Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Fotografia de Ana Rita Santiago da Silva – 18/07/2007 À esquerda e no centro, Jocélia Fonseca e sua filha e, à direita, Lutigarde Oliveira O Importuno Poético apresenta-se há mais de cinco anos, convidado ou não, como declarou Jocélia Fonseca, durante a entrevista em 20 de abril de 2007, em bares e atividades artísticas em Salvador e em outras cidades do Estado da Bahia, recitando poemas de Charles Baudelaire, Fernando Pessoa, Castro Alves e Florbela Espanca. Com esse grupo e individualmente, Jocélia Fonseca trabalha em bares, restaurantes e em eventos culturais, declamando suas poesias e de outros/as escritores/as, tais como Elisa Lucinda, Conceição Evaristo, Alzira Rufino, Landê Onawalê, Miriam Alves, dentre outros. Ela também faz performances em projetos educativos e artísticos; participa de projetos literários e artísticos, promovidos pela Fundação Pedro Calmon, Fundação Cultural do Estado da Bahia e por outras instituições, como Novembro Negro (2008), projeto desenvolvido pelas Secretaria de Cultura e de Promoção da Igualdade Racial; Caruru dos 7 poetas, em 2007, realizado anualmente em Cachoeira-BA, como atividade profissional e, por conseguinte, como estratégia de divulgação de seu trabalho artístico. Com essas participações, ela divulga seus textos literários e o seu trabalho como atriz, formando seu público leitor e expectador. Produtoras culturais, segmentos midiáticos e literários pouco empreendem projetos que favoreçam conhecer escritoras e atrizes com o perfil de Jocélia Fonseca. Para ela, esses não são os únicos, também o movimento social negro não é um aliado, desejável por ela, no que tange à divulgação de seus trabalhos artísticos e literários, uma 44

vez que “[...] O movimento negro é racionalista, por deixar à margem de suas agendas as artes. Embora as brechas que a poesia encontra no movimento negro hoje, esse não considera a arte como bandeira de lutas [...]” (FONSECA, 2007). Essa é apenas uma possibilidade de leitura das ações dos movimentos sociais negros, uma vez que, no bojo de suas agendas, encontram-se pautas, ainda que incipientes, em torno da arte e da literatura. Divulgar a produção literária de escritores/as negros/as, ainda que não tão satisfatoriamente, tem se constituído como um exercício coletivo e individual de militâncias em favor do trabalho poético, de memórias, da dignidade de populações negras e da afirmação de repertórios culturais afrobrasileiros. O Movimento Negro Unificado (MNU), por exemplo, na década de 80, do século passado, publicou, em seu jornal Maioria Falante, uma produção literária que promove a afirmação de identidades negras, possibilitando o conhecimento de autores/as negros/as e de seus poemas. As Quartinhas de Aruá, os Blocos Afros, os CN são outros exemplos relevantes de palavras negras cantadas e recitadas, ou seja, de formação contemporânea de prosas e poéticas negras. Ela publica em sites, blog e jornais. Já participou das antologias Importuno Poético, publicadas com recursos próprios e em formato de livretos, em 2007, e, em 2009, com o mesmo nome, com quatro poemas em cada edição. A última edição é bilíngue: os poemas são apresentados em língua portuguesa e em língua inglesa. Entrevistei Jocélia Fonseca, nos dias 20 de abril de 2007 e 18 de julho de 2008, na sede do Quilombo Passo, 37, Pelourinho, antigo Quilombo Cecília, uma entidade cultural negra feminina. Esse espaço, já frequentado por mim, ocasionalmente, para participar de eventos artístico-literários, é normalmente todo ornamentado com elementos culturais negros. Durante a longa conversa, nos dois dias da entrevista, notei que havia sobre uma mesa, entre outros, os livros Os miseráveis, de Victor Hugo, em francês, Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e livros de contos de Clarice Lispector e Lígia Fagundes Telles. Contudo, chamaram-me mais a atenção, enquanto pesquisadora, o exemplar do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus e o pôster abaixo, que estava entre outros de eventos culturais espalhados nas paredes da biblioteca, onde ocorreu a entrevista. 45

vez que “[...] O movimento negro é racionalista, por deixar à margem de suas agen<strong>da</strong>s as artes.<br />

Embora as brechas que a poesia encontra no movimento negro hoje, esse não considera a arte como<br />

bandeira de lutas [...]” (FONSECA, 2007). Essa é apenas uma possibili<strong>da</strong>de de leitura <strong>da</strong>s<br />

ações dos movimentos sociais negros, uma vez que, no bojo de suas agen<strong>da</strong>s,<br />

encontram-se pautas, ain<strong>da</strong> que incipientes, em torno <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> literatura.<br />

Divulgar a produção literária de escritores/as negros/as, ain<strong>da</strong> que não tão<br />

satisfatoriamente, tem se constituído como um exercício coletivo e individual de<br />

militâncias em favor do trabalho poético, de memórias, <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de de populações<br />

negras e <strong>da</strong> afirmação de repertórios culturais afrobrasileiros. O Movimento Negro<br />

Unificado (MNU), por exemplo, na déca<strong>da</strong> de 80, do século passado, publicou, em seu<br />

jornal Maioria Falante, uma produção literária que promove a afirmação de identi<strong>da</strong>des<br />

negras, possibilitando o conhecimento de autores/as negros/as e de seus poemas. As<br />

Quartinhas de Aruá, os Blocos Afros, os CN são outros exemplos relevantes de<br />

palavras negras canta<strong>da</strong>s e recita<strong>da</strong>s, ou seja, de formação contemporânea de prosas e<br />

poéticas negras.<br />

Ela publica em sites, blog e jornais. Já participou <strong>da</strong>s antologias Importuno<br />

Poético, publica<strong>da</strong>s com recursos próprios e em formato de livretos, em 2007, e, em<br />

2009, com o mesmo nome, com quatro poemas em ca<strong>da</strong> edição. A última edição é<br />

bilíngue: os poemas são apresentados em língua portuguesa e em língua inglesa.<br />

Entrevistei Jocélia Fonseca, nos dias 20 de abril de 2007 e 18 de julho de 2008,<br />

na sede do Quilombo Passo, 37, Pelourinho, antigo Quilombo Cecília, uma enti<strong>da</strong>de<br />

cultural negra feminina. Esse espaço, já frequentado por mim, ocasionalmente, para<br />

participar de eventos artístico-literários, é normalmente todo ornamentado com<br />

elementos culturais negros. Durante a longa conversa, nos dois dias <strong>da</strong> entrevista, notei<br />

que havia sobre uma mesa, entre outros, os livros Os miseráveis, de Victor Hugo, em<br />

francês, Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e livros de contos de<br />

Clarice Lispector e Lígia Fagundes Telles. Contudo, chamaram-me mais a atenção,<br />

enquanto pesquisadora, o exemplar do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de<br />

Jesus e o pôster abaixo, que estava entre outros de eventos culturais espalhados nas<br />

paredes <strong>da</strong> biblioteca, onde ocorreu a entrevista.<br />

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