Os Principais Distúrbios Imuno-Alergológicos em Animais de ...
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Instituto Superior Politécnico <strong>de</strong> Viseu<br />
Escola Superior Agrária<br />
<strong>Os</strong> <strong>Principais</strong> <strong>Distúrbios</strong> <strong>Imuno</strong>-<strong>Alergológicos</strong><br />
<strong>em</strong> <strong>Animais</strong> <strong>de</strong> Companhia<br />
Trabalho Final <strong>de</strong> Curso<br />
Enfermag<strong>em</strong> Veterinária<br />
Mauro Gomes Matias<br />
Viseu, 2011
Instituto Superior Politécnico <strong>de</strong> Viseu<br />
Escola Superior Agrária<br />
<strong>Os</strong> <strong>Principais</strong> <strong>Distúrbios</strong> <strong>Imuno</strong>-<strong>Alergológicos</strong><br />
<strong>em</strong> <strong>Animais</strong> <strong>de</strong> Companhia<br />
Trabalho Final <strong>de</strong> Curso<br />
Enfermag<strong>em</strong> Veterinária<br />
Mauro Gomes Matias<br />
Orientador: Dr. João Mesquita<br />
Viseu, 2011
(Orientador da ESAV)<br />
__________________<br />
(Dr. João Mesquita)
“As doutrinas expressas são inteiramente da responsabilida<strong>de</strong> do autor.”
“O futuro é passado no presente”.<br />
Anónimo
AGRADECIMENTOS<br />
Quero agra<strong>de</strong>cer ao meu orientador interno, Dr. João Mesquita, pelo auxílio<br />
incondicional, prontidão e rapi<strong>de</strong>z ao longo da realização <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
De seguida quero agra<strong>de</strong>cer ao Dr. Luís Montenegro, por me ter acolhido na<br />
sua equipa excepcional, e ter-me proporcionado <strong>de</strong>sta forma, 6 meses <strong>de</strong> estágio,<br />
repletos <strong>de</strong> muitos conhecimentos e experiências que nunca esquecerei. Um muito<br />
obrigado a toda a equipa pela experiência inesquecível!<br />
Um especial agra<strong>de</strong>cimento:<br />
Aos meus pais, pelo apoio e pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me ajudar<strong>em</strong> na formação<br />
do que realmente gosto e que me faz muito feliz, pois s<strong>em</strong> eles não teria sido<br />
possível a realização <strong>de</strong>sta Licenciatura. Muito obrigado!<br />
À minha irmã, pelas opiniões, pelo conforto, pela força inesgotável ao longo<br />
<strong>de</strong>stes anos, não só <strong>em</strong> termos académicos, mas também a nível pessoal. Obrigado<br />
por fazeres parte da minha vida.<br />
A uma pessoa muito especial, a Catarina, que tive o prazer <strong>de</strong> conhecer <strong>em</strong><br />
Terras <strong>de</strong> Viriato e, que me acompanhou ao longo <strong>de</strong>stes últimos anos. Estando<br />
s<strong>em</strong>pre presente ao meu lado, e que me ajudou nos momentos académicos mais<br />
difíceis. O meu muito obrigado.<br />
Também, quero agra<strong>de</strong>cer a todos as pessoas, com qu<strong>em</strong> travei amiza<strong>de</strong>s<br />
<strong>em</strong> Viseu e no local <strong>de</strong> estágio, no Porto. Pessoas estas que estarão s<strong>em</strong>pre<br />
comigo. Um obrigado a todos pelos conhecimentos, explicações, momentos<br />
inesquecíveis, alegrias e risos que ficarão s<strong>em</strong>pre comigo.<br />
Por fim, mas não menos importante, estou agra<strong>de</strong>cido a todos os professores<br />
da Escola Superior Agrária <strong>de</strong> Viseu, por todos os ensinamentos que transmitiram e<br />
que permitiram fazer-me crescer não só como Enfermeiro Veterinário mas também<br />
como pessoa.<br />
VI
RESUMO<br />
A alergia é um estado <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que a exposição do animal a<br />
substâncias geralmente inofensivas, conhecidas como alergénios <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia uma<br />
reacção exagerada do sist<strong>em</strong>a imunitário.<br />
A incidência <strong>de</strong>stas reacções alérgicas t<strong>em</strong> aumentado quer <strong>em</strong> humanos,<br />
quer nos animais <strong>de</strong> estimação, gerando acrescida e justificada preocupação na<br />
área da Saú<strong>de</strong> Animal.<br />
As alergias mais importantes <strong>em</strong> clínica são no essencialmente três, a<br />
<strong>de</strong>rmatite por alergia à picada <strong>de</strong> pulga, a <strong>de</strong>rmatite atópica e a hipersensibilida<strong>de</strong><br />
alimentar.<br />
As pulgas são os parasitas responsáveis pela <strong>de</strong>rmatite alérgica à picada da<br />
pulga, uma das alergias mais frequentes nos animais. <strong>Os</strong> sintomas <strong>de</strong>sta alergopatia<br />
inclu<strong>em</strong> prurido na zona lombo-sagrada, na zona caudal e medial das coxas, no<br />
ventre e po<strong>de</strong>, inclusive, ser generalizado.<br />
A <strong>de</strong>rmatite atópica é causada pela penetração <strong>de</strong> alergénios através da<br />
pele, que apresenta alterações da barreira epidérmica, sendo que após a<br />
penetração do alergénio existe uma resposta <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> tipo I.<br />
Para além da <strong>de</strong>rmatite por alergia à picada <strong>de</strong> pulga e da <strong>de</strong>rmatite atópica,<br />
há ainda a alergia alimentar, que engloba todas as reacções adversas que se<br />
produz<strong>em</strong> após ingestão <strong>de</strong> um alimento. À medida que se foram conhecendo os<br />
mecanismos que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam estas reacções, houve uma adaptação da<br />
terminologia a cada situação.<br />
Assim, irei abordar as etiologias, sinais clínicos, diagnósticos e tratamentos<br />
das respectivas hipersensibilida<strong>de</strong>s.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Alergia, Alergénios, Dermatite alérgica à picada da<br />
pulga, Dermatite atópica, Hipersensibilida<strong>de</strong> Alimentar, Prurido<br />
VII
ABSTRAT<br />
Allergy is a state of hypersensitivity in which exposure of the animal to<br />
generally harmless substances known as allergens triggers an overreaction of the<br />
immune syst<strong>em</strong>.<br />
The inci<strong>de</strong>nce of allergic reactions has increased both in humans or in pets,<br />
causing increased concern and justified in the Animal Health.<br />
The most important clinical allergies are essentially three in the <strong>de</strong>rmatitis<br />
caused by flea bite allergy, atopic <strong>de</strong>rmatitis and food hypersensitivity.<br />
Fleas are parasites responsible for allergic <strong>de</strong>rmatitis flea bite, one of the<br />
most common allergies in animals. Symptoms inclu<strong>de</strong> itching in the loin-sacral area,<br />
in the area caudal and medial thighs, belly and can even be generalized.<br />
Atopic <strong>de</strong>rmatitis is caused by the penetration of allergens through the skin,<br />
with alterations of the epi<strong>de</strong>rmal barrier, and after penetration of the allergen exists a<br />
type I hypersensitivity response<br />
Apart from <strong>de</strong>rmatitis flea bite allergy and atopic <strong>de</strong>rmatitis, there is still a<br />
food allergy, which inclu<strong>de</strong>s all adverse reactions that occur after ingestion of a food.<br />
As they were getting to know the mechanisms that trigger these reactions, there was<br />
an adaptation of the terminology in every situation.<br />
So, I will approach the etiology, clinical signs, diagnosis and treatment of<br />
their sensitivities.<br />
KEY-WORDS: Allergy, Allergens, Allergic Dermatitis Flea Bite, Atopic<br />
Dermatitis, Food Hypersensitivity, Pruritus<br />
VIII
ÍNDICE ÍNDICE GERAL<br />
GERAL<br />
AGRADECIMENTOS…………………………………..……………………..…... VI<br />
RESUMO…………………………………………………………….….................... VII<br />
ABSTRAT...…………………………………………………….………….……….. VIII<br />
ÍNDICE GERAL…………………………………………………….…................... IX<br />
ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS……………………………………..……... XII<br />
ABREVIATURAS E SIGLAS………………………………………..…...……...... XVI<br />
1.INTRODUÇÃO………………………………………………….……….….….... 1<br />
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA……………………………………..……...…….. 3<br />
2.1. HIPERSENSIBILIDADES……………………………………………...…… 3<br />
2.1.1. HIPERSENSIBILIDADE TIPO I……………………………............ 3<br />
2.1.2. HIPERSENSIBILIDADE TIPO II…………………........................... 3<br />
2.1.3. HIPERSENSIBILIDADE TIPO III……….......................................... 4<br />
2.1.4. HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV………......................................... 4<br />
2.2. FACTORES INTENSIFICADORES DAS HIPERSENSIBILIDADES<br />
ALÉRGICAS………………………………………………………………………… 5<br />
2.3. NOÇÃO DE LIMIAR DE PRURIDO………………………………..……… 7<br />
2.3.1. PRURIDO………………………………………………………….…… 7<br />
2.3.2. LIMIAR DO PRURIDO……………………………………………..…. 7<br />
2.4. ATOPIA……………………………………………………………………… 9<br />
2.4.1. PATOGÉNESE…………………………………………………………. 10<br />
2.4.2. INCIDÊNCIA…………………………………………………………... 11<br />
2.4.2.1. PRINCIPAIS RAÇAS PREDISPOSTAS…………………………. 11<br />
2.4.2.2. HEREDITARIEDADE……………………………………………. 12<br />
2.4.2.3. IDADE……………………………………………………………... 12<br />
2.4.2.4. SEXO………………………………………………………………. 13<br />
2.4.3. BARREIRA CUTÂNEA……………………………………………….. 13<br />
2.4.3.1. SITUAÇÃO NORMAL…………………………………………… 13<br />
2.4.3.2. EM CÃES ATÓPICOS……………………………………………. 13<br />
2.4.4. SINAIS CLÍNICOS…………………………………………………….. 14<br />
2.4.5. DIAGNÓSTICO………………………………………………………... 15<br />
2.4.5.1. ANAMNESE………………………………………………………. 15<br />
2.4.5.2. EXAME DO ESTADO GERAL…………………………………... 16<br />
IX
2.4.5.3. EXAME DERMATOLÓGICO……………………………………. 17<br />
2.3.5.4. RASPAGENS CUTÂNEAS………………………………………. 18<br />
2.4.5.5. CITOLOGIA CUTÂNEA…………………………………………. 18<br />
2.4.5.6. REACÇÕES INTRADÉRMICAS………………………………… 19<br />
2.4.5.7. DOSEAMENTOS SEROLÓGICOS DE IGE……………………... 20<br />
2.4.5.8. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL………………………………… 21<br />
2.4.6. TRATAMENTO………………………………………………………... 21<br />
2.4.6.1. EVICÇÃO DO ALERGÉNIO……………………………………... 22<br />
2.4.6.2. IMUNOTERAPIA…………………………………………………. 23<br />
2.4.6.3. CORTICOSTERÓIDES…………………………………………… 24<br />
2.4.6.4. CICLOSPORINA………………………………………………….. 25<br />
2.4.6.5. AGENTES ANTI-INFECCIOSOS: ANTIBIÓTICOS E<br />
ANTIFÚNGICOS……………………………………………………………………. 25<br />
2.4.6.6. ANTIFÚNGICOS…………………………………………………. 26<br />
2.4.6.7. ANTI-HISTAMÍNICOS…………………………………………... 26<br />
2.4.6.8 TÓPICOS…………………………………………………………... 27<br />
2.4.6.9. CHAMPÔS………………………………………………………… 29<br />
2.4.6.10. EMOLIENTES, HIDRATANTES……………………………….. 29<br />
2.4.6.11. ÁCIDOS GORDOS ESSENCIAIS………………………………. 29<br />
2.4.6.12. OUTROS…………………………………………………………. 30<br />
2.5 ALERGIA ALIMENTAR……………………………………………………. 32<br />
2.5.1. ETIOLOGIA……………………………………………………………. 32<br />
2.5.2. PATOGÉNESE…………………………………………………………. 33<br />
2.5.3. CÃES…………………………………………………………………… 34<br />
2.5.3.1. IDADE……………………………………………………………... 34<br />
2.5.3.2. RAÇA……………………………………………………………… 34<br />
2.5.3.3. SINAIS CLÍNICOS………………………………………………... 34<br />
2.5.4. GATOS…………………………………………………………………. 35<br />
2.5.4.1. IDADE……………………………………………………………... 35<br />
2.5.4.2. RAÇA……………………………………………………………… 35<br />
2.5.4.3. SINAIS CLÍNICOS………………………………………………... 35<br />
2.5.5. DIAGNÓSTICO……………………………………………………...… 36<br />
2.5.5.1. TESTE ALÉRGICO INTRADÉRMICO………………………….. 36<br />
X
2.5.5.2 TESTE SEROLÓGICO POR ELISA………………………………. 37<br />
2.5.5.3. HIPOSSENSIBILIZAÇÃO………………………………………... 37<br />
2.5.5.4. ENSAIOS DIETÉTICOS DE RESTRIÇÃO PROTEICA………… 37<br />
2.5.6. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS……………………………………. 40<br />
2.5.7. MANEIO………………………………………………………………... 40<br />
2.5.8. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO…………………………………... 40<br />
2.6. HIPERSENSIBILIDADE À PICADA DA PULGA………………………… 42<br />
2.6.1. ETIOLOGIA……………………………………………………………. 43<br />
2.6.2. ETIOPATOGENIA……………………………………………………... 44<br />
2.6.3. INCIDÊNCIA…………………………………………………………... 45<br />
2.6.4. SINAIS CLÍNICOS…………………………………………………….. 46<br />
2.6.4.1. CÃES………………………………………………………………. 46<br />
2.6.4.2. GATOS…………………………………………………………….. 47<br />
2.6.5. DIAGNÓSTICO………………………………………………………... 47<br />
2.6.6. TRATAMENTO E PROFILAXIA………...…………………………… 47<br />
2.7. PAPEL DO ENFERMEIRO VETERINÁRIO………….………………………. 54<br />
3. CASO CLÍNICO……….…………………………………..……………………... 56<br />
3.1. PRIMEIRO CASO CLÍNICO…………………..…..……………..………… 56<br />
3.1.1. DADOS DO PACIENTE………………..……………………………… 56<br />
3.1.2. EXAMES COMPLEMENTARES……………………………….…….. 56<br />
3.1.2.1. TESTES ALÉRGICOS (ELISA)………..………………………… 56<br />
3.1.3. DISCUSSÃO DE RESULTADOS………………...…………………………… 57<br />
3.2. SEGUNDO CASO CLÍNICO………………………….……………………………. 58<br />
3.2.1. DADOS DO PACIENTE………………………………………………………. 58<br />
3.2.2. HISTÓRIA CLÍNICA………………………………………………………….. 58<br />
3.2.3. EXAMES COMPLEMNETARES……………………………………………... 59<br />
3.2.3.1. TESTES ALÉRGICOS (ELISA)…………………………………………. 59<br />
3.2.4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS…………………………………………… 61<br />
4.CONCLUSÃO…………………………………………………………………….. 62<br />
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………….. 63<br />
6.ANEXOS………………………………………………………………………….. 71<br />
XI
ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS<br />
Figura 1. Representação esqu<strong>em</strong>ática das lesões dérmicas provocadas pelo acto <strong>de</strong><br />
coçar. A gravida<strong>de</strong> das lesões é proporcional à frequência e intensida<strong>de</strong> com que o<br />
animal se coça. Muitas vezes os pêlos apresentam-se partidos e a epi<strong>de</strong>rme<br />
“<strong>de</strong>scamada”…………………….………………………………………………..…………..7<br />
Figura 2. O efeito cumulativo <strong>de</strong> diferentes alergénios – ambientais, alimentares ou<br />
parasitários – leva o cão a ultrapassar o seu próprio limiar <strong>de</strong> tolerância e provoca<br />
prurido acentuado....…………………………………………………………………..…….8<br />
Figura 3. O t<strong>em</strong>peramento do cão, que varia consoante a raça e o próprio indivíduo,<br />
influencia o seu limiar <strong>de</strong> tolerância e <strong>de</strong> reactivida<strong>de</strong> <strong>em</strong> caso <strong>de</strong><br />
prurido.......……………………………………………………………………………………8<br />
Figura 4. A <strong>de</strong>rmatite atópica pressupõe uma primeira sensibilização do cão aos<br />
alergénios (fase A). Neste processo participam diversas células e a sua activação<br />
provoca a libertação <strong>de</strong> mediadores inflamatórios (fase B) responsáveis por<br />
manifestações clínicas, como é o caso do prurido. Deste modo, quando um cão<br />
previamente sensibilizado, contacta com o alergénio, produz-se a <strong>de</strong>sgranulação<br />
dos mastócitos, com consequente libertação <strong>de</strong> mediadores inflamatórios que, entre<br />
outros sintomas, originam o prurido………………………………………………..…….11<br />
Figura 5. Corte histológico da pele………….……………………………….…………..13<br />
Figura 6. Uma West Highland White Terrier, atópica <strong>de</strong> seis anos. À esquerda revela<br />
erit<strong>em</strong>a, papúlas auriculares e uma ligeira otite. À direita, apresenta, a nível do<br />
abdómen ventral, erit<strong>em</strong>a. Consultar caso clínico……………………………………...14<br />
Figura 7. À esquerda, a distribuição esqu<strong>em</strong>ática ventral das lesões <strong>de</strong> atopia e, à<br />
direita a localização dorsal das lesões………….……………..…………………………18<br />
Figura 8. À esquerda, a realização <strong>de</strong> teste alérgico intradérmico. À direita, o<br />
resultado <strong>de</strong> teste alérgico intradérmico, <strong>em</strong> que a seta vermelha indica o controlo<br />
XII
positivo e, a ver<strong>de</strong> o controlo negativo. As setas amarela e azul indicam,<br />
respectivamente, uma reacção positiva e a uma reacção negativa……….………….20<br />
Figura 9. <strong>Principais</strong> linhas <strong>de</strong> acção terapêutica……………………………………….22<br />
Figura 10. Para limitar a carga alergénica, po<strong>de</strong> revelar-se útil habituar o animal <strong>de</strong><br />
estimação a dormir num colchão adaptado para evitar a proliferação <strong>de</strong><br />
ácaros………………………………………………………………………………………..23<br />
Figura 11. Consoante a raça, exist<strong>em</strong> variações significativas ao nível do pH da<br />
pele. Provavelmente, este fenómeno é um dos factores que explica a frequência <strong>de</strong><br />
superinfecções bacterianas <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas raças (Pastores<br />
Al<strong>em</strong>ães)………………………………………………………………………………….…28<br />
Figura 12. A curcumina ajuda no combate das infecções secundárias e pod<strong>em</strong>,<br />
eventualmente, favorecer a redução dos tratamentos convencionais………………..31<br />
Figura 13. Aloé vera…………………………………………………………………..……31<br />
Figura 14. Representação esqu<strong>em</strong>ática da localização das lesões……………….…35<br />
Figura 15. Imag<strong>em</strong> microscópica <strong>de</strong> um ex<strong>em</strong>plar da espécie Ctenocephali<strong>de</strong>s felis,<br />
com ampliação <strong>de</strong> 40x…………………………………………….……………………….44<br />
Figura 16. Ciclo <strong>de</strong> vida da pulga…………………………………………….………..…44<br />
Figura 17. Ilustração que esqu<strong>em</strong>atiza os vários sinais clínicos……………………..46<br />
Figura 18. Distribuição esqu<strong>em</strong>ática das lesões <strong>de</strong> DAPP…………………………...47<br />
Figura 19. À esquerda, a zona axilar do paciente com algum erit<strong>em</strong>a e <strong>de</strong>scoloração<br />
do pêlo, indicativo das constantes mor<strong>de</strong>duras pelo paciente, como forma <strong>de</strong> alívio.<br />
À direita, o paciente apresenta erit<strong>em</strong>a evi<strong>de</strong>nte na zona abdominal ventral e<br />
inguinal…………………………………………………………………………………..…..59<br />
XIII
Figura 20. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Pinus Pinaster presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Março………………………………………………………………….60<br />
Figura 21. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Pinus Pinaster presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Abril……………………………………………………………………60<br />
Figura 22. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Olea europaea presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Março……………………………………………………………….…60<br />
Figura 23. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Olea europaea presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Abril……………………………………………………………………61<br />
Figura 24. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Olea europaea presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Maio………………………………………………………………...…61<br />
Quadro 1. <strong>Principais</strong> raças caninas com predisposição para a atopia. A doença<br />
também po<strong>de</strong> ocorrer <strong>em</strong> outras raças e <strong>em</strong> alguns cruzamentos……………….…..11<br />
Quadro 2. Padrão <strong>de</strong> distribuição das manifestações clínicas da DA segundo<br />
Prélaud (1998)………………………………………………………………………………15<br />
Quadro 3. Em 1986, um artigo que constitui ainda uma referência na matéria, Ton<br />
Will<strong>em</strong>se publicou uma lista dos critérios <strong>de</strong> diagnóstico principais e secundários que<br />
pod<strong>em</strong> ser utilizados para corroborar uma suspeita <strong>de</strong> DA. O cão <strong>de</strong>verá apresentar,<br />
no mínimo, três <strong>de</strong> cada categoria………………………………………………………..16<br />
Quadro 4. Estes diferentes critérios foram adaptados aos animais por Pascal<br />
Prélaud, <strong>em</strong> 1998 (os critérios <strong>de</strong> Will<strong>em</strong>se foram obtidos da medicina humana).<br />
Neste caso também, uma reacção positiva pelo menos a três das condições constitui<br />
uma forte suspeita <strong>de</strong> DA………………………………………………………………….17<br />
Quadro 5. <strong>Principais</strong> antibióticos tópicos usados <strong>em</strong> animais atópicos….………….28<br />
XIV
Quadro 6. <strong>Principais</strong> tópicos anti-sépticos usados <strong>em</strong> animais atópicos……………28<br />
Quadro 7. Algumas das situações <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>ve suspeitar <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong><br />
alimentar……………………………………………………………………………………..39<br />
Quadro 8. <strong>Principais</strong> diagnósticos diferenciais no cão e no gato…………………….40<br />
Quadro 9. Algumas características dos compostos utilizados somente nos<br />
hospe<strong>de</strong>iros no controlo <strong>de</strong> pulgas……………………………………………………….49<br />
Quadro 10. Algumas características dos princípios activos recent<strong>em</strong>ente utilizados<br />
nos animais no controlo <strong>de</strong> pulgas……………………………………………………….50<br />
Quadro 11. Algumas características das substâncias utilizadas no controlo <strong>de</strong><br />
pulgas, quer nos hospe<strong>de</strong>iros quer no ambiente……………………………………….52<br />
Quadro 12. O papel do EV na divulgação, prevenção e aconselhamento das<br />
alergias………………………………………………………………………………………59<br />
XV
ABREVIATURAS E SIGLAS<br />
Siglas<br />
Ags – antigénios<br />
AIM – Autorização <strong>de</strong> Introdução no Mercado<br />
DA – Dermatite Atópica<br />
DAPP – Dermatite Alérgica à Picada da Pulga<br />
EEG – Exame do Estado Geral<br />
EV – Enfermeiro Veterinário<br />
IgE – <strong>Imuno</strong>globulina E<br />
IgG – <strong>Imuno</strong>globulina G<br />
IgM – <strong>Imuno</strong>globulina M<br />
IL – Interleucina<br />
Lb – Linfócitos B<br />
Lt – Linfócitos T<br />
MV – Médico Veterinário<br />
Abreviaturas<br />
% - Por cento<br />
D – Dia<br />
Kg – Quilograma<br />
Mg - Miligrama<br />
XVI
1. INTRODUÇÃO<br />
A <strong>de</strong>rmatologia é um campo muito complexo. Se, por um lado, o animal po<strong>de</strong><br />
ser alvo <strong>de</strong> uma patologia <strong>de</strong> pele, por outro po<strong>de</strong> sofrer <strong>de</strong> alterações ou<br />
manifestações na pele que reflect<strong>em</strong> a presença <strong>de</strong> doenças ou alterações internas.<br />
A pele é um órgão que reflecte o interior do organismo (Silva, 2011).<br />
A palavra alergia foi introduzida no vocabulário médico pelo austríaco<br />
Cl<strong>em</strong>ens von Pirquet <strong>em</strong> 1906. No seu sentido etimológico po<strong>de</strong> ser entendida como<br />
uma força (-ergos) anormal (-al), ou seja, uma reactivida<strong>de</strong> anormal do organismo<br />
face a estímulos externos. <strong>Os</strong> factores endógenos (predisposição individual) eram os<br />
mais importantes na génese <strong>de</strong>ssa reactivida<strong>de</strong> anormal, a qual tanto podia ser no<br />
sentido <strong>de</strong> um aumento como no <strong>de</strong> uma diminuição da reactivida<strong>de</strong> imunitária.<br />
Contudo, a evolução histórica do termo alergia <strong>de</strong>u-se no sentido <strong>de</strong> actualmente se<br />
restringir o conceito às reacções <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> mediadas pelo sist<strong>em</strong>a<br />
imunitário (Ferreira, 2011).<br />
O número <strong>de</strong> animais com alergias está a aumentar por várias razões.<br />
Exist<strong>em</strong> raças com predisposição às doenças alérgicas, como os Gol<strong>de</strong>n Retriever<br />
ou o Bulldog Francês, raças cada vez mais procuradas. Para fazer frente a esta<br />
procura faz<strong>em</strong>-se cruzamentos consanguíneos entre animais, o que reforça a<br />
componente hereditária que apresenta a alergia. Todavia, exist<strong>em</strong> cada vez mais, no<br />
nosso ambiente, novos alergénios, aos quais o sist<strong>em</strong>a imunitário não está<br />
habituado e, para além disso, outros que se tornaram mais agressivos, como por<br />
ex<strong>em</strong>plo alguns pólenes, que ao unir<strong>em</strong>-se às partículas <strong>de</strong> chumbo dos motores a<br />
gasóleo se tornam mais alérgicos. Outra teoria, é a da higiene, baseada no facto <strong>de</strong><br />
que ao receber<strong>em</strong> muitas vacinas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenos, o sist<strong>em</strong>a imunológico dos<br />
animais não apren<strong>de</strong> a respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada e po<strong>de</strong> fazê-lo <strong>de</strong> forma<br />
exagerada perante antigénios que <strong>em</strong> outras circunstâncias não reagiria (Silva,<br />
2011). Por último, alerta-se ainda para o facto <strong>de</strong> que ao aumentar o conhecimento<br />
veterinário sobre esta doença, também se começa a diagnosticar mais (Silva, 2010).<br />
Uma vez que o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> alergias t<strong>em</strong> tido uma evolução<br />
exponencial, torna-se evi<strong>de</strong>nte a sua melhor compreensão para prevenir,<br />
diagnosticar e tratar da melhor maneira possível. Visto esta ser uma patologia <strong>de</strong><br />
elevada incidência e complexida<strong>de</strong>, o presente trabalho t<strong>em</strong> como objectivos:<br />
1
Estudar quais os tipos <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong>s mais comuns (tipo I e tipo IV),<br />
nomeadamente a atopia, a alergia alimentar e a <strong>de</strong>rmatite alérgica à picada da<br />
pulga;<br />
Avaliar quais são as razões para as alergias ter<strong>em</strong> aumentado na última<br />
década;<br />
Compreen<strong>de</strong>r as várias etiologias, patogéneses, i<strong>de</strong>ntificação dos sinais<br />
clínicos, e respectivos diagnósticos e tratamentos;<br />
Abordar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alimentos comerciais para cães e gatos, que<br />
contêm proteínas hidrolisadas, melhorando <strong>de</strong> forma substancial a fiabilida<strong>de</strong> dos<br />
testes dietéticos <strong>de</strong> eliminação e o tratamento a longo prazo da alergia alimentar;<br />
Divulgar qual o tratamento a<strong>de</strong>quado ao estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada animal, no<br />
caso das hipersensibilida<strong>de</strong>s à picada da pulga, assim como, os tratamentos mais<br />
recentes;<br />
Dar a conhecer o papel do enfermeiro veterinário, como a sensibilização e<br />
prevenção dos clientes.<br />
Estudo e apresentação <strong>de</strong> casos clínicos observados durante o estágio<br />
curricular no Hospital Veterinário Montenegro, no Porto;<br />
2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />
2.1. HIPERSENSIBILIDADES<br />
As hipersensibilida<strong>de</strong>s (ou reacções <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong>) são reacções<br />
excessivas mediadas pelo sist<strong>em</strong>a imunitário, a estímulos que não seriam<br />
prejudiciais a um animal normal. Algo, como os grãos <strong>de</strong> pólen pod<strong>em</strong> provocar<br />
sinais evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> prurido, conjuntivites e espirros persistentes <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />
épocas do ano, a alguns animais, enquanto outros animais da mesma família ou<br />
animais co-habitantes não serão afectados (Brooks, 2010).<br />
<strong>Os</strong> quatro tipos <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> são classificados <strong>em</strong> tipos: um, dois,<br />
três e quatro e, são convencionalmente escritos <strong>em</strong> numeração Romana (I, II, III e<br />
IV). Na realida<strong>de</strong>, por vezes, as síndromes clínicas envolv<strong>em</strong> mais que um tipo (I-IV)<br />
<strong>de</strong> reacções <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> (Brooks, 2010).<br />
No inicio da década <strong>de</strong> 60, as reacções <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> foram divididas<br />
<strong>em</strong> quatro tipos por Coombs e Gell <strong>de</strong> tipo I a tipo IV.<br />
2.1.1. HIPERSENSIBILIDADE TIPO I<br />
A hipersensibilida<strong>de</strong> do tipo I é também conhecida como hipersensibilida<strong>de</strong><br />
imediata e é a base aguda das respostas alérgicas (Brooks, 2010).<br />
Assim, a hipersensibilida<strong>de</strong> tipo I são reacções mediadas por anticorpos<br />
imunoglobulina E (IgE) que se ligam a receptores específicos presentes na<br />
superfície <strong>de</strong> mastócitos e basófilos (Brooks, 2010). Quando os anticorpos IgE se<br />
ligam aos antigénios, os mastócitos e basófilos libertam substâncias (<strong>de</strong>sgranulação)<br />
que causam manifestações clínicas (Oliveira, 2009; Brooks, 2010). A <strong>de</strong>sgranulação,<br />
significa que os mastócitos estimulados libertam o conteúdo dos seus grânulos<br />
citoplasmáticos (Brooks, 2010). Essas reacções são rápidas e ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
minutos após a reexposição ao antigénio (Oliveira, 2009).<br />
2.1.2. HIPERSENSIBILIDADE TIPO II<br />
Também conhecida como hipersensibilida<strong>de</strong> citotóxica, o tipo II <strong>de</strong><br />
hipersensibilida<strong>de</strong> é uma resposta imune <strong>em</strong> que os el<strong>em</strong>entos do sist<strong>em</strong>a imune<br />
são dirigidos para o ataque das células do próprio organismo (Brooks, 2010). Estas<br />
ocorr<strong>em</strong> quando anticorpos imunoglobulina M (IgM) ou imunoglobulina G (IgG) se<br />
3
ligam ao antigénio presente na superfície <strong>de</strong> células e activam a cascata <strong>de</strong><br />
compl<strong>em</strong>ento (produção <strong>de</strong> proteínas <strong>em</strong> que uma se adiciona a outra) que leva à<br />
lise celular ou fagocitose por macrófagos (Oliveira, 2009). Isto ocorre porque as<br />
células-alvo pod<strong>em</strong> ser ina<strong>de</strong>quadamente marcadas com anticorpos, sendo<br />
i<strong>de</strong>ntificadas como prejudiciais (Brooks, 2010). Um ex<strong>em</strong>plo comum é a <strong>de</strong>struição<br />
<strong>de</strong> glóbulos vermelhos imunomediada. (Brooks, 2010).<br />
2.1.3. HIPERSENSIBILIDADE TIPO III<br />
Neste tipo <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong>, os danos teciduais resultam da acumulação<br />
<strong>de</strong> agregados <strong>de</strong> anticorpos e <strong>de</strong> antigénios - formando aglomerados <strong>de</strong> proteínas<br />
chamados complexos imunes (Brooks, 2010). Estes ocorr<strong>em</strong> quando os complexos<br />
formados por antigénio e IgG ou IgM se acumulam na circulação ou nos tecidos e,<br />
activam a cascata <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>ento (Oliveira, 2009). <strong>Os</strong> aglomerados actualmente<br />
compõ<strong>em</strong> a maioria das respostas imunes, mas estes geralmente são <strong>de</strong>struídos por<br />
células fagocíticas. Quando há estimulação imunológica excessiva, os complexos<br />
pod<strong>em</strong> acumular-se e resistir à <strong>de</strong>gradação. <strong>Os</strong> complexos imunes pod<strong>em</strong><br />
permanecer no seu local <strong>de</strong> formação ou pod<strong>em</strong> circular pela corrente sanguínea e<br />
alojar<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> outros tecidos. On<strong>de</strong> quer que eles se form<strong>em</strong>, a presença <strong>de</strong>stes<br />
complexos imunes estimula a inflamação local que causa danos aos tecidos vizinhos<br />
(Brooks, 2010).<br />
Essas reacções ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> horas após a um próximo contacto com o<br />
antigénio (Oliveira, 2009).<br />
2.1.4. HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV<br />
As reacções mediadas pela imunida<strong>de</strong> celular (hipersensibilida<strong>de</strong> do tipo<br />
tardia) são mediadas por linfócitos T (Lt). Após a activação dos Lt, estes libertam<br />
citoquinas (substâncias mensageiras que estimulam as células <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra o<br />
invasor) que levam à acumulação e à activação <strong>de</strong> macrófagos, que causam danos<br />
locais (Oliveira, 2009).<br />
Esta hipersensibilida<strong>de</strong> é essencialmente uma resposta inflamatória,<br />
envolvendo células do sist<strong>em</strong>a imunológico e que po<strong>de</strong> levar várias horas (24-72<br />
horas) para se <strong>de</strong>senvolver após o animal ser exposto e sensibilizado para o<br />
estímulo a que é sensível (Brooks, 2010)<br />
4
2.2. FACTORES INTENSIFICADORES DAS HIPERSENSIBILIDADES<br />
ALÉRGICAS<br />
São vários os factores que pod<strong>em</strong> intensificar o <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
alergias, apesar <strong>de</strong> ainda não ser<strong>em</strong> todos conhecidos.<br />
No entanto, a predisposição hereditária, a ida<strong>de</strong>, e o sexo, por vezes, são<br />
muito relevantes. <strong>Os</strong> principais factores intensificadores das hipersensibilida<strong>de</strong>s são<br />
os aeroalergénios, os trofoalergénios, os irritantes, os auto-alergénios, os alergénios<br />
microbianos e as alterações comportamentais.<br />
<strong>Os</strong> aeroalergénios mais comummente relatados são os ácaros do pó da<br />
casa, especialmente o Dermatophagoi<strong>de</strong>s farinae (Reedy et al., 1997; Prélaud,<br />
1991). Alergias à <strong>de</strong>scamação da pele dos seres humanos, ao pólen e ao mofo são<br />
muito mais raras. Exist<strong>em</strong> reacções cruzadas entre os ácaros do pó doméstico e os<br />
ácaros parasitários, como o Oto<strong>de</strong>ctes cynotis, o que po<strong>de</strong> explicar, <strong>em</strong> parte, a<br />
frequência aparente da sensibilização dos gatos aos ácaros da poeira doméstica. <strong>Os</strong><br />
alergénios provenientes dos ácaros da poeira doméstica são os principais<br />
responsáveis pela sensibilização e pelo <strong>de</strong>senvolvimento dos sinais clínicos <strong>de</strong><br />
doenças alérgicas. Estes ácaros viv<strong>em</strong> geralmente nas roupas da cama, carpetes,<br />
tapetes e outros materiais têxteis, on<strong>de</strong> se alimentam da <strong>de</strong>scamação do epitélio<br />
humano, fungos, bactérias, <strong>de</strong>tritos orgânicos e secreções humanas. A exposição a<br />
alergénios <strong>de</strong> baratas também t<strong>em</strong> sido referida como causa comum <strong>de</strong><br />
sensibilização (Farias, 2007).<br />
<strong>Os</strong> trofoalergénios são capazes <strong>de</strong> induzir uma resposta <strong>de</strong><br />
hipersensibilida<strong>de</strong> e têm orig<strong>em</strong> nas proteínas <strong>de</strong> carnes bovinas, suína, equina e <strong>de</strong><br />
frango, do leite, do ovo, do trigo, da aveia e <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> soja ou <strong>de</strong> fungos e<br />
algas presentes na água. Desta forma, a gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteínas e<br />
ingredientes utilizados na composição da ração, b<strong>em</strong> como os seus métodos <strong>de</strong><br />
processamento e conservação, têm sido responsáveis pela indução da resposta<br />
imunoalérgica (Farias, 2007)<br />
Vários irritantes, como a lã, os tecidos sintéticos, as carpetes, os tapetes, os<br />
agentes <strong>de</strong> limpeza ambiental ou das roupas, os irritantes químicos ou presentes na<br />
superfície <strong>de</strong> plantas ou gramíneas pod<strong>em</strong> provocar a irritação mecânica, modificar<br />
o pH cutâneo, alterando a esta barreira e exacerbar a resposta inflamatória<br />
(Medleau, 1996; Farias, 2007; Nuttal, 2008).<br />
5
<strong>Os</strong> auto-alergénios são um factor intensificador das hipersensibilida<strong>de</strong>s<br />
muito relevante. O trauma contínuo da pele induzido pelo prurido t<strong>em</strong> conduzido à<br />
libertação <strong>de</strong> uma proteína citoplasmática do queratinócito que t<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
activar células T, levando à formação <strong>de</strong> IgE e à libertação <strong>de</strong> citoquinas, realçando<br />
a resposta imunoalérgica e o prurido, sendo um dos responsáveis pela perpetuação<br />
e cronicida<strong>de</strong> das lesões <strong>de</strong>rmatológicas (Farias, 2007).<br />
<strong>Os</strong> alergénios microbianos provocam o excesso <strong>de</strong> citoquinas, que<br />
<strong>de</strong>terminam uma subexpressão <strong>de</strong> genes responsáveis pela formação <strong>de</strong> péptidos<br />
antimicrobianos na pele levando assim à indução, exacerbação e manutenção da<br />
<strong>de</strong>rmatite (Farias, 2007; Nuttal, 2008).<br />
As alterações comportamentais, como a indução <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e actos<br />
compulsivos são relevantes. Adicionalmente, a libertação <strong>de</strong> neuropeptídos por<br />
fibras nervosas epi<strong>de</strong>rmais, induzidos pelo stress, t<strong>em</strong> sido relacionada à diminuição<br />
da apoptose e ao aumento da meia-vida dos eosinófilos, o que colabora para a<br />
iniciação ou a perpetuação dos sinais relacionados com as alergias (Farias, 2007;<br />
Nuttal, 2008).<br />
6
2.3. NOÇÃO DE LIMIAR DE PRURIDO<br />
2.3.1. PRURIDO<br />
Do Latim pruritus ou prurire (ter ou provocar comichão). Sensação <strong>de</strong><br />
comichão na pele relacionada com uma afecção cutânea, com um distúrbio<br />
sistémico ou s<strong>em</strong> presença <strong>de</strong> qualquer causa fisiológica <strong>de</strong>tectável (Figura 1).<br />
Trata-se <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a e não <strong>de</strong> uma patologia (Dethioux, 2006). Este po<strong>de</strong><br />
apresentar inúmeras etiologias, por vezes <strong>de</strong> forma cumulativa: parasitas, agentes<br />
infecciosos, b<strong>em</strong> como alergias (Dethioux, 2006).<br />
Figura 1. Representação esqu<strong>em</strong>ática das lesões<br />
dérmicas provocadas pelo acto <strong>de</strong> coçar. A gravida<strong>de</strong><br />
das lesões é proporcional à frequência e intensida<strong>de</strong><br />
com que o animal se coça. Muitas vezes os pêlos<br />
apresentam-se partidos e a epi<strong>de</strong>rme “<strong>de</strong>scamada”<br />
(Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
2.3.2. LIMIAR DO PRURIDO<br />
De acordo com o princípio limiar alérgico, o prurido <strong>de</strong> diversas doenças <strong>de</strong><br />
pele simultâneas possui características cumulativas (Figura 2, Página 8). Cada<br />
animal t<strong>em</strong> um limiar abaixo do qual sinais clínicos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> pruriginosa individual<br />
não são evi<strong>de</strong>ntes (Kunkle & Halliwell, 2003). As diferentes causas <strong>de</strong> prurido<br />
combinam-se até que o animal exce<strong>de</strong> o seu nível <strong>de</strong> tolerância e comece a coçarse<br />
(Colin, 2010). Assim, quando se consi<strong>de</strong>ram diversas <strong>de</strong>rmatites alérgicas, todas<br />
têm tendência para precipitar o animal para além do seu limite <strong>de</strong> tolerância<br />
(Dethioux, 2006). Se tomarmos o ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> um cão que é simultaneamente<br />
7
alérgico a ácaros do pó da casa (<strong>de</strong>rmatite atópica), <strong>de</strong>rmatite alérgica à picada da<br />
pulga (DAPP) e à carne <strong>de</strong> vaca (alergia alimentar) vai ter muito prurido (Colin,<br />
2010). No entanto, <strong>em</strong> muitos casos uma dieta adaptada (s<strong>em</strong> carne <strong>de</strong> vaca)<br />
associada a um tratamento anti-pulgas correctamente realizado, ajuda o animal a<br />
permanecer abaixo do “limiar” <strong>de</strong> prurido incontrolável e, por consequência, o seu<br />
maneio po<strong>de</strong>rá implicar métodos menos agressivos ou não tão dispendiosos<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Contudo, é indiscutível que exist<strong>em</strong> variações individuais quanto ao limite a<br />
partir do qual o animal começará a coçar-se. Um Jack Russell, mais nervoso, irá<br />
reagir com mais rapi<strong>de</strong>z e intensida<strong>de</strong> a uma situação <strong>de</strong> prurido do que o São<br />
Bernardo <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> mais calma (Figura 3) (Dethioux, 2006).<br />
Figura 2. O efeito cumulativo <strong>de</strong> diferentes alergénios – ambientais,<br />
alimentares ou parasitários – leva o cão a ultrapassar o seu próprio limiar <strong>de</strong><br />
tolerância e provoca prurido acentuado (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
Figura 3. O t<strong>em</strong>peramento do cão, que varia consoante a raça e o<br />
próprio indivíduo, influencia o seu limiar <strong>de</strong> tolerância e <strong>de</strong><br />
reactivida<strong>de</strong> <strong>em</strong> caso <strong>de</strong> prurido (Adaptado <strong>de</strong> Anónimo, 2010a; Luly<br />
2011).<br />
8
2.4. ATOPIA<br />
A <strong>de</strong>rmatite atópica (DA), é uma tendência hereditária a <strong>de</strong>senvolver<br />
anticorpos IgE a alergénios ambientais (pólenes <strong>de</strong> gramíneas, árvores ou ervas,<br />
agentes epidérmicos, insectos ou ácaros) que se pod<strong>em</strong> expressar através <strong>de</strong><br />
sintomas respiratórios, digestivos, oculares ou <strong>de</strong>rmatológicos (Scott, 1995; Reedy<br />
et al., 1997; White, 2002). Embora a teoria mais popular afirme que esta se<br />
<strong>de</strong>senvolva após uma sensibilização a alergénios ambientais através do tracto<br />
respiratório, com lesões a nível ventral, podal e facial, também algumas das lesões<br />
são <strong>de</strong>vido à exposição percutânea Esta doença representa uma proporção<br />
significativa <strong>de</strong> doenças da pele do cão, tendo sido estimado que afecta 3-15% da<br />
população canina (White, 2002).<br />
Acredita-se que a <strong>de</strong>rmatite atópica felina é uma reacção <strong>de</strong><br />
hipersensibilida<strong>de</strong> do tipo I aos alergénios ambientais. Há muitos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong><br />
reacções <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> cutânea e respiratória <strong>em</strong> gatos causados por<br />
exposição a aeroalergénios. A atopia felina po<strong>de</strong> causar sinais clínicos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />
focal ou difusa (White, 2002).<br />
A atopia é, <strong>de</strong>pois da DAPP, o segundo distúrbio <strong>de</strong> pele alérgico mais<br />
comum <strong>em</strong> cães e gatos (White, 2002).<br />
A Dermatite atópica é consi<strong>de</strong>rada a segunda doença <strong>de</strong> pele mais comum<br />
<strong>em</strong> cães alérgicos (Griffin, 1993; Scott, 1995; Reedy et al., 1997). Em ambientes<br />
on<strong>de</strong> não há pulgas, a atopia é consi<strong>de</strong>rada a doença <strong>de</strong> pele alérgica mais comum<br />
(Griffin, 1993; Scott, 1993). Uma vez que este quadro <strong>de</strong>rmatológico se <strong>de</strong>senvolve,<br />
os animais tend<strong>em</strong> a expressar clinicamente a doença <strong>de</strong> forma intermitente ou<br />
constante para o resto <strong>de</strong> suas vidas. Portanto, quando a um paciente é<br />
diagnosticado atopia, o Médico Veterinário (MV) necessita <strong>de</strong> fazer um compromisso<br />
com o tratamento e maneio <strong>de</strong>sta doença para o resto da vida do animal (Rosser,<br />
1999).<br />
9
2.4.1. PATOGÉNESE<br />
Antigamente consi<strong>de</strong>rava-se a via inalatória como uma das vias <strong>de</strong> entrada<br />
dos alergénios no organismo do animal, colocando-se também a hipótese <strong>de</strong> ocorrer<br />
a ingestão dos mesmos. Actualmente, a primeira teoria é rejeitada, por falta <strong>de</strong><br />
evidências, ao contrário do que ocorre no hom<strong>em</strong> (Scott, 1997; Olivry & Hill, 2001;<br />
Mauldin, 2006). Sabe-se hoje, que a principal via <strong>de</strong> penetração dos alergénios é a<br />
percutânea, facto este comprovado por estudos realizados por Thierry Olivry e seus<br />
colaboradores no fim dos anos 90 (Olivry & Hill, 2001; Marsella & Olivry, 2003;<br />
Mauldin, 2006; Dethiox, 2006).<br />
Esta doença t<strong>em</strong> sido <strong>de</strong>scrita como uma reacção <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> do<br />
tipo I, existindo um envolvimento comum mas não estritamente obrigatório <strong>de</strong> IgEs.<br />
As IgGs estão também envolvidas nesta reacção apesar <strong>de</strong> não se conhecer b<strong>em</strong> o<br />
seu papel na DA (Mueller & Jackson, 2003).<br />
A forma como o animal reage após o contacto com um potencial alergénio é<br />
condicionada por factores genéticos, vários tipos <strong>de</strong> células inflamatórias<br />
(principalmente mastócitos, eosinófilos, neutrófilos, linfócitos, células <strong>de</strong>ndríticas,<br />
células <strong>de</strong> Langerhans e células da família dos macrófagos), mediadores<br />
inflamatórios e por uma barreira cutânea <strong>de</strong>ficiente. Assim as células <strong>de</strong>ndríticas e<br />
as células <strong>de</strong> Langerhans processam e apresentam os antigénios (ags) aos Lt, <strong>de</strong><br />
modo a que estes libert<strong>em</strong> interleucinas (ILs). Estas últimas vão activar os Linfócitos<br />
B (Lb), que por sua vez vão produzir as imunoglobulinas, mais especificamente IgEs,<br />
que se vão ligar à superfície dos mastócitos cutâneos – fase <strong>de</strong> sensibilização do<br />
animal aos alergénios. Mais tar<strong>de</strong> os mastócitos da <strong>de</strong>rme, ao contactar<strong>em</strong> com os<br />
ags aos quais o animal é sensível, proporcionam a ligação entre estes e as IgEs que<br />
exist<strong>em</strong> à superfície da referida célula inflamatória. Esta ligação provoca a<br />
<strong>de</strong>sgranulação dos mastócitos, com libertação <strong>de</strong> substâncias inflamatórias como<br />
histamina, serotonina, enzimas, leucotrienos, citoquinas e o Factor α <strong>de</strong> Necrose<br />
Tumoral. As substâncias inflamatórias libertadas vão interagir com outras células<br />
inflamatórias <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando alterações vasculares relacionadas com a inflamação<br />
(ed<strong>em</strong>a, prurido, vasodilatação, quimiotaxia dos eosinófilos) e broncoconstrição –<br />
fase <strong>de</strong> libertação dos mediadores inflamatórios e consequentes manifestações<br />
clínicas (Figura 4, Página 11) (Hill & Olivry, 2001; Dethiox, 2006).<br />
10
Figura 4. A <strong>de</strong>rmatite atópica pressupõe uma primeira sensibilização do cão aos alergénios (fase<br />
A). Neste processo participam diversas células e a sua activação provoca a libertação <strong>de</strong><br />
mediadores inflamatórios (fase B) responsáveis por manifestações clínicas, como é o caso do<br />
prurido. Deste modo, quando um cão previamente sensibilizado, contacta com o alergénio,<br />
produz-se a <strong>de</strong>sgranulação dos mastócitos, com consequente libertação <strong>de</strong> mediadores<br />
inflamatórios que, entre outros sintomas, originam o prurido (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
2.4.2. INCIDÊNCIA<br />
2.4.2.1. PRINCIPAIS RAÇAS PREDISPOSTAS<br />
a) Cão<br />
Quadro 1. <strong>Principais</strong> raças caninas com predisposição para a atopia. A doença também po<strong>de</strong> ocorrer<br />
<strong>em</strong> outras raças e <strong>em</strong> alguns cruzamentos (Adaptado <strong>de</strong> White, 2002; Mueller & Jackson, 2003;<br />
Prélaud, 2005).<br />
American Staffordshire Bull Terrier Jack Russell Terrier<br />
b) Gato<br />
Boston Terrier Labrador Retriever<br />
Boxer Lhasa Apso<br />
Bull Terrier Pastor Al<strong>em</strong>ão<br />
Bulldog Francês Pug<br />
Bulldog Inglês Schnauzer<br />
Cairn Terrier Scottish Terrier<br />
Cavalier King Charles Setters<br />
Dálmata Shar pei<br />
Fox Terrier Shih tzu<br />
Gol<strong>de</strong>n Retriever West Higland White Terrier<br />
No gato, a atopia é diagnosticada com menos frequência do que no cão,<br />
como tal, não exist<strong>em</strong> dados <strong>de</strong> nenhuma predisposição (White, 2002).<br />
11
2.4.2.2. HEREDITARIEDADE<br />
Devido à observação clínica <strong>de</strong> que a DA ocorre com mais frequência <strong>em</strong><br />
certas raças <strong>de</strong> cães e <strong>em</strong> certas linhas familiares, presume-se que há uma<br />
predisposição genética para a doença (Nuttal, 2009). Não há dúvidas <strong>de</strong> que<br />
factores genéticos estão envolvidos, e que a sensibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser transmitida <strong>de</strong><br />
um animal para sua <strong>de</strong>scendência (Colin, 2010).<br />
A predisposição genética t<strong>em</strong> que ser vista <strong>em</strong> perspectiva, já que as raças<br />
mais fort<strong>em</strong>ente afectadas pod<strong>em</strong> variar <strong>de</strong> país para país (Colin, 2010).<br />
Por isso, é possível criar linhagens <strong>de</strong> cães atópicos, sensibilizados <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
uma ida<strong>de</strong> muito jov<strong>em</strong> com quantida<strong>de</strong>s ínfimas <strong>de</strong> alergénios (Sousa & Marsella,<br />
2001; Colin, 2010). Assim, os animais com atopia não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser utilizados para a<br />
reprodução (Colin, 2010). Assim as consequências práticas <strong>de</strong>stes trabalhos<br />
confirmam a importância <strong>de</strong> evitar a reprodução <strong>de</strong> animais afectados, pelo que se<br />
recomenda a esterilização dos machos e fêmeas atópicos (Dethioux, 2006).<br />
Diversos estudos avaliaram a hereditarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta afecção no cão.<br />
Provavelmente, o modo <strong>de</strong> transmissão é <strong>de</strong> carácter dominante, apesar <strong>de</strong> outros<br />
genes participar<strong>em</strong> igualmente no <strong>de</strong>senvolvimento da doença clínica (Sousa &<br />
Marsella, 2001).<br />
Num estudo <strong>em</strong> que foram utilizados cães Beagle, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir<br />
níveis elevados <strong>de</strong> IgE estava <strong>de</strong>terminada a ser geneticamente herdada <strong>de</strong> forma<br />
dominante. No entanto, os altos níveis <strong>de</strong> IgE pod<strong>em</strong> ser produzidos se os animais<br />
foram sensibilizados com antigénios repetidamente entre a primeira e quarta<br />
s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (Nuttal, 2009).<br />
2.4.2.3. IDADE<br />
A DA é uma afecção observada <strong>em</strong> adultos jovens. De forma geral, os sinais<br />
clínicos manifestam-se <strong>em</strong> ida<strong>de</strong>s compreendidas entre o primeiro e terceiro ano,<br />
<strong>em</strong>bora já tenham sido <strong>de</strong>scritos casos <strong>em</strong> cães com três meses e com doze anos<br />
(Dethioux, 2006). A doença geralmente começa como uma <strong>de</strong>rmatose pruriginosa<br />
com picos sazonais no Verão e no Outono. O probl<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> ser transformado num<br />
modo sazonal (White, 2002).<br />
12
2.4.2.4. SEXO<br />
Encontram-se representados ambos os sexos, <strong>em</strong>bora os cães pareçam ter<br />
uma incidência ligeiramente maior (White, 2002).<br />
2.4.3. BARREIRA CUTÂNEA<br />
2.4.3.1. SITUAÇÃO NORMAL<br />
A pele é um órgão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões, uma vez que representa 24% do<br />
peso corporal <strong>em</strong> cachorros e entre 12 a 15% <strong>em</strong> cães adultos – é indispensável à<br />
vida. Funciona como barreira entre o organismo e o ambiente exterior (Figura 5).<br />
Confere protecção física e química contra traumatismos, produtos irritantes, raios<br />
solares, mas também contra microrganismos, perdas <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> electrólitos. Esta<br />
função <strong>de</strong> barreira é <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhada, essencialmente, pela epi<strong>de</strong>rme (Dethioux,<br />
2006).<br />
Figura 5. Corte histológico da pele (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
2.4.3.2. EM CÃES ATÓPICOS<br />
A microscopia electrónica realizada aos lípidos intercelulares do estrato<br />
córneo <strong>de</strong> cães saudáveis e atópicos, revelou alterações nos indivíduos com DA. As<br />
lamelas eram heterogéneas e, quando presentes, apresentavam uma estrutura<br />
anormal. Para além disso, quando se compara a epi<strong>de</strong>rme <strong>de</strong> um cão saudável com<br />
uma amostra recolhida numa zona ilesa <strong>de</strong> um animal atópico, constata-se uma<br />
alteração na continuida<strong>de</strong> e espessura das lamelas lipídicas intercelulares dos cães<br />
doentes (Inman, 2001).<br />
13
Com base nestas observações, compreen<strong>de</strong>-se facilmente que a epi<strong>de</strong>rme<br />
dos cães atópicos tenha tendência para <strong>de</strong>sidratar e seja menos estanque à<br />
penetração <strong>de</strong> antigénios. Em medicina humana, a utilização <strong>de</strong> tópicos hidratantes<br />
e <strong>em</strong>olientes faz parte do tratamento diário essencial dos doentes com <strong>de</strong>rmatite<br />
atópica. Tendo <strong>em</strong> conta o obstáculo que o pêlo representa, b<strong>em</strong> como, as<br />
dificulda<strong>de</strong>s associadas à aplicação <strong>de</strong> champô e loções nos carnívoros domésticos,<br />
potencializar a função da barreira cutânea através <strong>de</strong> alimentação afigura-se como<br />
uma solução alternativa muito interessante (Dethioux, 2006).<br />
2.4.4. SINAIS CLÍNICOS<br />
De todos os animais afectados, 60-70%, tinham lesões visíveis na pele<br />
(White, 2002).<br />
O principal sinal da doença é o prurido, que o animal exibe coçando,<br />
lambendo, mordiscando ou esfregando a área afectada. Outros sinais inclu<strong>em</strong><br />
irritabilida<strong>de</strong>, e, por vezes, alterações <strong>de</strong> comportamento (perda <strong>de</strong> apetite,<br />
agressivida<strong>de</strong>) (Dethioux, 2006). <strong>Os</strong> sinais clínicos são causados por lesões <strong>de</strong> autotraumatismo<br />
induzidos pelo prurido (Harvey & Wilkison, 1996).<br />
As áreas mais frequent<strong>em</strong>ente afectadas são a face (especialmente a região<br />
periorbital e do focinho), região palmar/plantar, região ventral do abdómen, região<br />
axilar/inguinal, canal auditivo e pavilhão auricular (Figura 6). Quando o canal auditivo<br />
e, o pavilhão auricular são afectados, a otite externa ou média é uma complicação<br />
comum. Da mesma forma, quando a região afectada é a periorbital, <strong>de</strong>senvolve-se<br />
frequent<strong>em</strong>ente a conjuntivite (Rosser, 1999).<br />
Na DA, o prurido tanto po<strong>de</strong> ser localizado (por ex<strong>em</strong>plo, uma otite,<br />
representando o único sintoma da afecção, como suce<strong>de</strong> nas alergias alimentares),<br />
como generalizado, sendo esta última a situação mais frequente (Dethioux, 2006).<br />
Figura 6. Uma West Highland White Terrier, atópica <strong>de</strong> seis<br />
anos. À esquerda revela erit<strong>em</strong>a, papúlas auriculares e uma<br />
ligeira otite. À direita, apresenta, a nível do abdómen ventral,<br />
erit<strong>em</strong>a. Consultar caso clínico. (Original do autor).<br />
14
Quadro 2. Padrão <strong>de</strong> distribuição das manifestações clínicas da DA segundo Prélaud (1998)<br />
(Adaptado <strong>de</strong> Nóbrega D, 2010).<br />
Formas Típicas<br />
Forma Clássica Forma Grave<br />
Localização do prurido: na face – pavilhões Desenvolve-se <strong>de</strong>vido à cronicida<strong>de</strong> ou<br />
auriculares, lábios, pálpebras; e/ou nos dígitos; e/ou a uma associação com alterações<br />
região inguinal, região axilar, cotovelo ou jarrete e importantes na formação da camada<br />
região anal;<br />
córnea;<br />
Lesões: são primárias - erit<strong>em</strong>a ou pápulas, por Prurido: violento;<br />
vezes com alteração da pigmentação dos pêlos; Estado geral: po<strong>de</strong> estar alterado;<br />
Uma xerose cutânea intensa po<strong>de</strong> traduzir-se numa Infecções bacterianas e/ou fúngicas<br />
pelag<strong>em</strong> com aspecto baço ou as lesões pod<strong>em</strong> ser (Malassezia spp.) <strong>de</strong> superfície: quase<br />
extensas e <strong>de</strong>vidas ao prurido - alopécia, sist<strong>em</strong>áticas;<br />
liquenificação, escoriações e hiperpigmentação; Esta forma é rara nos animais;<br />
Maioria dos cães atópicos evolui para esta forma na<br />
ausência <strong>de</strong> tratamento.<br />
Lesões: generalizadas por todo o corpo.<br />
Formas Atípicas<br />
São essencialmente as formas localizadas <strong>de</strong> DA: otite externa isolada, podo<strong>de</strong>rmatite bilateral<br />
e hiperqueratose perimamilar;<br />
Estas manifestações isoladas <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>-se antes que o prurido constitua o motivo da<br />
consulta;<br />
O prurido, mo<strong>de</strong>rado ou nulo, po<strong>de</strong> não ser observado pelo proprietário.<br />
2.4.5. DIAGNÓSTICO<br />
O diagnóstico da DA é baseado numa anamnese <strong>de</strong>talhada, Exame do<br />
Estado Geral (EEG) minucioso, exclusão <strong>de</strong> doenças que causam manifestações<br />
clínicas idênticas e provas alérgicas positivas, já que não exist<strong>em</strong> sintomas e lesões<br />
patognomónicos <strong>de</strong>sta afecção (DeBoer & Hiller, 2001; Halliwell, 2006). Dev<strong>em</strong><br />
então estar presentes uma combinação <strong>de</strong> sintomas e lesões fort<strong>em</strong>ente associados<br />
com a doença (DeBoer e Hiller, 2001) e ser dada especial importância à dieta, ida<strong>de</strong><br />
das primeiras manifestações da doença, controlo anti-parasitário efectuado e<br />
presença ou não <strong>de</strong> sazonalida<strong>de</strong> ou variações associadas ao ambiente on<strong>de</strong> o<br />
animal vive (Vieira, 2008).<br />
A partir do momento <strong>em</strong> que se chega ao diagnóstico da doença exist<strong>em</strong><br />
duas opções, iniciar o tratamento sintomático e/ou utilizar os dados recolhidos nos<br />
testes alérgicos para instituir um tratamento etiológico (Halliwell, 2006).<br />
2.4.5.1. ANAMNESE<br />
Esta parte da consulta é <strong>de</strong> importância extr<strong>em</strong>a. De facto, o MV só po<strong>de</strong>rá<br />
orientar o seu diagnóstico <strong>de</strong> forma precisa com base numa história <strong>de</strong>talhada. É<br />
imprescindível recolher toda a informação disponível sobre o caso, que permita<br />
confirmar ou excluir uma suspeita. Para além disso, conhecer o modo <strong>de</strong> vida do<br />
15
animal, o seu ambiente, a eventual presença <strong>de</strong> congéneres, a evolução dos sinais<br />
clínicos, ajuda o MV a eliminar, logo à partida, diversos diagnósticos diferenciais<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Para evitar esquecimentos, uma ficha-<strong>de</strong>rmatológica, previamente<br />
preparada, revelar-se-á bastante útil (Dethioux, 2006).<br />
Dever-se-á dar particular <strong>de</strong>staque à dieta, aos tratamentos anti-parasitários,<br />
ao momento <strong>em</strong> que a sintomatologia se manifestou pela primeira vez na vida do<br />
animal, assim como as eventuais variações associadas à época do ano ou ao<br />
ambiente <strong>em</strong> que o animal vive (Dethioux, 2006).<br />
2.4.5.2. EXAME DO ESTADO GERAL<br />
Antes <strong>de</strong> analisar as lesões <strong>de</strong>rmatológicas e realizar exames<br />
compl<strong>em</strong>entares <strong>de</strong> diagnóstico, é indispensável realizar um EEG completo, s<strong>em</strong><br />
esquecer a cavida<strong>de</strong> oral (uma afecção <strong>de</strong>ntária po<strong>de</strong> estar na orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> sialorreia<br />
que, por sua vez, provoca uma queilite), as articulações, o sist<strong>em</strong>a urogenital<br />
(incontinência responsável pela <strong>de</strong>rmatite) (Quadro 3) (Dethioux, 2006).<br />
O eventual diagnóstico <strong>de</strong> afecções concomitantes influência a opção do<br />
tratamento (incompatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certas moléculas com o <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> algumas<br />
funções biológicas) (Dethioux, 2006).<br />
Quadro 3. Em 1986, um artigo que constitui ainda uma referência na matéria, Ton Will<strong>em</strong>se<br />
publicou uma lista dos critérios <strong>de</strong> diagnóstico principais e secundários que pod<strong>em</strong> ser<br />
utilizados para corroborar uma suspeita <strong>de</strong> DA. O cão <strong>de</strong>verá apresentar, no mínimo, três <strong>de</strong><br />
cada categoria (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
Critérios principais<br />
Prurido<br />
Distribuição típica: facial e/ou digital, liquenificação ao nível do tarso e/ou carpo<br />
Dermatite crónica ou recorrente<br />
Antece<strong>de</strong>ntes individuais ou familiares <strong>de</strong> atopia e/ou presença <strong>de</strong> predisposição racial<br />
Critérios secundários<br />
Aparecimento dos sintomas antes dos 3 anos d vida<br />
Erit<strong>em</strong>a facial, Queilite<br />
Conjutivite bilateral<br />
Pio<strong>de</strong>rmite superficial estafilócocica<br />
Hiperhidrose<br />
Reacções cutâneas positivas <strong>em</strong> testes a alergénios ambientais<br />
Níveis elevados <strong>de</strong> IgE específicos<br />
Níveis elevados <strong>de</strong> IgG específicos<br />
16
Quadro 4. Estes diferentes critérios foram adaptados aos animais por Pascal Prélaud, <strong>em</strong><br />
1998 (os critérios <strong>de</strong> Will<strong>em</strong>se foram obtidos da medicina humana). Neste caso também, uma<br />
reacção positiva pelo menos a três das condições constitui uma forte suspeita <strong>de</strong> DA.<br />
Critérios actualizados<br />
Aparecimento <strong>de</strong> sintomas entre os 6 meses e os 3 anos<br />
Prurido responsivo aos corticosterói<strong>de</strong>s<br />
Podo<strong>de</strong>rmatite anterior interdigital bilateral erit<strong>em</strong>atosa<br />
Erit<strong>em</strong>a da face interna do pavilhão auricular<br />
Queilite<br />
2.4.5.3. EXAME DERMATOLÓGICO<br />
O prurido é o sintoma mais referido, antes da presença <strong>de</strong> lesões.<br />
Um cão com DA tanto po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lesões<br />
<strong>de</strong>rmatológicas como a total ausência <strong>de</strong> sintomas visíveis, com excepção do<br />
prurido que terá motivado a consulta (Dethioux, 2006).<br />
Uma vez que é uma afecção pruriginosa, é frequente a presença <strong>de</strong> lesões<br />
(escoriações) resultantes das diversas acções do animal para minorar o prurido:<br />
coçar, esfregar, mordiscar a zona <strong>em</strong> causa (Figura 7, Página 18). A <strong>de</strong>scoloração<br />
do pêlo <strong>em</strong> áreas que são constant<strong>em</strong>ente hume<strong>de</strong>cidas pela saliva constitui um<br />
excelente indicador. <strong>Os</strong> pêlos brancos tornam-se vermelhos e os pêlos pretos<br />
adquir<strong>em</strong> uma tonalida<strong>de</strong> acobreada (Dethioux, 2006).<br />
À medida que a doença evolui, as lesões <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>-se e tornam-se<br />
crónicas, observando-se então alopécia, liquenificação, escoriações e<br />
hiperpigmentação (Dethioux, 2006).<br />
Em caso <strong>de</strong> pio<strong>de</strong>rmatite, é observável a presença <strong>de</strong> pápulas e pústulas<br />
(lesões primárias), e colaretes epidérmicos ou crostas (lesões secundárias)<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Frequent<strong>em</strong>ente a atopia é complicada por infecções secundárias<br />
<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> proliferações bacterianas e/ou fúngicas. Estes organismos<br />
infecciosos agravam o quadro clínico por <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<strong>em</strong> um prurido por vezes<br />
violento (Dethioux, 2006).<br />
Em certos casos, o EEG do animal apresenta-se alterado. A localização das<br />
lesões <strong>de</strong>verá orientar as hipóteses <strong>de</strong> diagnóstico (Dethioux, 2006).<br />
17
Figura 7. À esquerda, a distribuição esqu<strong>em</strong>ática ventral das<br />
lesões <strong>de</strong> atopia e, à direita a localização dorsal das lesões<br />
(Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006)<br />
2.3.5.4. RASPAGENS CUTÂNEAS<br />
Estes exames <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizados <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>ática. Muito <strong>em</strong>bora<br />
sejam inúteis nas zonas liquenificadas (d<strong>em</strong>asiado espessas e, <strong>em</strong> geral, crónicas),<br />
as raspagens <strong>de</strong> pele revelam a presença <strong>de</strong> diversos parasitas, pelo que <strong>de</strong>verão<br />
ser efectuadas <strong>em</strong> lesões recentes que não tenham sofrido ainda alterações. É<br />
aconselhável não tosquiar a área a examinar (<strong>em</strong> geral, os aparelhos <strong>de</strong> tosquia<br />
<strong>de</strong>stro<strong>em</strong> a camada queratinosa, o que comporta o risco <strong>de</strong> r<strong>em</strong>over<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
simultâneo <strong>de</strong>terminados parasitas), mas não existe qualquer contra-indicação <strong>em</strong><br />
relação ao uso <strong>de</strong> tesouras para facilitar o acesso à pele (Dethioux, 2006).<br />
O material recolhido é espalhado numa lâmina após incorporação <strong>de</strong> uma<br />
gota <strong>de</strong> uma solução clarificante (lactofenol) ou óleo mineral, para favorecer uma<br />
boa fixação (Dethioux, 2006).<br />
2.4.5.5. CITOLOGIA CUTÂNEA<br />
Este exame é indispensável para o diagnóstico <strong>de</strong> infecções secundárias<br />
bacterianas ou fúngicas muito frequentes na DA. Permite também monitorizar a<br />
evolução da patologia e a eficácia da terapêutica anti-infecciosa (Dethioux, 2006).<br />
A técnica a<strong>de</strong>quada consiste na recolha <strong>de</strong> esfregaços, zaragatoas, ou o<br />
teste com fita a<strong>de</strong>siva, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo a escolha do tipo e localização da lesão. A<br />
18
citologia do conteúdo <strong>de</strong> uma pústula diagnostica uma pio<strong>de</strong>rmite, muito <strong>em</strong>bora na<br />
prática, a observação <strong>de</strong> pápulas, pústulas e coroas epidérmicas seja suficiente<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Após a coloração da amostra, o exame microscópico permite i<strong>de</strong>ntificar<br />
diferentes tipos <strong>de</strong> células envolvidas na reacção inflamatória b<strong>em</strong> como uma<br />
eventual proliferação <strong>de</strong> bactérias/leveduras (Dethioux, 2006).<br />
No caso <strong>de</strong> infecção bacteriana, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser observados neutrófilos para ser<br />
feito um diagnóstico conclusivo <strong>de</strong> pio<strong>de</strong>rmatite (Dethioux, 2006).<br />
2.4.5.6. REACÇÕES INTRADÉRMICAS<br />
Consiste <strong>em</strong> mimetizar o que suce<strong>de</strong> num <strong>de</strong>terminado indivíduo durante o<br />
episódio <strong>de</strong> atopia para tentar i<strong>de</strong>ntificar as IgE (específicos para cada alergénio),<br />
fixados nos mastócitos da <strong>de</strong>rme. Através da inoculação local do alergénio (razão do<br />
termo intradérmico), é possível observar uma reacção que correspon<strong>de</strong> à<br />
<strong>de</strong>sgranulação dos mastócitos, que se traduz pela magnitu<strong>de</strong> da formação <strong>de</strong> uma<br />
placa pruriginosa claramente visível (Figura 8, Página 20) (Dethioux, 2006).<br />
<strong>Os</strong> vários extractos <strong>de</strong> alergénios para uso veterinário contêm a maioria das<br />
potenciais sensibilizações a nível da Europa, muito <strong>em</strong>bora seja necessário adaptar<br />
os testes à situação local. Estes produtos são <strong>de</strong> difícil conservação<br />
(armazenamento <strong>em</strong> frigorífico) e relativamente frágeis, uma vez que os extractos<br />
proteicos se encontram muito diluídos (Dethioux, 2006).<br />
Assim e por razões <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> económica, é por vezes mais rentável para o<br />
clínico solicitar a realização dos testes intradérmicos junto <strong>de</strong> um colega<br />
especialista, do que investir num kit <strong>de</strong> testes dum prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> bastante<br />
reduzido (Dethioux, 2006).<br />
Estes testes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizados, <strong>em</strong> média, duas a três vezes por<br />
s<strong>em</strong>ana, <strong>de</strong> forma a garantir precisão e consistência dos resultados, assim como, na<br />
sua interpretação (White, 2002).<br />
O melhor período do ano para realizar testes <strong>em</strong> animais com alergias<br />
sazonais é no fim da estação e <strong>de</strong>pois dos sinais clínicos diminuíram. <strong>Os</strong> animais<br />
com alergias não sazonais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> realizar testes intradérmicos duas vezes por ano<br />
e, <strong>em</strong> períodos opostos (White, 2002).<br />
19
Figura 8. À esquerda, a realização <strong>de</strong> teste alérgico intradérmico. À direita, o resultado <strong>de</strong> teste<br />
alérgico intradérmico, <strong>em</strong> que a seta vermelha indica o controlo positivo e, a ver<strong>de</strong> o controlo<br />
negativo. As setas amarela e azul indicam, respectivamente, uma reacção positiva e a uma<br />
reacção negativa (Adaptado <strong>de</strong> Nóbrega D, 2010).<br />
2.4.5.7. DOSEAMENTOS SEROLÓGICOS DE IGE<br />
<strong>Os</strong> testes <strong>de</strong> alergia in vitro pod<strong>em</strong> ser úteis quando não é possível optar por<br />
um teste intradérmico, <strong>de</strong>vido à sua indisponibilida<strong>de</strong>, a fármacos que possam<br />
causar interferência ou <strong>de</strong>vido à má condição da pele (White, 2002).<br />
Consiste na i<strong>de</strong>ntificação dos anticorpos específicos para os alergénios, <strong>em</strong><br />
circulação no sangue do paciente. Utiliza-se a reacção <strong>de</strong> ELISA (Enzyme Linked<br />
ImmunoSorbent Assay). O RAST (Radio AllergoSorbent Test) é uma técnica<br />
<strong>de</strong>sactualizada (Dethioux, 2006).<br />
Estes testes têm registado uma utilização crescente, uma vez que os<br />
reagentes são cada vez mais purificados e específicos. É relativamente fácil<br />
proce<strong>de</strong>r à recolha <strong>de</strong> uma amostra <strong>de</strong> sangue e evita que o MV seja obrigado a<br />
investir num conjunto <strong>de</strong> antigénios com uma caducida<strong>de</strong> limitada. No entanto, é<br />
preciso não esquecer que consist<strong>em</strong> na medição das concentrações específicas <strong>de</strong><br />
IgE presentes no soro, o que não implica necessariamente que o IgE <strong>em</strong> causa seja<br />
responsável pela reacção alérgica do animal <strong>em</strong> estudo. (Dethioux, 2006)<br />
Um estudo ainda não publicado (DeBoer D, no Simpósio OSU da Royal<br />
Canin, Outubro <strong>de</strong> 2005) confirma a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher criteriosamente o<br />
laboratório: amostras <strong>de</strong> cães saudáveis ou <strong>de</strong> soro <strong>de</strong> bovino revelaram-se<br />
positivas e o mesmo soro, enviado por diversas vezes ao mesmo laboratório, n<strong>em</strong><br />
s<strong>em</strong>pre apresentou resultados idênticos (Dethioux, 2006).<br />
20
Num cenário i<strong>de</strong>al, a utilização <strong>de</strong> ambos os métodos permitiria, s<strong>em</strong> dúvida,<br />
obter o máximo <strong>de</strong> informação, mas a realida<strong>de</strong> financeira obriga a realizar escolhas<br />
(Dethioux, 2006).<br />
<strong>Os</strong> testes usados na clínica permit<strong>em</strong> <strong>de</strong>tectar a presença <strong>de</strong> IgE séricos<br />
direccionados contra uma mistura <strong>de</strong> diferentes alergénios, frequent<strong>em</strong>ente<br />
implicados na DA (Dethioux, 2006).<br />
Foi estabelecida uma associação entre os testes <strong>de</strong> alergia in vitro e a<br />
ocorrência frequente <strong>de</strong> falsos positivos (ou seja, i<strong>de</strong>ntificada atopia <strong>em</strong> cães<br />
normais). Acredita-se que os resultados falsos positivos são <strong>de</strong>vido aos altos níveis<br />
circulantes <strong>de</strong> anticorpos IgE contra endoparasitas ou ectoparasitas (White, 2002).<br />
2.4.5.8. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL (White, 2002)<br />
Alergias alimentar, <strong>de</strong> contacto e à picada <strong>de</strong> pulga;<br />
Pio<strong>de</strong>rma superficial;<br />
Sarna/sarna notoédrica<br />
Dermatite por Malassezia<br />
D<strong>em</strong>odicose<br />
Dermatofitoses<br />
Hipersensibilida<strong>de</strong> aos parasitas intestinais (raro)<br />
2.4.6. TRATAMENTO<br />
Se analisarmos a literatura disponível, quer a nível <strong>de</strong> medicina humana<br />
quer veterinária, constatamos que, <strong>em</strong>bora a atopia seja <strong>de</strong>scrita há já muito t<strong>em</strong>po,<br />
o tratamento t<strong>em</strong>-se revelado s<strong>em</strong>pre bastante difícil. As recomendações actuais na<br />
prática veterinária recomendam uma abordag<strong>em</strong> global da afecção – fala-se <strong>de</strong><br />
multiterapia (Figura 9, Página 22) (Dethioux, 2006).<br />
21
Figura 9. <strong>Principais</strong> linhas <strong>de</strong> acção terapêutica (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
Consi<strong>de</strong>rando a natureza crónica, repetitiva e incurável da <strong>de</strong>rmatite atópica,<br />
é essencial estabelecer uma boa comunicação com o proprietário <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />
(Colin, 2010).<br />
O objectivo principal é ajudá-lo a administrar o tratamento correctamente<br />
para que ele obtenha os resultados positivos e continue a ser motivado. Isto é útil<br />
para ajudá-lo a seguir os protocolos, por ex<strong>em</strong>plo, com o pré-agendamento <strong>de</strong><br />
procedimentos (datas <strong>de</strong> corticoterapia, champôs, injecções <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssensibilização,<br />
tratamentos anti-pulgas...) (Colin, 2010).<br />
Isto também é importante para incentivá-lo, ajudando-o a ver as melhorias<br />
entre os check-ups. O proprietário <strong>de</strong>ve ser convidado a anotar regularmente o nível<br />
e aparecimento <strong>de</strong> prurido e outros sinais clínicos, e tirar fotos do animal, mostrando<br />
posteriormente as lesões (Colin, 2010).<br />
2.4.6.1. EVICÇÃO DO ALERGÉNIO<br />
Como é óbvio, esta seria a opção i<strong>de</strong>al mas infelizmente, na prática, são<br />
raros os casos <strong>em</strong> que é realizável:<br />
<strong>Os</strong> alergénios são i<strong>de</strong>ntificados através da anamnese (sazonabilida<strong>de</strong>, área<br />
do surto), <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> provocação e testes alérgicos.<br />
22
<strong>Os</strong> ácaros do pó doméstico (Dermatophagoi<strong>de</strong>s Farinae e D. Pteronyssinus)<br />
são vectores <strong>de</strong> alergénios frequent<strong>em</strong>ente responsáveis pela DA. Detectam-se<br />
concentrações elevadas <strong>de</strong>stes alergénios <strong>em</strong> almofadas, colchões, tapetes, b<strong>em</strong><br />
como, <strong>em</strong> poltronas e sofás.<br />
É possível reduzir a carga antigénica através <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> higiene<br />
introduzidas no meio ambiente do animal: colchão anti-pulgas, aspiradores com<br />
filtros, acaricidas e <strong>de</strong>snaturantes (Figura 10). Assim, o tratamento das divisões da<br />
casa com benzoato <strong>de</strong> benzilo, aplicado cuidadosa e repetidamente, traduziu-se na<br />
negativização dos testes para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> ácaros e na melhoria dos sinais clínicos<br />
<strong>de</strong> animais atópicos (Swinnen & Vroom, 2004). <strong>Os</strong> aparelhos <strong>de</strong> ar condicionado e<br />
os <strong>de</strong>sumificadores também pod<strong>em</strong> ajudar a diminuir a pressão alergénica<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Figura 10. Para limitar a carga alergénica, po<strong>de</strong> revelar-se útil habituar<br />
o animal <strong>de</strong> estimação a dormir num colchão adaptado para evitar a<br />
proliferação <strong>de</strong> ácaros (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.2. IMUNOTERAPIA<br />
Se o alergénio ou alergénios for<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificados com precisão e se o<br />
proprietário estiver interessado e, experimentar o tratamento, a imunoterapia<br />
específica (por vezes referida como <strong>de</strong>ssensibilização) é provavelmente, a melhor<br />
opção (Dethioux, 2006).<br />
a) Princípio e modo <strong>de</strong> acção<br />
A imunoterapia específica (ITE; SIT – Specific Immunotherapy) consiste na<br />
administração <strong>de</strong> doses crescentes <strong>de</strong> um extracto <strong>de</strong> alergénios aos quais o animal<br />
revelou sensibilida<strong>de</strong>. Designa-se muitas vezes <strong>de</strong> modo indistinto <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssensibilização e da hipossensibilização, no entanto, é preferível utilizar o termo<br />
imunoterapia específica (Dethioux, 2006).<br />
23
Exist<strong>em</strong> diversas hipóteses para explicar os mecanismos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssenbilização. A teoria aceite nos últimos quarenta anos é que a inoculação <strong>de</strong><br />
pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alergénios específicos induz uma resposta do sist<strong>em</strong>a<br />
imunitário que, posteriormente, <strong>de</strong>senvolve IgG ou anticorpos “bloqueadores”<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Outras teorias suger<strong>em</strong> a supressão das células-T, a alteração no rácio <strong>de</strong><br />
Lt, a modificação da sensibilida<strong>de</strong> ao nível das células secretoras <strong>de</strong> mediadores, as<br />
menores concentrações das IgEs circulantes, o <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> reactivida<strong>de</strong> dos<br />
órgãos alvo, ou associação <strong>de</strong>stas diversas hipóteses (Zur, 2002).<br />
b) Eficácia<br />
<strong>Os</strong> estudos publicados até à data d<strong>em</strong>onstram uma boa resposta à<br />
imunoterapia específica. Muitas vezes este tratamento permite também reduzir as<br />
quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fármacos administrados concomitant<strong>em</strong>ente. De facto, um estudo<br />
retrospectivo conduzido <strong>em</strong> 169 cães revela uma resposta boa e excelente <strong>em</strong> 72%<br />
dos casos e que 19.5% dos animais não precisaram <strong>de</strong> qualquer outra forma <strong>de</strong><br />
tratamento (Zurl, 2002). Noutro estudo, a taxa <strong>de</strong> sucesso situou-se <strong>em</strong> 64%. As<br />
melhorias foram rapidamente constatadas: no intervalo <strong>de</strong> 2 a 5 meses, apesar <strong>de</strong><br />
habitualmente se convencionar que <strong>de</strong>va <strong>de</strong>correr num período compreendido entre<br />
6 e 9 meses para se chegar a uma conclusão (Schnbl et al, 2006).<br />
2.4.6.3. CORTICOSTERÓIDES<br />
Ao longo dos últimos 30 anos, têm sido estes os fármacos prescritos com<br />
maior frequência, para o tratamento da DA (Dethioux, 2006).<br />
Quer sob a forma oral ou tópica (<strong>de</strong>rmocorticói<strong>de</strong>s), são s<strong>em</strong>pre parte<br />
integrante do tratamento <strong>de</strong>sta patologia (Olivry & Sousa, 2001).<br />
<strong>Os</strong> veterinários estão conscientes dos efeitos secundários <strong>de</strong>stas moléculas,<br />
<strong>em</strong>bora continu<strong>em</strong> a ser amplamente utilizadas para o tratamento <strong>de</strong> afecções<br />
<strong>de</strong>rmatológicas pruriginosas, tal como para outras patologias, associadas ou não à<br />
pele (Dethioux, 2006).<br />
Não se recomenda o recurso a formas injectáveis <strong>de</strong> efeito retardado (tipo<br />
<strong>de</strong>pósito ou <strong>de</strong> libertação prolongada) <strong>de</strong>vido ao elevado risco <strong>de</strong> efeitos<br />
secundários (Dethioux, 2006).<br />
24
2.4.6.4. CICLOSPORINA<br />
Recent<strong>em</strong>ente foram publicados cerca <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> estudos para<br />
estabelecer a eficácia <strong>de</strong>sta molécula no tratamento <strong>de</strong> DA (Dethioux, 2006).<br />
A sua eficácia é indiscutível: reduz o prurido e as lesões cutâneas. <strong>Os</strong><br />
animais tratados com este produto evi<strong>de</strong>nciam períodos <strong>de</strong> r<strong>em</strong>issão mais longos<br />
comparativamente a animais com administração <strong>de</strong> metilprednisolona. Ao contrário<br />
do que suce<strong>de</strong> no ser humano, a ciclosporina não comporta nefrotoxicida<strong>de</strong> para<br />
esta espécie animal, n<strong>em</strong> induz hipertensão arterial. <strong>Os</strong> efeitos secundários<br />
in<strong>de</strong>sejáveis são, sobretudo, <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> digestiva (vómito, diarreia e fezes moles).<br />
Apesar <strong>de</strong> ser dotada <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s imunossupressoras muito interessantes, <strong>em</strong><br />
comparação com os corticosterói<strong>de</strong>s, a ciclosporina é pouco citotóxica (Dethioux,<br />
2006).<br />
De entre os efeitos secundários <strong>de</strong>scritos, <strong>de</strong>stacam-se: perda <strong>de</strong> peso,<br />
hiperplasia gengival, papilomatose, hipertricose e mudas <strong>de</strong> pêlo excessivas. A<br />
maior <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> continua a ser o custo (Dethioux, 2006).<br />
Para além da DA, este fármaco é também utilizado com sucesso no<br />
tratamento da furunculose anal e <strong>de</strong> afecções menos comuns, como a paniculite<br />
nodular estéril, a celulite juvenil piogranulomatosa e a a<strong>de</strong>nite sebácea<br />
granulomatosa (Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.5.<br />
ANTIFÚNGICOS<br />
AGENTES ANTI-INFECCIOSOS: ANTIBIÓTICOS E<br />
As infecções bacterianas secundárias são frequentes <strong>em</strong> animais com<br />
atopia, e pod<strong>em</strong> originar episódios <strong>de</strong> pio<strong>de</strong>rmite superficial ou profunda que é<br />
indispensável <strong>de</strong>belar. Assim, a antibioterapia é o primeiro tratamento a aplicar.<br />
Deve optar-se por uma molécula <strong>de</strong> largo espectro, eficaz contra estafilococos,<br />
administrada na dosag<strong>em</strong> a<strong>de</strong>quada e durante um período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po suficiente<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Tendo <strong>em</strong> conta a imag<strong>em</strong> algo pejorativa que este tipo <strong>de</strong> medicamento<br />
apresenta junto do público <strong>em</strong> geral, o veterinário <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>r o t<strong>em</strong>po<br />
necessário para estabelecer uma boa comunicação com o cliente. Como é óbvio, a<br />
cooperação <strong>de</strong>ste e a observância do tratamento são fundamentais (Dethioux,<br />
2006).<br />
25
A <strong>de</strong>rmatite por Malassezia (levedura) constitui a outra família <strong>de</strong><br />
complicações infecciosas frequentes na DA. Uma vez confirmada a sua presença<br />
através <strong>de</strong> citologia cutânea, <strong>de</strong>ve ser tratada através do uso <strong>de</strong> antifúngicos tópicos<br />
ou sistémicos (Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.6. ANTIFÚNGICOS<br />
Estas moléculas não são isentas <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong>: muitas são teratogénicas,<br />
hepatotóxicas, <strong>em</strong>éticas, anorexigénicas, etc. Será necessário avisar o dono e<br />
monitorizar a função hepática através <strong>de</strong> análises sanguíneas regulares (Dethioux,<br />
2006).<br />
Na prática, e s<strong>em</strong>pre que possível, as infecções cutâneas provocadas por<br />
leveduras <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tratadas com tópicos específicos. Contudo, se estes não<br />
revelar<strong>em</strong> um grau <strong>de</strong> eficácia suficiente, ou se o proprietário for incapaz <strong>de</strong> os<br />
aplicar correctamente (duração mínima da aplicação dos champôs: 10 minutos),<br />
po<strong>de</strong> recorrer-se a fármacos administrados por via oral. A clorexidina, por si só, ou<br />
associada ao miconazol (nalguns países, esta combinação está disponível sob a<br />
forma <strong>de</strong> champô), revela bons resultados <strong>em</strong> utilização local (Dethioux, 2006).<br />
A griseofulvina é ineficaz contra a Malassezia (Dethioux, 2006).<br />
Utiliza-se, sobretudo, o quetoconazol, na dosag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 10mg/kg/d, <strong>em</strong> uma<br />
ou duas administrações, ou o itraconazol, 5 a 10mg/kg/d, <strong>em</strong> dose única. Alguns<br />
especialistas prescrev<strong>em</strong> doses mais baixas (5mg/Kg/d) (Dethioux, 2006).<br />
As melhorias clínicas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser constatáveis no espaço <strong>de</strong> 7 a 14 dias,<br />
preconizando-se a manutenção do tratamento durante uma a duas s<strong>em</strong>anas após a<br />
cura clínica. Na maioria dos casos estes medicamentos não possu<strong>em</strong> uma AIM para<br />
uso <strong>em</strong> cães (<strong>de</strong>rmatite por Malassezia), para além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> relativamente caros<br />
(Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.7. ANTI-HISTAMÍNICOS<br />
Bloqueiam os receptores da histamina (e não a sua libertação). Exist<strong>em</strong> dois<br />
tipos <strong>de</strong> receptores: H1 e H2. <strong>Os</strong> primeiros são responsáveis, entre outras<br />
manifestações, por prurido e vasodilatação. <strong>Os</strong> anti-histamínicos anti-H2 são usados,<br />
sobretudo, <strong>em</strong> gastroenterologia (cimetedina, ranitidina) e não exerc<strong>em</strong> qualquer<br />
acção sobre o prurido (Dethioux, 2006).<br />
26
Estes anti-pririginosos não esterói<strong>de</strong>s faz<strong>em</strong> parte das diversas ferramentas<br />
à disposição do clínico para manter o animal abaixo do limiar do prurido. O grau <strong>de</strong><br />
sucesso é da ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> 30%, valor que po<strong>de</strong> parecer relativamente baixo. No<br />
entanto, a ausência <strong>de</strong> efeitos secundários posiciona-os como agentes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
utilida<strong>de</strong> numa abordag<strong>em</strong> global da patologia (Dethioux, 2006).<br />
São frequent<strong>em</strong>ente utilizados <strong>em</strong> combinação com ácidos gordos<br />
essenciais (Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.8 TÓPICOS<br />
Um vasto número <strong>de</strong> estudos permitiu avaliar a eficácia dos tratamentos<br />
aplicados directamente sobre as lesões. <strong>Os</strong> diferentes fabricantes fornec<strong>em</strong><br />
inúmeras provas que comprovam a eficácia dos lipossomas, dos esferulitas e<br />
doutros sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> libertação progressiva dos princípios activos a nível cutâneo<br />
(Dethioux, 2006).<br />
<strong>Os</strong> pêlos constitu<strong>em</strong> um obstáculo consi<strong>de</strong>rável para a aplicação <strong>de</strong> tópicos<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>rmatologia veterinária. Em geral, é indispensável recorrer à tosquia, ou pelo<br />
menos, a uma tricotomia minuciosa do animal para que o princípio activo possa<br />
entrar <strong>em</strong> contacto com a pele. De seguida, é necessário que o agente terapêutico<br />
atravesse a camada queratinosa, cuja principal função consiste na criação <strong>de</strong> uma<br />
barreira entre o organismo e o mundo exterior. Diversos factores pod<strong>em</strong> influenciar a<br />
barreira cutânea: a ida<strong>de</strong> do animal, a eventual presença <strong>de</strong> alterações <strong>de</strong>correntes<br />
<strong>de</strong> uma doença crónica (liquenificação) ou lesões (erosões), o peso molecular dos<br />
princípios activos e o seu revestimento num meio anfifílico, etc (Quadro 4 e 5)<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Utilizam-se diversos parâmetros para medir as alterações das proprieda<strong>de</strong>s<br />
da pele (Dethioux, 2006).<br />
O mais conhecido é o pH da pele (Figura 11, Página 28), nomadamente as<br />
variações associadas à raça. A medição da perda <strong>de</strong> água trans-epidérmica permite<br />
avaliar a eficácia da barreira cutânea (Dethioux, 2006).<br />
Também é possível monitorizar as variações ao nível dos lípidos cutâneos,<br />
hidratação do estrato córneo, o número <strong>de</strong> corneócitos ou a natureza das bactérias<br />
superficiais (Dethioux, 2006).<br />
27
Quadro 5. <strong>Principais</strong> antibióticos tópicos usados <strong>em</strong> animais atópicos (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
Antibióticos tópicos<br />
Acção local;<br />
Mupirocina Reservado para lesões muito localizadas (acne, abcessos<br />
Ácido fusídico<br />
interdigitais, pio<strong>de</strong>rmite <strong>de</strong> calosida<strong>de</strong>s).<br />
Activo contra todos os estafilococos (incluindo as penicilinases<br />
resistentes);<br />
Bacteriostático com boa penetração tecidular, uma vez que é<br />
lipofílico.<br />
Peróxido <strong>de</strong><br />
benzilo<br />
Iodopovidona<br />
Lactacto <strong>de</strong><br />
Etilo<br />
Triclosan<br />
Clorexidina<br />
Figura 11. Consoante a raça, exist<strong>em</strong> variações significativas ao nível do<br />
pH da pele. Provavelmente, este fenómeno é um dos factores que explica<br />
a frequência <strong>de</strong> superinfecções bacterianas <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas raças<br />
(Pastores Al<strong>em</strong>ães) (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
Quadro 6. <strong>Principais</strong> tópicos anti-sépticos usados <strong>em</strong> animais atópicos (Adaptado <strong>de</strong> Dethioux, 2006).<br />
Tópicos anti-sépticos<br />
Po<strong>de</strong>roso antibacteriano (muito activo contra St intermedius),<br />
queratolítico, anti-pruriginoso, anti-seborreico;<br />
Em indivíduos atópicos, não <strong>de</strong>ve ser utilizado <strong>em</strong> concentrações<br />
superiores a 2.5-3%.<br />
Bactericida, fungicida (eficaz <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rmatite por<br />
Malassezia);<br />
Irritante <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> pele mais fina;<br />
Alteração da coloração dos pêlos claros;<br />
Utilizar concentrações a 2%.<br />
Antibacteriano cuja acção reduz o pH da pele;<br />
É mais bacteriostático do que bactericida, mas evidência uma boa<br />
tolerância na concentração a 10%.<br />
Bactericida utilizado numa concentração <strong>de</strong> 0.5%;<br />
Ineficaz contra Pseudomonas.<br />
Este é o anti-séptico mais utilizado;<br />
O champô que associa a clorexidina e o micizanol ajuda a<br />
preservar a r<strong>em</strong>issão dos cães atópicos.<br />
28
2.4.6.9. CHAMPÔS<br />
<strong>Os</strong> champôs para seres humanos não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser utilizados, porque o seu<br />
pH é incompatível com o da pele dos animais <strong>de</strong> companhia. A selecção do produto<br />
<strong>de</strong>ve ser feita <strong>em</strong> função da pele e da natureza da afecção <strong>de</strong>rmatológica <strong>em</strong> causa:<br />
lavag<strong>em</strong> simples <strong>de</strong> peles saudáveis, anti-seborreicos e querato-moduladores (ácido<br />
salicílico, enxofre ou dissulfeto <strong>de</strong> selénio) (Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.10. EMOLIENTES, HIDRATANTES<br />
Evitam a <strong>de</strong>sidratação cutânea e reidratam a camada queratinosa. A pele<br />
adquire maior flexibilida<strong>de</strong> e, sobretudo, maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Estas<br />
substâncias são aplicadas na pele ainda húmida <strong>de</strong>pois do animal ter sido<br />
cuidadosamente enxaguado, quer sob a forma <strong>de</strong> spray quer <strong>de</strong> loção amaciadora.<br />
Actualmente, diversos champôs cont<strong>em</strong> componentes hidratantes (com base<br />
aquosa) <strong>de</strong> libertação progressiva (Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.11. ÁCIDOS GORDOS ESSENCIAIS<br />
A supl<strong>em</strong>entação com ácidos gordos t<strong>em</strong> um duplo objectivo. Em primeiro<br />
lugar, proporciona os recursos necessários à pele que lhe permitam restabelecer a<br />
sua função <strong>de</strong> barreira, afectada <strong>em</strong> caso <strong>de</strong> DA. Numa segunda fase, combater a<br />
inflamação através da alteração da produção <strong>de</strong> mediadores pró-inflamatórios para a<br />
produção <strong>de</strong> prostaglandinas e leucotrienos não inflamatórios.<br />
É fácil compreen<strong>de</strong>r por que motivo, <strong>em</strong> <strong>de</strong>rmatologia, as posologias para<br />
uma acção terapêutica i<strong>de</strong>al continuam a ser vagas. Contudo, estudos recentes<br />
permitiram validar a sua eficácia no tratamento da DA (Baddaky et al., 2005). <strong>Os</strong><br />
ácidos gordos são agentes terapêuticos importantes, mas o seu uso t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser<br />
ajustado (Dethioux, 2006).<br />
Requer diversas s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> supl<strong>em</strong>entação antes <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> visíveis efeitos<br />
positivos. Este período justifica-se se consi<strong>de</strong>rarmos a fisiologia cutânea e o t<strong>em</strong>po<br />
necessário para a renovação celular, sobretudo do estrato córneo (Dethioux, 2006).<br />
É indispensável utilizar doses muito elevadas para obter uma acção sobre o<br />
prurido, (frequent<strong>em</strong>ente, muito superiores às recomendadas pelos fabricantes)<br />
(Dethioux, 2006).<br />
Refira-se também que não existe um rácio i<strong>de</strong>al ω6/ω3 especificamente<br />
<strong>de</strong>terminado. A maioria dos estudos situa-o ente 5 e 10, ou seja, o intervalo é<br />
29
astante amplo. <strong>Os</strong> efeitos secundários <strong>de</strong>scritos (diarreia, pancreatite) são muito<br />
raros (Dethioux, 2006).<br />
2.4.6.12. OUTROS<br />
<strong>Os</strong> avanços no conhecimento da fisiopatologia da DA abriu diversas portas<br />
terapêuticas. Para além dos tratamentos convencionais atrás referidos, o MV passou<br />
a dispor <strong>de</strong> um número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> ferramentas não negligenciáveis no domínio<br />
da fitoterapia e da nutrição (Dethioux, 2006).<br />
a) Antioxidantes<br />
As doenças inflamatórias crónicas (entre as quais se inclu<strong>em</strong> a DA) são uma<br />
consequência dos ataques dos radicais livres (Cooke et al, 2003).<br />
O consumo regular <strong>de</strong> antioxidantes como a vitamina E, vitamina C e os<br />
carotenói<strong>de</strong>s permite proteger as células cutâneas contra os ataques dos radicais<br />
livres, no entanto, é necessário uma associação <strong>de</strong> diversos antioxidantes,<br />
<strong>de</strong>nominada, complexo, para po<strong>de</strong>r beneficiar da sinergia positiva entre os diferentes<br />
ingredientes (Boelsma et al., 2001).<br />
b) As plantas chinesas<br />
Uma mistura padronizada <strong>de</strong> plantas “chinesas” revelou uma boa eficácia no<br />
tratamento da DA. Apresenta a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong>r ser relativamente barata e muito b<strong>em</strong><br />
tolerada pelos animais. (Nagle et al., 2001: Nuttal et al., 2004).<br />
Curcumina<br />
Também conhecida como cúrcuma ou açafrão da Índia (Figura 12, Página<br />
31), é o extracto <strong>de</strong> uma planta (Curcuma longa) (Dethioux, 2006).<br />
Antioxidante: Po<strong>de</strong>roso inibidor da peroxidação dos queratinócitos e<br />
firbroblastos;<br />
Anti-inflamatório, quer a nível cutâneo, quer osteoarticular.<br />
<strong>Imuno</strong>mo<strong>de</strong>lador: <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> IgE e IgM, aumento <strong>de</strong> IgG;<br />
Activida<strong>de</strong> anti-bacteriana.<br />
30
c) Aloé vera<br />
<strong>Os</strong> benefícios dos extractos <strong>de</strong>sta planta carnuda são reconhecidos <strong>em</strong> todo<br />
o mundo (Figura 13). As suas inúmeras proprieda<strong>de</strong>s curativas são amplamente<br />
utilizadas tanto <strong>em</strong> tópicos, como <strong>em</strong> produtos para administração oral (Dethioux,<br />
2006).<br />
As proprieda<strong>de</strong>s terapêuticas do aloé vera pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>scritas <strong>de</strong> acordo<br />
com as seguintes vertentes:<br />
Acção cicatrizante: através da presença <strong>de</strong> estimuladores da síntese <strong>de</strong><br />
colagénio;<br />
Acção<br />
inflamação;<br />
anti-inflamatória: presença <strong>de</strong> substâncias que regulam a<br />
Estimulação <strong>de</strong> imunida<strong>de</strong>: graças aos carbohidratos imunoprotectores;<br />
Protecção contra os radicais livres: proprieda<strong>de</strong>s antioxidantes.<br />
Figura 12. A curcumina ajuda no<br />
combate das infecções secundárias<br />
e pod<strong>em</strong>, eventualmente, favorecer<br />
a redução dos tratamentos<br />
convencionais (Adaptado <strong>de</strong><br />
Dethioux, 2006).<br />
Figura 13. Aloé vera (Adaptado <strong>de</strong><br />
Chuluck M, 2011).<br />
31
2.5 ALERGIA ALIMENTAR<br />
A alergia alimentar (hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar) é uma resposta<br />
imunológica a uma ou mais proteínas da dieta. É consi<strong>de</strong>rada a terceira doença<br />
<strong>de</strong>rmatológica <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> mais comum <strong>em</strong> cães e a segunda mais comum<br />
<strong>em</strong> gatos (Hnilica & Medleau, 2001; Ihrke, 2001).<br />
A verda<strong>de</strong>ira incidência <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong> pele associadas com reacções<br />
adversas aos alimentos é <strong>de</strong>sconhecida e controversa. De acordo, com Reedy et al.<br />
(1997), os registos das incidências variam entre 1% a 23% da população.<br />
Estimativas da frequência <strong>de</strong> reacções adversas aos alimentos variam <strong>de</strong> 10% a<br />
20% no que respeita a doenças <strong>de</strong> pele “<strong>de</strong> tipo alérgico” <strong>em</strong> cães. Na opinião do<br />
autor, a alergia ou intolerância alimentar como causa única <strong>de</strong> doença <strong>de</strong> pele <strong>em</strong><br />
cães e gatos é pouco comum, mais frequent<strong>em</strong>ente, a alergia ou intolerância<br />
alimentar coexiste com doenças <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> tipo alérgico como a DA e a DAPP.<br />
Pio<strong>de</strong>rmites bacterianas secundárias, <strong>de</strong>rmatites por Malassezia e otites externas<br />
também são comuns (Ihrke, 2001).<br />
As reacções adversas a alimentos estão b<strong>em</strong> documentadas <strong>em</strong> animais <strong>de</strong><br />
pequeno porte. <strong>Os</strong> termos alergia alimentar e hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar foram<br />
usados alternadamente na literatura médica <strong>em</strong> humanos e veterinários para<br />
<strong>de</strong>screver sintomas induzidos pela ingestão <strong>de</strong> alimentos ou, menos<br />
frequent<strong>em</strong>ente, a um aditivo presente nesse alimento, que pod<strong>em</strong> ser<br />
d<strong>em</strong>onstrados ou que exist<strong>em</strong> suspeitas <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> imunológica (Ihrke, 2001, White<br />
2002). O agente interage assim com vários sist<strong>em</strong>as biológicos amplificadores,<br />
conhecidos e <strong>de</strong>sconhecidos, na produção <strong>de</strong> sinais clínicos altamente variáveis.<br />
Apesar da necessida<strong>de</strong> do consumo <strong>de</strong> alimentos e da gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alimentos consumidos, as reacções alimentares adversas aos alimentos são uma<br />
causa relativamente infrequente <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong> pele <strong>em</strong> cães e gatos (Ihrke, 2001).<br />
<strong>Os</strong> termos intolerância alimentar e, ocasionalmente, sensibilida<strong>de</strong> alimentar<br />
são reacções adversas fisiológicas não imunológicas a um alimento ou a um aditivo<br />
alimentar.<br />
2.5.1. ETIOLOGIA<br />
A contaminação dos alimentos, tais como bactérias patogénicas e toxinas,<br />
os aditivos alimentares, como a tartrazina, e as aminas vasoactivas, como a tiramina<br />
32
<strong>em</strong> queijos, estão envolvidos ou suspeitos <strong>de</strong> se ass<strong>em</strong>elhar<strong>em</strong> à hipersensibilida<strong>de</strong><br />
alimentar <strong>em</strong> seres humanos. Mas <strong>de</strong>sconhece-se a sua importância nos pequenos<br />
animais (White, 2002).<br />
<strong>Os</strong> alergénios confirmados ou suspeitos são numerosos na literatura. Entre<br />
os alergénios confirmados como a carne bovina, a soja, os produtos lácteos e os<br />
cereais estão entre os mais comuns <strong>em</strong> cães. O leite, a carne bovina, trigo e o peixe<br />
é o mais comum <strong>em</strong> gatos. Têm sido <strong>de</strong>scritos outros alergénios, como o queijo, o<br />
frango, os ovos <strong>de</strong> galinha, o cor<strong>de</strong>iro e o chocolate (White, 2002).<br />
O peixe é o alergénio responsável <strong>em</strong> 50% dos gatos com hipersensibilida<strong>de</strong><br />
alimentar (White, 2002).<br />
A extensa lista <strong>de</strong> substâncias utilizadas nos alimentos comerciais <strong>de</strong><br />
pequenos animais explica, juntamente com a variabilida<strong>de</strong> dos métodos <strong>de</strong><br />
processamento, o amplo número <strong>de</strong> alergénios i<strong>de</strong>ntificados (White, 2002).<br />
Especula-se que, <strong>em</strong> animais jovens, os parasitas intestinais ou as infecções<br />
intestinais pod<strong>em</strong> prejudicar a mucosa intestinal, resultando numa anormal absorção<br />
<strong>de</strong> alergénios e com uma posterior sensibilização (Plant & Reedy, 2002).<br />
2.5.2. PATOGÉNESE<br />
Não estão <strong>de</strong>scritos exactamente os mecanismos da hipersensibilida<strong>de</strong><br />
alimentar <strong>em</strong> cães e gatos. Foram observadas estas reacções nos alimentos que<br />
po<strong>de</strong>riam ser classificados como imediatos (por ex<strong>em</strong>plo, hipersensibilida<strong>de</strong> do tipo<br />
I, que se manifesta <strong>em</strong> minutos ou horas após a ingestão) ou tardia (por ex<strong>em</strong>plo,<br />
hipersensibilida<strong>de</strong> do tipo IV, que aparece <strong>em</strong> horas ou dias após a ingestão) (White,<br />
2002).<br />
As glicoproteínas solúveis <strong>em</strong> água com pesos moleculares variando entre<br />
10.000 e 70.000 daltons têm sido i<strong>de</strong>ntificados <strong>em</strong> pessoas como sendo os<br />
principais alergénios alimentares (Silva C, 2011). Estas glicoproteínas são estáveis<br />
ao calor, a ácidos e a proteases. Moléculas alergénias alimentares específicas não<br />
foram ainda i<strong>de</strong>ntificadas <strong>em</strong> medicina veterinária (Ihrke, 2001).<br />
33
2.5.3. CÃES<br />
2.5.3.1. IDADE<br />
Embora a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início seja variável, têm-se observado uma predisposição<br />
<strong>em</strong> cães mais jovens (≤ 1 ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>) (White, 2002).<br />
Rosser indicou que 51% <strong>de</strong> cães reactivos <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> sinais clínicos entre<br />
1 e 3 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com 33% <strong>de</strong>senvolvendo sinais clínicos antes do ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e<br />
16% após os 4 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Harvey também registou que 52% dos cães começam<br />
a exibir sinais clínicos antes do ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Também foram registadas reacções<br />
<strong>em</strong> cães geriátricos. Assim, as reacções adversas aos alimentos <strong>de</strong>veriam ser<br />
s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>radas no diagnóstico diferencial <strong>de</strong> prurido <strong>em</strong> cães <strong>de</strong> qualquer<br />
ida<strong>de</strong> (Ihrke, 2001).<br />
<strong>Os</strong> proprietários raramente relacionam o aparecimento dos sinais clínicos,<br />
com uma mudança na dieta (White, 2002).<br />
2.5.3.2. RAÇA<br />
As predisposições raciais são controversas. Rosser registou que Labrador<br />
Retrievers, Gol<strong>de</strong>n Retrievers, Cocker Spaniels, Soft-Coated Wheaten Terriers,<br />
Dálmatas, West Higland White Terrier, Collies, Shar-peis, Lhasa Apsos, Springer<br />
Spaniels e Schanuzers miniatura estão <strong>em</strong> maior risco. Também foram mencionados<br />
Dachushunds e Boxers como estando sujeitos a um maior risco (Ihrke, 2001, White,<br />
2002).<br />
2.5.3.3. SINAIS CLÍNICOS<br />
O prurido não sazonal é o sinal clínico mais comum registado no cão (White,<br />
2002, Ihrke, 2001). Cães com outras doenças alérgicas concomitantes pod<strong>em</strong><br />
apresentar prurido ao longo <strong>de</strong> todo o ano exibindo aumentos <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong><br />
prurítica associados com doenças sazonais (DA, DAPP) (Ihrke, 2001).<br />
A maioria das lesões po<strong>de</strong> ser atribuída ao prurido e a traumatismos autoinfligidos.<br />
O prurido é distribuído <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante à DA, principalmente na face<br />
e orelhas, nas extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s e no abdómen ventral (Ihrke, 2001). O prurido limitado<br />
ou concentrado na região perianal e perioral também foi registado (Figura 14, Página<br />
35) (Ihrke, 2001). Entre as lesões cutâneas observadas <strong>em</strong> cães inclu<strong>em</strong>-se as<br />
34
pápulas, o erit<strong>em</strong>a, as escoriações, os colaretes epidérmicos, a podo<strong>de</strong>rmatite, a<br />
seborreia, a otite externa e as alopécias traumáticas auto-infligias. (Ihrke, 2001,<br />
White, 2002).<br />
Também são <strong>de</strong>scritos sinais gastrointestinais (diarreia, vómitos, flatulência<br />
e aumento da frequência <strong>de</strong> <strong>de</strong>jecções) (Ihrke, 2001, White, 2002). Estes pod<strong>em</strong> ser<br />
mais comuns do que se pensava antigamente (White, 2002). <strong>Os</strong> cães, <strong>em</strong> particular,<br />
pod<strong>em</strong> mostrar sinais sugestivos <strong>de</strong> colite (White, 2002). A maioria dos cães com<br />
sinais gastrointestinais <strong>de</strong> reacções adversas aos alimentos não exibe sinais<br />
cutâneos concomitantes (Ihrke, 2001).<br />
2.5.4. GATOS<br />
2.5.4.1. IDADE<br />
Figura 14. Representação<br />
esqu<strong>em</strong>ática da localização das<br />
lesões (Adaptado <strong>de</strong> Anónimo,<br />
2010b).<br />
O aparecimento dos primeiros sintomas é altamente variável. Foram<br />
registadas reacções adversas aos alimentos <strong>em</strong> gatos entre os 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e<br />
os 12 anos. As alergias alimentares <strong>de</strong>veriam ser consi<strong>de</strong>radas no diagnóstico<br />
diferencial <strong>de</strong> prurido <strong>de</strong> qualquer ida<strong>de</strong>. Crê-se que as reacções adversas aos<br />
alimentos são mais comuns nos gatos que nos cães (Ihrke, 2001).<br />
2.5.4.2. RAÇA<br />
As predisposições raciais são controversas. Uma predisposição racial<br />
possível <strong>em</strong> Gatos Siameses foi referida <strong>em</strong> alguma literatura (Ihrke, 2001, White,<br />
2002).<br />
2.5.4.3. SINAIS CLÍNICOS<br />
O prurido não-sazonal é o sinal clínico mais comum registado no gato. Da<br />
mesma forma que os cães, os gatos com outras doenças alérgicas concomitantes<br />
35
pod<strong>em</strong> apresentar prurido ao longo <strong>de</strong> todo o ano exibindo aumentos <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong><br />
prurítica associados com doenças sazonais (DA, DAPP). Uma vez que os gatos<br />
tend<strong>em</strong> a ser alimentados (ou se lhes for permitido ter à disposição) com uma dieta<br />
mais variada que os cães, o prurido po<strong>de</strong> aumentar e/ou diminuir <strong>de</strong> forma mais<br />
variável (Ihrke, 2001, White, 2002).<br />
A localização do prurido na cabeça e no pescoço é comum. White (2002)<br />
registou esta ocorrência <strong>em</strong> 42% dos gatos afectados e Ihrke (2001) registou prurido<br />
na cabeça e no pescoço <strong>em</strong> 65% dos casos. Assim, a distribuição do prurido po<strong>de</strong><br />
ser localizada na zona da cabeça e do pescoço, ou po<strong>de</strong> ser generalizada e<br />
envolver o tronco, a zona ventral e os m<strong>em</strong>bros. As lesões cutâneas são variáveis e<br />
pod<strong>em</strong> incluir alopécia, erit<strong>em</strong>a, <strong>de</strong>rmatite militar, alopécias simétricas associados<br />
com escovagens excessivas, lesões <strong>de</strong> complexo granuloma eosinofílico,<br />
escoriações, ulcerações, crostas e escamas (Ihrke, 2001, White, 2002). Ao que<br />
parece, algumas placas eosinofilicas e úlceras indolentes respond<strong>em</strong> positivamente<br />
às dietas <strong>de</strong> eliminação. Em gatos com hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar também há<br />
registo <strong>de</strong> angioed<strong>em</strong>a/urticária pruriginosa e úlcera eosinofílica (White, 2002).<br />
A otite externa por Malassezia ou ceruminosas pod<strong>em</strong> ser observadas<br />
(Ihrke, 2001).<br />
Pod<strong>em</strong> também surgir <strong>em</strong> simultâneo sinais gastrointestinais (diarreia,<br />
vómitos). Estes pod<strong>em</strong> ser observados conjuntamente com sinais cutâneos pod<strong>em</strong><br />
ser ainda menos frequentes no gato que no cão (Ihrke, 2001). Nos gatos, a<br />
hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar manifesta-se como uma colite linfocítico-plasmocitária<br />
(White, 2002).<br />
Em geral, a magnitu<strong>de</strong> da auto-mutilação observada <strong>em</strong> gatos é maior que a<br />
que se observa <strong>em</strong> cães (Ihrke, 2001).<br />
2.5.5. DIAGNÓSTICO<br />
2.5.5.1. TESTE ALÉRGICO INTRADÉRMICO<br />
O teste intradérmico é pouco fiável no diagnóstico <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong>s<br />
alimentares. Jeffers d<strong>em</strong>onstrou que o teste alérgico intradérmico teve uma<br />
sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 10%, uma especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 96%, um valor preditivo positivo <strong>de</strong><br />
60% e um valor preditivo negativo <strong>de</strong> 62% indicando que o teste teve uma<br />
capacida<strong>de</strong> muito pobre na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros positivos <strong>em</strong>bora foss<strong>em</strong><br />
36
<strong>de</strong>tectados alguns falsos positivos. Kunkle também mostrou que, comparativamente,<br />
uma percentag<strong>em</strong> mais alta <strong>de</strong> cães (17%) com testes dérmicos negativos aos<br />
alimentos respon<strong>de</strong>ram a uma dieta <strong>de</strong> eliminação relativamente a cães com teste<br />
dérmico positivo (10%). Assim, os testes dérmicos com produtos alimentares não<br />
pod<strong>em</strong> ser recomendados. (Ihrke, 2001).<br />
2.5.5.2 TESTE SEROLÓGICO POR ELISA<br />
O teste por ELISA também é pouco fiável no diagnóstico <strong>de</strong> reacções<br />
adversas aos alimentos no cão. Jeffers d<strong>em</strong>onstrou uma sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 14%, uma<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 87%, um valor predictivo positivo <strong>de</strong> 49% e um valor predictivo<br />
negativo <strong>de</strong> 61% (Ihrke, 2001).<br />
Não foram publicados estudos s<strong>em</strong>elhantes para o gato. Porém, a falta <strong>de</strong><br />
correlação evi<strong>de</strong>nciada <strong>em</strong> cães e <strong>em</strong> humanos indica que é improvável que estes<br />
testes pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser úteis no gato (Ihrke, 2001).<br />
2.5.5.3. HIPOSSENSIBILIZAÇÃO<br />
A taxa <strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong>ssa terapia varia entre 50% e 80% na maioria dos<br />
estudos. As melhorias não são esperadas nos primeiros meses da terapia. A<br />
imunoterapia <strong>de</strong>ve ser administrada, por um período mínimo <strong>de</strong> um ano, qualquer<br />
período inferior a este é consi<strong>de</strong>rado ineficaz e <strong>de</strong>scontinuado (Kunkle & Halliwell,<br />
2003).<br />
2.5.5.4. ENSAIOS DIETÉTICOS DE RESTRIÇÃO PROTEICA (IHRKE, 2001)<br />
1. A única hipótese diagnóstica útil na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> reacções adversas<br />
aos alimentos no cão e no gato seria alimentá-los com uma dieta teste <strong>de</strong> restrição<br />
proteica e subsequent<strong>em</strong>ente retomar a dieta original do paciente. As proteínas na<br />
alimentação são a fonte mais comum <strong>de</strong> antigénios que originam reacções<br />
adversas.<br />
2. <strong>Animais</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa/fora <strong>de</strong> casa – é difícil <strong>de</strong> conduzir um bom ensaio<br />
dietético <strong>de</strong> restrição <strong>em</strong> cães que estejam <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong> casa quando quer<strong>em</strong>.<br />
Dentro <strong>de</strong> casa é virtualmente impossível conduzir um ensaio dietético <strong>de</strong> restrição<br />
<strong>em</strong> gatos aos quais é permitido vaguear pela casa não po<strong>de</strong>ndo ser controlado o<br />
consumo <strong>de</strong> potenciais alergénios contidos <strong>em</strong> pássaros, ratos, peixes, comida<br />
37
oubada da cozinha, lixo ou outros. Por esta razão, é requerido um confinamento<br />
físico.<br />
3. T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> <strong>de</strong>curso – I<strong>de</strong>almente, <strong>de</strong>veriam ser executados ensaios<br />
dietéticos <strong>de</strong> restrição durante um mínimo <strong>de</strong> 8 a 12 s<strong>em</strong>anas. Porém, se pelo<br />
menos uma resposta parcial não for observada durante as primeiras 6 s<strong>em</strong>anas do<br />
ensaio, uma reacção adversa aos alimentos é uma causa improvável da doença <strong>de</strong><br />
pele.<br />
4. Selecção <strong>de</strong> uma Dieta <strong>de</strong> Restrição – Múltiplos estudos d<strong>em</strong>onstraram<br />
que a maioria dos animais consumiu a proteína ofensiva durante pelo menos 6<br />
meses antes da doença <strong>de</strong> pele se tornar clinicamente relevante. Esta informação é<br />
contra-intuitiva para a maioria dos donos e para muitos clínicos. Uma história<br />
dietética completa <strong>de</strong>ve ser obtida. O clínico necessita <strong>de</strong> obter informações acerca<br />
<strong>de</strong> dietas comerciais, comida <strong>de</strong> mesa, guloseimas, brinquedos <strong>de</strong> couro<br />
mastigáveis, vitaminas mastigáveis, medicamentos mastigáveis com sabores<br />
(especialmente antibióticos, anti-parasitários preventivos, inibidores do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> certos insectos) quer actuais quer passados e sobre o uso <strong>de</strong><br />
pastas <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes aromatizadas para animais <strong>de</strong> companhia. Ou é seleccionada uma<br />
fonte proteica que o animal não consumiu previamente ou é escolhido um<br />
hidrolisado proteico. Nunca <strong>de</strong>veriam ser usados peixes como fonte <strong>de</strong> proteína<br />
numa dieta <strong>de</strong> restrição para gatos uma vez que virtualmente todos os gatos<br />
consumiram produtos <strong>de</strong> peixe previamente.<br />
5. A “Dieta <strong>de</strong> Eliminação I<strong>de</strong>al” – <strong>de</strong> acordo com Rou<strong>de</strong>bush (2001), a dieta<br />
<strong>de</strong> eliminação i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>veria conter ou um número reduzido <strong>de</strong> fontes proteicas<br />
originais altamente digestíveis ou hidrolisados proteicos. Deveria evitar excessos<br />
proteína, evitar aditivos e aminas vasoactivas e <strong>de</strong>veria ser nutricionalmente<br />
a<strong>de</strong>quada à fase <strong>de</strong> vida e à condição do animal. A digestibilida<strong>de</strong> e o excesso <strong>de</strong><br />
proteína pod<strong>em</strong> ser factores importantes a consi<strong>de</strong>rar uma vez que proteínas<br />
incompletamente digeridas pod<strong>em</strong> conter proteínas ou polipeptídos residuais<br />
alergénicos. Teoricamente, <strong>de</strong>veriam ser evitadas fontes <strong>de</strong> proteína como o peixe<br />
uma vez que pod<strong>em</strong> conter níveis elevados <strong>de</strong> histamina e outras aminas<br />
vasoactivas que pod<strong>em</strong> alterar o limiar do prurido.<br />
6. Dietas Caseiras <strong>de</strong> Restrição Proteica – As vantagens das dietas caseiras<br />
inclu<strong>em</strong> a restrição a uma única fonte <strong>de</strong> proteína nova, o controlo da fonte <strong>de</strong><br />
carbohidratos e a eliminação <strong>de</strong> agentes como corantes, conservantes,<br />
38
estabilizadores e outros aditivos. As <strong>de</strong>svantagens inclu<strong>em</strong> relutância frequente dos<br />
donos <strong>em</strong> cozinhar <strong>em</strong> casa para o seu animal, a falta <strong>de</strong> equilíbrio nutricional e a<br />
palatibilida<strong>de</strong>. As proteínas comummente recomendadas para uso <strong>em</strong> ditas caseiras<br />
inclu<strong>em</strong> o peixe, carne <strong>de</strong> porco, <strong>de</strong> coelho, <strong>de</strong> veado, <strong>de</strong> pato e o tofu (soja) no<br />
caso do cão e a carne <strong>de</strong> veado, <strong>de</strong> coelho, <strong>de</strong> pato ou <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro no caso do gato.<br />
<strong>Os</strong> gatos pod<strong>em</strong> ser menos atreitos a consumir dietas caseiras.<br />
7. Dietas Comerciais <strong>de</strong> Restrição Proteica – As dietas comerciais são<br />
usadas como uma alternativa às dietas caseiras quando o dono está pouco disposto<br />
ou impossibilitado <strong>de</strong> cozinhar para o seu animal <strong>de</strong> estimação. Além disso, como<br />
produtos nutricionalmente equilibrados que são, são usados para manutenção a<br />
longo prazo uma vez alcançado um diagnóstico. Como a qualida<strong>de</strong> das dietas<br />
comerciais <strong>de</strong> restrição proteica aumentou dramaticamente durante os últimos anos,<br />
um maior número <strong>de</strong> MV está a usar estes produtos como teste primário <strong>de</strong> dieta <strong>de</strong><br />
eliminação.<br />
8. Dietas Comerciais Contendo Hidrolisados Proteicos – O <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> novas dietas comerciais que contêm ingredientes proteicos hidrolisados é um<br />
progresso original e excitante no controlo das alergias alimentares. <strong>Os</strong> hidrolisados<br />
proteicos foram usados com bastante sucesso <strong>em</strong> medicina humana <strong>em</strong> fórmulas<br />
infantis e no controlo <strong>de</strong> várias doenças gastrointestinais. Estes produtos oferec<strong>em</strong><br />
vantagens teóricas significativas <strong>em</strong> relação às dietas comerciais tradicionais ou às<br />
ditas <strong>de</strong> eliminação caseiras uma vez que os hidrolisados proteicos <strong>de</strong> peso<br />
molecular apropriado po<strong>de</strong> não originar uma resposta imunitária e assim po<strong>de</strong> ser<br />
consi<strong>de</strong>rado verda<strong>de</strong>iramente hipoalergénico. Não são requeridas fontes <strong>de</strong> proteína<br />
novas ou originais.<br />
9. Dietas Comerciais Contendo Restrição <strong>de</strong> Proteína Integrais –<br />
Ingredientes usuais:<br />
a. Comida para cão - arenque, peixe-gato, salmão, peixe branco, pato, carne<br />
<strong>de</strong> veado, coelho, canguru, batata, arroz, polpa <strong>de</strong> beterraba, aveia<br />
b. Comida para gato - cor<strong>de</strong>iro, carne <strong>de</strong> veado, pato, coelho, batata, arroz.<br />
Quadro 7. Algumas das situações <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>ve suspeitar <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar (Adaptado<br />
<strong>de</strong> White, 2002).<br />
Não aparecimento sazonal <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> pele pruriginosas.<br />
Ausência <strong>de</strong> resposta <strong>em</strong> cães e gatos com esterói<strong>de</strong>s e outros fármacos anti-inflamatórios, não<br />
exclui, no entanto, qualquer diagnóstico <strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar se os corticosterói<strong>de</strong>s<br />
mostrar<strong>em</strong> ser eficazes no controlo do prurido.<br />
Falta <strong>de</strong> resposta a fármacos progestational <strong>em</strong> gatos.<br />
39
2.5.6. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS<br />
Quadro 8. <strong>Principais</strong> diagnósticos diferenciais no cão e no gato (Adaptado <strong>de</strong> Nuttal, 2009)<br />
Diagnóstico Diferencial<br />
Cão Gato<br />
Atopia Atopia<br />
Dermatite alérgica à picada da pulga Dermatite alérgica à picada da pulga<br />
Outros ectoparasitas Outros ectoparasitas<br />
Alergia a fármacos Alergia a fármacos<br />
Foliculite superficial Hipersensibilida<strong>de</strong> à picada dos mosquitos,<br />
Dermatite por malassezia Dermatofitoses<br />
Dermatite <strong>de</strong> contacto Dermatite miliar idiopática<br />
Defeitos na queratinização Complexo <strong>de</strong> granuloma eosnifilico idiopático<br />
Linfoma epitéliotrópico Alopécia psicogénica<br />
2.5.7. MANEIO<br />
Pio<strong>de</strong>rma<br />
I<strong>de</strong>almente, os cães e gatos com alergias alimentares provadas, <strong>de</strong>veriam<br />
ser mantidos com uma dieta comercial completa e equilibrada para animais <strong>de</strong><br />
companhia, com restrição proteica ou com hidrolisados proteicos e, para o resto das<br />
suas vidas.<br />
Se não se encontrar uma dieta para animais <strong>de</strong> companhia que seja b<strong>em</strong><br />
tolerada pelo animal, então uma dieta caseira nutricionalmente equilibrada, como as<br />
que foram formuladas por Rou<strong>de</strong>bush (2001) <strong>de</strong>ve ser preconizada.<br />
Outra causa concomitantes <strong>de</strong> prurido como sejam as doenças <strong>de</strong> pele <strong>de</strong><br />
tipo alérgico, as pio<strong>de</strong>rmites secundárias ou as <strong>de</strong>rmatites por Malassezia <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />
controladas, minimizadas ou prevenidas por um longo período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po.<br />
2.5.8. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO<br />
1. Tratar outras patologias secundárias presentes na pele, mesmo infecções<br />
auriculares com terapias a<strong>de</strong>quadas (Hnilica & Medleau, 2001).<br />
2. Instituir um programa <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> pulgas para evitar as picadas das<br />
pulgas, que agravam o prurido (Hnilica & Medleau, 2001).<br />
40
3. Não usar alergénio(s) alimentares ofensivos. Ração balanceada,<br />
preparação caseira ou preparados comercias <strong>de</strong> alimentos hipoalergénicos são uma<br />
boa opção (Hnilica & Medleau, 2001).<br />
4. Se o gato se recusar a comer alimentos hipoalergénicos, a terapia <strong>de</strong><br />
longo prazo com glucocorticói<strong>de</strong>s sistémicos, anti-histamínicos, e supl<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />
ácidos gordos, po<strong>de</strong> ser impl<strong>em</strong>entada. Contudo, a terapia médica é muitas vezes<br />
ineficaz (Hnilica & Medleau, 2001).<br />
5. O prognóstico é bom se o animal aceitar a dieta hipoalergénica. Se<br />
houver<strong>em</strong> recidivas, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se <strong>de</strong>scartar outras patologias como o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da hipersensibilida<strong>de</strong> alimentar à nova dieta, <strong>de</strong>rmatofitoses, ectoparasitas, e <strong>em</strong><br />
simultâneo a DA e DAPP (Hnilica & Medleau, 2001).<br />
41
2.6. HIPERSENSIBILIDADE À PICADA DA PULGA<br />
Em algumas partes do mundo, a DAPP é a doença alérgica mais comum e<br />
uma das principais causas <strong>de</strong> prurido <strong>em</strong> cães e gatos. Em outras partes, é um<br />
probl<strong>em</strong>a significativo apenas <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas épocas do ano (Patel & Forsythe,<br />
2008). Esta é uma doença <strong>de</strong> pele pruriginosa, causada pela hipersensibilida<strong>de</strong> a<br />
antigénios da saliva da pulga (Welsh, 2005). Esta é causada por proteínas salivares<br />
da pulga que são injectadas durante a picada. Há algumas evidências, <strong>em</strong> que a<br />
exposição intermitente às pulgas po<strong>de</strong> ser mais propensa a causar sinais alérgicos<br />
do que a exposição constante às pulgas (Mueller, 2005). Uma vez que a alergia se<br />
tenha estabelecido, uma picada <strong>de</strong> pulga por s<strong>em</strong>ana será capaz <strong>de</strong> mantê-la<br />
(Will<strong>em</strong>se, 1992).<br />
A hipersensibilida<strong>de</strong> à picada da pulga é uma reacção alérgica tanto do tipo<br />
imediata como tardia; o prurido começa imediatamente e ten<strong>de</strong> a persistir por muito<br />
t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois das pulgas ser<strong>em</strong> eliminadas. Uma mor<strong>de</strong>dura é o suficiente para<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar essa reacção. <strong>Os</strong> sintomas são piores no meio do verão pois é quando<br />
exist<strong>em</strong> também mais pulgas. No entanto, os animais que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> casa pod<strong>em</strong><br />
sofrer durante todo o ano, se as pulgas estiver<strong>em</strong> presentes (Eldredge et al., 2007).<br />
Esta patologia não é apenas mais uma doença <strong>de</strong> pele comummente<br />
observada <strong>em</strong> animais <strong>de</strong> pequeno porte, <strong>em</strong> geral, na prática da maioria dos países<br />
do mundo. Surpreen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, esta patologia é ainda relativamente comum <strong>em</strong><br />
todo o mundo, apesar dos recentes avanços no controlo das pulgas (Ihrke, 2006a).<br />
Embora a DAPP seja a principal condição associada às pulgas, uma<br />
distinção entre o prurido resultante da infestação <strong>de</strong> pulgas graves e uma resposta<br />
<strong>de</strong> hipersensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser feita. Em cachorros e gatinhos muito jovens, as<br />
infestações por pulgas graves provocam vários graus <strong>de</strong> prurido, mas os pacientes<br />
apresentam mais frequent<strong>em</strong>ente sinais <strong>de</strong> letargia, fraqueza e an<strong>em</strong>ia. As pulgas<br />
também são vectores <strong>de</strong> organismos infecciosos como Bartonella felis, Rickettsia<br />
spp e Ha<strong>em</strong>oplamas (Patel & Forsythe, 2008).<br />
Esta hipersensibilida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> sido b<strong>em</strong> caracterizada e, geralmente, não<br />
apresenta nenhumas dificulda<strong>de</strong>s diagnósticas ou terapêuticas. Mesmo quando não<br />
há a evidência directa <strong>de</strong> pulgas, os produtos mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> pulgas são<br />
tão eficazes que pod<strong>em</strong> ser usados para ensaios terapêuticos. Assim, <strong>de</strong>ste modo o<br />
42
tratamento é usado como diagnóstico e terapia (Ritzhaupt, 2002; Medleau, 2002;<br />
Dickin, 2003a; Schenker, 2003; Dry<strong>de</strong>n, 2005).<br />
2.6.1. ETIOLOGIA<br />
A comum pulga do cão e <strong>de</strong> gato, Ctenocephali<strong>de</strong>s canis e C. felis (Figura<br />
15, Página 44), são os parasitas causadores da DAPP (Nesbitt, 1983). O ciclo <strong>de</strong><br />
vida da pulga po<strong>de</strong> ser completado <strong>em</strong> menos <strong>de</strong> 12 dias e po<strong>de</strong> d<strong>em</strong>orar até 190<br />
dias (Figura 16, Página 44). A t<strong>em</strong>peratura i<strong>de</strong>al é <strong>de</strong> 21 a 26°C e a humida<strong>de</strong><br />
elevada é o i<strong>de</strong>al. <strong>Os</strong> ovos são colocados no hospe<strong>de</strong>iro 1 a 2 dias após uma<br />
refeição. Estes não se a<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ao pêlo e, <strong>de</strong>sta forma, cai<strong>em</strong>. <strong>Os</strong> ovos eclod<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
cerca <strong>de</strong> uma s<strong>em</strong>ana sob condições i<strong>de</strong>ais. As larvas são pequenas (2-5mm) e<br />
s<strong>em</strong>itransparentes com um corpo esbranquiçado e uma cabeça amareloacastanhada.<br />
Estas são muito activas e alimentam-se <strong>de</strong> restos orgânicos e fezes<br />
<strong>de</strong> pulga. As larvas pod<strong>em</strong>-se mover vários metros do local on<strong>de</strong> nasceram e são<br />
fototáxicas negativas e geotáxicas positivas. Assim, estas tend<strong>em</strong> a escon<strong>de</strong>r-se<br />
<strong>de</strong>baixo dos móveis, <strong>em</strong> ambientes fechados. A humida<strong>de</strong> abaixo <strong>de</strong> 50% causa a<br />
dissecação dos ovos, t<strong>em</strong>peraturas elevadas matam-nos, e t<strong>em</strong>peraturas baixas<br />
atrasam o seu <strong>de</strong>senvolvimento (Mueller, 2005).<br />
O terceiro estado larvar tece um casulo <strong>de</strong> seda, que é húmido e branco,<br />
que se torna revestido por <strong>de</strong>tritos (camuflag<strong>em</strong>). Estas passam por duas fases<br />
<strong>de</strong>ntro do casulo <strong>em</strong> 8-9 dias. O adulto pré <strong>em</strong>ergido do casulo é o estado mais<br />
resistente aos insecticidas (não é <strong>de</strong>struído pelas convencionais piretrinas ou<br />
organofosforados). Po<strong>de</strong> permanecer no casulo durante 174 dias. Reproduz<strong>em</strong>-se<br />
<strong>em</strong> questão <strong>de</strong> segundos e saltam <strong>em</strong> direcção ao hospe<strong>de</strong>iro sobre uma a<strong>de</strong>quada<br />
estimulação (vibrações, pressão física, mudanças na intensida<strong>de</strong> da luz, dióxido <strong>de</strong><br />
carbono e calor). <strong>Os</strong> adultos pod<strong>em</strong> sobreviver vários dias antes <strong>de</strong> tomar uma<br />
refeição <strong>de</strong> sangue, que dura cerca <strong>de</strong> 5 minutos. Após 48 horas da refeição, a<br />
fêmea iniciará a postura. Serão apenas colocados 3-18 ovos, mas uma fêmea po<strong>de</strong><br />
colocar até 2000 ovos durante o seu período <strong>de</strong> vida, que é cerca <strong>de</strong> um ano<br />
(Mueller, 2005)<br />
43
2.6.2. ETIOPATOGENIA<br />
Figura 15. Imag<strong>em</strong> microscópica<br />
<strong>de</strong> um ex<strong>em</strong>plar da espécie<br />
Ctenocephali<strong>de</strong>s felis, com<br />
ampliação <strong>de</strong> 40x (Adaptado <strong>de</strong> Kin<br />
O, 2010).<br />
Figura 16. Ciclo <strong>de</strong> vida da pulga (Adaptado <strong>de</strong> Anónimo, 2011).<br />
Há quatro reacções básicas <strong>de</strong> um hospe<strong>de</strong>iro à pulga: histamínicas,<br />
hipersensibilida<strong>de</strong>, enzimáticas e refractárias. A primeira <strong>de</strong>ssas reacções é visto <strong>em</strong><br />
todos os animais, mas uma reacção sustentada ocorre somente naqueles que são<br />
imunologicamente competentes e hipersensíveis. Compostos <strong>de</strong> histamina, da saliva<br />
da pulga são os mediadores iniciais <strong>de</strong>sta reacção. A reacção enzimática é também<br />
mediada pela secreção do parasita; as enzimas ajudam a dissolver o tecido e a<br />
44
fornecer ao parasita o sua local <strong>de</strong> predilecção. Quando as enzimas da saliva são<br />
injectadas no tecido do hospe<strong>de</strong>iro tornam-se antigénicas e/ou citolíticas. Como<br />
resultado da absorção <strong>de</strong> antigénios no local da infestação, os animais pod<strong>em</strong><br />
tornar-se sensibilizados, com a hipersensibilida<strong>de</strong> a tornar-se aparente na exposição<br />
subsequente (Nesbitt, 1983).<br />
As pulgas são uma espécie primária presente <strong>em</strong> cães e gatos. As pulgas<br />
adultas começam a alimentar-se (injecção do antigénio) quase imediatamente após<br />
ter<strong>em</strong> encontrado um hospe<strong>de</strong>iro.<br />
As <strong>em</strong>presas anunciavam os seus produtos com o mito <strong>de</strong> que matavam as<br />
pulgas antes <strong>de</strong>las sequer po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> mor<strong>de</strong>r. Estudos têm mostrado que a maioria<br />
das pulgas consegue se alimentar num período <strong>de</strong> 5 minutos no hospe<strong>de</strong>iro antes<br />
do mais mo<strong>de</strong>rno produto a matar. Portanto, estes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser mais eficazes, <strong>de</strong><br />
forma a diminuir este período, impedindo a alimentação do parasita. A gravida<strong>de</strong> da<br />
DAPP é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da gravida<strong>de</strong> da alergia, do número <strong>de</strong> pulgas que se<br />
alimentaram e da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antigénio injectado. Assim, os produtos que matam<br />
rapidamente as pulgas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> diminuir a alergia <strong>de</strong> forma mais eficaz (Ihrke, 2008).<br />
Historicamente, o controlo das pulgas t<strong>em</strong> exigido o tratamento dos animais<br />
e do ambiente. Hoje, a terapia tópica e sistémica anti-pulgas mais rápida e mais<br />
eficaz po<strong>de</strong> ser apenas a gestão que é necessária. <strong>Os</strong> agentes iniciais que criaram<br />
este paradigma inclu<strong>em</strong> o fipronil, imidaclopramida, selamectina, nitenpiram,<br />
lufenuron, S-metopreno, e piriproxifena. Apesar <strong>de</strong> matar<strong>em</strong> as pulgas relativamente<br />
rápido, nenhum <strong>de</strong>stes produtos impe<strong>de</strong> que as pulgas se aliment<strong>em</strong> antes <strong>de</strong><br />
ser<strong>em</strong> mortas. No entanto, estes produtos reduz<strong>em</strong> uma carga <strong>de</strong> pulgas no animal<br />
suficiente para diminuir os sinais clínicos <strong>de</strong> DAPP (Ihrke, 2008).<br />
2.6.3. INCIDÊNCIA<br />
A incidência da DAPP é relacionada geograficamente. É um gran<strong>de</strong><br />
probl<strong>em</strong>a clínico <strong>de</strong>rmatológico <strong>em</strong> áreas com t<strong>em</strong>peraturas mo<strong>de</strong>radas e<br />
humida<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>radas a altas e, é incomum <strong>em</strong> altitu<strong>de</strong>s superiores a 5000 pés com<br />
humida<strong>de</strong> baixa (Nesbitt, 1983).<br />
Não há predisposição sexual e a sensibilização po<strong>de</strong> ocorrer <strong>em</strong> qualquer<br />
ida<strong>de</strong>, mas parece ocorrer principalmente <strong>em</strong> animais com mais ida<strong>de</strong>. A exposição<br />
45
intermitente está associada ao aumento da sensibilização, enquanto a exposição<br />
contínua po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> alguma tolerância (Patel & Forsythe, 2008).<br />
Esta alergia raramente é observada <strong>em</strong> animais com menos <strong>de</strong> 6 meses <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>. <strong>Os</strong> cães Pastores Al<strong>em</strong>ães e Bouviers <strong>de</strong>s Flandres parec<strong>em</strong> ter uma<br />
predisposição para a alergia (Will<strong>em</strong>se, 1992).<br />
2.6.4. SINAIS CLÍNICOS<br />
A DAPP é caracterizada por prurido intenso com inflamação da pele e<br />
formação <strong>de</strong> pápulas vermelhas concentradas no local do corpo on<strong>de</strong> as pulgas<br />
exist<strong>em</strong> com maior abundância, nomeadamente, sobre a garupa, base da cauda,<br />
área caudal do dorso, flancos, zona inguinal e abdómen ventral (Eldredge et al.,<br />
2007).<br />
A vigilância das lesões, b<strong>em</strong> como a erradicação <strong>de</strong> pulgas, <strong>de</strong>ve ser<br />
mantida, a fim <strong>de</strong> manter o prurido abaixo do limiar prurítico (Schaer, 2010).<br />
2.6.4.1. CÃES<br />
Esta alergia é caracterizada no cão por prurido e pápulas crostosas<br />
(Eldredge et al., 2007). A <strong>de</strong>rmatite pruriginosa encontra-se na base da cauda,<br />
região lombar, períneo, m<strong>em</strong>bro posterior ou área umbilical (Figura 17). A <strong>de</strong>rmatite<br />
húmida aguda po<strong>de</strong> estar presente no tronco dorsal e lateral (Schaer, 2010).<br />
<strong>Os</strong> cães mastigam e esfregam as áreas afectadas como forma <strong>de</strong> alívio. O<br />
pêlo começa por cair e a pele torna-se seca e escamosa. Em alguns casos, a pele<br />
fica muito danificada e <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>-se áreas <strong>de</strong> escoriações que se tornam <strong>em</strong><br />
crostas e locais <strong>de</strong> infecção. Com o t<strong>em</strong>po, a pele torna-se espessa e mais<br />
pigmentada (Eldredge et al., 2007).<br />
<strong>Os</strong> probl<strong>em</strong>as secundários comuns no cão inclu<strong>em</strong> otite externa e pio<strong>de</strong>rmite<br />
superficial (Schaer, 2010).<br />
Figura 17. Ilustração que esqu<strong>em</strong>atiza os vários sinais clínicos (Adaptado <strong>de</strong> Anónimo,<br />
2011).<br />
46
2.6.4.2. GATOS<br />
Nos gatos, a DAPP é a doença <strong>de</strong> pele mais comum e pod<strong>em</strong> apresentar<br />
também <strong>de</strong>rmatite militar, alopécia não inflamatória e complexo granuloma<br />
eosinofílico (Figura 18) (Eldredge et al., 2007).<br />
<strong>Os</strong> probl<strong>em</strong>as secundários comuns nos gatos inclu<strong>em</strong> placas eosinofílicas e<br />
úlceras indolentes (Schaer, 2010).<br />
O controlo <strong>de</strong> pulgas é o mais importante no diagnóstico <strong>de</strong> gatos que<br />
apresent<strong>em</strong> qualquer um <strong>de</strong>sses sinais clínicos (Eldredge et al., 2007).<br />
2.6.5. DIAGNÓSTICO<br />
Figura 18. Distribuição esqu<strong>em</strong>ática das<br />
lesões <strong>de</strong> DAPP (Adaptado <strong>de</strong> Ihrke, 2007).<br />
O diagnóstico po<strong>de</strong> ser presumido se for<strong>em</strong> encontradas pulgas e se for<strong>em</strong><br />
observadas erupções cutâneas características (Eldredge et al., 2007). A<br />
hipersensibilida<strong>de</strong> à picada da pulga é confirmada pela resposta a um correcto<br />
controlo <strong>de</strong> pulgas. <strong>Os</strong> testes intradérmicos e os testes sorológicos também têm sido<br />
recomendados, mas não vão i<strong>de</strong>ntificar todos os animais com DAPP e (com um<br />
resultado negativo) po<strong>de</strong> realmente aumentar a relutância do cliente para um<br />
correcto controlo <strong>de</strong> pulgas (Mueller, 2005).<br />
2.6.6. TRATAMENTO E PROFILAXIA<br />
As pulgas parasitam animais <strong>em</strong> qualquer parte do Mundo, com excepção<br />
dos locais acima dos 1500 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> e das regiões com pouquíssima<br />
humida<strong>de</strong> (como os <strong>de</strong>sertos). Deste modo, a simples profilaxia <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>rmatite é<br />
algo difícil, <strong>de</strong>vido à enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colonização <strong>de</strong>stes agentes e ao facto<br />
<strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> uma reacção alérgica, pelo que muitas vezes é mais eficiente a<br />
47
concentração <strong>de</strong> esforços nos planos <strong>de</strong> controlo (que inclu<strong>em</strong> o tratamento e a<br />
profilaxia) <strong>de</strong>stes ectoparasitas (Mueller, 2005).<br />
A melhor abordag<strong>em</strong> incorpora tanto medidas físicas como químicas sobre<br />
os três el<strong>em</strong>entos referidos: animal, co-habitantes e ambiente (Sousa, 2005). Deste<br />
modo, o controlo da DAPP <strong>de</strong>ve incluir o tratamento etiológico e sintomático do<br />
animal afectado e dos animais com os quais contacta, assim como a<br />
<strong>de</strong>scontaminação do ambiente (interno e/ou externo) frequentado pelo hospe<strong>de</strong>iro<br />
(para prevenir reinfecções). Adicionalmente, quaisquer infecções secundárias <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ser tratadas com medicação oral e/ou tópica apropriada (Mueller, 2005).<br />
O sucesso do controlo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da educação e do <strong>em</strong>penho do dono, que<br />
<strong>de</strong>ve saber que os animais e o ambiente <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tratados ao mesmo t<strong>em</strong>po, e<br />
que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se consegue a erradicação completa das pulgas. O MV <strong>de</strong>ve ainda<br />
informar o seu cliente que é necessário um controlo <strong>de</strong>sta doença, nomeadamente<br />
dos seus agentes, a intervalos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po regulares. <strong>Os</strong> animais também <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />
lavados com champôs a<strong>de</strong>quados e b<strong>em</strong> secos, antes da aplicação tópica <strong>de</strong><br />
qualquer produto <strong>de</strong> controlo (Eldredge et al., 2007). De referir que a primeira<br />
aplicação <strong>de</strong> qualquer produto tópico <strong>de</strong>ve ser feita pelo MV ou Enfermeiro<br />
Veterinário (EV) para d<strong>em</strong>onstrar o procedimento correcto ao dono.<br />
Quanto ao tratamento etiológico dos animais, as substâncias<br />
maioritariamente utilizadas, respectivas doses, vias e frequências <strong>de</strong> administração<br />
são as seguintes:<br />
Inibidores do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> insectos:<br />
o Lufenuron – 10-15 mg/kg, PO, uma vez por mês;<br />
Selamectina – 6-12 mg/kg, <strong>em</strong> unção punctiforme, cada 2 s<strong>em</strong>anas a uma<br />
vez por mês;<br />
Nit<strong>em</strong>piram – 1 mg/kg, PO, cada 1-3 dias;<br />
Imidacloprid – 10 mg/kg, <strong>em</strong> unção punctiforme, cada 2 – 4 s<strong>em</strong>anas;<br />
Reguladores do crescimento <strong>de</strong> insectos:<br />
o Metopreno – Ambiente: aplicar spray cada 6 meses, Animal: unção<br />
punctiforme (combinação com fipronil)<br />
o Fenoxicarb – Ambiente interno: aplicar spray cada 12 meses,<br />
Ambiente externo: aplicar spray cada 6-12 meses <strong>em</strong> ambientes secos;<br />
48
o Piriproxifeno – Ambiente: aplicar spray cada 6 meses, Animal: 2<br />
mg/kg, <strong>em</strong> unção punctiforme;<br />
Fipronil – 10-15 mg/kg, <strong>em</strong> spray ou <strong>em</strong> unção punctiforme, cada 2-8<br />
s<strong>em</strong>anas (Mueller, 2007a).<br />
Algumas características dos compostos utilizados apenas nos hospe<strong>de</strong>iros<br />
no controlo <strong>de</strong> pulgas estão mencionadas no Quadro 9:<br />
Quadro 9. Algumas características dos compostos utilizados somente nos hospe<strong>de</strong>iros no controlo <strong>de</strong><br />
pulgas (Adaptado <strong>de</strong> Ihrke, 2008).<br />
Princípios Activos Características<br />
Larvicida e elimina as pulgas adultas por contacto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 24 horas<br />
após a aplicação;<br />
Não t<strong>em</strong> acção repelente;<br />
Imidaclopramida Eficácia diminuída após banhos;<br />
Não têm activida<strong>de</strong> contra carraças;<br />
Muito seguro para o uso <strong>em</strong> mamíferos;<br />
Activida<strong>de</strong> residual.<br />
Manutenção <strong>de</strong> níveis sanguíneos eficazes durante algumas s<strong>em</strong>anas<br />
Inibidores do após a ingestão (libertação lenta a partir das reservas adiposas);<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Não são conhecidas reacções adversas;<br />
Não usar como único método <strong>de</strong> controlo, excepto <strong>em</strong> animais s<strong>em</strong><br />
insectos (Lufenuron) acesso ao exterior;<br />
Po<strong>de</strong> ser utilizada <strong>em</strong> cães que requer<strong>em</strong> banhos frequentes.<br />
Nitenpiram<br />
Selamectina<br />
Baixa toxicida<strong>de</strong> para mamíferos;<br />
Início rápido <strong>de</strong> acção sistémica (15-20 minutos após a administração<br />
oral);<br />
Mata 95% das pulgas adultas <strong>em</strong> quatro a seis horas após a ingestão;<br />
94 a 97% é rapidamente eliminado <strong>em</strong> natureza pela urina (24 a 36<br />
horas <strong>de</strong>pois);<br />
Activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 24 a 48 horas (s<strong>em</strong> activida<strong>de</strong> residual);<br />
Po<strong>de</strong> ser administrado diariamente, cada dois dias, duas ou três vezes<br />
por s<strong>em</strong>ana;<br />
Po<strong>de</strong> ser usado <strong>em</strong> cães que requer<strong>em</strong> banhos frequentes.<br />
Mata mais <strong>de</strong> 98% das pulgas <strong>em</strong> 24 a 36 horas;<br />
Activida<strong>de</strong> ovicida e larvicida (morte rápida das pulgas <strong>em</strong> gatos);<br />
Mata carraças e ácaros (Sarcoptes, Notoedres, Cheyletiella, Oto<strong>de</strong>ctes);<br />
Nenhuma acção repelente;<br />
Efeito persiste durante um mês, excepto com banhos;<br />
Taxa <strong>de</strong> eliminação <strong>de</strong> pulgas mais lenta do que a do fipronil e do<br />
imidacloprid.<br />
Devido à elevada eficácia <strong>de</strong>stes compostos, Ihrke (2008) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o<br />
tratamento via hospe<strong>de</strong>iro, sistémico ou tópico, é suficiente para o controlo das<br />
pulgas na maioria dos casos, optando por tratar o ambiente somente nos casos mais<br />
exuberantes. <strong>Os</strong> resultados <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>senvolvido por Dickin (2003b)<br />
49
confirmaram que a selamectina reduziu a gravida<strong>de</strong> dos sinais clínicos, s<strong>em</strong> o<br />
recurso a medidas <strong>de</strong> controlo ambiental e com intervenção terapêutica mínima.<br />
Recent<strong>em</strong>ente surgiram novos produtos <strong>de</strong> utilização nos animais no<br />
mercado com um potencial elevado, acerca dos quais ainda não há muitas opiniões<br />
formadas porque ainda há algumas características dos mesmos por esclarecer,<br />
carecendo <strong>de</strong> experimentação pelos clínicos e respectivos clientes. <strong>Os</strong> princípios<br />
activos <strong>em</strong> questão são os seguintes: spinosad, dinotefuran (fórmula comercial com<br />
permetrina e piriproxifeno), metaflumizona (a fórmula comercial para cães inclui<br />
amitraz) e piriprole (Ihrke, 2008). O Quadro 10 apresenta algumas características<br />
<strong>de</strong>sses princípios activos.<br />
Quadro 10. Algumas características dos princípios activos recent<strong>em</strong>ente utilizados nos animais no<br />
controlo <strong>de</strong> pulgas (Adaptado <strong>de</strong> Ihrke, 2008).<br />
Princípios Activos Características<br />
Dinotefuran<br />
(fórmula comercial com<br />
permetrina e<br />
piriproxifeno)<br />
Metaflumizona<br />
(fórmula comercial para<br />
cães inclui amitraz)<br />
Piriprole<br />
Spinosad<br />
Novo insecticida neonicotinói<strong>de</strong>s;<br />
Aplicação tópica mensal;<br />
Actuação rápida;<br />
Produto exclusivo para cães;<br />
Diminuição da eficácia após banhos.<br />
Aplicação tópica;<br />
Mata/<strong>de</strong>bilita pulgas adultas por contacto;<br />
Eficaz contra carraças;<br />
Não t<strong>em</strong> acção repelente;<br />
A eficácia diminui com o banho;<br />
Ainda não se confirmou se impe<strong>de</strong> a produção <strong>de</strong> ovos e se<br />
provoca reacções no local <strong>de</strong> aplicação.<br />
Administração tópica;<br />
Elimina pulgas adultas por contacto;<br />
Eficaz contra carraças;<br />
Nenhuma acção repelente;<br />
A eficácia diminui com o banho.<br />
Administração oral mensal (barra mastigável, com sabor a carne<br />
<strong>de</strong> vaca);<br />
Resposta sistémica rápida para um produto mensal;<br />
Mata as pulgas adultas antes <strong>de</strong> iniciar<strong>em</strong> a postura dos ovos;<br />
A eficácia não é afectada por banhos.<br />
Ihrke (2008) recomenda:<br />
A maioria dos cães respon<strong>de</strong>rão ao fipronil com o S-metopreno, à<br />
imidaclopramida com ou s<strong>em</strong> o lufenuron ou com ou s<strong>em</strong> a permetrina, à<br />
selamectina, ao spinosad, ou ao dinotefuran com permetrina e piriproxifeno.<br />
Cães s<strong>em</strong> acesso à rua com reduzida possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exposição a pulgas<br />
necessitarão do lufenuron com ou s<strong>em</strong> um produto tópico (unção punctiforme), do<br />
spinosad mensalmente ou do nit<strong>em</strong>piram cada 2-3 dias;<br />
50
Cães que nadam ou que requer<strong>em</strong> banhos regulares beneficiarão do<br />
nit<strong>em</strong>piram cada 1-2 dias ou do spinosad mensalmente;<br />
Cães com DAPP severa requererão fipronil com S-metopreno ou<br />
imidaclopramida mais permetrina, juntamente com nit<strong>em</strong>piram com ou s<strong>em</strong><br />
lufenuron.<br />
<strong>Animais</strong> com exposição a carraças beneficiam do fipronil e do S-metopreno,<br />
da imidaclopramida mais permetrina (apenas <strong>em</strong> cães), e coleiras <strong>de</strong> piriproxifeno<br />
com amitraz (também somente <strong>em</strong> cães).<br />
As novas formas <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>stes compostos (pipetas, coleiras,<br />
comprimidos, barras mastigáveis) associadas ao prolongamento da activida<strong>de</strong><br />
residual melhoraram a a<strong>de</strong>são dos donos à prevenção e ao controlo, evitando assim<br />
as reinfecções. Apesar da propaganda das indústrias farmacêuticas, Ihrke (2008)<br />
afirma que nenhum dos produtos referidos previne a picada das pulgas, apenas<br />
reduzindo rapidamente a sua carga o suficiente para diminuir os sinais clínicos <strong>de</strong><br />
DAPP. A experiência clínica <strong>de</strong>ste autor leva-o também a mencionar que cães e<br />
gatos com DAPP severa têm melhores resultados quando os produtos <strong>em</strong> unção<br />
punctiforme são aplicados como forma <strong>de</strong> controlo cada três s<strong>em</strong>anas <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />
mensalmente, e parece-lhe que a eficácia <strong>de</strong> todos eles se <strong>de</strong>grada<br />
significativamente com os banhos (mesmo os que têm a indicação contrária).<br />
Embora muitas vezes se suspeite <strong>de</strong> resistência quando as medidas <strong>de</strong> controlo<br />
falham, Ihrke (2006b) consi<strong>de</strong>ra que a ineficácia <strong>de</strong>stes princípios activos resulta<br />
maioritariamente da incompreensão do ciclo biológico da pulga, da má técnica <strong>de</strong><br />
aplicação e da reaplicação pouco frequente das substâncias.<br />
O tratamento sintomático t<strong>em</strong> por objectivo aliviar os sintomas consequentes<br />
da reacção alérgica, concretamente o prurido. Para este fim, a utilização <strong>de</strong> um<br />
corticoesterói<strong>de</strong> por via oral geralmente é suficiente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a população <strong>de</strong><br />
pulgas esteja controlada:<br />
Prednisona/prednisolona – dose <strong>de</strong> 1 mg/kg/dia, PO, durante 5 a 7 dias e<br />
posteriormente <strong>em</strong> dias alternados (segundo a necessida<strong>de</strong>).<br />
Em alternativa:<br />
o Acetato <strong>de</strong> metilprednisolona – dose <strong>de</strong> 5 mg/kg, SC, cada 12<br />
s<strong>em</strong>anas.<br />
51
De acordo com Bevier (2004), a DAPP geralmente não respon<strong>de</strong> a antihistamínicos<br />
n<strong>em</strong> a ácidos gordos ómega 3/ómega 6, mas há clínicos que ainda os<br />
usam:<br />
Hidroxizina – dose <strong>de</strong> 2,2 mg/kg TID (cada 8 horas), PO.<br />
Ou:<br />
Clorfeniramina – dose <strong>de</strong> 0,4 mg/kg TID, PO.<br />
O fipronil e os reguladores do crescimento <strong>de</strong> insectos também pod<strong>em</strong> ser<br />
usados na <strong>de</strong>scontaminação do ambiente, assim como os seguintes compostos (os<br />
quais também pod<strong>em</strong> ser usados nos animais):<br />
pulga);<br />
Poliborato <strong>de</strong> sódio – pó para uso <strong>em</strong> interiores (ingestão pela larva da<br />
Piretrói<strong>de</strong>s:<br />
o Ex<strong>em</strong>plo: permetrina – spray, unção punctiforme e champô; unção<br />
punctiforme: 744 mg/ml a cães com peso 15 kg, cada 3-10 dias;<br />
Piretrinas – spray e pó, cada 24-72 horas.<br />
O Quadro 11 apresenta algumas características das substâncias utilizadas<br />
no controlo <strong>de</strong> pulgas, quer nos hospe<strong>de</strong>iros quer no ambiente.<br />
Quadro 11. Algumas características das substâncias utilizadas no controlo <strong>de</strong> pulgas, quer nos<br />
hospe<strong>de</strong>iros quer no ambiente (Adaptado <strong>de</strong> Ihrke, 2008).<br />
Carbamatos e<br />
organofosfatos<br />
Fipronil<br />
Piretrinas<br />
Acção maioritariamente adulticida;<br />
Potencialmente muito tóxicos, particularmente para gatos e animais<br />
jovens;<br />
Actualmente muito pouco utilizados, <strong>de</strong>vido à existência <strong>de</strong><br />
substâncias alternativas mais seguras e eficazes.<br />
Altamente específico para invertebrados;<br />
Acção 100% adulticida até às 24 horas após aplicação;<br />
Uma única aplicação t<strong>em</strong> uma acção até três meses;<br />
Banhos 48 horas após a administração não afectam a eficácia do<br />
produto (incorporado nas secreções sebáceas do hospe<strong>de</strong>iro);<br />
Muito pouco eficaz <strong>em</strong> gatos;<br />
Em áreas com elevadas populações <strong>de</strong> pulgas recomenda-se o uso<br />
conjunto da forma tópica com o spray.<br />
Naturais;<br />
Pouco estáveis à luz ultravioleta, à humida<strong>de</strong> e ao ar;<br />
Minimamente tóxicas para os mamíferos.<br />
52
Piretrói<strong>de</strong>s (ex.<br />
permetrina,<br />
<strong>de</strong>ltametrina,<br />
tetrametrina,<br />
ciflutrina)<br />
Poliborato <strong>de</strong><br />
sódio<br />
Reguladores do<br />
crescimento (ex.<br />
metopreno,<br />
fenoxicarb e<br />
piriproxifeno)<br />
Sintéticos;<br />
Mais estáveis do que as piretrinas;<br />
Um pouco mais tóxicos para cães do que as piretrinas, e<br />
extr<strong>em</strong>amente tóxicos para gatos.<br />
Elevada marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> segurança para mamíferos;<br />
Eliminação total das pulgas <strong>em</strong> três a seis s<strong>em</strong>anas.<br />
Específicos para insectos;<br />
S<strong>em</strong> efeitos adversos nos animais e nas pessoas;<br />
Elevada segurança;<br />
Elevado sucesso na interrupção do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ovos e larvas.<br />
A <strong>de</strong>scontaminação do ambiente interno (casa) é muito difícil e requer uma<br />
higiene completa e rigorosa. A infestação é máxima nos locais <strong>de</strong> repouso, mas toda<br />
a casa po<strong>de</strong> estar infestada. Assim, recomenda-se a aspiração <strong>de</strong> toda a casa com<br />
uma máquina potente, insistindo especialmente nos locais <strong>de</strong> permanência e <strong>de</strong><br />
repouso dos animais. Todos os objectos <strong>em</strong> contacto com os hospe<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
ser b<strong>em</strong> aspirados, lavados e secos, tendo o cuidado <strong>de</strong> colocar no saco do<br />
aspirador um insecticida associado a um regulador <strong>de</strong> crescimento das pulgas (ex.<br />
spray contendo piriproxifeno + permetrina ou ciflutrina) para garantir que as mesmas<br />
são <strong>de</strong>struídas (Gamito, 2009). Mueller (2007b) recomenda mesmo o uso frequente<br />
no ambiente <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> combinação. Em relação ao ambiente externo, como<br />
estes ectoparasitas só se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> <strong>em</strong> áreas húmidas e protegidas do sol, <strong>de</strong>vese<br />
r<strong>em</strong>over toda a vegetação morta nas áreas exteriores frequentadas e restringir o<br />
acesso a possíveis áreas probl<strong>em</strong>áticas, <strong>de</strong> modo a prevenir e a controlar estes<br />
organismos.<br />
Recomenda-se também o tratamento das mesmas com pesticidas ou<br />
biopesticidas (ex. n<strong>em</strong>áto<strong>de</strong>s que se alimentam <strong>de</strong> larvas e pupas no solo), tal como<br />
o tratamento dos automóveis e <strong>de</strong> outros veículos <strong>de</strong> transporte dos animais por<br />
aspiração e uso <strong>de</strong> pesticida <strong>de</strong> baixa toxicida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> acção curta (piretrina). Em<br />
casos <strong>de</strong> infestações exteriores, aplicar ciflutrina ou permetrina <strong>em</strong> spray cada 7 a<br />
10 dias.<br />
A hiposensibilização <strong>de</strong> cães com DAPP por imunoterapia com saliva <strong>de</strong><br />
pulga ainda é controversa, para além do seu custo proibitivo.<br />
53
2.7. PAPEL DO ENFERMEIRO VETERINÁRIO<br />
O papel dos EV é fulcral para fornecer informações ao proprietário,<br />
convencendo-o <strong>de</strong> que o tratamento é justificado e <strong>de</strong>stacando os el<strong>em</strong>entos da<br />
receita do veterinário. Como os animais <strong>de</strong> companhia estão sujeitos a diversos<br />
tipos <strong>de</strong> alergias ao longo das suas vidas, é extr<strong>em</strong>amente útil se todo o corpo<br />
clínico souber actuar com o proprietário para ajudá-lo a monitorizar melhor o seu<br />
animal (Quadro 12).<br />
Quadro 12. O papel do EV na divulgação, prevenção e aconselhamento das alergias (Adaptado <strong>de</strong><br />
Dethioux, 2006).<br />
Aconselhar o dono do paciente prurítico<br />
• Incentive-o a agendar uma consulta o mais rapidamente possível para<br />
evitar o agravamento das lesões;<br />
• Enquanto isso, ressalte fort<strong>em</strong>ente o probl<strong>em</strong>a da automedicação.<br />
Informações sobre a correcta <strong>de</strong>sparasitação<br />
• Informar sobre a aplicação, posologia e próxima data <strong>de</strong> aplicação;<br />
• Em casos severos, <strong>de</strong>ve-se incluir o tratamento do meio ambiente e <strong>de</strong><br />
outros animais.<br />
Higienização do ambiente<br />
• Enfatizar a eliminação da poeira da casa: use o aspirador com filtro limpo<br />
todos os dias;<br />
• Banhos regulares do animal com um champô específico;<br />
• Sugerir o uso <strong>de</strong> material anti-ácaros e camas com tecidos antialérgénicos<br />
e laváveis.<br />
Alimentação<br />
• Nos casos <strong>de</strong> animais atópicos: apoiar o uso a longo prazo <strong>de</strong> uma dieta<br />
comercial:<br />
o Correctamente balanceada;<br />
o Alimento b<strong>em</strong> tolerado e proteínas <strong>de</strong> fácil digestão;<br />
o Enriquecido com nutrientes benéficos para a saú<strong>de</strong> da pele;<br />
o Fabricado <strong>de</strong> acordo com padrões rígidos, evitando a contaminação<br />
por alergénios.<br />
• Nos casos <strong>de</strong> animais com alergia alimentar, que seja necessário o uso <strong>de</strong><br />
dieta <strong>de</strong> exclusão com base <strong>em</strong> proteínas seleccionadas ou hidrolisadas:<br />
o Insistir no uso contínuo do alimento <strong>de</strong>terminado, s<strong>em</strong> pausas;<br />
o Se o proprietário quiser fornecer petiscos, aconselhá-lo a utilizar uma<br />
parte da dieta hipoalergénica para esta finalida<strong>de</strong>.<br />
54
Sucesso do tratamento<br />
• Ajudar a criar um calendário;<br />
• Verifique se o proprietário enten<strong>de</strong>u a dose, frequência e duração <strong>de</strong> todos<br />
os tratamentos;<br />
• Verifique se o cliente está utilizando produtos tópicos correctamente;<br />
• Certifique-se que os check-ups <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são observados;<br />
• Incentive uma nova consulta para qualquer novo sintoma que apareça.<br />
Motivação do proprietário<br />
• Ajudar a criar um diário com fotos;<br />
• Felicitar o progresso s<strong>em</strong> criticar os erros;<br />
• Reunir proprietários e criar um grupo <strong>de</strong> discussão sobre "como conviver<br />
com um cão atópico"; organizar reuniões regulares para se discutir as boas<br />
práticas, dificulda<strong>de</strong>s encontradas e como superá-las.<br />
55
3. CASO CLÍNICO<br />
3.1. PRIMEIRO CASO CLÍNICO<br />
3.1.1. DADOS DO PACIENTE:<br />
Espécie: Caní<strong>de</strong>o<br />
Raça: West Highland White Terrier<br />
Sexo: F<strong>em</strong>inino<br />
Data Nascimento: 01/01/05<br />
Habitat: Interior/Exterior<br />
Estado: Não esterilizada<br />
Data Historial clínico<br />
14/08/10 Apresentou-se à consulta com uma otite externa.<br />
02/02/11<br />
31/03/11<br />
28/04/11<br />
O probl<strong>em</strong>a t<strong>em</strong> sido as lesões <strong>de</strong>rmatológicas. Desparasitação e<br />
antibioterapia.<br />
Apresenta erit<strong>em</strong>a e prurido. Iniciou-se uma dieta comercial<br />
hipoalergénica durante um mês.<br />
Não houve melhorias, apresentou-se na clínica com pápulas,<br />
pústulas e otite. Realizaram-se testes <strong>de</strong> alergias.<br />
09/05/11<br />
No controlo, apresentou infecção <strong>de</strong> pele e otite.<br />
O resultado dos testes alergia: positivo aos ácaros.<br />
18/07/11 Recidivas. Vai-se iniciar a imunoterapia.<br />
03/08/11 T<strong>em</strong>peratura: 39.4°C. Iniciou-se o protocolo <strong>de</strong> imunoterapia.<br />
08/09/11<br />
Não melhorou. Realizou até ao momento um frasco, tendo<br />
iniciando o segundo. Antibioterapia.<br />
3.1.2. EXAMES COMPLEMENTARES<br />
3.1.2.1. TESTES ALÉRGICOS (ELISA)<br />
56
3.1.3. DISCUSSÃO DE RESULTADOS:<br />
Da última vez que a paciente se apresentou à consulta, não apresentava<br />
qualquer melhoria, uma vez que o protocolo <strong>de</strong> imunoterapia impl<strong>em</strong>entado ainda é<br />
57
elativamente recente para que se possam observar melhorias. Para além disso, os<br />
níveis <strong>de</strong> ácaros ainda estão relativamente altos, <strong>de</strong>vido às t<strong>em</strong>peraturas elevadas<br />
anormais para a época.<br />
Inicialmente, os donos confinavam a paciente, principalmente ao interior <strong>de</strong><br />
casa (por pensar<strong>em</strong> que po<strong>de</strong>ria ser uma alergia ambiental, como acontece com<br />
outro animal co-habitante), piorando assim o quadro clínico até ter sido feito o<br />
diagnóstico. <strong>Os</strong> donos também nunca recorreram à corticoterapia e ao uso do colar<br />
isabelino, o que <strong>de</strong> forma indirecta, também agravou o caso.<br />
Uma vez que a paciente apresenta atopia, mais propriamente aos ácaros,<br />
Acarus siro e Tyrophagus putrescentiae, foram impl<strong>em</strong>entadas várias medidas para<br />
diminuir o contacto com estes.<br />
A antibioterapia, os banhos frequentes, a lavag<strong>em</strong> regular do cesto, lavag<strong>em</strong><br />
dos objectos com que o animal t<strong>em</strong> um elevado nível <strong>de</strong> contacto, o recurso a uma<br />
alimentação hipoalergénica e a limpeza/lavag<strong>em</strong>/aspiração frequente da casa, foram<br />
algumas das medidas realizadas.<br />
3.2. SEGUNDO CASO CLÍNICO<br />
3.2.1. DADOS DO PACIENTE<br />
Espécie: Caní<strong>de</strong>o<br />
Raça: Basset Hound<br />
Sexo: Masculino<br />
Data Nascimento: 16/10/07<br />
Habitat: Interior/Exterior<br />
Estado: Não esterilizado<br />
3.2.2. HISTÓRIA CLÍNICA<br />
O paciente apresentou-se à consulta com erit<strong>em</strong>a e prurido. O dono<br />
<strong>de</strong>screveu um aparente prurido sazonal, associado a algumas épocas <strong>de</strong><br />
polinização. O paciente t<strong>em</strong> sido correctamente <strong>de</strong>sparasitado, não co-habita com<br />
outros animais <strong>em</strong> casa e já fez dietas <strong>de</strong> exclusão, mas s<strong>em</strong> melhoria dos sinais<br />
clínicos. Assim, os donos optaram por fazer os testes alergénicos.<br />
58
Figura 19. À esquerda, a zona axilar do paciente com algum erit<strong>em</strong>a e <strong>de</strong>scoloração do<br />
pêlo, indicativo das constantes mor<strong>de</strong>duras pelo paciente, como forma <strong>de</strong> alívio. À direita, o paciente<br />
apresenta erit<strong>em</strong>a evi<strong>de</strong>nte na zona abdominal ventral e inguinal.<br />
3.2.3. EXAMES COMPLEMENTARES<br />
3.2.3.1. TESTES ALÉRGICOS (ELISA):<br />
Foram testados vários alergénios, mas apenas são apresentados os<br />
alergénios das árvores, uma vez que os outros não têm importância para o caso<br />
clínico.<br />
Árvores<br />
Mistura <strong>de</strong> Árvores (Betula, Corylus, Alnus) NEGATIVO<br />
Pinheiro (Pinus Pinaster) * POSITIVO *<br />
Ligustro (Ligustrum vulgare) NEGATIVO<br />
Oliveira (Olea europea) * POSITIVO *<br />
Arizónica (Cupressus s<strong>em</strong>pervirens) NEGATIVO<br />
Plátano (Platanus vulgaris) NEGATIVO<br />
Choupo (Populus alba) NEGATIVO<br />
Roble (Quercus robur) NEGATIVO<br />
<strong>Os</strong> exames revelaram que o animal é alérgico ao pólen do Pinheiro e da<br />
Oliveira. Assim, quando os níveis polínicos eram elevados, o animal apresentava<br />
maior <strong>de</strong>sconforto. Na época <strong>de</strong> maior exposição alergénica polínica, o animal<br />
<strong>de</strong>veria ser confinado ao interior <strong>de</strong> casa para diminuir a exposição aos pólenes,<br />
resultando assim numa diminuição dos sinais clínicos.<br />
59
Deste modo, segundo a Socieda<strong>de</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Alergologia e <strong>Imuno</strong>logia<br />
Clínica, as concentrações dos pólenes da espécie Pinus Pinaster (Pinheiro) <strong>em</strong> ar<br />
ambiente, no Porto, durante o meu período <strong>de</strong> estágio, verificou-se principalmente<br />
nos meses <strong>de</strong> Março e Abril, como se po<strong>de</strong> ver pelos seguintes gráficos:<br />
Figura 20. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Pinus Pinaster presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Março.<br />
Figura 21. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Pinus Pinaster presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Abril.<br />
Também para a espécie Olea europaea (Oliveira) se verificou um aumento<br />
da concentração dos pólenes <strong>em</strong> ar ambiente nos meses <strong>de</strong> Março, Abril e Maio,<br />
como se po<strong>de</strong> ver pelos seguintes gráficos:<br />
Figura 22. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Olea europaea presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Março.<br />
60
Figura 23. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Olea europaea presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Abril.<br />
Figura 24. Nível da concentração <strong>de</strong> pólen do Olea europaea presente no ar, no<br />
<strong>de</strong>corrente mês <strong>de</strong> Maio.<br />
3.2.4. DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />
Apesar do paciente apresentar gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto quando os níveis <strong>de</strong><br />
pólenes agressores eram elevados, também ocorreram quando os níveis polínicos<br />
eram baixos, o que se po<strong>de</strong>rá justificar as patologias <strong>de</strong> pele concomitantes.<br />
Desta forma, o paciente <strong>de</strong>ve ser confinado ao interior <strong>de</strong> casa para diminuir<br />
a carga alergénica presente no ambiente exterior. O animal ao estar confinado ao<br />
interior <strong>de</strong> casa, estará mais protegido dos pólenes agressores, havendo assim uma<br />
diminuição dos sinais clínicos e melhoramento do conforto animal, se esta for a<br />
causa principal da patologia. Deve-se ter <strong>em</strong> atenção outras patologias <strong>de</strong> pele<br />
simultâneas, como as infecções <strong>de</strong> pele, resultantes da auto-mutilação.<br />
<strong>Os</strong> banhos regulares são importantes, uma vez que diminu<strong>em</strong> o contacto<br />
dos polénes agressores presentes no pêlo que estão <strong>em</strong> contacto permanente com<br />
a pele. Recorrer à antibioterapia, se necessário.<br />
61
4. CONCLUSÃO<br />
Na última década, as alergias têm ganho uma gran<strong>de</strong> importância <strong>de</strong>vido ao<br />
crescimento exponencial <strong>de</strong> casos, sendo essencial a sua melhor compreensão por<br />
parte dos clínicos.<br />
Desta forma, ainda são necessários vários progressos para que exista um<br />
melhor domínio <strong>de</strong>ste quadro complexo e cada vez mais comum. Estima-se que as<br />
alergias tenham aumentado <strong>de</strong>vido a alterações do meio ambiente, estilos <strong>de</strong> vida,<br />
crescente urbanização, poluição, tabagismo passivo e alterações dos hábitos<br />
alimentares, sendo estes alguns factores que promov<strong>em</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
alergias.<br />
Em Portugal, as t<strong>em</strong>peraturas elevadas têm-se prolongado ao longo do ano,<br />
havendo também um aumento <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> DA e DAPP associado ao aumento da<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alergénios presentes no ar, assim como o aumento populacional <strong>de</strong><br />
pulgas típicas das t<strong>em</strong>peraturas amenas.<br />
Alguns hábitos sociais também pod<strong>em</strong> interferir no aumento dos casos <strong>de</strong><br />
hipersensibilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> animais. Isso verifica-se quando, por ex<strong>em</strong>plo, os proprietários<br />
dos animais <strong>de</strong> estimação fumam ao pé dos mesmos. Assim, os cães e gatos tomam<br />
a posição <strong>de</strong> fumadores passivos, que advém <strong>em</strong> várias patologias futuras.<br />
Também a procura <strong>de</strong> várias raças com predisposição para alergias t<strong>em</strong><br />
aumentado, assim, os criadores cruzam raças predispostas dando continuida<strong>de</strong> à<br />
patologia através da <strong>de</strong>scendência.<br />
Cada vez mais os animais <strong>de</strong> estimação faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> uma família. Assim,<br />
estes <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> viver na rua e são protegidos <strong>em</strong> casa, on<strong>de</strong> dorm<strong>em</strong> muitas vezes<br />
na cama dos donos. Desta forma, algumas correntes <strong>de</strong>fend<strong>em</strong> que as alterações<br />
observadas relativamente às alergias po<strong>de</strong> estar relacionada com a protecção<br />
excessiva do organismo quando os animais são ainda muito pequenos, através <strong>de</strong><br />
uma exposição mínima a agentes patogénicos externos, o que leva o sist<strong>em</strong>a<br />
imunitário a atacar todas as proteínas comuns na vida quotidiana<br />
As alergias são um mundo <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a complexida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que ainda são<br />
necessários estudos para a sua melhor compreensão, tendo <strong>em</strong> conta que n<strong>em</strong><br />
todos os sist<strong>em</strong>as imunitários dos animais respond<strong>em</strong> da mesma forma aos vários<br />
alergénios.<br />
62
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70
6. ANEXOS<br />
71
ANEXO 1<br />
ESTUDO DE CASUÍSTICA<br />
72
Anexo 1: Casuística médica e cirúrgica do Hospital Veterinário Montenegro,<br />
Porto, compreendida entre 1 <strong>de</strong> Março a 31 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2011, no âmbito do<br />
estágio curricular <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Veterinária.<br />
CASUÍSTICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO MONTENEGRO - PORTO<br />
Aparelho Respiratório 24<br />
Cardiologia 8<br />
Cirurgia 89<br />
Dermatologia 25<br />
Endocrinologia 19<br />
Estomatologia 7<br />
Gastroenterologia 61<br />
H<strong>em</strong>atologia 12<br />
Neurologia e Sist<strong>em</strong>a Musculo‐esquelético 54<br />
Oftalmologia 3<br />
Oncologia 31<br />
Reprodução 7<br />
Toxicologia 10<br />
Urologia 37<br />
Total 387<br />
Casuística do Hospital Veterinário Montenegro ‐ Porto<br />
2%<br />
24%<br />
10%<br />
7% 5% 2%<br />
3%<br />
2%<br />
17%<br />
Cardiologia Cirurgia<br />
Dermatologia Endocrinologia<br />
9%<br />
15%<br />
Estomatologia Gastroenterologia<br />
H<strong>em</strong>atologia Neurologia e Sist<strong>em</strong>a Musculo‐esquelético<br />
Oftalmologia Oncologia<br />
Reprodução Toxicologia<br />
Urologia<br />
3%<br />
1%<br />
73
0%<br />
40%<br />
2% 2%<br />
30%<br />
Casuística das espécies<br />
0% 0%<br />
3%<br />
4%<br />
60%<br />
Casuística <strong>de</strong> Raças Caninas<br />
1%<br />
1%<br />
1%<br />
1%<br />
0%<br />
0%<br />
1%<br />
0%<br />
5%<br />
6%<br />
2%<br />
1%<br />
1%<br />
4% 0%<br />
3%<br />
5%<br />
11%<br />
Cães<br />
Gatos<br />
1%<br />
3%<br />
2%<br />
1%<br />
2%<br />
Basset Beagle Bobtail Boxer<br />
Buldog Francês Buldog Inglês Caniche Chiuaua<br />
Cocker Spaniel Dálmata Dog Al<strong>em</strong>ão Gol<strong>de</strong>n Retriever<br />
Husky Siberiano Labrador Retreiver Pastor Al<strong>em</strong>ão Pastor Belga<br />
Pastor <strong>de</strong> Brie Pequinois Pinscher Po<strong>de</strong>nco Português<br />
Puggy Raça In<strong>de</strong>terminada Rafeiro Alentejano Rottweiler<br />
2%<br />
Casuística <strong>de</strong> Raças Felinas<br />
1%<br />
81%<br />
8%<br />
6%<br />
2%<br />
Europeu comum<br />
Korat<br />
Siamês<br />
Persa<br />
Main Coon<br />
3%<br />
Bosques da Noruega<br />
74
Distribuição da casuística <strong>em</strong> Cães <strong>de</strong> acordo<br />
com a ida<strong>de</strong><br />
5%<br />
3%<br />
6%<br />
3%<br />
4%<br />
2%<br />
5%<br />
2%<br />
5%<br />
5% 1%<br />
7%<br />
10%<br />
Distribuição da casuística <strong>em</strong> Gatos <strong>de</strong> acordo<br />
com a ida<strong>de</strong><br />
5%<br />
1% 1% 1%<br />
5%<br />
6% 2%<br />
3% 3% 1% 1%<br />
7%<br />
1%<br />
7%<br />
8%<br />
20%<br />
5%<br />
6%<br />
6%<br />
6%<br />
Inferior a um ano Um ano Dois anos Três anos Quatro anos<br />
Cinco anos Seis anos Sete anos Oito anos Nove anos<br />
Dez anos Onze anos Doze anos Treze anos Catorze anos<br />
Quinze anos Dezasseis anos Dezasete anos Dezoito anos Dezanove anos<br />
10%<br />
Inferior a um ano Um ano Dois anos Três anos Quatro anos<br />
Cinco anos Seis anos Sete anos Oito anos Nove anos<br />
Dez anos Onze anos Doze anos Treze anos Catorze anos<br />
Quinze anos Dezasseis anos Dezasete anos Dezanove anos Vinte anos<br />
5%<br />
8%<br />
5%<br />
3%<br />
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