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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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pretendem desestabilizar discursos que pouco valorizam suas produções e fortalecem,<br />

pela palavra, as relações de poder pauta<strong>da</strong>s em práticas de racismo e sexismo. Almejam<br />

ain<strong>da</strong>, através de entrecruzamentos, tessituras e jogos desconstrutores e não destruidores<br />

de significados, dizer e escrever de si, de seus sonhos, memórias, in<strong>da</strong>gações, angústias,<br />

dilemas, ocorrências e identi<strong>da</strong>des individuais e coletivas, tal como sugere Urânia<br />

Munzanzu.<br />

103<br />

[...] Mas quando a gente se propõe a ter uma família negra, a ter filhos negros e a viver<br />

dentro <strong>da</strong>s coisas que nossos antepassados deixaram, quando a gente não quer descartar<br />

a nós, próprias, a gente fica meio confusa. Esses homens, normalmente, nos chegam com<br />

mais seqüelas do que com coisas a nos oferecer. As marcas sofri<strong>da</strong>s <strong>da</strong> minha mãe, as<br />

minhas mesmas, sempre foram coisas que queriam conversar sobre isso. Como não está<br />

posto nenhum fórum que a gente discuta sobre essas coisas, como <strong>da</strong>mos conta de um<br />

marido violento, de um marido que não nos reconhece como mulheres bonitas, como<br />

mulheres capazes? Como <strong>da</strong>r conta de filhos criados sem pai? Como <strong>da</strong>r conta de atender<br />

as necessi<strong>da</strong>des do dia a dia. Eu tinha vontade de falar dessas coisas. E a poesia foi o<br />

meu refúgio. (MUNZANZU, 2008)<br />

O poema Elev-a-ação, de Jocélia Fonseca, facilita o entendimento desse lugar<br />

<strong>da</strong> poesia indicado pela escritora.<br />

Quem agora é capaz<br />

De acariciar<br />

Minha alma que sangra<br />

Sofrendo as mal<strong>da</strong>des alheias<br />

As mal<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s fracas criaturas<br />

Que não enxergam o horizonte<br />

Está ao alcance de quem quer ir além<br />

Da miséria cotidiana<br />

Quem quer ter um sonho lindo<br />

Esse livrar <strong>da</strong>s mesquinharias<br />

Aprendi<strong>da</strong>s<br />

Se desnu<strong>da</strong>r<br />

Diante <strong>da</strong>s mentiras mórbi<strong>da</strong>s<br />

Que se perdura e sustenta<br />

A miséria mental<br />

E correr o risco<br />

Em que você deve correr<br />

Firmar os passos<br />

Na cor<strong>da</strong> bamba <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

E ser forte. (FONSECA, 2008, p. 14)<br />

Esses versos dedicam-se a apresentar in<strong>da</strong>gações e razões pelas quais o sujeito<br />

se angustia. Lutas, sofrimentos, superação e resistências são temas que despontam nesse<br />

poema, contudo são também frequentes em palavras poéticas e ficcionais <strong>da</strong>s demais<br />

escritoras integrantes deste estudo. Assim a escrita torna-se o abrigo, onde se refugiam<br />

para entender a si, inventando expressões de si e do seu cotidiano, bem como traçando<br />

estratégias de superação <strong>da</strong>s mal<strong>da</strong>des alheias, <strong>da</strong> miséria cotidiana, <strong>da</strong>s mentiras

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