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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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217<br />

Ao pisar nas areias <strong>da</strong> Filha Doce, Tadeu correu para Maria Vitória e, num<br />

beijo terno e meigo, demoraram-se abraçados.<br />

Irisan, segun<strong>da</strong> mulher de Aleduma, uniu-se ao abraço forte de Tadeu e<br />

Maria Vitória e os três apertaram-se com força, fazendo com que o céu<br />

ficasse alvo como a pomba e as águas do mar cantassem uma canção<br />

marítima.<br />

As graúnas gritavam:<br />

- Maria Vitória, você continuará sendo ama<strong>da</strong> e respeita<strong>da</strong> por nós. Será<br />

sempre a mulher de Aleduma (FRANÇA, 1985, p. 97)<br />

Os perfis de Deuses/as que transitam entre os planetas <strong>da</strong> novela são adjacentes<br />

àqueles/as africanos/as, visto que, ao mesmo tempo em que se destacam pelas ações<br />

vitoriosas e singulares, evidenciam-se por se mostrarem humanizados/as.<br />

Bernardo falou, emocionado:<br />

─ Os deuses começaram a chorar. Compreendemos que este é o castigo que<br />

caiará sobre a Terra.<br />

O velho Aleduma completou:<br />

─ Sim, filho, os deuses irão chorar, mas se suas lágrimas não abran<strong>da</strong>ram o<br />

coração dos homens, eles vão jogar setas de fogo sobre a Terra e também vão<br />

esvaziar os mares de Ignum [...] (FRANÇA, 1985, p. 94)<br />

Em A mulher de Aleduma, pode-se compreender a importância de<br />

ressignificações de mitos e de divin<strong>da</strong>des africanas, já que, juntamente com a recriação<br />

de histórias e eventos, vividos por populações negras brasileiras, torna-se possível<br />

apresentar as diversas Áfricas, de que são oriundos os habitantes dos planetas Terra e<br />

Ignum e, por conseguinte, do Brasil. Por invenções míticas, é possível também agregar<br />

um conjunto de valores culturais e religiosos, que existem nos dois planetas, fun<strong>da</strong>ndo-<br />

se possibili<strong>da</strong>des de viver a alteri<strong>da</strong>de em socie<strong>da</strong>des pluriculturais como a brasileira.<br />

Não é difícil de entender a dimensão temática de A mulher de Aleduma, já que<br />

os mitos e Deuses/as acompanham a dinamici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência humana e dela se retro-<br />

alimentam e, por eles/as, grupos humanos atribuem sentidos aos acontecimentos, aos<br />

fenômenos, às relações etc. Segundo C. Ford, “[...] do indivíduo à família, à<br />

comuni<strong>da</strong>de, à terra, ao Cosmo – do microcosmo ao macrocosmo e vive-versa –, os<br />

mitos <strong>da</strong> criação africana são uma sinopse do engajamento humano em to<strong>da</strong>s as formas<br />

de criação [...]” (FORD, 1999, p. 253). Os mitos, semelhante à narrativa mítica de A<br />

mulher de Aleduma tratam de experiências e dramas humanos: as relações do indivíduo<br />

com o cosmos e com os fenômenos <strong>da</strong> natureza; as lutas em favor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o poder do<br />

amor, <strong>da</strong> amizade, do ciúme, <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de; o conflito de gerações; as adversi<strong>da</strong>des, as<br />

angústias, a violência; a tristeza <strong>da</strong> doença, a alegria <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> fartura; o nascimento<br />

e a morte; o desconhecido; o sucesso e o insucesso; as conquistas e as derrotas.

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