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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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65<br />

[...] minha mãe sempre tentou me mostrar escritores africanos, que não lembro o nome.<br />

Minha mãe é uma afro-descendente muito clara. Clara por demais. Então ela sempre<br />

tentou me incentivar por aí. To<strong>da</strong>s as minhas bonecas foram bonecas negras. Não tive<br />

bonecas brancas. Minha mãe nunca deixou que ninguém me desse uma boneca branca.<br />

Minha mãe sempre tentou me explicar sobre a questão racial, dizendo que para ela tudo<br />

seria muito mais fácil sempre, por ser mais clara, mas para mim não, tudo seria muito<br />

mais difícil, por ser mais escura que ela. Tentou me dá essa visão através <strong>da</strong> literatura,<br />

de alguns contos, de len<strong>da</strong>s africanas. Sem contar de tios, parentes, avós, que contam<br />

histórias de orixás, quer dizer, através <strong>da</strong> maneira deles, sem <strong>da</strong>r nomes, mas depois,<br />

quando você cresce, você descobre que aquilo era uma len<strong>da</strong> de Oxum, de Oxossi. Você<br />

faz essa conexão. (ADÚN, 2008)<br />

Com essas e outras referências, ela se inseriu nas tramas <strong>da</strong>s relações étnico-<br />

raciais e aprendeu a enfrentar a trivialização do racismo no Brasil, como se refere<br />

Carlos Moore:<br />

O racismo retira a sensibili<strong>da</strong>de dos seres humanos para perceber o<br />

sofrimento alheio, conduzindo-os inevitavelmente à sua trivialização e<br />

banalização. Essa barreira de insensibili<strong>da</strong>de, incompreensão e rejeição<br />

ontológicas do Outro encontrou, na América Latina, a sua mais elabora<strong>da</strong><br />

formulação no mito-ideologia <strong>da</strong> “democracia racial” (MOORE, 2007, p.<br />

23).<br />

Pela esteira <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais, que não são poucas, justificam-se as<br />

condições precárias e desumanas de vi<strong>da</strong>, a que populações negras ain<strong>da</strong> se submetem<br />

hoje, velando as armadilhas <strong>da</strong> violência racial que perpassam as relações interpessoais<br />

e as circunstâncias de existência dessas populações. Isso desemboca na indiferença<br />

mediante aos atos individuais e institucionais de racismo, através de subestimação de<br />

ações preconceituosas e discriminatórias, como instigou Moore: “A banalização do<br />

racismo visa a criar a impressão de que “tudo an<strong>da</strong> bem” na socie<strong>da</strong>de, imprimindo um<br />

caráter banal às distorções socioeconômicas entre as populações de diferentes raças<br />

[...]” (MOORE, 2007, p. 29).<br />

As contingências, advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s relações étnico-raciais, associa<strong>da</strong>s às<br />

experiências de Mel Adún, além de suas percepções de mundo, <strong>da</strong>s relações e <strong>da</strong> própria<br />

literatura, possivelmente facilitaram a sua visão diante <strong>da</strong>s práticas de racismo no Brasil<br />

e a elaboração de posicionamentos de enfrentamento. Por elas, a autora poderá ter<br />

instituído o seu projeto estético-ideológico.<br />

Com a projeção de também fazer acontecer, no panorama literário, novos<br />

projetos e discursos literários, Mel Adún produz poemas, contos e roteiros e os publica<br />

em jornais, em blogs e nos CN. Já publicou contos infantis no jornal A TARDE; poemas<br />

nos CN, volumes 29 (2006) e 31 (2008); na edição de Cadernos negros, três déca<strong>da</strong>s

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