Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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As oportunidades de edição e de divulgação ainda são incipientes e, às vezes, precarizadas, como afirma Rita Santana: “[...] Quando vou publicar um livro, invisto na divulgação: envio realeses; faço contatos etc, porque acredito que sua sobrevivência dura até o lançamento. Ele vive e dura, depois de publicado, um dia” (SANTANA, 2008). O pesquisador Duarte, ao referir-se à produção artística de populações negras no Brasil, garante que, apesar de o trabalho dos negros está presente em todas as áreas culturais, historicamente, nem sempre foi valorizado e reconhecido. Para ele, 38 [...] No caso da literatura, essa produção sofre, ao longo do tempo impedimentos vários à sua divulgação, a começar pela própria materialização em livro. Quando não ficou inédita ou se perdeu nas prateleiras dos arquivos, circulou muitas vezes de forma restrita, em pequenas edições ou suportes alternativos. Em outros casos, existe o apagamento deliberado dos vínculos autorais e, mesmo, textuais, com a etnicidade africana ou com os modos e condições de existência dos afrobrasileiros, em função do processo de miscigenação branqueadora que perpassa a trajetória desta população. (DUARTE, 2005, p. 114) Urge que se tenham mais políticas públicas, programas, projetos artístico- culturais, selos, concursos literários, editais e iniciativas do mercado editorial que facilitem a produção, publicação e circulação de suas obras. Oportuno se torna possibilitar o agenciamento de inclusão de obras de autoras negras e de pesquisas sobre elas já existentes na Educação Básica e em Cursos de Formação Inicial e Continuada de profissionais da área de Letras, para que o estudo sobre a historiografia literária, por exemplo, seja mais abrangente e mais diverso. Sensato, no entanto, se faz salientar que quatro delas já têm livros publicados; quatro já participaram de antologias; todas as poetas e contistas já editaram poemas e contos em jornais culturais e literários de Organizações Não Governamentais (ONG), fundações, associações etc; duas participam das edições dos CN; quatro delas já publicaram em jornais de grande circulação no Estado da Bahia: três no jornal A TARDE, e uma já publicou nos jornais Tribuna da Bahia e no Correio da Bahia. Os dados permitem afirmar que, para algumas delas, ainda que processualmente e não como almejam, algumas portas já se entreabrem e outras estão forjando chaves, individual e coletivamente, para que outras se abram. Mais um aspecto a destacar entre elas refere-se à busca de condições para desenvolver sua formação intelectual, tendo em vista não apenas a qualificação profissional, mas também a aprendizagem do ofício de escrever. Todas as entrevistadas

demonstraram a necessidade de aprender a escrever e o interesse em fazê-lo, como declarou Fátima Trinchão: 39 Fiz Letras com Francês, em 1984. Foi um curso que queira fazer. A faculdade de Letras para mim foi uma realização, porque tive a oportunidade de estudar e aprender, de aprofundar mais naquilo de que eu já gostava, tinha afeto, mas não com a técnica e a metodologia que a faculdade nos dá. (TRINCHÃO, 2008) É interessante notar que, das oito, três delas já concluíram a Graduação em Letras e uma está estudando. Através dessa área de conhecimento, elas acreditam que poderão adquirir competências para a escrita, conhecer e se dedicar mais à leitura e à literatura. Rita Santana atribuiu sua adesão ao Curso de Letras por ter muito apreço à literatura. Optei por Letras devido ao meu amor por Literatura. Desejei fazer Direito, Letras e Teatro. São muitas mulheres em mim. O desejo profundo era Teatro, mas na UESC não tem esse curso. Pensei que com Letras teria mais literatura e, como escritora, poderia atuar como atriz. Afinal, como escritora sou também atriz: represento, enceno, narro... A UESC foi fundamental para minha formação em Letras e como atriz. Quanto foram importantes as peças, os papéis vividos, as leituras e releituras! (SANTANA, 2008) A experiência universitária possivelmente permitiu a Rita Santana e, talvez, às demais autoras em estudo, conhecer funções sociais e estratégias de escrita literária, obras e viajar por mundos que as artes, inclusive a literatura, proporcionam. Duas escritoras se graduaram na área de Comunicação Social: uma delas é bacharel em Jornalismo, com Pós-graduação em Roteiro, e atua profissionalmente como roteirista; e a, outra, é também bacharel em Jornalismo. Ambas manifestaram insegurança de afirmarem-se como artesãs da palavra, dentre outros motivos, por não terem formação em Letras. Às vezes, as pessoas me chamam para ir participar de seminário, mas nunca gosto de ir, porque não me sinto à vontade para falar de literatura. Eu sei falar sobre a minha literatura. Não sou formada na área de Letras, nunca fiz nada na área de Letras. Sou jornalista, contadora de história. Sei que sou escritora, mas ainda não me sinto bem parte dela. (ADÚN, 2008) Faço jornalismo e não Letras. Não tenho certeza se a minha escrita está conforme os ditames das Letras. (MUNZANZU, 2008) Há um desejo, nessas declarações, de encontrar pistas e técnicas para melhor desenvolverem a escrita. Apesar da confiança depositada por elas no Curso de Letras, como instância de ensino e aprendizagem do ofício da escrita, ele não é a única escola para o exercício de criar textos literários. É importante criatividade para inventar

demonstraram a necessi<strong>da</strong>de de aprender a escrever e o interesse em fazê-lo, como<br />

declarou Fátima Trinchão:<br />

39<br />

Fiz Letras com Francês, em 1984. Foi um curso que queira fazer. A facul<strong>da</strong>de de Letras<br />

para mim foi uma realização, porque tive a oportuni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r e aprender, de<br />

aprofun<strong>da</strong>r mais naquilo de que eu já gostava, tinha afeto, mas não com a técnica e a<br />

metodologia que a facul<strong>da</strong>de nos dá. (T<strong>RI</strong>NCHÃO, 2008)<br />

É interessante notar que, <strong>da</strong>s oito, três delas já concluíram a Graduação em<br />

Letras e uma está estu<strong>da</strong>ndo. Através dessa área de conhecimento, elas acreditam que<br />

poderão adquirir competências para a escrita, conhecer e se dedicar mais à leitura e à<br />

literatura. <strong>Rita</strong> Santana atribuiu sua adesão ao Curso de Letras por ter muito apreço à<br />

literatura.<br />

Optei por Letras devido ao meu amor por Literatura. Desejei fazer Direito, Letras e<br />

Teatro. São muitas mulheres em mim. O desejo profundo era Teatro, mas na UESC não<br />

tem esse curso. Pensei que com Letras teria mais literatura e, como escritora, poderia<br />

atuar como atriz. Afinal, como escritora sou também atriz: represento, enceno, narro...<br />

A UESC foi fun<strong>da</strong>mental para minha formação em Letras e como atriz. Quanto foram<br />

importantes as peças, os papéis vividos, as leituras e releituras! (SANTANA, 2008)<br />

A experiência universitária possivelmente permitiu a <strong>Rita</strong> Santana e, talvez, às<br />

demais autoras em estudo, conhecer funções sociais e estratégias de escrita literária,<br />

obras e viajar por mundos que as artes, inclusive a literatura, proporcionam.<br />

Duas escritoras se graduaram na área de Comunicação Social: uma delas é<br />

bacharel em Jornalismo, com Pós-graduação em Roteiro, e atua profissionalmente como<br />

roteirista; e a, outra, é também bacharel em Jornalismo. Ambas manifestaram<br />

insegurança de afirmarem-se como artesãs <strong>da</strong> palavra, dentre outros motivos, por não<br />

terem formação em Letras.<br />

Às vezes, as pessoas me chamam para ir participar de seminário, mas nunca gosto de ir,<br />

porque não me sinto à vontade para falar de literatura. Eu sei falar sobre a minha<br />

literatura. Não sou forma<strong>da</strong> na área de Letras, nunca fiz na<strong>da</strong> na área de Letras. Sou<br />

jornalista, contadora de história. Sei que sou escritora, mas ain<strong>da</strong> não me sinto bem<br />

parte dela. (ADÚN, 2008)<br />

Faço jornalismo e não Letras. Não tenho certeza se a minha escrita está conforme os<br />

ditames <strong>da</strong>s Letras. (MUNZANZU, 2008)<br />

Há um desejo, nessas declarações, de encontrar pistas e técnicas para melhor<br />

desenvolverem a escrita. Apesar <strong>da</strong> confiança deposita<strong>da</strong> por elas no Curso de Letras,<br />

como instância de ensino e aprendizagem do ofício <strong>da</strong> escrita, ele não é a única escola<br />

para o exercício de criar <strong>texto</strong>s literários. É importante criativi<strong>da</strong>de para inventar

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