Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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identitário em que se valorizem as múltiplas dimensões das culturas afrobrasileiras e das negritudes. Além dos obstáculos encontrados no labor da formação de sua escrita literária, o assumir-se ainda uma autora aprendiz, ou seja, em formação, é um fator bastante recorrente em relatos e argumentos das escritoras do grupo geracional de Elque Santos. A voz de Marinete Silva, ao referir-se à presença de algumas escritoras negras nos CN, citada por Costa, ecoa e se estende a Elque Santos e a outras vozes de leitoras/as negras/as, às quais vivem experiências similares: “[...] Os Cadernos são de grande importância porque eu não conhecia mulher negra que tivesse um trabalho (literário), exceto a Carolina de Jesus. Mas poeta negra que falasse do nosso amor, da nossa vida, dos nossos filhos, das nossas coisas não era comum [...]” (COSTA, 2008, p. 37). Elque Santos, como outras escritoras do seu grupo geracional do estudo, também aponta as dificuldades encontradas para editar sua poesia e torná-la conhecida, quando afirmou em entrevista: “Sei que as possibilidades [de escrita] são inúmeras, porque posso fazer e ser tudo no papel, mas a dificuldade é publicar (SANTOS, 2008). Ela se posiciona de tal modo que nos reporta a Silva, ao abordar as dificuldades de se elaborar uma tradição e crítica da produção literária de autoras negras brasileiras, quando reconheceu alguns liames do ofício da escrita literária e as disputas de poder no processo: “[...] construir uma tradição literária de escritoras negras não é uma ação sem complexidades e sem empecilhos [...]” (SILVA, 2007, p. 466). 76
1.1.5 Urânia Munzanzu: Uma escritora do Asè Urânia Munzanzu – Foto do acervo fotográfico da autora Urânia de Oliveira Rodrigues é soteropolitana e nasceu em 20 de março de 1972. Ela é integrante do Zoogodô Bogum Malê Rundó, conhecido como Terreiro do Bogum, localizado na Ladeira do Bogum, antiga Ladeira Manoel do Bonfim, no Engenho Velho da Federação, em Salvador-BA. Urânia Munzanzu, como é conhecida em rodas de LN, é bacharel em Comunicação Social e atua profissionalmente na área de jornalismo. Como Elque Santos e Mel Adún, ela se considerou, em entrevista no dia 20 de outubro de 2008, uma escritora em formação. Embora ela já escreva desde a sua adolescência, ainda não tem livros editados, mas publica em jornais e blogs. Baobá foi o seu primeiro poema publicado, através da Fundação Pedro Calmon do Estado da Bahia, na Folha literária (2008). Essa coisa do poema Baobá, mesmo, eu fico surpresa até hoje quando alguém me fala: olhe, eu li, me identifiquei e tal. Você é a menina do Baobá. Eu fui a uma exposição fotográfica na Caixa Econômica Cultural e vi uma foto do Baobá, maravilhosa. Aconteceu que, nesse dia, estava conversando com uma pessoa que me falou que Ana Carolina escreveu uma música sobre Rosas, sobre rosas, que todo mundo gosta de rosas. E eu lhe disse: Eu não. Eu quero um baobá, uma árvore enorme, uma coisa forte, uma coisa grande, que tem profundidade. Aí escrevi sobre isso, então assim escrevi sem pretensão. E depois, alguns amigos ficaram falando vamos publicar [...] (MUNZANZU, 2008) Na sua produção literária, destacam-se temáticas como amor, solidão, prazer, emancipação feminina negra e religiosidade afrobrasileira. Ela se vê como uma escritora que canta (ou deve cantar) o que lhe toca no mundo como informou em entrevista: 77 [...] Escrevi um poema sobre os pés. É um poema erótico. Fiquei preocupada com o que as pessoas que leram Baobá iriam pensar sobre mim. Será que iam me achar maluca, que
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identitário em que se valorizem as múltiplas dimensões <strong>da</strong>s culturas afrobrasileiras e <strong>da</strong>s<br />
negritudes.<br />
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assumir-se ain<strong>da</strong> uma autora aprendiz, ou seja, em formação, é um fator bastante<br />
recorrente em relatos e argumentos <strong>da</strong>s escritoras do grupo geracional de Elque Santos.<br />
A voz de Marinete <strong>Silva</strong>, ao referir-se à presença de algumas escritoras negras nos CN,<br />
cita<strong>da</strong> por Costa, ecoa e se estende a Elque Santos e a outras vozes de leitoras/as<br />
negras/as, às quais vivem experiências similares: “[...] Os Cadernos são de grande<br />
importância porque eu não conhecia mulher negra que tivesse um trabalho (literário),<br />
exceto a Carolina de Jesus. Mas poeta negra que falasse do nosso amor, <strong>da</strong> nossa vi<strong>da</strong>,<br />
dos nossos filhos, <strong>da</strong>s nossas coisas não era comum [...]” (COSTA, 2008, p. 37).<br />
Elque Santos, como outras escritoras do seu grupo geracional do estudo, também<br />
aponta as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s para editar sua poesia e torná-la conheci<strong>da</strong>, quando<br />
afirmou em entrevista: “Sei que as possibili<strong>da</strong>des [de escrita] são inúmeras, porque posso fazer e<br />
ser tudo no papel, mas a dificul<strong>da</strong>de é publicar (SANTOS, 2008). Ela se posiciona de tal<br />
modo que nos reporta a <strong>Silva</strong>, ao abor<strong>da</strong>r as dificul<strong>da</strong>des de se elaborar uma tradição e<br />
crítica <strong>da</strong> produção literária de autoras negras brasileiras, quando reconheceu alguns<br />
liames do ofício <strong>da</strong> escrita literária e as disputas de poder no processo: “[...] construir<br />
uma tradição literária de escritoras negras não é uma ação sem complexi<strong>da</strong>des e sem<br />
empecilhos [...]” (SILVA, 2007, p. 466).<br />
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