Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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déca<strong>da</strong>s. Isso acontece por três razões básicas. Primeira: as atitudes de<br />
acadêmicos brancos na academia diferem <strong>da</strong>quelas dos seus pares do passado.<br />
É muito mais difícil para estu<strong>da</strong>ntes negros, especialmente estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong><br />
graduação, serem levados a sério como intelectuais e acadêmicos em potencial<br />
[...] Segun<strong>da</strong>: as subculturas letra<strong>da</strong>s estão menos abertas agora para os negros<br />
do que estavam há três ou quatro déca<strong>da</strong>s atrás [...] Terceira: politicização<br />
geral <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> intelectual americana (na academia e fora dela), junto a pressões<br />
ideológicas, constitui um clima hostil para as ativi<strong>da</strong>des dos intelectuais negros<br />
[...] (WEST, 1999, p. 2-3)<br />
No Brasil e na Bahia, mais especificamente, observo que também existem<br />
ambientes e climas hostilizados para a autoria literária feminina negra, ao verificar que a<br />
crítica literária, quando avalia as suas produções traz, comumente, à baila uma suposta<br />
incipiência de quali<strong>da</strong>de, desconfiando do seu valor estético e, por vezes, assegurando<br />
que nelas prevalecem discursos reivindicatórios e demasia<strong>da</strong>mente memorialistas,<br />
pouco imbuídos de técnicas, competências, lirismo e literarie<strong>da</strong>de. Como procedimentos<br />
avaliativos, eivados de julgamentos por mim considerados questionáveis, a crítica, às<br />
vezes, utiliza como retórica a prerrogativa classificatória <strong>da</strong> alta e baixa<br />
cultura/literatura para justificar a ausência <strong>da</strong> vertente literária em obras de autoras<br />
negras. O mercado editorial, aliado a esse obstáculo, pouco cria possibili<strong>da</strong>des de suas<br />
produções e menos ain<strong>da</strong> credita sucesso em seus projetos literários, ampliando o<br />
dilema de se afirmarem como vozes autorais femininas negras.<br />
bell hooks, estudiosa e feminista afro-americana, em seu artigo Intelectuais<br />
negras, ao criticar o artigo de West, acima referido, por não incluir os dramas vividos<br />
pelas intelectuais afro-americanas, também discute as contingências de gênero e raça<br />
que perpassam a construção <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong>de de mulheres afro-americanas. Esses<br />
dramas em muito são contíguos às vicissitudes que perseguem a afirmação <strong>da</strong> autoria<br />
literária de mulheres que interessam ao estudo. Para ela,<br />
É o conceito ocidental sexista/racista de quem e o quê é um intelectual que<br />
elimina a possibili<strong>da</strong>de de nos lembrarmos de negras como representativas de<br />
uma vocação intelectual. Na ver<strong>da</strong>de, dentro do patriarcado capitalista com<br />
supremacia branca, to<strong>da</strong> cultura atua para negar às mulheres a oportuni<strong>da</strong>de de<br />
seguir uma vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mente, torna o domínio intelectual um lugar “interdito”.<br />
Como nossos ancestrais do século XIX, só através <strong>da</strong> resistência ativa,<br />
exigimos nosso direito de afirmar uma presença intelectual. O sexismo e o<br />
racismo, atuando juntos, perpetuam uma iconografia de representação <strong>da</strong> negra<br />
que imprime na consciência cultural coletiva a idéia de que ela está neste<br />
planeta principalmente para servir aos outros. (BELL HOOKS, 1995, p. 468)<br />
Infelizmente, práticas discriminatórias também impedem a dedicação de autoras<br />
negras baianas ao trabalho <strong>da</strong> literatura, pois elas preservam uma representação<br />
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