13.05.2013 Views

Cadernos do CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

Cadernos do CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

Cadernos do CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Círculo</strong> <strong>Fluminense</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>Filológicos</strong> e Linguísticos<br />

específico, o texto musical – funcionava como válvula <strong>de</strong> escape para<br />

compositores e letristas darem o seu reca<strong>do</strong> vislumbran<strong>do</strong> um Brasil<br />

com condições mais dignas <strong>de</strong> sobrevivência (“um gran<strong>de</strong> país eu<br />

espero”...). Eis os versos iniciais <strong>de</strong> Clube da Esquina:<br />

Noite chegou outra vez,<br />

De novo na esquina<br />

Os homens estão<br />

To<strong>do</strong>s se acham mortais<br />

Divi<strong>de</strong>m a noite, a lua, até solidão<br />

Nesse clube, a gente sozinha se vê<br />

Pela última vez<br />

À espera <strong>do</strong> dia, naquela calçada<br />

Fugin<strong>do</strong> <strong>de</strong> outro lugar<br />

A noite, a lua e até a solidão são divididas pelos integrantes<br />

<strong>de</strong>sse clube. Mas por trás da noite que chegou outra vez, há a espera<br />

por um dia novo, em um novo lugar. Como disse Stuart Hall (2005),<br />

as palavras são multimoduladas, carregam ecos <strong>de</strong> outros significa<strong>do</strong>s<br />

que elas colocam em movimento. É o senti<strong>do</strong> da palavra que leva<br />

à busca <strong>de</strong> efeitos musicais num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> sons. E a<br />

expressivida<strong>de</strong> faz das palavras, instintivamente, cabos elétricos da<br />

mais alta tensão (Câmara Jr., 1978). Em Clube da Esquina, esses<br />

“cabos elétricos” estão a serviço da “alta tensão” contida na letra: um<br />

gran<strong>de</strong> país espera<strong>do</strong>, um insuspeita<strong>do</strong> futuro nas mãos <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> texto, um novo “encontrarei”; janelas se abrirão ao negro <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> lunar, outro dia virá e o corpo vencerá a manhã – naquela esquina,<br />

mas ao mesmo tempo fugin<strong>do</strong> pra outro lugar. Tal uso expressivo<br />

leva a linguagem a se tornar um fenômeno simbólico inseparável<br />

da cultura, constituin<strong>do</strong> um complexo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias com significa<strong>do</strong>s<br />

próprios que traduzem realida<strong>de</strong>s inseridas nessa cultura. A canção<br />

tornou-se tão emblemática para a geração <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> músicos<br />

que emprestaria seu título a outra: Clube da Esquina 2, cujas palavras-chaves<br />

po<strong>de</strong>-se dizer que são o sonho, a amiza<strong>de</strong>, a esperança –<br />

afinal, “os sonhos não envelhecem”, como apregoa o verso que daria<br />

nome ao livro <strong>de</strong> Márcio Borges, autor da letra (Borges, 2009).<br />

Na obra História & Música: história cultural da música popular,<br />

Napolitano (2002) relaciona alguns parâmetros poéticos para<br />

se analisarem as letras <strong>de</strong> canções:<br />

a Mote (tema geral da canção);<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: CiFEFiL, 2009 153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!