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Cadernos do CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

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<strong>Círculo</strong> <strong>Fluminense</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>Filológicos</strong> e Linguísticos<br />

A cada vez que o nome daquela localida<strong>de</strong> diamantinense é<br />

repeti<strong>do</strong> no final da letra amplia-se a sua carga semântica, transportan<strong>do</strong>-a<br />

<strong>de</strong> simples beco para símbolo <strong>de</strong> um Brasil maior, levan<strong>do</strong>se<br />

ainda em conta que a canção foi composta no perío<strong>do</strong> em que o<br />

país sofria as agruras <strong>do</strong> regime militar. O Beco <strong>do</strong> Mota funciona<br />

então como uma unida<strong>de</strong> semântica (Palmer, s.d.) que motiva as <strong>de</strong>mais<br />

associações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias contidas na letra.<br />

Paixão e fé traz o clima <strong>do</strong>s preparativos das procissões solenes<br />

da Semana Santa e <strong>de</strong> Corpus Christi em Minas Gerais, com tapetes<br />

<strong>de</strong> serragem e intensa participação popular, num universo bastante<br />

familiar aos autores da canção (Tavinho Moura e Fernan<strong>do</strong><br />

Brant): “E sai o povo pelas ruas a cobrir / De areia e flores as pedras<br />

<strong>do</strong> chão / Nas varandas, vejo as moças e os lençóis / Enquanto passa<br />

a procissão / Louvan<strong>do</strong> as coisas da fé”. A religiosida<strong>de</strong> aparece aqui<br />

como um forte traço estilístico <strong>de</strong> canções associadas ao Clube da<br />

Esquina, refletin<strong>do</strong> as influências socioculturais <strong>de</strong> seus participantes.<br />

Afinal, é a experiência vivida que i<strong>de</strong>ntifica e autentica o real,<br />

segun<strong>do</strong> Guiraud (s.d.). Ressaltem-se as “ruas capistranas”, com sua<br />

sonorida<strong>de</strong> e conteú<strong>do</strong> semântico, <strong>do</strong>s versos finais: “Já bate o sino,<br />

bate no coração / E o povo põe <strong>de</strong> la<strong>do</strong> a sua <strong>do</strong>r / Pelas ruas capistranas<br />

<strong>de</strong> toda cor / Esquece a sua paixão / Para viver a <strong>do</strong> Senhor.”<br />

Segun<strong>do</strong> o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “capistrana”,<br />

regionalismo <strong>de</strong> uso informal em Diamantina, é a pavimentação com<br />

gran<strong>de</strong>s lajes, no centro da rua, forman<strong>do</strong> uma espécie <strong>de</strong> calçada.<br />

Resulta <strong>do</strong> antropônimo Capistrano, <strong>do</strong> conselheiro João Capistrano,<br />

presi<strong>de</strong>nte da Província <strong>de</strong> Minas Gerais, que as man<strong>do</strong>u colocar nas<br />

ruas <strong>de</strong> Ouro Preto (Houaiss & Villar, 2001). É por essas mineiras<br />

ruas capistranas, portanto, que passam as procissões, reais e simbólicas,<br />

cantadas em Paixão e fé.<br />

E daí?, música <strong>de</strong> Milton Nascimento e cinematográfica letra<br />

<strong>do</strong> moçambicano Ruy Guerra, feita para o filme A queda, dirigi<strong>do</strong><br />

por este último, chama a atenção pelo inusita<strong>do</strong> das imagens contidas<br />

nos versos:<br />

Tenho nos olhos quimeras<br />

Com o brilho <strong>de</strong> trinta velas<br />

Do sexo pulam sementes<br />

Explodin<strong>do</strong> locomotivas<br />

Tenho os intestinos roucos<br />

Num rosário <strong>de</strong> lombrigas<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: CiFEFiL, 2009 151

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