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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Essa preocupação de Urânia Munzanzu, quiçá, remete à intolerância religiosa, a<br />

qual tem faces indecifráveis, segundo a pesquisadora e contadora de histórias Van<strong>da</strong><br />

Machado, em seu <strong>texto</strong> Intolerância religiosa: vigiando e punindo,<br />

A reprodução <strong>da</strong> intolerância vem se alastrando. Baixar a auto-estima do<br />

negro, confundir-lhe a identi<strong>da</strong>de, ridicularizar a religião, com certeza é<br />

meio caminho an<strong>da</strong>do que alimenta a razão para as "desigual<strong>da</strong>des<br />

institucionais". Com estes ingredientes e mais tantos outros, ora em doses<br />

homeopáticas, ora em doses cavalares, o Estado continua sendo bem<br />

servido, contando inclusive com leis e afirmações "cientificas".<br />

(MACHADO, 2000, p. 7)<br />

Diante do exposto por essa estudiosa, é certo que a aceitação de sua poesia entre<br />

grupos e pessoas, que rejeitam segmentos religiosos de matriz africana, pressupõe uma<br />

revisão crítica de “[...] leis e afirmações científicas [...]” (MACHADO, 2000, p.7) e<br />

estratégias políticas de enfrentamento à violação do direito à liber<strong>da</strong>de religiosa. Implica<br />

até o estabelecimento de processos educativos favoráveis à diversi<strong>da</strong>de religiosa, visto<br />

que seus poemas, com elementos e temas afrorreligiosos ou que fazem referência ao seu<br />

pertencimento a um terreiro de candomblé, sucedem de sua adesão à ancestrali<strong>da</strong>de, de<br />

suas próprias experiências de fé em divin<strong>da</strong>des africano-brasileiras e não de quem<br />

apenas pesquisa e conhece para escrever. Para ela,<br />

83<br />

É uma coisa que eu não sei como essas letras, muitas vezes, conseguiram traduzir<br />

estados de espírito que para mim só as palavras poderiam explicar se fosse pela poesia.<br />

Uma conversa não explicaria. Só a subjetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> poesia, só a profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> poesia,<br />

a sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> poesia, que a poesia requer, poderia explicar. Se você consegue<br />

entender essa poesia, você consegue entender o que eu sinto e o que senti quando escrevi.<br />

(MUNZANZU, 2008)<br />

Suas afirmações, acerca de formação de um público leitor e de projetos e<br />

temáticas de publicação, aproximam-se bastante <strong>da</strong>quelas apresenta<strong>da</strong>s por Mel Adún e<br />

<strong>Rita</strong> Santana, visto que ela considerou sua escrita pertinente e até necessária, em relação<br />

a padrões literários tão poucos sensíveis aos universos culturais e experiências que<br />

circun<strong>da</strong>m o cotidiano de mulheres negras. É por sua constatação que pode se afirmar a<br />

vali<strong>da</strong>de de sua produção literária: “[...] Escrevo para alterar algumas situações na ordem em<br />

que estão postas (MUNZANZU, 2008), declaração que em muito se aproxima <strong>da</strong>quela<br />

feita por Evaristo:<br />

A palavra poética é um modo de narração do mundo. Não só de narração, mas<br />

de revelação do utópico desejo de construir um outro mundo [...] E, ao almejar

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