Cadernos do CNLF - Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e ...
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<strong>Círculo</strong> <strong>Fluminense</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>Filológicos</strong> e Linguísticos<br />
CANÇÕES DO CLUBE DA ESQUINA<br />
À LUZ DA ESTILÍSTICA<br />
Jorge Moutinho<br />
jorgemoutinho@terra.com.br<br />
Po<strong>de</strong>-se dizer que o estilo é o homem, o pensamento, a obra, a<br />
expressão inevitável e orgânica <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> individual <strong>de</strong> experiência,<br />
assim como o aspecto <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> que resulta <strong>de</strong> uma escolha<br />
<strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong>terminada pela natureza e pelas intenções<br />
<strong>do</strong> indivíduo que fala ou escreve. Estas são algumas das diversas <strong>de</strong>finições<br />
dadas por especialistas no assunto e que foram reunidas em<br />
obra <strong>de</strong> referência sobre o estu<strong>do</strong> da estilística (Martins, 2000). Para<br />
Charles Bally, esta disciplina estuda os fatos da expressão da linguagem,<br />
organizada segun<strong>do</strong> o seu conteú<strong>do</strong> afetivo, ou seja: a expressão<br />
<strong>do</strong>s fatos da sensibilida<strong>de</strong> pela linguagem e a ação <strong>do</strong>s fatos da<br />
linguagem sobre a sensibilida<strong>de</strong> (Bally, 1957).<br />
No final <strong>do</strong>s anos 1960, um grupo <strong>de</strong> cantores, compositores,<br />
letristas e instrumentistas começou a se reunir em Minas Gerais para<br />
produzir um tipo <strong>de</strong> música que atrai admira<strong>do</strong>res até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Desse grupo, que seria <strong>de</strong>pois conheci<strong>do</strong> como Clube da Esquina, faziam<br />
(e ainda fazem) parte letristas como Fernan<strong>do</strong> Brant, Márcio<br />
Borges e Ronal<strong>do</strong> Bastos, entre outros, além <strong>de</strong> Milton Nascimento,<br />
artista que é o próprio símbolo <strong>de</strong>sse “Clube” e que também é letrista,<br />
apesar <strong>de</strong> ser mais conheci<strong>do</strong> como cantor e compositor. Analisar<br />
aspectos <strong>do</strong> repertório <strong>do</strong> Clube da Esquina à luz da estilística é a<br />
proposta <strong>de</strong>ste minicurso, exploran<strong>do</strong> as diversas referências que<br />
contêm as letras <strong>de</strong>ssas canções (suas inter-relações com a mineirida<strong>de</strong><br />
e com a cultura brasileira como um to<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> as referências<br />
internacionais).<br />
Ao se eleger o Clube da Esquina como tema <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vese<br />
salientar inicialmente que esse “Clube” não é na verda<strong>de</strong> um movimento<br />
musical, tampouco tem (nunca teve) uma se<strong>de</strong> constituída.<br />
Trata-se, em essência, <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> “filosofia” <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />
amigos interessa<strong>do</strong>s em fazer música (e letra) que foi se reunin<strong>do</strong> ao<br />
re<strong>do</strong>r da figura aglutina<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> artista Milton Nascimento. Lembrese<br />
aqui Spitzer (1968), para quem toda obra constitui um to<strong>do</strong>, em<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: CiFEFiL, 2009 147