Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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12.05.2013 Views

Em uma perspectiva genealógica 18 , autores/as são citados/as como indicativos de possíveis diálogos, enquanto leitora e uma aprendiz escritora, em um procedimento que tem como objetivo estabelecer traços de identificação com outros/as escritores/as negros/as. Pelas suas informações, à leitura cabe o papel de elaboração de um eu enunciador, que associada à auto-identificação, impulsiona a sua escrita. Mas pela sua sinalização, seu exercício de aprendiz da produção literária está marcado por temáticas, nomes e obras que também se inserem na LN. Zila Bernd (1988) considera a denominação LN inoportuna e inadequada, mas garante que a sua a legitimidade se deve por permitir que o sujeito enunciador seja o próprio negro. Por certo a LN é válida por ter uma voz de si e não sobre o outro, mas não só por isso como se destaca no segundo capítulo deste texto. Elque Santos, através da leitura dos CN e de outras obras afins, conheceu possibilidades de reinventar suas africanidades. Ela conheceu vozes que tecem memórias e discursos poéticos com traços qualitativos de universos e culturas negros. Mais ainda, pelo acesso à LN, a autora conhece outras vozes sobre si e suas identidades, as quais se contrapõem àquelas que as colocam em meio a sujeições. As práticas de racismo também são apresentadas por Elque Santos como definidoras do seu tecer literário: [...] Enfrento o racismo todo dia na minha comunidade, na faculdade e na vida [...] 72 Me vejo negra universalmente, aprendi a gostar do meu cabelo, a perceber que o que a cultura esbranquiçada vê como defeito é belo... Enfim quero dizer, mesmo onde o fenótipo não alcança, sou negra, amo minha ancestralidade e no dia-a-dia aprendo a ser uma mulher negra guerreira. (SANTOS, 2008) A identidade autoral de Elque Santos se constrói contaminada com a identidade individual. Afirmar-se e aprender a ser uma mulher negra guerreira implica rejeitar a percepção do outro, que não a aceita e exclui e, ao mesmo tempo, inventar versos em que identidades negras sejam incluídas. 18 A genealogia, para Foucault (2002), é um método de análise que busca a proveniência dos saberes, ou seja, da configuração de suas positividades, a partir das condições de possibilidades externas aos próprios saberes; ou melhor, considera-os como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica. Procura-se a explicação daqueles fatores que interferem na sua emergência, permanência e adequação ao campo discursivo, defendendo sua existência como elementos incluídos em um dispositivo político.

Do contato, de reflexões sobre raça e gênero, em Cursos e na participação no Erê gêge com eles/as, Elque Santos começou a escrever seus poemas e, por eles, desenha um perfil de escritora, tal como em Ser poeta. Ser poeta (em homenagem a Odete Sêmedo) Eu queria ser poeta, Pra quê métrica e rima? Eu quero é ser poeta! Eu preciso ser poeta e me expor. Ser poeta que diz e não quis dizer Poeta que ama intensamente Mesmo desconhecendo o amor, Ou nunca ter realmente amado, Descontrolada, desenquadrada e principalmente poeta! Eu NÃO queria ser, eu sou poeta, Dito e escrito como poeta que sou. (SANTOS, 2007) Nestes versos, o foco temático também é o desejo de uma voz feminina: ser poeta. Concretizá-lo é uma necessidade que urge, chegando a retirar-lhe o equilíbrio, deixando-a “[...] descontrolada, desenquadrada e principalmente poeta! [...]” (SANTOS, 2007). Tantas são as vozes que aparecem nas produções literárias das autoras integrantes deste estudo. Quiçá pela poesia elas possam dizer de si e dos seus sonhos emancipatórios. Seu início às Letras não se justifica só por estar a aprender a escrever, mas porque ainda tem poucas publicações. Destacam-se alguns poemas publicados em blogs e no jornal on-line É na Raça (2007; 2008), do Núcleo de Estudantes Negros da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus Salvador-BA. Em Força do Rumpi, Elque Santos comunica de que lugar e imaginário sócio-religioso e cultural ela tece a sua poesia. O Rumpi que transpõe as cercas, Que rompe as mordaças do ignorar, Que o axé, Poder do orixá, Acumulada nos terreiros, Difundidas por alabês Na celebração/saudação. Só com a força do Rumpi, Os homenageados podem dançar. 73

Em uma perspectiva genealógica 18 , autores/as são citados/as como indicativos de<br />

possíveis diálogos, enquanto leitora e uma aprendiz escritora, em um procedimento que<br />

tem como objetivo estabelecer traços de identificação com outros/as escritores/as<br />

negros/as. Pelas suas informações, à leitura cabe o papel de elaboração de um eu<br />

enunciador, que associa<strong>da</strong> à auto-identificação, impulsiona a sua escrita. Mas pela sua<br />

sinalização, seu exercício de aprendiz <strong>da</strong> produção literária está marcado por temáticas,<br />

nomes e obras que também se inserem na LN.<br />

Zila Bernd (1988) considera a denominação LN inoportuna e inadequa<strong>da</strong>, mas<br />

garante que a sua a legitimi<strong>da</strong>de se deve por permitir que o sujeito enunciador seja o<br />

próprio negro. Por certo a LN é váli<strong>da</strong> por ter uma voz de si e não sobre o outro, mas<br />

não só por isso como se destaca no segundo capítulo deste <strong>texto</strong>. Elque Santos, através<br />

<strong>da</strong> leitura dos CN e de outras obras afins, conheceu possibili<strong>da</strong>des de reinventar suas<br />

africani<strong>da</strong>des. Ela conheceu vozes que tecem memórias e discursos poéticos com traços<br />

qualitativos de universos e culturas negros. Mais ain<strong>da</strong>, pelo acesso à LN, a autora<br />

conhece outras vozes sobre si e suas identi<strong>da</strong>des, as quais se contrapõem àquelas que as<br />

colocam em meio a sujeições.<br />

As práticas de racismo também são apresenta<strong>da</strong>s por Elque Santos como<br />

definidoras do seu tecer literário:<br />

[...] Enfrento o racismo todo dia na minha comuni<strong>da</strong>de, na facul<strong>da</strong>de e na vi<strong>da</strong> [...]<br />

72<br />

Me vejo negra universalmente, aprendi a gostar do meu cabelo, a perceber que o que a<br />

cultura esbranquiça<strong>da</strong> vê como defeito é belo... Enfim quero dizer, mesmo onde o<br />

fenótipo não alcança, sou negra, amo minha ancestrali<strong>da</strong>de e no dia-a-dia aprendo a ser<br />

uma mulher negra guerreira. (SANTOS, 2008)<br />

A identi<strong>da</strong>de autoral de Elque Santos se constrói contamina<strong>da</strong> com a identi<strong>da</strong>de<br />

individual. Afirmar-se e aprender a ser uma mulher negra guerreira implica rejeitar a<br />

percepção do outro, que não a aceita e exclui e, ao mesmo tempo, inventar versos em<br />

que identi<strong>da</strong>des negras sejam incluí<strong>da</strong>s.<br />

18 A genealogia, para Foucault (2002), é um método de análise que busca a proveniência dos saberes, ou<br />

seja, <strong>da</strong> configuração de suas positivi<strong>da</strong>des, a partir <strong>da</strong>s condições de possibili<strong>da</strong>des externas aos próprios<br />

saberes; ou melhor, considera-os como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente<br />

estratégica. Procura-se a explicação <strong>da</strong>queles fatores que interferem na sua emergência, permanência e<br />

adequação ao campo discursivo, defendendo sua existência como elementos incluídos em um dispositivo<br />

político.

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