Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Também a violeta é flor [...],<br />
Que é fêmea traja<strong>da</strong> em flor [...].<br />
Catona é moça luzi<strong>da</strong>,<br />
Que a pouco custo se asseia,<br />
Entende-se como feia,<br />
Mas é formosa entendi<strong>da</strong>. (MATOS, 1992, p. 30)<br />
111<br />
Realça e idealiza a sua beleza, conforme fez com Tereza, tornando-a objeto de<br />
desejo, com uma beleza corporal quase perfeita, se não fosse seu negrume, e<br />
responsável pela realização dos anseios masculinos:<br />
Seres, Tereza, formosa,<br />
Sendo trigueira, me espanta;<br />
Pois tendo beleza tanta,<br />
É sobre isso milagrosa.<br />
Como não ser espantosa<br />
Se o adágio me assegura,<br />
Que quem quiser formosura<br />
A há de ir na alvura ver;<br />
E vós sois lin<strong>da</strong> mulher<br />
Contra o adágio <strong>da</strong> alvura [...] (MATOS, 1992, p. 34-35)<br />
Apesar <strong>da</strong> representação de exaltação <strong>da</strong> beleza <strong>da</strong> mulher negra, ela, para o<br />
sujeito poético de Boca de inferno, configura-se como uma fervorosa sedutora. E assim<br />
refere-se à Luzia:<br />
Dai-me sequer um bocado;<br />
Mas o que vos persuade<br />
Que deis com manha e com arte,<br />
Dando-vos e de tal parte,<br />
Sempre será grande o <strong>da</strong>do.<br />
Se a todos cinco sentidos<br />
Não tendes coisa que <strong>da</strong>r,<br />
Daí ao de ver e apalpar,<br />
Os dois sejam preferidos. (MATOS, 1992, p. 69)<br />
Ele apenas atende e cede a apelos sedutores delas e de seus encantos físicos e de<br />
personali<strong>da</strong>de. O poeta não foge à regra do seu tempo e, através de seus versos, figura<br />
um olhar comum à época sobre as mulheres escraviza<strong>da</strong>s. Assim ain<strong>da</strong> canta: “Jelu, vós<br />
sois a rainha <strong>da</strong>s mulatas, sobretudo sois a deusa <strong>da</strong>s p... [...]”. [reticências no original]<br />
(MATOS, 1992, p. 33).<br />
Ao utilizar esses qualitativos para a “mulata”, de modo naturalizado, Gregório<br />
de Matos generaliza estereótipos negativos, pela linguagem poética, cristalizando<br />
imagens que a desenham como objeto sexual, sem limites e sem princípios morais.,<br />
segundo o estudioso Queiroz Júnior: