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Os CN abalam o cânone literário brasileiro, já que provocam uma ampliação da literatura brasileira, oportunizando incluir outras dimensões, projetos e segmentos literários e socioculturais, tal como a textualidade de escritores/as negros/as. Eles ainda contribuem para a difusão da produção literária de escritoras negras. A leitura de obras de Aline França, escritora negra baiana, na década de 90, do século XX, também cooperou para a efetivação da pesquisa. Suas novelas muito me instigaram quanto às propostas temáticas, às tramas e, mais ainda, ao desconhecimento de suas obras nos espaços literários, artístico-culturais e educacionais. Também fora do circuito dos CN, ela publicou sua primeira novela, Negão Dony (1978); a segunda, A mulher de Aleduma (1985); a terceira, Os estandartes (1995); e a quarta, Emoções das águas (2005). Essas publicações se destacam porque, entre as décadas de 70 e 80, nem as organizações sociais negras compreenderam satisfatoriamente a pertinência dessas obras no bojo de ações desenvolvidas em prol do combate à discriminação e ao racismo. Muitas entidades negras, ainda sustentadas pelos postulados do marxismo e do socialismo, pouco acreditaram, em seus fóruns, agendas e práticas, na militância através das artes e, muito menos, da literatura. Não foram, todavia, poucos/as os/as escritores/as negros/as, integrantes ou não desses movimentos, que forjaram, naquele período, condições e oportunidades de mostrar suas criações artístico-literárias, escrevendo e publicando sua literatura em favor da afirmação das identidades negras. Nas obras de Aline França, por exemplo, evidenciam-se traços culturais de populações negras. Para tanto, ela faz leituras poéticas e ficcionais do mundo mítico africano-brasileiro e de simbologias europeias presentes em culturas brasileiras e do legado africano que transitam pelas culturas negras no Brasil, chamando atenção para o caráter multifacetado das experiências culturais brasileiras. Saliento os blocos afros baianos entre as motivações que validaram a pesquisa, já que eles realizaram, nas décadas de 70 e 80, seus festivais de música e poesia, com temáticas referentes, ora ao continente africano, ora às culturas e à história de populações negras no Brasil. A pesquisadora Florentina Souza, ao abordar sobre discursos identitários negros do bloco afro Ilê Aiyê, chama a atenção para as letras de músicas dessa organização, pelo seu caráter reivindicatório de afirmação de identidade negra e dos laços culturais africano-brasileiros. Segundo ela, 18
[...] Forjando laços entre afirmação identitária e protesto, as letras das músicas inscrevem-se em uma linha criativa da diáspora que evidencia o desejo de promover a reconfiguração da auto-estima e a elaboração de outro sistema de representação dos afro-descendentes; propõe, ainda, o redesenho afirmativo de laços culturais com a África gestados nos intensos trânsitos e nas sofridas, dolorosas e criativas trocas no “Atlântico Negro”, além da reconstrução da atuação histórica e da memória do afro-brasileiro [..] (SOUZA, 2002, p. 87) O corpus da pesquisa foi composto processualmente, na fase de elaboração do projeto de pesquisa, por obras publicadas de 2 (duas) autoras (Aline França e Fátima Trinchão). E, durante o seu desenvolvimento, entre os anos de 2007 e 2008, foram realizadas entrevistas com Fátima Trinchão e com mais 06 (seis) escritoras (Rita Santana, Angelita Passos, Jocélia Fonseca, Urânia Munzanzu, Elque Santos e Mel Adún). Além das informações sobre suas trajetórias como escritoras, os encontros para as entrevistas foram propícios para ter acesso às obras e textos publicados, impressos e em meio digital, bem como a materiais biográficos, tais como álbuns fotográficos, textos jornalísticos e outros que compõem suas fortunas críticas ainda em construção. Diante do volume de informações e de textos, proposições e indagações que despontaram, no decorrer da pesquisa, foi necessário delimitar apenas oito autoras como colaboradoras da pesquisa. Este limite deveu-se ao atendimento dos seguintes critérios, previamente estabelecidos por mim: primeiro, ter publicações e não apenas o texto e, segundo, denotar na escrita, ainda que minimamente, temáticas como afrodescendências, identidades, memórias e constituição de si. As participantes da pesquisa, com exceção de Aline França, que teve, em 2005, seu último romance publicado, Emoções das águas, estão em construção de suas obras, dedicando-se à escrita, à edição e à circulação de suas produções literárias. Assim, o corpus foi delimitado pelos seus textos já publicados, mesmo reconhecendo que pululam outros inéditos, inacabados e em fase editoração, como é o caso do livro de poemas Alforrias, de Rita Santana, com lançamento previsto ainda para 2010. A literatura dessas mulheres que pareceu, em princípio, apenas um objeto, se constituiu também em um elemento propulsor e relevante como pré-texto da pesquisa. O dinamismo, contudo, não causou estranhamentos, visto que, por ser uma pesquisa de cunho etnográfico, ou seja, sustentada por uma descrição interpretativa, o projeto, por si só, não seria garantia suficiente do rumo e da realização do estudo. Ao contrário, são indicações de que a execução do estudo se consolidou como um processo de densa descrição, de acordo com Clifford Geertz (1989), já que os elementos da pesquisa não foram dados e postos, mas construídos, pois que se submeteram às inúmeras 19
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inscrevem-se em uma linha criativa <strong>da</strong> diáspora que evidencia o desejo de<br />
promover a reconfiguração <strong>da</strong> auto-estima e a elaboração de outro sistema de<br />
representação dos afro-descendentes; propõe, ain<strong>da</strong>, o redesenho afirmativo de<br />
laços culturais com a África gestados nos intensos trânsitos e nas sofri<strong>da</strong>s,<br />
dolorosas e criativas trocas no “Atlântico Negro”, além <strong>da</strong> reconstrução <strong>da</strong><br />
atuação histórica e <strong>da</strong> memória do afro-brasileiro [..] (SOUZA, 2002, p. 87)<br />
O corpus <strong>da</strong> pesquisa foi composto processualmente, na fase de elaboração do<br />
projeto de pesquisa, por obras publica<strong>da</strong>s de 2 (duas) autoras (Aline França e Fátima<br />
Trinchão). E, durante o seu desenvolvimento, entre os anos de 2007 e 2008, foram<br />
realiza<strong>da</strong>s entrevistas com Fátima Trinchão e com mais 06 (seis) escritoras (<strong>Rita</strong><br />
Santana, Angelita Passos, Jocélia Fonseca, Urânia Munzanzu, Elque Santos e Mel<br />
Adún). Além <strong>da</strong>s informações sobre suas trajetórias como escritoras, os encontros para<br />
as entrevistas foram propícios para ter acesso às obras e <strong>texto</strong>s publicados, impressos e<br />
em meio digital, bem como a materiais biográficos, tais como álbuns fotográficos,<br />
<strong>texto</strong>s jornalísticos e outros que compõem suas fortunas críticas ain<strong>da</strong> em construção.<br />
Diante do volume de informações e de <strong>texto</strong>s, proposições e in<strong>da</strong>gações que<br />
despontaram, no decorrer <strong>da</strong> pesquisa, foi necessário delimitar apenas oito autoras como<br />
colaboradoras <strong>da</strong> pesquisa. Este limite deveu-se ao atendimento dos seguintes critérios,<br />
previamente estabelecidos por mim: primeiro, ter publicações e não apenas o <strong>texto</strong> e,<br />
segundo, denotar na escrita, ain<strong>da</strong> que minimamente, temáticas como<br />
afrodescendências, identi<strong>da</strong>des, memórias e constituição de si.<br />
As participantes <strong>da</strong> pesquisa, com exceção de Aline França, que teve, em 2005,<br />
seu último romance publicado, Emoções <strong>da</strong>s águas, estão em construção de suas obras,<br />
dedicando-se à escrita, à edição e à circulação de suas produções literárias. Assim, o<br />
corpus foi delimitado pelos seus <strong>texto</strong>s já publicados, mesmo reconhecendo que<br />
pululam outros inéditos, inacabados e em fase editoração, como é o caso do livro de<br />
poemas Alforrias, de <strong>Rita</strong> Santana, com lançamento previsto ain<strong>da</strong> para 2010.<br />
A literatura dessas mulheres que pareceu, em princípio, apenas um objeto, se<br />
constituiu também em um elemento propulsor e relevante como pré-<strong>texto</strong> <strong>da</strong> pesquisa.<br />
O dinamismo, contudo, não causou estranhamentos, visto que, por ser uma pesquisa de<br />
cunho etnográfico, ou seja, sustenta<strong>da</strong> por uma descrição interpretativa, o projeto, por si<br />
só, não seria garantia suficiente do rumo e <strong>da</strong> realização do estudo. Ao contrário, são<br />
indicações de que a execução do estudo se consolidou como um processo de densa<br />
descrição, de acordo com Clifford Geertz (1989), já que os elementos <strong>da</strong> pesquisa não<br />
foram <strong>da</strong>dos e postos, mas construídos, pois que se submeteram às inúmeras<br />
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