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Cadernos do CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...

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LIVRO DOS MINICURSOS<br />

teratura em geral, seja na elaboração <strong>de</strong> textos para serem canta<strong>do</strong>s<br />

(“Lapidar minha procura toda / Trama lapidar”, como está no início<br />

<strong>de</strong> Anima, composição <strong>de</strong> Zé Renato e Milton Nascimento).<br />

As letras <strong>do</strong> repertório <strong>do</strong> Clube da Esquina não costumam ter<br />

estruturas métricas fixas nem rimas, o que só ocorre eventualmente.<br />

Um exemplo é Travessia, primeira parceria <strong>de</strong> Milton com Fernan<strong>do</strong><br />

Brant, em que registram-se as rimas chorar/lugar/falar, sonhar/terminar/matar,<br />

viver/sofrer/viver. Uma das composições mais<br />

conhecidas da dupla, ainda hoje é muito executada nas rodas <strong>de</strong> violão<br />

caseiras em to<strong>do</strong> o Brasil. Destaque-se a intertextualida<strong>de</strong> entre o<br />

título da canção e a obra Gran<strong>de</strong> Sertão: veredas, <strong>de</strong> Guimarães Rosa<br />

(1994), conforme os relatos <strong>de</strong> Duarte (2006) e Borges (2009), o<br />

que reforça a mineirida<strong>de</strong> da travessia empreendida pelo enuncia<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> texto (o personagem que vive a história contada pela canção). É<br />

mais um <strong>de</strong>talhe estilístico que coloca o ouvinte/leitor ainda mais<br />

próximo <strong>do</strong> universo <strong>de</strong> referências da canção.<br />

150<br />

To<strong>do</strong> <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>ve permitir que penetremos no centro da obra, já<br />

que esta constitui um to<strong>do</strong>, no qual cada <strong>de</strong>talhe está motiva<strong>do</strong> e integra<strong>do</strong>.<br />

Uma vez no centro, teremos uma visão <strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong>s <strong>de</strong>talhes. Um<br />

pormenor convenientemente assinala<strong>do</strong> nos dará a chave da obra (...).<br />

(Guiraud, 1978, p. 98, <strong>de</strong>staque no original)<br />

A religiosida<strong>de</strong> católica, fortemente associada à tradição mineira,<br />

é marcante em <strong>de</strong>terminadas canções relacionadas ao Clube da<br />

Esquina, como Beco <strong>do</strong> Mota (Milton Nascimento e Fernan<strong>do</strong> Brant)<br />

e Paixão e fé (Tavinho Moura e Fernan<strong>do</strong> Brant). Na primeira, marca-se<br />

o Beco <strong>do</strong> Mota, antiga zona <strong>de</strong> prostituição <strong>de</strong> Diamantina<br />

(MG), terra natal <strong>do</strong> ex-presi<strong>de</strong>nte Juscelino Kubitschek, como um<br />

símbolo não só <strong>de</strong> mineirida<strong>de</strong> como também <strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong>:<br />

Profissão <strong>de</strong>serta, <strong>de</strong>serta<br />

Homens e mulheres na noite<br />

Homens e mulheres na noite <strong>de</strong>sse meu país<br />

Na porta <strong>do</strong> beco estamos<br />

Procissão <strong>de</strong>serta, <strong>de</strong>serta<br />

Nas portas da arquidiocese <strong>de</strong>sse meu país<br />

Diamantina é o Beco <strong>do</strong> Mota<br />

Minas é o Beco <strong>do</strong> Mota<br />

Brasil é o Beco <strong>do</strong> Mota<br />

Viva o meu país!<br />

<strong>Ca<strong>de</strong>rnos</strong> <strong>do</strong> <strong>CNLF</strong>, Vol. XIII, Nº 03

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