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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Cajimbã, Tuaka, Trigu, Mamba, Malemba, Cambira, Zumma, Zimba, Kandá, Tincura<br />

são outras figuras, as quais tecem poeticamente aventuras e viagens líricas que criam<br />

respostas e sonhos para as angústias do tempo que se chama hoje, sobretudo aquelas<br />

subsequentes a devastações <strong>da</strong> natureza e, por isso, também merecem estan<strong>da</strong>rtes.<br />

219<br />

[...] As águas agora já mostravam algum brilho um ou outro a<strong>da</strong>um se<br />

encontrava nos galhos caídos dos zambeiros. Deitado sobre a pedra, o velho<br />

Kaitamba pensava – Aqui, dessa floresta, surgiram os fortiafri e um dia irão<br />

se espalhar pelo mundo afora, provarão que desequilíbrio ecológico mu<strong>da</strong>rá o<br />

comportamento humano. (FRANÇA, 1995, p. 24)<br />

Pelas viagens mitológicas, os fortiafri e as demais personagens de Os<br />

estan<strong>da</strong>rtes visitam planetas, vilas, florestas, os mundos dos mortos e dos vivos – o Aiyê<br />

e o Òrum etc. –, simbolizam movimentos que vão de reali<strong>da</strong>des cotidianas a mundos<br />

maravilhosos e desconhecidos. São seres que viajam para atender a apelos que<br />

aparecem, seja na vi<strong>da</strong> seja em mitos, advindos de catástrofes, desordens,<br />

irresponsabili<strong>da</strong>des e insensibili<strong>da</strong>des humanas, doenças, seres sobrenaturais,<br />

sentimentos, necessi<strong>da</strong>des, intolerâncias, exclusões, angústias etc.<br />

A mulher de Aleduma e Os estan<strong>da</strong>rtes são exemplos de narrativas afrofemininas<br />

que visam ao cui<strong>da</strong>do de nós, já que, por elas, vozes narradoras reivindicam formas de<br />

afirmação de identi<strong>da</strong>des e de valorização de legados culturais afrobrasileiros.<br />

Enunciam ain<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de reconhecimento do panteão, princípios, mitologias,<br />

culturas e costumes africano-brasileiros, pois, de acordo com José Eduardo Fernando<br />

Giraudo,<br />

Se as artes são de fato artes <strong>da</strong> memória num sentido amplo, uma vez que a<br />

arte é, como todo discurso, uma instância de atualização <strong>da</strong> memória coletiva,<br />

também é ver<strong>da</strong>de que algumas artes, e uma certa literatura, incorporam<br />

explicitamente a função de catalisadoras do material histórico e mítico<br />

disseminado nas diversas cama<strong>da</strong>s do discurso social [...] (GIRAUDO, 1997,<br />

p. 30)<br />

Essas novelas configuram-se, portanto, como reinvenções de narrativas que<br />

contam, explicam e explicitam outras formas de pensar sobre si/nós e compreender<br />

culturas negras e ancestrali<strong>da</strong>des. Por elas, forjam-se narrativas e memórias que<br />

favorecem a afirmação de discursos, histórias e identi<strong>da</strong>des que subvertem a face de<br />

deuses/as africanos/as presentes em outras escritas e se criam táticas de cui<strong>da</strong>do de nós.<br />

A primeira novela de Aline França, Negão Dony (1978), conta a história de uma<br />

africana, Mãe Maria de Obi que, com seu filho, Negão Dony, retorna a sua terra de

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