Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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12.05.2013 Views

elaborações e interpretações de sentidos de quem a construiu e interpretou ─ pesquisadora e participantes do estudo. O projeto tornou-se um meio de abrir caminhos; funcionou como aquele que vai à frente, mas o percurso, o desenrolar e a tessitura do estudo são possibilidades que ultrapassaram as previsões e os limites pré-estabelecidos pelas projeções. Mudar de caminho ou ir além dele não se configurou em um problema ou em um desvio. Pelo contrário, demonstrou a fertilidade presente em trajetórias e produção literária das escritoras, em evidência, e na própria elaboração do estudo, da pesquisa e da escrita. Depreende-se que o ato de pesquisar se delineou por tornar-me sujeito e afirmar-me pesquisadora, inserida em diversas realidades, sensível aos movimentos da investigação e situações que se apresentaram e decorreram do caminho. Mais ainda consolidou-se através da cumplicidade de vários sujeitos que interagiram e se compuseram como (co) produtoras efetivas do estudo: a orientadora da pesquisa, a Profa. Dra. Florentina Souza, e as escritoras participantes do estudo. O olhar, por meio da escuta e da pesquisa, aos poucos, mostrou horizontes, que integraram o meu percurso, enquanto profissional e pesquisadora, e as diversidades de vivências das autoras e de suas obras. Emergiram e se agregaram inquietações, tais como: Afinal, que experiências e representações de identidades negras são (re) inventadas através da literatura afrofeminina? Quais as publicações de escritoras negras baianas a partir da década de 70? Como auto-interpretam suas produções literárias? Como publicam e circulam suas obras? Quais memórias e escritas elas constroem de si mesmas? Como ficcionalizam suas lembranças? Tais indagações, associadas aos princípios epistemológicos e procedimentos metodológicos, nutriram o desenvolvimento do estudo, que consistiu na realização de leituras críticas, através de uma descrição interpretativa da produção literária das referidas escritoras. Essa ação incidiu em apresentar seus textos, atribuindo-lhes sentidos e, quando possível, relacionando-os com as experiências e as informações adquiridas pelas entrevistas às escritoras. O estudo se situou através do empenho por uma interpretação dos significados, segundo Geertz (1989), o qual assegura que o trabalho de pesquisa de cunho etnográfico se desenha como uma prática, não de imputação de significados às vivências e traços culturais, mas de descrição densa e interpretação de sentidos que os sujeitos aplicam a suas realidades e práticas culturais. Para Adam Kuper (2002), o valor das postulações de Geertz e da pesquisa etnográfica consiste na atenção investigativa e deve voltar-se para 20

o significado daquilo que as pessoas realizam e para as interpretações que fazem das ações umas das outras, e não apenas para o que elas executam. Assim, foi interesse do estudo a interpretação de significados que oito escritoras negras baianas dão a suas estratégias de escrita, produção, divulgação de suas obras e aos seus repertórios identitários. Neste sentido, a análise da importância da textualidade literária para elas foi um dos desafios do estudo, porque, como sugere Geertz, o pesquisador empenha-se em explicar as explicações, já que nos segmentos sociais já circulam suas próprias interpretações sobre o vivido. Tal entendimento efetivou-se através da interpretação de interpretações, ou seja, de explicações de construções que os sujeitos da pesquisa fazem acerca de si e dos seus textos literários. Para tanto, foi ainda necessária a leitura crítica-biográfica, associada àquela descritiva e interpretativa, para compreender a escrita dos sujeitos da pesquisa, uma vez que na literatura, por elas produzidas, confluem histórias pessoais e coletivas e temas socais e transparecem desejos, sofrimentos, culturas, percalços, experiências, cotidianos, tradições, memórias e sonhos. A leitura crítica-biográfica, como explicou Eneida Maria de Souza, oportuniza ler os textos considerando o eu autoral e o eu ficcional. Para ela, 21 Os limites provocados pela leitura de natureza textual, cujo foco se reduz à matéria literária e à sua especificidade, são equacionados em favor do exercício de ficcionalização da crítica, no qual o próprio sujeito se inscreve como ator no discurso e personagem de uma narrativa em construção [...] (SOUZA, 2002, p. 105) Destarte, elaborar o estudo, sem dúvida, se configurou como (re) construções de significados, trilhando por vários caminhos. Ir e voltar. Descrever e interpretar. Começar e recomeçar. Falar e ouvir. Ver e, por vezes, apenas ouvir. Parar e continuar foram movimentos constantes da estrada. Previsões me motivaram a prosseguir o caminho e favoreceram a mobilidade, entretanto não asseguraram suficientemente o delineamento das vias e de suas curvas. Mas, afinal, não é essa uma das marcas da pesquisa? Diante de tal dinamismo, como podemos defini-la? Ao conceito de pesquisa vêm sendo atribuídos variados significados e aplicações. Como já se sabe, o ato de pesquisar transcende a consulta e o acesso aos dados e informações. Manuel Jacinto Sarmento sugere o diálogo como um dos postulados da investigação científica que garante outras dimensões da ação de tecer um estudo. Para ele,

elaborações e interpretações de sentidos de quem a construiu e interpretou ─<br />

pesquisadora e participantes do estudo.<br />

O projeto tornou-se um meio de abrir caminhos; funcionou como aquele que vai<br />

à frente, mas o percurso, o desenrolar e a tessitura do estudo são possibili<strong>da</strong>des que<br />

ultrapassaram as previsões e os limites pré-estabelecidos pelas projeções. Mu<strong>da</strong>r de<br />

caminho ou ir além dele não se configurou em um problema ou em um desvio. Pelo<br />

contrário, demonstrou a fertili<strong>da</strong>de presente em trajetórias e produção literária <strong>da</strong>s<br />

escritoras, em evidência, e na própria elaboração do estudo, <strong>da</strong> pesquisa e <strong>da</strong> escrita.<br />

Depreende-se que o ato de pesquisar se delineou por tornar-me sujeito e afirmar-me<br />

pesquisadora, inseri<strong>da</strong> em diversas reali<strong>da</strong>des, sensível aos movimentos <strong>da</strong> investigação<br />

e situações que se apresentaram e decorreram do caminho. Mais ain<strong>da</strong> consolidou-se<br />

através <strong>da</strong> cumplici<strong>da</strong>de de vários sujeitos que interagiram e se compuseram como (co)<br />

produtoras efetivas do estudo: a orientadora <strong>da</strong> pesquisa, a Profa. Dra. Florentina Souza,<br />

e as escritoras participantes do estudo.<br />

O olhar, por meio <strong>da</strong> escuta e <strong>da</strong> pesquisa, aos poucos, mostrou horizontes, que<br />

integraram o meu percurso, enquanto profissional e pesquisadora, e as diversi<strong>da</strong>des de<br />

vivências <strong>da</strong>s autoras e de suas obras. Emergiram e se agregaram inquietações, tais<br />

como: Afinal, que experiências e representações de identi<strong>da</strong>des negras são (re)<br />

inventa<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> literatura afrofeminina? Quais as publicações de escritoras negras<br />

baianas a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70? Como auto-interpretam suas produções literárias?<br />

Como publicam e circulam suas obras? Quais memórias e escritas elas constroem de si<br />

mesmas? Como ficcionalizam suas lembranças?<br />

Tais in<strong>da</strong>gações, associa<strong>da</strong>s aos princípios epistemológicos e procedimentos<br />

metodológicos, nutriram o desenvolvimento do estudo, que consistiu na realização de<br />

leituras críticas, através de uma descrição interpretativa <strong>da</strong> produção literária <strong>da</strong>s<br />

referi<strong>da</strong>s escritoras. Essa ação incidiu em apresentar seus <strong>texto</strong>s, atribuindo-lhes<br />

sentidos e, quando possível, relacionando-os com as experiências e as informações<br />

adquiri<strong>da</strong>s pelas entrevistas às escritoras.<br />

O estudo se situou através do empenho por uma interpretação dos significados,<br />

segundo Geertz (1989), o qual assegura que o trabalho de pesquisa de cunho etnográfico<br />

se desenha como uma prática, não de imputação de significados às vivências e traços<br />

culturais, mas de descrição densa e interpretação de sentidos que os sujeitos aplicam a<br />

suas reali<strong>da</strong>des e práticas culturais. Para A<strong>da</strong>m Kuper (2002), o valor <strong>da</strong>s postulações de<br />

Geertz e <strong>da</strong> pesquisa etnográfica consiste na atenção investigativa e deve voltar-se para<br />

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