14.05.2013 Views

Milenismo Realista.pdf (171,4 kB) - Webnode

Milenismo Realista.pdf (171,4 kB) - Webnode

Milenismo Realista.pdf (171,4 kB) - Webnode

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

Apocalipse 20<br />

Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

Sumário<br />

1. Introdução ........................................................................................................................... 3<br />

2. Análise de Apocalipse 20 ................................................................................................... 4<br />

2.1) A Prisão de Satanás por Mil Anos (Ap 20:1-3) .......................................................... 4<br />

2.2) O Reinado dos Santos por Mil Anos (Ap 20:4-6) ....................................................... 6<br />

2.3) Satanás Solto, a Última Batalha e Sua Prisão Definitiva (Ap 20:7-10) ...................... 8<br />

2.4) O Juízo Final (Ap 20:11-15) ....................................................................................... 9<br />

3. Conclusão ......................................................................................................................... 11<br />

2


<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong> 1<br />

1. Introdução<br />

Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

Apocalipse 20 é o único texto das Escrituras onde ocorrem menções<br />

(seis ao todo) ao período de mil anos. A natureza do milênio é causa de muita<br />

polêmica, desde os primórdios da Igreja.<br />

Na Igreja primitiva, a despeito da propalada “unanimidade” nesse<br />

período em torno da crença em um milênio literal de Cristo na terra, segundo lição<br />

de Berkhof, “os aderentes desta doutrina eram de número algo limitado”,<br />

afirmando ainda este teólogo que “não há nenhum traço da doutrina em Clemente<br />

de Roma, Ignácio, Policarpo, Tarciano, Atenágoras, Teófilo, Clemente de<br />

Alexandria, Orígenes, Dionísio, e outros pais importantes da Igreja”.<br />

Todavia, supondo que haja razão entre os pré-milenistas quando<br />

afirmam a “unanimidade” da aceitação do milênio literal, isso, por si só, ainda não<br />

seria suficiente para capitularmos ante o quliasmo nos moldes traçados por esta<br />

escola. Em sendo assim, isto é, com base tão só nos ensinos dos pais apóstólicos<br />

e posteriores, teríamos que aceitar as noções de fogo purgatorial, de livre arbítrio<br />

e da forma episcopal de governo eclesiástico com distinção entre bispos e<br />

presbíteros, doutrinas surgidas nos primeiros séculos da Igreja e aceitas nesse<br />

período com razoável “unanimidade”.<br />

Destarte, o que nos compete neste estudo é proceder uma análise<br />

acurada de Apocalipse 20, sobretudo à luz do ensino escatológico do Novo<br />

Testamento, momento após o qual nos fez concluir pela escatologia dita<br />

equivocadamente amilenista. Em verdade, o amilenismo não pugna pela<br />

inexistência de um milênio, mas o concebe como sendo o período compreendido<br />

entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, ou, mais precisamente, entre a<br />

primeira vinda de Cristo e o momento histórico correspondente à apostasia, à<br />

perseguição e à manifestação do Anticristo, que antecederá a segunda vinda.<br />

Nesse diapasão, propus como título do presente excerto nome que<br />

considero adequado para caracterizar com mais precisão o pensamento<br />

amilenista, qual seja: milenismo realista. É isso que desejamos demonstrar, que<br />

há, sim, um milênio, mas, ao contrário do milênio otimista do pós-milenismo e do<br />

milênio literal das formas de pré-milenismo, ambos utópicos, concebemos um<br />

1 Anotações utilizadas no Fórum de Debates em torno da interpretação de “Apocalipse 20:<br />

Amilenismo x Pré-milenimo”, promovido pelo STEC – Seminário Teológico Evangélico<br />

Congregacional, em 09 de dezembro de 2011.<br />

3


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

milênio real, despido das fantasias que caracterizam aquelas escolas e<br />

consetâneo com o ensino do Novo Testamento.<br />

Como já anotei em nossas “Exposições de Apocalipse” outrora: “...<br />

estamos hoje vivendo o reino milenar, que começou na primeira vinda de Cristo e<br />

terminará pouco antes da segunda vinda, quando Satanás será solto por um<br />

pouco de tempo. Nesse período, Satanás está preso, no sentido em que não pode<br />

impedir a propagação do evangelho. São as bênçãos do milênio, portanto, que<br />

tornam possíveis os avanços evangelísticos e missionários da igreja. Enquanto a<br />

igreja na terra avança, os crentes que já morreram estão vivendo e reinando com<br />

Cristo, no céu, aguardando o dia da ressurreição dos corpos. Seu estado atual é<br />

de bem-aventurança indizível, embora não completa até que ressucitem com seus<br />

corpos”.<br />

Como veremos, pois, Apocalipse 20 é dividido em quatro seções<br />

facilmente discerníveis. Nos versos 1-3 ouvimos notícia da prisão de Satanás por<br />

mil anos; nos versos 4-6, nesse mesmíssimo período descrito como “mil anos”, os<br />

santos mortos reinam no céu; os versos 7-10 descrevem o que ocorrerá após os<br />

mil anos: a soltura de Satanás por um pouco de tempo, sua última e maior<br />

investida contra a Igreja de Deus e sua prisão definitiva no lago de fogo; e,<br />

finalmente, os versos 11-15 nos dão conta do último julgamento perante o grande<br />

trono branco. De plano, percebe-se que as duas primeiras seções são paralelas,<br />

tratam da mesma época, que são seguidas cronologicamente pelas seções<br />

terceira e quarta. Voltemo-nos ao texto.<br />

2. Análise de Apocalipse 20<br />

2.1) A Prisão de Satanás por Mil Anos (Ap 20:1-3)<br />

(1) E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande<br />

cadeia na sua mão.<br />

João viu um anjo descer do céu. Ele tem a chave do abismo e uma<br />

grande cadeia na mão. “Abismo” ocorre sete vezes em Apocalipse (9:1,2,11; 11:7;<br />

17:8; 20:1,3). Em Ap 9, quem abre o abismo é uma “estrela caída” (que tinha<br />

caído), “Abadon” e “Apoliom”, a saber, Satanás (Lc 10:18). De lá saíram os<br />

gafanhotos demoníacos que torturaram os incrédulos. Em Ap 11:7, o abismo<br />

prende a besta até que as testemunhas concluam seu ministério (Mt 24:14). Em<br />

17:8, o abismo é uma espécie de lar de Satanás, donde emanará o Anticristo.<br />

“Abismo”, pelo que se percebe, é simbólico do cerceamento do poder de Satanás.<br />

Quando aberto, Satanás ganha liberdade para agir; quando preso no abismo, sua<br />

influência fica limitada.<br />

(2) Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrouo<br />

por mil anos.<br />

4


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

O anjo que João viu prendeu Satanás por mil anos. O verbo ‘krateo’<br />

(prender, segurar firme, capturar) é usado em 7:1 para expressar a limitação<br />

exercida sobre os quatro anjos até que os remidos fossem selados.<br />

O verbo “deo” (amarrar) ocorre em Mt 12:29 (cf. Mc 3:27), quando o<br />

Senhor ensinou que é necessário entrar na casa do valente, que é Satanás, e<br />

prendê-lo. Com efeito, nosso Senhor já havia começado o processo de “atamento”<br />

do “homem valente” com a chegada do Reino de Deus na pessoa do Messias, o<br />

que pode ser verificado na medida em que estava expulsando demônios, mas só<br />

estaria Satanás definitivamente “amarrado” na vitória de Cristo na cruz,<br />

demonstrada plenamente na Sua ressurreição e ascensão.<br />

Os apóstolos também constataram que a partir da autoridade que<br />

receberam, os espíritos malignos cediam derrotados, o que o Senhor Jesus<br />

explica em termos da queda de Satanás como um relâmpago (Lc 10:17,18). É<br />

dizer: na missão dos setenta, o Senhor viu o prenúncio da completa ruína de<br />

Satanás, definitavemente encerrada na cruz.<br />

Percebe-se que esse tipo de linguagem usada nos Evangelhos não<br />

quer dizer que Satanás está absolutamente imobilizado. Termos como “destruir”<br />

(Hb 2:14-15), “despojar” (Cl 2:14-15), “expulsar” (Jo 12:31) e “amarrar” indicam tão<br />

só que o poder de Satanás foi radicalmente limitado, a ponto do “homem valente”<br />

perder cada dia bens valiosos que achava que eram seus.<br />

Digno de nota igualmente é a linguagem do proto-evangelho, in verbis:<br />

“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu<br />

descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15).<br />

Nesse texto, podemos destacar o que segue: 1) a semente da mulher é Cristo; 2)<br />

a serpente é Satanás; 3) a semente da mulher, que é Cristo, feriria a cabeça da<br />

serpente, que é Satanás, na obra redentora da cruz do Calvário. A antiga serpente<br />

com a cabeça esmagada, sacudindo-se em seus estertores de morte, é uma figura<br />

vívida de como Satanás foi absolutamente derrotado e sua influência foi<br />

radicalmente limitada na cruz, sem que isto signifique inatividade absoluta.<br />

Fácil perceber, do exposto, que a linguagem joanina não precisa referirse,<br />

necessariamente, à completa impossibilidade de atuação satânica, devendo<br />

ser compreendido que João estar-se-ia retornando à primeira vinda do Senhor,<br />

momento em que Satanás teve sua liberdade de ação seriamente restringida.<br />

(3) E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não<br />

mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que<br />

seja solto por um pouco de tempo.<br />

João continua descrevendo o que viu. O anjo lançou Satanás no<br />

abismo, o trancou e pôs sêlo sobre ele. “Lançar”, “trancar” e “selar” indicam que<br />

Satanás teria seu raio de ação, seu âmbito de atuação, gravemente limitado.<br />

5


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

O objetivo deste aprisionamento é “para que não mais engane as<br />

nações”. Isso é perceptível do ponto de vista histórico. Enquanto na era véterotestamentária<br />

o conhecimento de Deus estava restrito a uma única nação (Rm 3:2;<br />

Sl 147:19,20; At 14:16), a partir da ascensão do Senhor Jesus, Satanás não<br />

impediria, como de fato não impediu, o avanço do evangelho e sua proclamação<br />

em todas as nações.<br />

O tempo em que isso ocorre é descrito: “até que sejam completados os<br />

mil anos”. Se o trancamento de Satanás é simbólico das restrições que sofre em<br />

sua atuação, melhor é compreender “mil anos“ como igualmente simbólicos.<br />

Imaginamos assistir razão a Hendriksen, quando afirma que “uma interpretação<br />

literal desse número, em um livro de simbolismo, especialmente neste capítulo<br />

saturado de símbolos, é deveras um obstáculo considerável”, mormente diante da<br />

absoluta ausência de sua menção em todos os discursos escatológicos do Novo<br />

Testamento. O evangelista João, “com certeza, empregou mil anos em vez do<br />

conjunto dos anos deste século para marcar, com um número perfeito, a plenitude<br />

do próprio tempo”(Agostinho).<br />

Passados os “mil anos”, “é necessário” ser Satanás solto por “pouco<br />

tempo”. O termo “dei” (importa) nos remete à intangibilidade da condução divina<br />

da história. Faz parte do plano de Deus que Satanás volte a ter uma liberdade<br />

maior nos dias que antecederem imediatamente a vinda do Senhor em glória.<br />

Esse período corresponde à apostasia, à manifestação do Anticristo e à última<br />

grande e incomparável perseguição sofrida pela igreja (Mt 24:15-22; II Ts 2:3-10).<br />

Por causa dos eleitos, esses teríveis dias serão breves (Mt 24:22). Em Apocalipse,<br />

essa soltura de Satanás por pouco tempo já foi descrita em termos da soltura da<br />

besta que surge do abismo após as testemunhas concluírem seu ministério (11:7).<br />

2.2) O Reinado dos Santos por Mil Anos (Ap 20:4-6)<br />

(4) E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi<br />

as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra<br />

de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o<br />

sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo<br />

durante mil anos.<br />

João quer levar-nos a perceber a realidade das coisas. Aparentemente,<br />

Satanás venceu os mártires (Ap 11:7). Esta não é, todavia, a verdade dos fatos<br />

por detrás do que se vê. Satanás está derrotado e amarrado no abismo e, a<br />

despeito dos sofrimentos que perpetra contra os crentes, ele só perde terreno. Os<br />

santos, por outro lado, João no-los apresenta vivos e em tronos, julgando,<br />

reinando com Cristo em tronos por mil anos.<br />

6


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

João viu “as almas daqueles que foram degolados”. A descrição é<br />

semelhante a 6:9. “Almas” aqui tem o sentido de alma sem corpo, como em 6:9.<br />

“Os que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus” são<br />

os mártires, não necessariamente os “degolados” (como João Batista e Tiago, cf<br />

Mt 14:3-12; At 12:2), o que excluiria o próprio João, que sofreu morte natural, ou<br />

Pedro, que foi crucificado de cabeça para baixo, segundo a tradição.<br />

“Os que não receberam o sinal da besta em suas testas nem em suas<br />

mãos” são uma alusão a todos os demais crentes genuínos, que deram<br />

testemunho da fé em Cristo. João quer dizer que os santos, fiéis e obedientes a<br />

Cristo que são, ainda que não tenham sofrido a morte de um mártir, estão<br />

reinando com Ele (3:21).<br />

Pois bem, todos os santos “viveram e reinaram com Cristo por mil<br />

anos”. Das quarenta e sete ocorrências da palavra “trono” em Apocalipse, todas<br />

parecem referir-se a tronos nos céus, à exceção de três referências ao trono de<br />

Satanás e da besta (2:13; 13:2; 16:10). É dizer, em Apocalipse, só Satanás, o<br />

deus deste século, tem trono na terra. Pelo que não é difícil perceber que esta<br />

seção (4-6) descreve o que se passa no céu, enquanto a anterior (1-3), o que<br />

ocorre na terra.<br />

Mas seria possível o uso do verbo “zao” para descrever a vida dos<br />

santos no estado intermediário? Ou só pode ser entendido em termos de uma<br />

ressurreição física? O verbo “ezesan” (zao) ocorre em Ap como significando<br />

ressurreição física, como em 2:8 (cf. Mt 9:18; Rm 14:9; II Co 13:4). E, em verdade,<br />

João está tratando aqui de uma espécie de ressurreição, como dirá no verso 5<br />

(“esta é a primeira ressurreição”).<br />

Todavia, no livro de Apocalipse, “zao” nem sempre é utilizado no<br />

sentido de ressurreição corporal, como se dá em 4:9, 10; 10:6; 15:7. Em 3:1, o<br />

verbo descreve a suposta vida espiritual de Sardes. Em Lucas 15:24, 32, o verbo<br />

é usado na parábola do filho pródigo para expressar seu nascimento espiritual, ele<br />

esteve morto, mas está “vivo”.<br />

Respondendo a argumentação de George Ladd, segundo a qual o<br />

verbo “zao” nunca é usado no Novo Testamento para referir-se a almas vivendo<br />

após a morte, Anthony Hoekema observa o seu uso em Lc 20:38. Ali, ocorre a<br />

forma “zosin” ( “... porque para ele todos vivem”), o presente de “zao”, para indicar<br />

que os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó estão vivos, ainda que sem ressurreição<br />

física.<br />

Do exposto, fácil perceber que João descreve o estado intermediário<br />

dos salvos em termos de uma ressurreição. Com efeito, para o crente, há mais<br />

vida na morte do que vida na vida. Falar da morte do crente como uma<br />

ressurreição é tão só juntar-se à voz uníssona de todo o ensino do Novo<br />

7


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

Testamento (cf. Fp 1:23; II Co 5:8; Lc 16:19-22; 23:43; Jo 11:25,26) e a mais bela<br />

forma de usar a verdade para consolar os crentes em perseguição.<br />

(5) Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é<br />

a primeira ressurreição.<br />

João, em verdade, teve uma visão sobre dois resultados da morte em<br />

dois grupos distintos de pessoas. Para alguns, morrer é viver. “Os outros mortos”,<br />

a seu turno, quando morrem, não gozam da vida que os crentes recebem. Estes<br />

eram vivos na vida e quando morrem ganham mais vida ainda. Aqueles eram<br />

mortos na vida (Mt 8:22) e quando morrem recebem mais morte ainda. Os<br />

incrédulos não participam da primeira ressurreição. Eis a mensagem de João: os<br />

mortos incrédulos nem viveram nem reinaram com Cristo durante os mil anos.<br />

(6) Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre<br />

estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo,<br />

e reinarão com ele mil anos.<br />

A primeira ressurreição, portanto, é espiritual, experiência privativa dos<br />

crentes, sobre quem João registra sua quinta bem-aventurança. Ademais, embora<br />

sobre os santos sobrevenha a primeira morte (a morte física), a segunda morte (a<br />

separação eterna de Deus) não tem qualquer domínio sobre eles. Antes, serão<br />

sacerdotes de Deus e de Cristo.<br />

Não devemos estranhar se o evangelista João denomina de “primeira<br />

ressurreição” (v. 5,6) a ressurreição em sentido espiritual, quando da morte física<br />

do crente, deixando-nos antevê que a segunda ressurreição é física e corpórea.<br />

De modo semelhante, denominou de “segunda morte” (V. 6,14) a espiritual (a<br />

eterna separação de Deus), para concluirmos que a primeira morte é física.<br />

2.3) Satanás Solto, a Última Batalha e Sua Prisão Definitiva (Ap 20:7-10)<br />

(7) E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,<br />

No período próximo à segunda vinda de Cristo, Satanás será solto de<br />

sua prisão, no sentido de que suas restrições serão removidas.<br />

(8) E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue<br />

e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha.<br />

Removidas as limitações impostas no início da dispensação da igreja,<br />

Satanás voltará a enganar as nações, tal como fazia na era vétero-testamentária.<br />

Enganadas, as nações dos quatro cantos da terra, aqui simbolizadas pelos termos<br />

“Gogue e Magogue”, se ajuntarão numa investida sem paralelo contra a Igreja de<br />

8


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

Deus. A respeito de Gogue e Magogue, anotamos em nosso estudo “Esposição de<br />

Apocalipse” o que segue:<br />

“Indubitavelmente, temos deste modo descrita a última e mais atroz<br />

perseguição de Satanás contra a Igreja, sob o governo do Anticristo. Gogue foi um<br />

rei de Magogue, da Síria, e, em Ezequiel, refere-se à perseguição perpetrada<br />

contra os judeus sob Antíoco Epifânio, governador da Síria. O símbolo é adequado<br />

por ter esse odiado rei assolado o povo judeu sob horrenda crueldade, mas por<br />

breve tempo. Destarte, a Igreja será, por fim, assolada pela totalidade do mundo<br />

em uma perseguição mundial, mas, igualmente, por breve tempo”.<br />

(9) E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade<br />

amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou.<br />

“O arraial dos santos” e “a cidade amada” não correspondem à<br />

Jerusalém literal, tampouco aos judeus enquanto raça, mas ao povo de Deus, à<br />

Igreja de Deus formada por gente de toda a tribo, língua, povo e nação, vez que<br />

as ondam de perseguição sobem sobre “a largura da terra”, numa última mais<br />

ferrenha perseguição. Em Ap 3:12, os vencedores recem o nome de “cidade do<br />

meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus”. Em<br />

Ap 21:9-10, a “santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus”<br />

corresponde à “noiva, a esposa do Cordeiro”.<br />

Eis o que temos aqui: a humanidade anticristã deflagrando uma<br />

perseguição implacável contra o povo eleito de Deus e sendo destruída pelo<br />

julgamento divino.<br />

(10) E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está<br />

a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o<br />

sempre.<br />

No lago de fogo e enxofre já foram lançados a grande prostituta (17:16),<br />

a besta e o falso profeta (19:20). Agora estamos sendo informados que Satanás<br />

colhe o mesmo destino, no lugar aonde irão também os incrédulos, aqueles cujos<br />

nomes não estão arrolados no Livro da Vida (20:15).<br />

2.4) O Juízo Final (Ap 20:11-15)<br />

(11) E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja<br />

presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles.<br />

João viu um trono grande e branco. Diante dele, todos são pequenos. A<br />

cor branca indica pureza, santidade e justiça imaculada. A fuga de terra e céu<br />

refere-se ao desfazimento do universo em seu presente estado, o que não implica<br />

9


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

em eliminação, mas em fundição. Tudo será não aniquilado, mas renovado (cf<br />

6:14; 16:20; 21:1; II Pe 3:10,12; At 3:21; Rm 8:21).<br />

Indubitavelmente, o trono branco não é outro senão o tribunal de Cristo<br />

(II Co 5:10; cf Mt 7:22-23; 25:34-46). Cristo compartilha o julgamento com Seu Pai<br />

(I Co 15:24). Assim como o evangelho é Deus e do Seu Filho (Rm 1:1,9), as<br />

igrejas são de Deus e de Cristo (I Co 1:2; Rm 16:16), o Espírito é do Pai e do Filho<br />

(Rm 8:9) e o Reino é de Deus e de Cristo (Ef 5:5), o julgamento é do Pai e do<br />

Filho (Rm 14:10; II Co 5:10).<br />

(12) E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriramse<br />

os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados<br />

pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.<br />

Na sequência, João contempla em sua visão toda a raça humana<br />

diante de Deus para receber o último julgamento (Dn 7:10; 12:1,2). No trono,<br />

abriram-se os livros que contém todos os feitos de todos os homens, uma forma<br />

simbólica de indicar que Deus conhece e não está esquecido das obras<br />

evangélicas dos crentes nem das obras más dos descrentes, as quais serão,<br />

respectivamente, galardoadas e punidas (II Co 5:10). Os crentes são responsáveis<br />

por seus atos, mas seus pecados já estão perdoados, pois Cristo já os pagou. Os<br />

incrédulos, a seu turno, serão responsabilizados pelo que fizeram ou deixaram de<br />

fazer, quando deveriam ter-se omitido ou cometido, por palavras, atitudes e ações.<br />

O livro da vida, de muito maior importância, também foi aberto. Esse<br />

livro é mencionado seis vezes em Apocalipse (3:5; 13:8; 17:8; 20:12,15; 21:27). É<br />

o livro da vida do Cordeiro, escrito antes da fundação dos séculos e que contém o<br />

nome de todos os crentes de todos os tempos. É com base nele que os homens<br />

ímpios serão condenados (v. 15), vez que João não está tetemunhando aqui uma<br />

doutrina de salvação mediante a justiça das obras, mas, finalmente, o resultado da<br />

graça eletiva.<br />

(13) E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos<br />

que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.<br />

O mar é símbolo de terror. Por isso, nos novos céus e na nova terra, “o<br />

mar já não existe” (21:1). João o vê devolvendo os cadáveres insepultos de suas<br />

vítimas que tragou silencioso e os depositou ocultos de quem os aguardava. A<br />

morte e o hades, sempre citados juntos em Apocalipse (v. 14; 1:18; 6:8), são<br />

igualmente detentores dos que morreram. Em 1:18, o Senhor Jesus tem as<br />

chaves da morte e do hades, significando que tem pleno poder sobre a morte e o<br />

túmulo (Mt 16:19; Jo 5:28).<br />

Quando o mar, a morte e o hade dão os seus mortos, eles são julgados,<br />

cada um segundo as suas obras. Recorremos mais uma vez às nossas Exposição<br />

de Apocalipse, onde anotamos o seguinte: “O momento é soleníssimo e deveras<br />

10


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

assustador àqueles que não têm o seu nome no Livro da vida. Pessoas de pé e<br />

livros abertos! João viu que todos os mortos, crentes e descrentes, foram julgados,<br />

um a um, conforme as suas obras, as quais estavam todas registradas (Mt 7:21-<br />

23; 25:31-46; Jo 5:28-29; Rm 14:10; II Co 5:10). Como o leitor pode verificar pela<br />

simples leitura dos textos elencados, a doutrina bíblica, cabalmente, corrobora a<br />

idéia de uma única ressurreição, no ‘último dia’ (Jo 6:39, 44, 54). Não lemos,<br />

portanto, em parte alguma das Escrituras, a existência de duas ressurreições dos<br />

corpos, a dos crentes, antes dos mil anos, e a dos descrentes, após os mil anos”.<br />

Vale conferir ainda Mt 13:30, 40-43, 49-50.<br />

(14) E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda<br />

morte. (15) E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago<br />

de fogo.<br />

A primeira morte é a física. A segunda morte (a eterna separação de<br />

Deus) é aqui descrita em termos de ser lançado “no lago de fogo”, expressão que<br />

ocorre seis vezes em Apocalipse (19:20; 20:10,14,15; 21:8). Já lemos acima que<br />

aquele que tem parte na primeira ressurreição (espiritualmente falando, a morte do<br />

crente é descrita em termos de uma ressurreição) não verá a segunda morte.<br />

Se a morte e o hades são lançados para dentro do lago de fogo, isto<br />

implica, na lição de Hendriksen, que “seu poder temporário se converterá em<br />

poder permanente no lago de fogo, sobre os incrédulos que sofrem no inferno”.<br />

Eis o lugar-estado que esperam os ímpios, aqueles cujos nomes não estão<br />

registrados no livro da vida.<br />

3. Conclusão<br />

Estimulamos nosso leitor, à luz do exposto, a aceitar o pré-milenismo,<br />

mas tão somente se encontrar nas páginas no Novo Testamento apoio aos<br />

seguintes ensinos, necessários ao pré-milenismo:<br />

• A previsão de um milênio literal, em que subsiste uma convivência híbrida,<br />

no qual crentes ressurretos, em seu estado eterno e definitivo, convivem<br />

com um mundo caído e com homens em sua presente condição.<br />

• A realidade quanto à previsão de duas ressurreições, uma para crentes e<br />

outra para incrédulos, separadas por mil anos. Para que o pré-milenismo se<br />

sustenha, é necessário que a ressurreição de Ap 20:15 seja somente de<br />

incrédulos, mas onde isto é dito?<br />

• O ensino de uma vida na terra com predominante justiça e paz, com o<br />

homem em seu estado atual.<br />

• A lição de que o homem seria menos pecaminoso sem a presença ativa de<br />

Satanás.<br />

11


Pr. Ary Queiroz Vieira Júnior<br />

<strong>Milenismo</strong> <strong>Realista</strong><br />

• Como explicar tantos textos nos quais o Senhor Jesus afirma ter o reino<br />

chegado? E o que fazer com o fato de que Ele ensinou acerca de um reino<br />

d’outra natureza (Mt 12:28; Lc 11:20; 17:21; Jo 18:33-39), ensino que<br />

encontra-se também marcante na doutrina paulina (I Co 4:19-20; Rm 14:17;<br />

Cl 1:13)?<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!