Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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No segredo e na algazarra<br />
Na festa e no recilhimento.<br />
Empresta a ca<strong>da</strong> garganta<br />
Teu grito!<br />
Dá a ca<strong>da</strong> ginga o significado!<br />
A ca<strong>da</strong> olhar: a visão.<br />
Que em ca<strong>da</strong> trança<br />
A reunião de presentifique<br />
Assim como no toque do tan-tan<br />
Uma mensagem se codifique<br />
Até a hora <strong>da</strong> grande gargalha<strong>da</strong><br />
Em nome de Olorum-asé!<br />
Bara Ô! (CORREIA, 2006)<br />
*(Boca Coletiva)<br />
Barijó (Esù), orisà <strong>da</strong> comunicação e guardião de estra<strong>da</strong>s, entra<strong>da</strong>s e portas,<br />
talvez não apareça despretensiosamente em Encontro pois, como descreve o sujeito<br />
poético de Correia, ele é a boca coletiva, ou seja, o mensageiro dos demais orisàs e de<br />
humanos/as; aquele que promove a relação entre o Aiyê e o Òrum. Como Barijó, a<br />
mulher preta é diálogo, feita de partes que interagem para torná-la metade e tudo e,<br />
concomitantemente, “[...] a raiz mais profun<strong>da</strong> de Iyá Nassô Oká, Bamboxé e Iyá<br />
Biticu, mas sou também os Jeje Mahi e seu sangue Malê [...]” (MUZANZU, 2008).<br />
Fazer literatura com temas afrorreligiosos e africani<strong>da</strong>des, por certo, como se<br />
apresentam em poemas de Urânia Munzanzu, primeiro, pode viabilizar a ampliação do<br />
seu público leitor, formado, potencialmente por adeptos de religiões de matriz africana e<br />
por integrantes de organizações negras e culturais, porque nelas há pessoas, sobretudo,<br />
jovens negros/as, ávidos/as por uma escrita literária em que se sintam contemplados/as<br />
também pelas suas práticas religiosas. Segundo, pode trazer à baila, pela linguagem,<br />
narrativas sobre esse segmento religioso que, no Brasil, ain<strong>da</strong> enfrenta e resiste a muitas<br />
práticas de racismo e de intolerância religiosa. Por fim, pode também dificultar a<br />
formação de seu público leitor, uma vez que sua poética exige conhecimentos prévios<br />
sobre vivências afro-religiosas, como considera a autora:<br />
82<br />
[...] sei que você [a entrevistadora] é capaz de entender, mas acho que outro leitor não<br />
seria, por não está nesse universo religioso. Então eu tenho um pouco de receio <strong>da</strong><br />
publicação e até de me considerar escritora, porque nem todos entenderiam [...] Claro que<br />
isso não é fácil de ser entendido, por alguém que não sabe quem foi Iyá Nassô. Mas há<br />
alguém que entenderá [...] (MUNZANZU, 2008)