Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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42 embora estivesse em ambiente, em que se ‘destina’ aos brancos. Mas ela é negra. Sem solução, preferi demarcar a sua negritude, explicitando na escrita. Não queria dúvidas. Minha prosa não é historinha; é transgressora. (SANTANA, 2008) Evidentemente que a literatura como prática discursiva, de acordo com Roberto Reis (2002), não pode estar isenta de inquietações e do contexto de quem a produz, por isso há de se atentar para a heterogeneidade que compõe a literatura, já acenada por Souza: “[...] o escritor afro-brasileiro fala também de si, de seus anseios, amores, dissabores e, como toda e qualquer literatura, passeia por várias temáticas e seus textos não podem ser reduzidos a uma temática única” (SOUZA, 2005, p. 71). Pela escrita de mulheres negras podem-se, pois, traçar construções socioculturais de gênero e de relações étnico-raciais, inventar mundos, amores e memórias com marcas de diversidades, de histórias e repertórios culturais negros, uma vez que, como afirma o estudioso Antoine Compagnon, ao discutir sobre a literatura e suas possíveis concepções e funções, “[...] a literatura pode estar de acordo com a sociedade, mas também em desacordo; pode acompanhar o movimento, mas também precedê-lo [...]” (COMPANGON, 2001, p. 37). Alguns percursos das oito escritoras negras baianas, apresentados a seguir, são também considerados práticas discursivas e (re) contos de suas histórias, que se entrelaçam com suas criações literárias e concepções de literatura. São vistos em interação com as múltiplas relações e práticas socioculturais em que se envolvem no cotidiano. Assim, são ponderados como cenas entremeadas de subjetividades. Momentos e dimensões de trajetórias da escrita literária delas aparecem no texto, sem o intuito de traçar linhas lineares, muito menos de buscar origens ou justificativas dos acontecimentos. Ao contrário, são vistos como estratégias, por elas elaboradas, de um jogo, aqui entendido com o sentido traçado por Jacques Derrida: “[...] podemos denominar jogo a ausência de significado transcendental como ilimitação do jogo, isto é, como abalamento da onto-teologia e da metafísica da presença [...]” (DERRIDA, 2004, p. 61).
1.1.1 Jocélia Fonseca: Uma Fragrância Poética Jocélia Fonseca – Fotografia do acervo da autora (2008) Jocélia Fonseca é natural de Juazeiro-BA e nasceu em 21 de fevereiro de 1973. Reside atualmente em uma ocupação dos Sem Teto, no Centro Histórico, Pelourinho, em Salvador-BA. Tem dois filhos, é atriz e poeta. É também estudante do Curso Licenciatura em Letras com Inglês da Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e é autodidata no estudo de língua francesa. Ela é membro do grupo Quartinhas de aruá - um movimento de recital e debates em torno da LN, o qual reuniu, entre os anos de 2007 e 2008, em Salvador-BA, leitores/as e escritores/as negros/as baianos/as para divulgação de suas produções literárias. Ela organiza projetos culturais e literários, no Pelourinho e em seu entorno, sobretudo recitais de poesia. Integra também o grupo Importuno Poético, formado por ela, Lutigarde Oliveira e Cléa Barbosa, as quais têm como pseudônimos, respectivamente, Fragrância, Aroma e Essência. 43
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Minha prosa não é historinha; é transgressora. (SANTANA, 2008)<br />
Evidentemente que a literatura como prática discursiva, de acordo com Roberto<br />
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Souza: “[...] o escritor afro-brasileiro fala também de si, de seus anseios, amores,<br />
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mulheres negras podem-se, pois, traçar construções socioculturais de gênero e de<br />
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estudioso Antoine Compagnon, ao discutir sobre a literatura e suas possíveis<br />
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também em desacordo; pode acompanhar o movimento, mas também precedê-lo [...]”<br />
(COMPANGON, 2001, p. 37).<br />
Alguns percursos <strong>da</strong>s oito escritoras negras baianas, apresentados a seguir, são<br />
também considerados práticas discursivas e (re) contos de suas histórias, que se<br />
entrelaçam com suas criações literárias e concepções de literatura. São vistos em<br />
interação com as múltiplas relações e práticas socioculturais em que se envolvem no<br />
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Momentos e dimensões de trajetórias <strong>da</strong> escrita literária delas aparecem no <strong>texto</strong>,<br />
sem o intuito de traçar linhas lineares, muito menos de buscar origens ou justificativas<br />
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um jogo, aqui entendido com o sentido traçado por Jacques Derri<strong>da</strong>: “[...] podemos<br />
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