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II CAPÍTULO LITERATURA E IDENTIDADES NEGRAS (Alda Espírito Santo – São Tomé e Príncipe) Fonte da foto: . Acesso em 30/02/2010. Nesta noite morna de luar africano Salpicando de sombras as estradas Eu estendo os meus braços sedentos Para a nossa mãe África, gigante E ergo para ti meu canto sem palavras Suplicando bênção da terra Para as vias dos teus caminhos Para a rota do destino imenso Traçado na inteireza de todo o teu ser Para ti, a projecção das nossas estradas Varridas da impureza dos dejectos inúteis Para ti, o canto de glória da nossa Mãe África dignificada. (ESPÍRITO SANTO, 1991) 106 Identidades é uma temática que faz parte de cenários acadêmicos e núcleos de pesquisas voltados para algumas questões contemporâneas, tais como políticas neoliberais, globalização, pós-colonialismo, alteridades, diversidades, estudos culturais entre outras. Cláudia Torres, ao referir-se à amplitude desse conceito, cita algumas complexidades que o circundam: [...] as expressões distintas como imagem, representação de si, conceito de si, pertencimento, as quais se referem a um conjunto de traços, de imagens, de sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele próprio, são empregadas fazendo referência ao conceito de identidade [...] (TORRES, 2003, p. 41) Há uma gama abrangente de estudos sociológicos, psicológicos, literários e culturais que tecem análises e considerações visando à compreensão do conceito de identidade. No entanto, há nuances e especificidades entre elas que ainda não foram enfrentadas, suficiente e satisfatoriamente, por isso não é à toa que Hall reconhece que,

embora haja uma intensa fascinação da pós-modernidade pelas múltiplas diferenças, permanecem ainda alguns questionamentos, críticas e discordâncias a respeito de identidade: 107 Estamos observando, nos últimos anos, uma verdadeira explosão discursiva em torno de “identidade”. O conceito tem sido submetido, ao mesmo tempo, a uma severa crítica. Como se pode explicar esse paradoxal fenômeno? Onde nos situamos relativamente ao conceito de “identidade”? Está se efetuando uma completa desconstrução das perspectivas identitárias em uma variedade de áreas disciplinares, todas as quais, de uma forma ou outra, criticam a idéia de uma idéia de identidade integral, originária e unificada. (HALL, 2000, p. 103) A desconstrução de perspectivas identitárias, referida por Hall, coloca em pauta ambivalências nas empreitadas de discussão sobre identidades, bem como controvérsias em compreendê-las como entidades fixas, singulares e imutáveis. Mais ainda, designá- las pressupõe reconhecê-las como uma construção sociocultural e não como traços biológicos e naturalizados, uma vez que elas implicam adesão, pertencimento e, ao mesmo tempo, em ressignificação de valores, costumes, comportamentos, ritos, tradições, concepções dentre outros. Implicam, ainda, entender que elas, segundo Nestor Canclini, são “[...] uma construção em que se narra [...]” (CANCLINI, 2006, p. 129), se instituem não apenas pela relação de classe, pelos fatores econômicos e financeiros, em que os sujeitos estão inseridos, mas também por outros aspectos, tais como étnico- racial, gênero, profissional, orientação sexual, geracional etc. As identidades ainda não integram a natureza humana, tampouco resultam de doação ou de aquisição passiva; ao contrário, as identidades individuais e coletivas são construtos socioculturais, que se caracterizam como móveis, múltiplas, fluidas e fragmentadas, e são, conforme Homi Bhabha (2003), constantemente negociadas e contestadas. As identidades não são, portanto, coerentes e definitivas. Incontestavelmente, elas são instáveis, inacabadas e transitórias e, por conseguinte, elas são dinâmicas e se constituem de modo relacional (HALL, 2000; LOPES, 2002), como um processo em permanente transformação. Elas não se limitam apenas a uma representação do ser humano nem a elementos diferenciadores de outros, já que, conforme Muniz Sodré (1999, p. 34), Dizer identidade humana é designar um complexo relacional que liga o sujeito a um quadro contínuo de referências, constituído pela interseção de sua história individual com a do grupo onde vive. Cada sujeito singular é

embora haja uma intensa fascinação <strong>da</strong> pós-moderni<strong>da</strong>de pelas múltiplas diferenças,<br />

permanecem ain<strong>da</strong> alguns questionamentos, críticas e discordâncias a respeito de<br />

identi<strong>da</strong>de:<br />

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Estamos observando, nos últimos anos, uma ver<strong>da</strong>deira explosão discursiva<br />

em torno de “identi<strong>da</strong>de”. O conceito tem sido submetido, ao mesmo tempo,<br />

a uma severa crítica. Como se pode explicar esse paradoxal fenômeno?<br />

Onde nos situamos relativamente ao conceito de “identi<strong>da</strong>de”? Está se<br />

efetuando uma completa desconstrução <strong>da</strong>s perspectivas identitárias em uma<br />

varie<strong>da</strong>de de áreas disciplinares, to<strong>da</strong>s as quais, de uma forma ou outra,<br />

criticam a idéia de uma idéia de identi<strong>da</strong>de integral, originária e unifica<strong>da</strong>.<br />

(HALL, 2000, p. 103)<br />

A desconstrução de perspectivas identitárias, referi<strong>da</strong> por Hall, coloca em pauta<br />

ambivalências nas empreita<strong>da</strong>s de discussão sobre identi<strong>da</strong>des, bem como controvérsias<br />

em compreendê-las como enti<strong>da</strong>des fixas, singulares e imutáveis. Mais ain<strong>da</strong>, designá-<br />

las pressupõe reconhecê-las como uma construção sociocultural e não como traços<br />

biológicos e naturalizados, uma vez que elas implicam adesão, pertencimento e, ao<br />

mesmo tempo, em ressignificação de valores, costumes, comportamentos, ritos,<br />

tradições, concepções dentre outros. Implicam, ain<strong>da</strong>, entender que elas, segundo Nestor<br />

Canclini, são “[...] uma construção em que se narra [...]” (CANCLINI, 2006, p. 129), se<br />

instituem não apenas pela relação de classe, pelos fatores econômicos e financeiros, em<br />

que os sujeitos estão inseridos, mas também por outros aspectos, tais como étnico-<br />

racial, gênero, profissional, orientação sexual, geracional etc.<br />

As identi<strong>da</strong>des ain<strong>da</strong> não integram a natureza humana, tampouco resultam de<br />

doação ou de aquisição passiva; ao contrário, as identi<strong>da</strong>des individuais e coletivas são<br />

construtos socioculturais, que se caracterizam como móveis, múltiplas, flui<strong>da</strong>s e<br />

fragmenta<strong>da</strong>s, e são, conforme Homi Bhabha (2003), constantemente negocia<strong>da</strong>s e<br />

contesta<strong>da</strong>s. As identi<strong>da</strong>des não são, portanto, coerentes e definitivas.<br />

Incontestavelmente, elas são instáveis, inacaba<strong>da</strong>s e transitórias e, por conseguinte, elas<br />

são dinâmicas e se constituem de modo relacional (HALL, 2000; LOPES, 2002), como<br />

um processo em permanente transformação. Elas não se limitam apenas a uma<br />

representação do ser humano nem a elementos diferenciadores de outros, já que,<br />

conforme Muniz Sodré (1999, p. 34),<br />

Dizer identi<strong>da</strong>de humana é designar um complexo relacional que liga o<br />

sujeito a um quadro contínuo de referências, constituído pela interseção de<br />

sua história individual com a do grupo onde vive. Ca<strong>da</strong> sujeito singular é

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