12.05.2013 Views

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

de Elisa Lucin<strong>da</strong> e José Carlos Limeira 16 , os quais também colaboraram com a sua<br />

produção literária.<br />

64<br />

[...] só depois <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> adulta, teve a febre de Elisa Lucin<strong>da</strong>. Foi uma coisa ótima, que<br />

aconteceu. Tenho muita influência de Elisa Lucin<strong>da</strong> [...] De escritores baianos, tenho a<br />

influência de meu pai Limeira. No início, eu escrevia muitas crônicas. Não sei se você já<br />

ouviu Limeira recitando [...] Eu achava que cumpria uma função, quando ele recitava<br />

crônica <strong>da</strong>quele jeito [...] Mas, na ver<strong>da</strong>de, o que ele faz, numa ci<strong>da</strong>de como Salvador,<br />

em um país como o Brasil, onde as pessoas não estão lendo tanto, os jovens, muito<br />

menos, ele coloca humor e faz uma encenação de tudo que escreve. O <strong>texto</strong> dele comunica<br />

como o de Elisa comunica. O de Elisa consegue conversar com a juventude negra, de<br />

qualquer parte do Brasil, com a juventude branca. Ela consegue conversar com todo<br />

mundo. Ela começou com uma coisa, não sei se foi ela que começou, acho que não foi ela,<br />

que é a poesia fala<strong>da</strong>. Ela começou a pegar outros autores. Vi fazer Fernando Pessoa.<br />

Era impressionante. Eu lembrava ter lido na adolescência. Eu lembrava que era bom,<br />

mas não que era tão bom, quanto ela fez parecer. (ADÚN, 2008)<br />

Assim, não só a escola e a família se desenham como pólos de formação de sua<br />

literatura e de opiniões sobre a vi<strong>da</strong>, mas também outras relações e experiências, tal<br />

como ela declarou, se estabelecem no cenário de tornar-se escritora de uma literatura a<br />

qual almeja que seja preta. Explicitamente, em seus contos e poemas, aparecem marcas<br />

de gênero e raça 17 . Segundo ela, “[...] Tudo isso na questão racial, que é fun<strong>da</strong>mental [...]. A<br />

minha literatura será sempre preta. Tudo ao meu redor foi preto, por isso até quando não falo de raça,<br />

é sobre raça, sobre vi<strong>da</strong> de preto que estou falando. Isso não pode fugir ou faltar na minha poesia”<br />

(ADÚN, 2008). Tal afirmativa reporta à discussão de Cuti sobre LN:<br />

A literatura negra não apenas quer para si a reivindicação de um lugar no<br />

panorama literário. Sua realização implica e projeta uma nova subjetivi<strong>da</strong>de<br />

do país, em cuja tarefa o exercício de estar no lugar do outro consiste, para<br />

a nacionali<strong>da</strong>de, um estar em si mesma, através <strong>da</strong> empatia com o ser negro e<br />

o despojamento <strong>da</strong> hegemonia <strong>da</strong> brancura ou, ain<strong>da</strong>, a fase conflitiva para se<br />

chegar a isso [...] (CUTI, 2002, p. 34)<br />

Do seu lugar de acolhimento, confronto e abrangência de práticas sociais e<br />

culturais ela se construiu como mulher negra e conheceu a literatura preta tal qual ela<br />

mesma designou:<br />

16 É um escritor negro, baiano, que, desde a déca<strong>da</strong> de 80, escreve, publica poemas, contos e crônicas, no<br />

Brasil e no exterior e participa dos CN, por quem essa autora declara ter uma profun<strong>da</strong> relação de<br />

afetivi<strong>da</strong>de e de cumplici<strong>da</strong>de com a escrita.<br />

17 No estudo, o termo raça, em hipótese alguma, é utilizado como referência biológica, fazendo alusão às<br />

características genéticas, semelhantes ou diferentes, pois não está fun<strong>da</strong>mentado nas teorias racialistas.<br />

Raça aqui é entendi<strong>da</strong> como uma concepção que se elabora por meio dos aspectos sócio-históricopolítico-culturais<br />

e <strong>da</strong>s diversas e efetivas relações que se travam entre os grupos que compõem uma<br />

socie<strong>da</strong>de, de acordo com, dentre outros, GOMES (1995), D’ADESKY (2001), HOFBAUER (2003).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!