rara<br />
foi o relógio mais caro<br />
até hoje vendido em<br />
leilão, de acordo com a<br />
Christie’s.<br />
VALORES DE REFÚGIO<br />
TEXTO DE INÊS QUEIROZ<br />
“O RELÓGIO<br />
É UM OBJECTO<br />
CUJO VALOR<br />
CULTURAL<br />
E PATRIMONIAL<br />
ESCAPA <strong>ÀS</strong><br />
MO<strong>DA</strong>S”.<br />
N.º 2<br />
Em ouro rosa, com duas<br />
coroas e mostrador<br />
em esmalte azul, este<br />
Patek Philippe chegou a<br />
valor de martelo de dois<br />
milhões de euros.<br />
18 quilates, leiloado em Maio pela Christie’s de Genebra<br />
e licitado por um museu privado suíço.<br />
A seguir a esta, e também Patek Philippe, as duas peças<br />
que atingiram os valores de martelo mais altos em<br />
2010 foram um relógio de pulso em ouro rosa com<br />
mostrador em esmalte azul, datado de 1953 e comprado<br />
por um coleccionador asiático por dois milhões<br />
de euros, e um relógio com cronógrafo e calendário<br />
perpétuo, de 1957, vendido por 887 mil euros a um<br />
comprador anónimo.<br />
Em anos em que o bom senso apela à contenção de custos,<br />
será sensato que os coleccionadores de relógios invistam<br />
tamanhas exorbitâncias numa peça, ainda que<br />
rara? É provavelmente mais sensato do que os investimentos<br />
ditos tradicionais e a prova disso é o que os valores<br />
atingidos nos últimos anos nos leilões de relógios<br />
já chamaram a atenção de vários ‘players’ do mercado,<br />
nomeadamente gestores de fundos de investimento.<br />
Foi o caso de dois profi ssionais do sector fi nanceiro luxemburgueses,<br />
Miriam Mascherin e Michel Tamisier,<br />
fundadores da empresa Elite Advisers,<br />
que em Janeiro deste ano cria-<br />
ram o ‘Precious Time’, um fundo<br />
inteiramente dedicado a relógios<br />
de colecção. É que, como explicam,<br />
“o relógio é um objecto cujo valor<br />
cultural e patrimonial escapa às<br />
modas. O seu valor aumenta com o<br />
passar dos tempos”. Deste modo, e à<br />
semelhança das “obras de arte, jóias<br />
ou pedras preciosas, os relógios de<br />
colecção são valores de refúgio em<br />
economias mais voláteis”.<br />
N.º 3<br />
Fabricado em 1957,<br />
este relógio foi leiloado<br />
no ano passado em<br />
Genebra, tendo sido<br />
vendido por 887 mil<br />
euros.<br />
FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA LEILOEIRA
Roberto<br />
Passariello<br />
é director de<br />
comunicação e<br />
marketing da Bell &<br />
Ross. Apesar de andar<br />
a mil, diz-se muito<br />
cioso do seu tempo,<br />
até porque “o tempo<br />
que passa é a vida<br />
que passa”, diz.<br />
58 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Negócio<br />
VENDEDOR DE SONHOS<br />
Roberto Passariello tem dedicado a vida a vender sonhos. Hoje, fá-lo com o tempo.<br />
Uma indústria conservadora que ainda vive muito de códigos e simbolismos.<br />
TEXTO DE RITA SAL<strong>DA</strong>NHA <strong>DA</strong> GAMA FOTOGRAFIA DE PAULO ALEXANDRE COELHO<br />
uando chegou ao mundo da alta relojoaria,<br />
já lá vão três anos, fez-lhe confusão como é<br />
que num mercado onde se “vende” o tempo,<br />
o tempo tinha parado. Como é que em<br />
todas as publicidades, os relógios marcam<br />
as dez e dez, perguntava-se. Porque não as duas menos<br />
dez? Porque não ao contrário? Qualquer coisa desde que<br />
mostrasse o tempo a passar. “Isto é simbólico do conservadorismo<br />
desta indústria. É um mercado muito codifi -<br />
cado”, diz Roberto Passariello, director de comunicação<br />
e marketing da Bell & Ross. “Um conservadorismo numa<br />
indústria muito manual, muito vincada pela tradição”,<br />
acrescenta.<br />
Rendeu-se. À tradição junta-lhe hoje valores como a qualidade,<br />
a estética, mas também a simplicidade e a funcionalidade<br />
para jogar com o imaginário dos homens.<br />
“Vendo sonhos”, diz. Foi o que sempre fez. Apesar de ter<br />
um curso de engenharia química, foi na publicidade e na<br />
gestão de produtos que sempre trabalhou. Primeiro em<br />
agências de publicidade como a americana DMB&B ou<br />
a BBDO, depois no mundo da fantasia por excelência, a<br />
Disney em Paris, mesmo antes de se fi xar na Eurosport.<br />
“Tem tudo a ver com o imaginário masculino”, expli-<br />
ca. Quem é que na infância nunca sonhou ser piloto de<br />
avião, de carros de Fórmula 1 ou até trabalhar na Nasa?<br />
É nesses sonhos que a marca se inspira. É com base nos<br />
pilotos que a Bell & Ross cria os modelos. Qualquer coisa,<br />
desde que tenha uma base militar, serve para dar origem<br />
a um relógio da marca. Desde o painel de um ‘cockpit’, tatuagens<br />
de soldados ou símbolos em aviões de combate.<br />
“É uma inspiração profi ssional para profi ssionais”, conta<br />
Passariello, cuja missão é a de “ter a certeza que estamos<br />
sempre a dizer a mesma coisa e a ser consistentes com a<br />
nossa história”, diz.<br />
Apesar de ser uma marca recente, a Bell & Ross abriu, este<br />
ano, uma nova sede em Paris e mais sete lojas só na Ásia.<br />
Em Portugal, aumentou os pontos de venda, assim como<br />
no resto do mundo. Mas não só. A presença crescente das<br />
marcas de luxo na Web fê-los apostar numa loja ‘online’.<br />
Primeiro na Europa, depois nos Estados Unidos. “Actualmente,<br />
a Internet representa para nós o equivalente ao<br />
volume de vendas de uma loja física”, adianta o director<br />
de marketing da marca.<br />
Apesar de não ser um grande coleccionador, Roberto Passariello<br />
ainda guarda o primeiro relógio. “Um Tissot ou<br />
um Seiko. Já não tenho bem a certeza. Foi um relógio que<br />
o meu pai me deu quando acabei os estudos”. Hoje, é um<br />
Bell & Ross que traz ao pulso, até porque esta é a melhor<br />
maneira de fazer publicidade às novidades da marca. Reconhece,<br />
no entanto, que enquanto as mulheres vêem<br />
o relógio como um acessório de moda, “para os homens,<br />
a relação é bem mais emocional”.<br />
“PARA AS MULHERES<br />
UM RELÓGIO É UM<br />
ACESSÓRIO DE MO<strong>DA</strong>.<br />
PAR A OS HOMENS A<br />
RELAÇÃO É BEM MAIS<br />
EMOCIONAL”.
60 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Tendência<br />
PEQUIGNET,<br />
O TEMPO SOB A LUZ<br />
A alta relojoaria francesa apresenta-se sob o signo Pequignet Manufacture.<br />
A engenharia faz o ‘Tic’, a estética dá-lhe o ‘Tac’ e a marca conta as badaladas<br />
ao ritmo das melhores e mais recomendadas casas de relojoaria.<br />
Os modelos “Calibre Royal” nascem<br />
das mãos dos peritos relojoeiros nos<br />
laboratórios de Morteau, em França,<br />
e estão a marcar pontos no mercado<br />
mundial, incluindo por cá. Mas já que<br />
o tempo é matéria nossa, vamos manobrá-lo<br />
e voltar atrás, ao coração da relojoaria franco-suíça,<br />
no ano de 1973. Pequignet, músico,<br />
cavaleiro e esquiador, era<br />
um homem de várias paixões<br />
que se achou desiludido<br />
com o aspecto dos relógios de<br />
pulso por ser impossível distinguir,<br />
à vista desarmada, o<br />
que era um bom e o que era<br />
um mau relógio. Falava-lhe o<br />
apelo da beleza, da criatividade<br />
e da elegância, elementos<br />
de apresentação que a marca<br />
defende até hoje.<br />
A Pequignet passou por vários<br />
empreendedores, deu-se à elaboração<br />
exterior em tons de<br />
luxo mas recorreu sempre à<br />
técnica e aos mecanismos dos<br />
vizinhos suíços. Em 2008 quis<br />
sonhar mais alto e então afirmou-se<br />
como a marca de relojoaria<br />
francesa de excelência.<br />
Testaram os elementos da sua<br />
criação ao longo de seis dolorosos<br />
meses em que aceleraram<br />
o processo de envelhecimento<br />
das peças e as submeteram<br />
a choques térmicos e<br />
físicos. Por fim, deram por garantido<br />
o sucesso e lançaram o primeiro mecanismo<br />
totalmente pensado, desenvolvido e montado<br />
nas oficinas de Morteau.<br />
Um ano mais tarde a Pequignet começa a receber<br />
os primeiros prémios de inovação. Em 2010 cria e<br />
TEXTO DE DIANA MOREIRA<br />
PEQUIGNET<br />
CRIOU A PRÓPRIA<br />
MARCA. ESTAVA<br />
DESILUDIDO<br />
COM O ASPECTO<br />
DOS RELÓGIOS<br />
DE PULSO.<br />
lança o primeiro movimento exclusivo. Em 2010<br />
apresenta a colecção “Royale”, na Feira de Basileia,<br />
sob o olhar atento de conhecedores e amantes da<br />
relojoaria de alta-roda. Foram produzidos por<br />
encomenda uns estreantes 300 exemplares. É<br />
já no início deste ano que decide apostar no<br />
regime de venda directa ao mercado português.<br />
Foi por isso pouco o tempo gasto nesta<br />
ascensão e reconhecimento<br />
da obra própria e muito o<br />
tempo dispendido na elaboração<br />
dos 318 componentes<br />
do “Calibre Royale”.<br />
Esta é uma colecção que, de<br />
acordo com a marca, consegue<br />
dar resposta à tensão entre<br />
Binário e Desgaste, que<br />
resulta numa peça de alta<br />
precisão e que preserva o relógio<br />
evitando o esforço. Por<br />
outro lado, consegue conter<br />
nos seus 5,88 milímetros de<br />
espessura todas as complica-<br />
ções e dar-lhes toda a corda<br />
para um desempenho em<br />
modo fiável.<br />
Cristais e lentes garantem<br />
a transparência através da<br />
safira, um material que só<br />
o diamante consegue riscar.<br />
Os diamantes são certificados<br />
individualmente quanto<br />
às suas dimensões e regularidade<br />
antes de receberem<br />
a garantia e poderem ser colocados<br />
na peça. E como o<br />
tempo não atravessa os materiais aqui trabalhados<br />
– safira, diamante, ouro e platina – a casa garante<br />
o armazenamento de centenas de peças para que<br />
os possíveis herdeiros e as gerações futuras, nunca<br />
percam o pulso ao seu relógio.<br />
FOTOGRAFIAS CEDI<strong>DA</strong>S PELA MARCA
Se pensarmos bem, há muito de alta relojoaria<br />
no universo da hotelaria de topo. Ora<br />
vejamos: a relojoaria procura, na complicação<br />
dos seus mecanismos e peças minúsculas,<br />
atingir a perfeição. Os segundos, minutos e<br />
horas medidos com precisão, numa máquina em<br />
que cada peça sabe rigorosamente a sua função e se<br />
move no sentido de que nada falhe. Nos relógios, tal<br />
como nos hotéis de luxo, os detalhes valem ouro e o<br />
prazer reside precisamente neles.<br />
Sandro Fratini, empresário e coleccionador de relógios,<br />
sabia, de experiência própria, que estaria a falar<br />
uma linguagem nova – e apelativa aos afi cionados,<br />
como ele, pelo mundo dos relógios – quando criou o<br />
conceito do Hotel L’Orologio, em Florença. Um hotel<br />
como nenhum outro no mundo, que conta a passagem<br />
das horas na cidade do Renascimento.<br />
Proprietário de uma impressionante colecção de mais<br />
de dois mil relógios ‘vintage’ de três das mais prestigiadas<br />
marcas – Rolex, Patek Philippe e Vacheron<br />
Constantin –, em vez de esconder a sua colecção em<br />
casa, Fratini quis antes partilhá-la e fez do universo<br />
dos movimentos, das rodas dentadas e dos calibres,<br />
uma casa para os seus hóspedes.<br />
Inquestionavelmente com o público masculino como<br />
‘target’, o L’Orologio (L’O, para os mais íntimos)<br />
fi ca virado para a Piazza Santa Maria Novella, uma<br />
das mais fantásticas de Florença. O hotel divide os<br />
62 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Evasão<br />
L’O HOTEL L’OROLOGIO<br />
Piazza Santa Maria Novella, nº24<br />
Florença – Itália<br />
Tel.: +39 055 277380<br />
E-Mail: info@hotelorologio.it<br />
Mais informações em www.whythebesthotels.com<br />
DORMINDO COM O TEMPO<br />
Uma coisa é certa: quem se hospeda no L’O, em Florença, nunca chega atrasado aos seus compromissos.<br />
Fica difícil, quando o hotel está decorado com mais de dois mil relógios…<br />
TEXTO DE RITA IBÉRICO NOGUEIRA<br />
NOS RELÓGIOS,<br />
TAL COMO NOS HOTÉIS<br />
DE LUXO, OS DETALHES<br />
VA LEM OURO<br />
E O PRAZER RESIDE<br />
PRECISAMENTE<br />
NELES.<br />
dedicado à sua manufactura. Cada quarto é decorado<br />
com fotografi as e pinturas de determinados modelos<br />
de relógio, de colecções que atravessam boa parte<br />
do século XX, dos anos 20 à década de 70. Com uma<br />
vista desafogada, é do terceiro piso, dedicado à Patek<br />
Philippe, que se pode desfrutar da melhor paisagem,<br />
sobre a catedral Santa Maria del Fiore e a sua cúpula,<br />
da autoria de Bruneleschi.<br />
Se Fratini é a cabeça por trás do negócio – foi o fundador<br />
e mantém-se à frente do Hotel, bem como do<br />
grupo Whythebest, que detém mais hotéis de charme<br />
espalhados por Itália –, é Antonella, a sua mulher,<br />
a peça mais importante na engrenagem. É ela<br />
que fi ca atenta ao mecanismo, a ver se nada falta, e<br />
dirige a orquestra de empregados que compõem o<br />
serviço atento deste hotel temático, na melhor tradição<br />
hospitaleira de Florença.<br />
A arquitecta Marianna Gagliardi assina os interiores,<br />
inspirados no mundo dos homens. O ambiente é<br />
morno, temperado a couro, bronze, mármore, veludo,<br />
madeiras, que, em cada canto, ressuscitam o conceito<br />
relojoeiro. Um mecanismo aqui, uma peça ali. É o caso<br />
do ‘smoking lounge’, do bar e da sala de leitura, que<br />
formam quase um clube masculino onde se incluem<br />
uma lareira trabalhada e uma mesa de ‘snooker’. É,<br />
certamente, um dos hotéis boutique mais ‘hip’ de Florença<br />
– local nada descabido para o receber, já que, to-<br />
HOTEL<br />
PELO CEDI<strong>DA</strong>S<br />
dos os anos, a cidade dá as boas-vindas à Pitti Uommo,<br />
seus 54 quartos por três andares distintos, cada um uma feira de moda masculina. A visitar.<br />
FOTOGRAFIAS
5<br />
2011<br />
novidades d d<br />
RELÓGIOS<br />
Nunca se tem só um. Como nos<br />
automóveis, há os utilitários, os<br />
desportivos, os clássicos. E há os de<br />
senhora, verdadeiras jóias de trazer<br />
no pulso. Para coleccionadores ou<br />
simples admiradores, as últimas<br />
novidades para ler o tempo.<br />
TEXTO DE<br />
RITA IBÉRICO NOGUEIRA<br />
64 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
8<br />
1<br />
6<br />
3<br />
9<br />
7<br />
10<br />
4<br />
2<br />
13<br />
12<br />
11<br />
HHOMEM
S<br />
SENHORA<br />
6 8<br />
10<br />
9 11<br />
5<br />
7<br />
3<br />
1<br />
4<br />
2<br />
HOMEM<br />
DESPORTIVOS<br />
1.<br />
Panerai “Luminor 1950 Chrono”<br />
monopulsante titânico (para<br />
canhotos). Edição especial 150<br />
unidades.<br />
2.<br />
Chanel “J12 Marine” em cerâmica,<br />
com pulseira em borracha, com<br />
movimento mecânico resistente à<br />
àgua a 300m.<br />
3.<br />
Porsche Design “Le Mans P’6612<br />
Dashboard”. Homenagem à vitória<br />
da Porsche no Le Mans de 1970.<br />
Preço: 4,917 euros.<br />
4.<br />
Louis Vuitton “Tambour XL<br />
Automatique Regatta Navy”. Edição<br />
limitada a 250 relógios.<br />
CLÁSSICOS<br />
5.<br />
Glashütte Original “Senator<br />
Automatic”, em ouro encarnado.<br />
Pulseira em crocodilo.<br />
6.<br />
Cartier “Rotunde Astrorregulador”,<br />
em titânico com pulseira em couro.<br />
Calibre 9800MC. Série limitada e<br />
numerada a 50 peças.<br />
7.<br />
Vacheron Constantin “Quai de<br />
L’lle”. Calendário anual retrógrado,<br />
personalizável em 700 variações<br />
possíveis.<br />
8.<br />
IWC “Portuguese Automatic” com<br />
movimento mecânico, em ouro<br />
branco e pulseira em crocodilo.<br />
9.<br />
Girard-Perregaux “Vintage 1945<br />
XXL”, de inspiração ‘art deco’, caixa<br />
rectangular ouro rosa. Pulseira em<br />
crocodilo. Também disponível em<br />
aço.<br />
MODERNOS<br />
10.<br />
Zenith “El Primero Stratos Flyback”.<br />
Cronógrafo automático, bracelete<br />
em crocodilo.<br />
11.<br />
Hublot “Big Bang Aero Bang Gold”<br />
em ouro encarnado, mostrador<br />
esqueleto, pulseira em crocodilo.<br />
Movimento de corda manual.<br />
Cronógrafo.<br />
12.<br />
Roger Dubuis “Excalibur” de corda<br />
manual e micro-rotor e turbilhão<br />
voador em ouro branco. Limitado a<br />
88 edições.<br />
13.<br />
Bulgari “Octo Grande Sonnerie<br />
Tourbillon”, da colecção “Daniel<br />
Roth & Gérald Genta”, em ouro<br />
branco e pulseira em crocodilo.<br />
SENHORA<br />
MARCAS DE MO<strong>DA</strong><br />
1.<br />
Louis Vuitton “Tambour Bijou<br />
Pétale” em aço com diamantes.<br />
2.<br />
Chanel “J12” de 29mm em cerâmica<br />
preta com diamantes no aro e<br />
nos indicadores do mostrador.<br />
Movimento de quartzo.<br />
3.<br />
D&G “BBQ” em aço dourado<br />
ionizado. Preço: 202 euros.<br />
4.<br />
Versace “Destiny Precious” com<br />
mostrador em madre-pérola,<br />
diamantes e safi ras, pulseira em pele<br />
de lagarto. Preço: 2.460 euros.<br />
ALTA-RELOJOARIA<br />
5.<br />
Boucheron “Kephri” com<br />
escaravelho em lapis lazuli com<br />
esmeraldas e pulseira de diamantes.<br />
6.<br />
Glashütte Original “Panomatic<br />
Luna White” em madre-pérola e<br />
diamantes e pulseira de borracha.<br />
7.<br />
Piaget “Limelight Garden Party” em<br />
ouro branco, diamantes e pulseira<br />
em seda preta.<br />
8.<br />
Roger Dubuis “Excalibur” em ouro<br />
rosa com diamantes e pulseira em<br />
seda cinzenta.<br />
9.<br />
Chopard “Owl” da linha “Animal<br />
World”.<br />
10.<br />
Hublot “Big Bang Gold Leopard”,<br />
cronógrafo mecânico em ouro<br />
encarnado.<br />
11.<br />
Omega “Constellation” em ouro<br />
rosa com diamantes e pulseira em<br />
crocodilo branco.<br />
Especial Jóias Maio 2011 Fora de Série 65
66 Fora de Série Especial Jóias Maio 2011<br />
Crónica<br />
Sulista, elitista e pedante* . Rodrigo Moita de Deus<br />
NOT MADE IN CHINA<br />
Òpá – E quando achamos que o nosso<br />
português é especialmente maltratado<br />
nas escolas, passo pelo canal<br />
Parlamento e vejo o nosso primeiro.<br />
Na casa da democracia, em resposta a<br />
um deputado, larga um “òpá”. Assim<br />
mesmo. “Òpá”. Não foi um “pá”. Foi<br />
um “òpá” (declinação do “pá”). A<br />
coisa passou. Nem sequer foi comentada. Nem havia razões<br />
para isso. O “pá” e o “òpá” estão quase institucionalizados e<br />
vão sendo utilizados como pontuação. Pontuação tipo dois<br />
pontos, tipo ponto de exclamação ou de interrogação. “O que<br />
é isso òpá”. “ÒPá, que é isso”. Ou simplesmente “pá”. Também<br />
serve de adjectivo, isso é muito “pá”, ou de verbo, eu pá, tu<br />
pá, ele òpá. São pazadas, umas atrás das outras, no português.<br />
Sem que o português se importe muito com isso.<br />
Multiculturalidade I – Estive com Dominque de Villepen<br />
nas Conferências do Estoril. Diz-se que pode ser candidato<br />
às presidenciais em França. Alto como um nórdico, forte<br />
como um espanhol, vestido como um inglês, sedutor como<br />
um italiano, eloquente como um americano. Bom de ver<br />
que vai perder as eleições. Afinal, sempre estamos a falar<br />
de França.<br />
Multiculturalidade II – Sabendo o que sei, “not made in<br />
China” seria hoje uma boa etiqueta para acrescentar aos<br />
produtos.<br />
Peão – Ofereci três peões aos meus três filhos. Peões. Daqueles<br />
antigos, de madeira, de enrolar o cordel. Não tinha<br />
grandes esperanças na coisa. Um peão é um objecto estranho<br />
para quem tem uma Xbox no quarto. Com a falta de jeito<br />
própria da idade lá fiz uma exibição da coisa. Uma vez. Duas<br />
vezes. As vezes suficientes até acertar. E quando finalmente<br />
acertei vi a reacção da criançada. O mais novo olhava para<br />
mim como se estivesse a fazer magia. Os restantes estavam<br />
mais impressionados com o objecto do que com o 3D do FIFA<br />
2010. A geração da Xbox ficou tão fascinada com o assunto<br />
como o meu avô.<br />
Finlandeses – Tenho lido alguns intelectuais artigos sobre<br />
o famoso vídeo. É verdade. Tem imprecisões. A Roménia<br />
também nunca ganhou um festival da Eurovisão e tenho<br />
dúvidas que o Ronaldo português seja melhor que o Ronaldo<br />
brasileiro. Tudo o resto era para fazer sorrir.<br />
Campanha – Há qualquer coisa de ideológico na forma como<br />
os líderes partidários se vestem. O conservadorismo de Paulo<br />
Portas vê-se nos ‘tweeds’. A vontade de Francisco Louçã<br />
em formar um governo de esquerda vê-se na forma como<br />
passou a utilizar mais os blazers. A linha dura de Jerónimo<br />
de Sousa reflecte-se no estilo operário com que se apresenta<br />
aos portugueses e o estilo chique/Milão é uma constante nos<br />
fatinhos de três botões do primeiro-ministro socialista. E ao<br />
contrário do que dizem, não há neoliberalismo algum nos<br />
fatos de dois botões de Passos Coelho.<br />
*A palavra “pedante” vem do italiano.<br />
Na língua dos romanos signifi ca “mestre-escola”. Talvez por<br />
isso adquiriu mais tarde signifi cado de formalista ou pessoa<br />
excessivamente preocupada com detalhes. Estranho mundo,<br />
este, onde pedante é insulto.