Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Ao pisar nas areias <strong>da</strong> Filha Doce, Tadeu correu para Maria Vitória e, num<br />
beijo terno e meigo, demoraram-se abraçados.<br />
Irisan, segun<strong>da</strong> mulher de Aleduma, uniu-se ao abraço forte de Tadeu e<br />
Maria Vitória e os três apertaram-se com força, fazendo com que o céu<br />
ficasse alvo como a pomba e as águas do mar cantassem uma canção<br />
marítima.<br />
As graúnas gritavam:<br />
- Maria Vitória, você continuará sendo ama<strong>da</strong> e respeita<strong>da</strong> por nós. Será<br />
sempre a mulher de Aleduma (FRANÇA, 1985, p. 97)<br />
Os perfis de Deuses/as que transitam entre os planetas <strong>da</strong> novela são adjacentes<br />
àqueles/as africanos/as, visto que, ao mesmo tempo em que se destacam pelas ações<br />
vitoriosas e singulares, evidenciam-se por se mostrarem humanizados/as.<br />
Bernardo falou, emocionado:<br />
─ Os deuses começaram a chorar. Compreendemos que este é o castigo que<br />
caiará sobre a Terra.<br />
O velho Aleduma completou:<br />
─ Sim, filho, os deuses irão chorar, mas se suas lágrimas não abran<strong>da</strong>ram o<br />
coração dos homens, eles vão jogar setas de fogo sobre a Terra e também vão<br />
esvaziar os mares de Ignum [...] (FRANÇA, 1985, p. 94)<br />
Em A mulher de Aleduma, pode-se compreender a importância de<br />
ressignificações de mitos e de divin<strong>da</strong>des africanas, já que, juntamente com a recriação<br />
de histórias e eventos, vividos por populações negras brasileiras, torna-se possível<br />
apresentar as diversas Áfricas, de que são oriundos os habitantes dos planetas Terra e<br />
Ignum e, por conseguinte, do Brasil. Por invenções míticas, é possível também agregar<br />
um conjunto de valores culturais e religiosos, que existem nos dois planetas, fun<strong>da</strong>ndo-<br />
se possibili<strong>da</strong>des de viver a alteri<strong>da</strong>de em socie<strong>da</strong>des pluriculturais como a brasileira.<br />
Não é difícil de entender a dimensão temática de A mulher de Aleduma, já que<br />
os mitos e Deuses/as acompanham a dinamici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência humana e dela se retro-<br />
alimentam e, por eles/as, grupos humanos atribuem sentidos aos acontecimentos, aos<br />
fenômenos, às relações etc. Segundo C. Ford, “[...] do indivíduo à família, à<br />
comuni<strong>da</strong>de, à terra, ao Cosmo – do microcosmo ao macrocosmo e vive-versa –, os<br />
mitos <strong>da</strong> criação africana são uma sinopse do engajamento humano em to<strong>da</strong>s as formas<br />
de criação [...]” (FORD, 1999, p. 253). Os mitos, semelhante à narrativa mítica de A<br />
mulher de Aleduma tratam de experiências e dramas humanos: as relações do indivíduo<br />
com o cosmos e com os fenômenos <strong>da</strong> natureza; as lutas em favor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o poder do<br />
amor, <strong>da</strong> amizade, do ciúme, <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de; o conflito de gerações; as adversi<strong>da</strong>des, as<br />
angústias, a violência; a tristeza <strong>da</strong> doença, a alegria <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> fartura; o nascimento<br />
e a morte; o desconhecido; o sucesso e o insucesso; as conquistas e as derrotas.