Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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divulgando seus textos. Em 2006, publicou o livro de poesia Tratado das veias, pelo Selo Editorial As Letras da Bahia da Fundação Cultural do Estado da Bahia e voltou a participar da Bienal do Livro da Bahia, em 2007, no Café Literário. Atualmente, ela publica contos e poemas em sites, tais como Escritoras Suicidas e União de Escritoras Brasileiras e já participou de várias antologias poéticas. Tem inúmeros contos e poemas inéditos e o livro Alforrias, no prelo, em fase de editoração. Ela tem os seguintes projetos, segundo suas informações, em entrevista a Kátia Borges, no Caderno MAIS, do Jornal A TARDE, em 1º de agosto de 2009: 52 Terminei o livro de poesia “Alforrias”, iniciado em 2006 e sem perspectivas de publicação ainda. Tenho que me familiarizar com a linguagem dos editais. São apenas 28 poemas. Além disso, as gavetas virtuais estão empilhadas de arquivos de criação [...] Escreverei para teatro. É necessário para o ator negro ter negros escrevendo, ter negros dirigindo, captando recursos, olhando diferente para as possibilidades de papéis, quebrando com o histórico dos estereótipos que nos perseguem [...] (SANTANA, 2009) Como se percebe em suas declarações, Rita Santana mostra-se comprometida com a literatura e com o teatro, posicionando-se de modo bastante crítico diante de conjunturas políticas e socioculturais. A autoria literária e o teatro apontam para a necessidade política de ocupar outros espaços e papéis, posto que já viveu experiências que mostram um lugar de pouco sucesso e ascensão de autores/as e artistas negros/as, conforme informou em entrevista no dia 08 de março de 2008, realizada na sede da Aliança Francesa, em Salvador-BA. Como é difícil me afirmar como escritora e como atriz. Já fiz novelas, inclusive para a TV Globo (Renascer, Dona Flor e seus dois maridos) e peças teatrais. A mim sempre me dão personagens subalternos, domésticos. Será que como negra só posso representar isso? Não! Cansei disso! Mas continuo, pois escrever é tear; é um lutar pela permanência. (SANTANA, 2008) Diante de tal realidade, atuar como roteirista, diretora e produtora de teatro, para ela, é uma possibilidade de reverter papéis estereotipados e subalternos comumente representados por artistas negros/as, já que poderá construir uma dramaturgia em que negros/as atuarão como personagens que não estejam estigmatizados pelo passado histórico da escravidão. Talvez por estar ciente dessa necessidade, ela reitera a função social de sua escrita literária, ao compartilhar da experiência de Cruz e Souza, no que se refere à tarefa de afirmação identitária de atriz e autora negra.

53 [...] E Cruz e Souza que só me apresentaram a brancura dele, seu canto e encanto ao branco? Não me apresentaram os seus textos e poemas para a sua esposa negra. Quanto me assustei quando li o seu verso: “Inferno, inferno, inferno ser artista negro nesse país”. Entendo profundamente esse desabafo de Cruz e Souza. Como é difícil me afirmar como escritora e como atriz. Já fiz novelas, inclusive para a TV Globo (Renascer, Dona Flor e seus dois maridos) e peças teatrais. A mim sempre me dão personagens subalternos, domésticos. Será que como negra sou posso representar isso? Não! Cansei disso! Mas continuo, pois a escrever é tear; é uma lutar pela permanência [...] (SANTANA, 2008) Não obstante as dificuldades encontradas como escritora, Rita Santana tem um embevecimento com as palavras, o qual, segundo ela, advém do gosto por tudo que é belo e pelo contato, desde a infância, com a leitura e a escrita. Sempre gostei da literatura por conta do meu gosto pelo belo. Diante de tantas dificuldades e sofrimento vivido, a literatura era esse meio de ver e viver o belo, por isso ela era uma fuga da realidade. Ao ler, fugia dos problemas pessoais, do desemprego de meu pai e das conseqüências disso. A arte é uma necessidade de sonhar e concretizá-los. Não só a leitura me atraía, mas também a escrita. Ah! Os diários. Neles narrava minhas histórias, escrevia meus poemas. Não sou organizada, por isso não tenho uma prática assídua e disciplinada de leitura. Nunca tive. Não tenho pressa com a leitura. Leio na medida em que posso e preciso. Reconheço que gosto de ler, mas sem aflições, sem pressa, sem cobranças. Há muito tempo compro livros em Sebos. Gosto de ter livros, de vê-los na minha estante. (SANTANA, 2008) Ler e escrever para Rita Santana são pistas de como permanecer à procura do belo, e poder sonhar. A escrita e a leitura compõem o seu cotidiano, tornando-se oportunidades de desvelar-se e desvendar mundos reais e a criar universos fictícios. Ao fazer 12 anos, contou Rita Santana em entrevista, pediu um livro de poemas a seu pai, o qual, por indicação de uma vendedora, e não por conhecimento, lhe atendera com 100 sonetos de amor, de Pablo Neruda. Como leitora, já viajou por meio de obras que deixaram marcas que ela mesma descreveu: Não posso negar que Almeida Faria, escritor português, em seu livro Rumor branco, com suas metáforas, não tenha deixado suas marcas. Clarice Lispector me deu sustos. Muitos sustos! Não li tudo dela ainda. Mas gosto e preciso de suas obras. Como esquecer dos livros A Paixão segundo GH, Aprendizagem, seus contos [...] e outros. Me assustam, mas aprendo com eles. Sua escrita está muito perto de mim ou eu dela? E o encanto de Machado de Assis? E a antologia de Drummond, seu compromisso com e como fazer poesia? Como esquecer e negar que suas leituras não me formam como escritora? (SANTANA, 2008) Em suas memórias de leitura, aparece uma predominância de escritoras e obras, com quem ela aprendeu a fazer versos e contos com personagens femininas protagonistas na busca de emancipação, a ficcionalizar suas histórias e a brincar com as palavras.

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[...] E Cruz e Souza que só me apresentaram a brancura dele, seu canto e encanto ao<br />

branco? Não me apresentaram os seus <strong>texto</strong>s e poemas para a sua esposa negra. Quanto<br />

me assustei quando li o seu verso: “Inferno, inferno, inferno ser artista negro nesse<br />

país”. Entendo profun<strong>da</strong>mente esse desabafo de Cruz e Souza. Como é difícil me afirmar<br />

como escritora e como atriz. Já fiz novelas, inclusive para a TV Globo (Renascer, Dona<br />

Flor e seus dois maridos) e peças teatrais. A mim sempre me dão personagens<br />

subalternos, domésticos. Será que como negra sou posso representar isso? Não! Cansei<br />

disso! Mas continuo, pois a escrever é tear; é uma lutar pela permanência [...]<br />

(SANTANA, 2008)<br />

Não obstante as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s como escritora, <strong>Rita</strong> Santana tem um<br />

embevecimento com as palavras, o qual, segundo ela, advém do gosto por tudo que é<br />

belo e pelo contato, desde a infância, com a leitura e a escrita.<br />

Sempre gostei <strong>da</strong> literatura por conta do meu gosto pelo belo. Diante de tantas<br />

dificul<strong>da</strong>des e sofrimento vivido, a literatura era esse meio de ver e viver o belo, por isso<br />

ela era uma fuga <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Ao ler, fugia dos problemas pessoais, do desemprego de<br />

meu pai e <strong>da</strong>s conseqüências disso. A arte é uma necessi<strong>da</strong>de de sonhar e concretizá-los.<br />

Não só a leitura me atraía, mas também a escrita. Ah! Os diários. Neles narrava minhas<br />

histórias, escrevia meus poemas. Não sou organiza<strong>da</strong>, por isso não tenho uma prática<br />

assídua e disciplina<strong>da</strong> de leitura. Nunca tive. Não tenho pressa com a leitura. Leio na<br />

medi<strong>da</strong> em que posso e preciso. Reconheço que gosto de ler, mas sem aflições, sem pressa,<br />

sem cobranças. Há muito tempo compro livros em Sebos. Gosto de ter livros, de vê-los na<br />

minha estante. (SANTANA, 2008)<br />

Ler e escrever para <strong>Rita</strong> Santana são pistas de como permanecer à procura do<br />

belo, e poder sonhar. A escrita e a leitura compõem o seu cotidiano, tornando-se<br />

oportuni<strong>da</strong>des de desvelar-se e desven<strong>da</strong>r mundos reais e a criar universos fictícios. Ao<br />

fazer 12 anos, contou <strong>Rita</strong> Santana em entrevista, pediu um livro de poemas a seu pai, o<br />

qual, por indicação de uma vendedora, e não por conhecimento, lhe atendera com 100<br />

sonetos de amor, de Pablo Neru<strong>da</strong>. Como leitora, já viajou por meio de obras que<br />

deixaram marcas que ela mesma descreveu:<br />

Não posso negar que Almei<strong>da</strong> Faria, escritor português, em seu livro Rumor branco, com<br />

suas metáforas, não tenha deixado suas marcas. Clarice Lispector me deu sustos. Muitos<br />

sustos! Não li tudo dela ain<strong>da</strong>. Mas gosto e preciso de suas obras. Como esquecer dos<br />

livros A Paixão segundo GH, Aprendizagem, seus contos [...] e outros. Me assustam,<br />

mas aprendo com eles. Sua escrita está muito perto de mim ou eu dela? E o encanto de<br />

Machado de Assis? E a antologia de Drummond, seu compromisso com e como fazer<br />

poesia? Como esquecer e negar que suas leituras não me formam como escritora?<br />

(SANTANA, 2008)<br />

Em suas memórias de leitura, aparece uma predominância de escritoras e obras,<br />

com quem ela aprendeu a fazer versos e contos com personagens femininas<br />

protagonistas na busca de emancipação, a ficcionalizar suas histórias e a brincar com as<br />

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