Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Hoje, como quem germina e flora, vivo arando jardim, cavando história. Regando semente, bebendo a sede, vivo plantada, germinando em mim. Hoje, como se fora flor de fonte Vivo o fustigado fundo do mundo Flechando amiúde o horizonte Vivo buscando a canção inicial de tudo. (PASSOS, 2007) Por esses versos, uma voz faz o trabalho de cuidar da autopercepção em diálogo com a natureza. Seu desejo não é procurar origens remotas de si e de seus discursos, mas compreender em que se tornara. Em liberdade, ela busca nas memórias saciar a sua sede: constituir-se. A partir de suas publicações e da leitura de sua fortuna crítica, ficou perceptível que ela tem uma vasta publicação de poemas em periódicos baianos. Ela se destaca neste estudo, entre as entrevistadas, por estabelecer mais relações com fundações e outros segmentos culturais, artísticos e literários e por ser uma das mais conhecidas nesses cenários. Isso facilita o acesso de sua produção aos/às leitores/as especializados/as (estudiosos/as e críticos/as), que se incumbem de divulgá-la. Contudo, ela acredita em que a sua inserção no cenário literário deve-se a sua competência e não ao seu envolvimento com essas instâncias. Além de ter um volume considerável de publicações em revistas e jornais, ela também divulga seus poemas em vários blogs e sites. Essas possibilidades de edição, para além do livro impresso, lhe permitem adequação, fato que também ocorre com as outras escritoras participantes do estudo, às tecnologias atuais de informação e comunicação, de armazenamento e de difusão de sua poética; também oportunizam a inserção em redes sociais, entre outras, Orkut e MSN. Das oito escritoras colaboradoras, quatro publicam seus poemas e trechos de textos ficcionais em seus Blogs e Orkut; três são associadas a redes de escritores/as que divulgam suas obras em sites; e sete têm alguns de seus textos editados em sites e blogs de terceiros/as e de instituições; quatro já publicaram em jornais on-line. Dessa descrição, deduzo que os meios mencionados constituem em alternativas viáveis e ágeis para edição e propagação de parte de seus textos, uma vez que o mercado editorial ainda é pouco acessível para elas, não atendendo suas necessidades de publicação. As culturas de mídias, portanto, funcionam como um meio de difusão de seus poemas e narrativas, mesmo que suas condições de criação e circulação ainda não garantam satisfatoriamente conquista de mercado, mas já propiciam formar um público 88

leitor e difundir suas produções literárias. Flávio Carneiro, em No país do presente, já acenara sobre essa ocorrência, ao discutir sobre ficção no século XXI, quando retrata sobre projeto estético-ideológico de atuais escritores/as de literatura e sua relação com o mercado competitivo. Para ele, necessário se fez aproximar a literatura das culturas de mídia, para que assim se alcance uma satisfatória circulação e, por conseguinte, o mercado. Ao estabelecer diferenças entre a literatura atual e a dos anos 20, do século passado, ele argumenta: 89 [...] Em primeiro lugar, existe uma nova linguagem de massa: a da televisão, com um ritmo ainda mais veloz que o do cinema e promovendo uma mescla de estilos até então inimaginável, tanto nos diversos formatos – jornal, programa de variedades, de auditório, novela, talk show, esporte etc – como nos anúncios publicitários. A diferença maior, no entanto, não está aí e, sim, numa nova forma de aproximação mais íntima que a dos modernistas, entre literatura e mídia. Agora, a literatura deixa de considerar como de menor valor um discurso estético para as massas. Desaparece, ou se torna mais sutil, a crítica ideológica, marcante nos movimentos anteriores. Cria-se uma literatura antenada com o mercado, ou seja, uma literatura que não apenas se utiliza dos recursos lingüísticos da mídia como também se interessa em atingir o mesmo público almejado por ela. (CARNEIRO, 2005, p. 4) Lita Passos e as outras escritoras utilizam meios tecnológicos atuais, sem abandonar aquelas impressas, como oportunidades de circular amplamente o seu fazer poético, com o intuito de alcançar os usuários da internet e formar um novo público, pois, como ela salientou: “Estou surpresa com o alcance da minha poesia. Há vários blogs com meus poemas. Há jornais que, ocasionalmente, publicam poemas meus só terei notícias posteriormente. Considero um reconhecimento de muitos anos de busca” (PASSOS, 2008). Sendo assim, ela valoriza seu esforço para ampliar seu público leitor, ao declarar: Estou presente na vida literária da terra onde nasci Cruz das Almas, no meu estado da Bahia, no país onde vivo. Produzo, publico em jornais, revistas, blogs, sites. Participo de diversos projetos literários, estou no movimento poético do meu tempo. Dessa forma sinto-me no contexto literário brasileiro. Esta é uma preocupação atual de quem escreve: perceber seu público, se de fato ele existe num país de cultura da não-leitura. Mas, minha poesia é bem digerida por estudantes de um modo geral e profissional diversos. (PASSOS, 2008) Ela e as outras entrevistadas, incontestavelmente, não ampliarão o público leitor se não se garantirem condições de escrita e circulação e não se apropriarem de outras estratégias de publicação, o que parece já ter sido entendido por Lita Passos, há algum tempo. É preciso compreender que meios de difusão de sua palavra poética se inserem em pautas da atualidade mercadológica, midiática e de consumo, em que bens

Hoje, como quem germina e flora,<br />

vivo arando jardim, cavando história.<br />

Regando semente, bebendo a sede,<br />

vivo planta<strong>da</strong>, germinando em mim.<br />

Hoje, como se fora flor de fonte<br />

Vivo o fustigado fundo do mundo<br />

Flechando amiúde o horizonte<br />

Vivo buscando a canção inicial de tudo. (PASSOS, 2007)<br />

Por esses versos, uma voz faz o trabalho de cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> autopercepção em diálogo<br />

com a natureza. Seu desejo não é procurar origens remotas de si e de seus discursos,<br />

mas compreender em que se tornara. Em liber<strong>da</strong>de, ela busca nas memórias saciar a sua<br />

sede: constituir-se.<br />

A partir de suas publicações e <strong>da</strong> leitura de sua fortuna crítica, ficou perceptível<br />

que ela tem uma vasta publicação de poemas em periódicos baianos. Ela se destaca<br />

neste estudo, entre as entrevista<strong>da</strong>s, por estabelecer mais relações com fun<strong>da</strong>ções e<br />

outros segmentos culturais, artísticos e literários e por ser uma <strong>da</strong>s mais conheci<strong>da</strong>s<br />

nesses cenários. Isso facilita o acesso de sua produção aos/às leitores/as<br />

especializados/as (estudiosos/as e críticos/as), que se incumbem de divulgá-la. Contudo,<br />

ela acredita em que a sua inserção no cenário literário deve-se a sua competência e não<br />

ao seu envolvimento com essas instâncias.<br />

Além de ter um volume considerável de publicações em revistas e jornais, ela<br />

também divulga seus poemas em vários blogs e sites. Essas possibili<strong>da</strong>des de edição,<br />

para além do livro impresso, lhe permitem adequação, fato que também ocorre com as<br />

outras escritoras participantes do estudo, às tecnologias atuais de informação e<br />

comunicação, de armazenamento e de difusão de sua poética; também oportunizam a<br />

inserção em redes sociais, entre outras, Orkut e MSN.<br />

Das oito escritoras colaboradoras, quatro publicam seus poemas e trechos de<br />

<strong>texto</strong>s ficcionais em seus Blogs e Orkut; três são associa<strong>da</strong>s a redes de escritores/as que<br />

divulgam suas obras em sites; e sete têm alguns de seus <strong>texto</strong>s editados em sites e blogs<br />

de terceiros/as e de instituições; quatro já publicaram em jornais on-line. Dessa<br />

descrição, deduzo que os meios mencionados constituem em alternativas viáveis e ágeis<br />

para edição e propagação de parte de seus <strong>texto</strong>s, uma vez que o mercado editorial ain<strong>da</strong><br />

é pouco acessível para elas, não atendendo suas necessi<strong>da</strong>des de publicação.<br />

As culturas de mídias, portanto, funcionam como um meio de difusão de seus<br />

poemas e narrativas, mesmo que suas condições de criação e circulação ain<strong>da</strong> não<br />

garantam satisfatoriamente conquista de mercado, mas já propiciam formar um público<br />

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